Resumo semanal: 24/03 a 28/03
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A semana na Ásia foi marcada pela ausência de indicadores econômicos relevantes, enquanto os mercados acompanharam os desdobramentos das tarifas recíprocas impostas pelos Estados Unidos. A China, maior economia da região, declarou que adotará contramedidas firmes caso os EUA prejudiquem seus interesses com novas sanções. Em resposta, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que estaria disposto a reduzir as tarifas para viabilizar um acordo com a ByteDance, empresa chinesa controladora do TikTok, permitindo a venda do aplicativo utilizado por 170 milhões de norte-americanos. No entanto, Pequim rejeitou a proposta de forma imediata e categórica. Além disso, o índice de preços ao consumidor de Cingapura avançou 0,9% em fevereiro na comparação anual, registrando sua menor alta em quatro anos. O resultado, que ficou em linha com as projeções de economistas consultados pela Reuters, foi inferior ao de janeiro, quando a inflação marcou 1,2%.
Em um movimento estratégico para estreitar laços com a Rússia e adquirir avanços tecnológicos, a Coreia do Norte enviou mais 3.000 soldados para apoiar Moscou na guerra contra a Ucrânia, elevando para 14.000 o total de combatentes norte-coreanos enviados desde outubro do ano passado. Segundo estimativas do exército sul-coreano, cerca de 4.000 desses militares já foram mortos ou feridos, especialmente na região russa de Kursk, próxima à fronteira ucraniana, onde muitos foram alocados. O Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS) atribui as elevadas baixas à inexperiência dos soldados norte-coreanos no uso de drones, que têm sido uma peça-chave no conflito. Ainda assim, o NIS reconhece que, apesar das perdas, as tropas de Kim Jong-un vêm adquirindo conhecimento tático e operacional no manuseio desses equipamentos.
Europa
Nesta semana, os mercados europeus acompanharam a divulgação dos índices de gerentes de compras (PMIs) da zona do euro e do Reino Unido. Na Alemanha e no bloco europeu, os PMIs do setor manufatureiro superaram as expectativas, enquanto os de serviços registraram quedas inesperadas. Já no Reino Unido, o desempenho da indústria decepcionou, contrastando com o avanço do setor de serviços. O Produto Interno Bruto (PIB) britânico cresceu 0,1% no quarto trimestre de 2024 em relação aos três meses anteriores, conforme dados finais do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). O resultado confirmou a estimativa preliminar e ficou alinhado às projeções dos analistas. Na comparação anual, a economia do Reino Unido expandiu 1,5% entre outubro e dezembro, ligeiramente acima da leitura inicial de 1,4%. No acumulado de 2024, o crescimento foi de 1,1%, superando a estimativa anterior de 0,9% e acelerando em relação ao avanço de 0,4% registrado em 2023. Seguindo essa tendência positiva, as vendas no varejo britânico subiram 1% em fevereiro frente a janeiro, contrariando a expectativa de queda de 0,5%. Na comparação anual, o crescimento foi de 2,2%. Já na Espanha, o PIB avançou 0,8% no último trimestre de 2024, confirmando a estimativa divulgada em janeiro. No comparativo anual, a economia espanhola cresceu 3,4%, um pouco abaixo da projeção inicial de 3,5%.
Além disso, Ucrânia e Rússia chegaram a um acordo para suspender ataques no Mar Negro, com o objetivo de garantir a segurança da navegação marítima. Paralelamente, as nações negociam um cessar-fogo parcial que abrangeria infraestruturas energéticas, como refinarias de petróleo, usinas nucleares e estações elétricas. No entanto, Moscou condicionou a assinatura do acordo à remoção das sanções contra seus bancos e exportações agrícolas, exigência que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou como “irrealista”. Poucas horas após o anúncio da trégua no Mar Negro, a Ucrânia acusou a Rússia de atacar um de seus portos, que supostamente estaria protegido pelo pacto, aumentando novamente as tensões na região.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a semana foi pouco movimentada no campo econômico, mas trouxe desdobramentos relevantes no cenário geopolítico. Na Turquia, a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan, desencadeou uma onda de protestos em várias cidades do país. Imamoglu foi detido sob acusações de suborno, manipulação de licitações, liderança de organizações criminosas e apoio a grupos terroristas, alegações que ele nega, classificando-as como perseguição política. Em resposta, manifestações ocorreram em mais de uma dezena de cidades, incluindo Istambul e a capital, Ancara. Segundo o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, aproximadamente 1,9 mil pessoas foram detidas nos atos.
Além disso, o Irã respondeu à carta enviada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, propondo negociações para um novo acordo nuclear. O ministro das Relações Exteriores iraniano reafirmou que Teerã não participará de negociações diretas enquanto estiver sujeito a pressões e ameaças militares, mas não descartou um diálogo indireto. A carta, entregue ao Irã pelos Emirados Árabes Unidos, estabeleceu um prazo de dois meses para que um acordo fosse alcançado. Enquanto isso, novos desdobramentos no conflito entre Israel e grupos palestinos mantiveram a tensão elevada na região, reforçando a instabilidade geopolítica do Oriente Médio.
Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre automóveis e peças, justificando a medida como uma forma de proteger a base industrial do país. No entanto, autoridades do Federal Reserve (Fed) alertaram que a nova política pode pressionar a inflação, influenciando a decisão do banco central de pausar o ciclo de cortes de juros iniciado na semana passada. O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, destacou que, se plenamente implementada, a elevação de 10% na tarifa efetiva pode gerar um impacto significativo sobre os preços ao consumidor, elevando ainda mais a inflação.
O cenário inflacionário segue desafiador nos EUA. O índice de preços ao consumidor medido pelo deflator do PCE – principal referência do Fed para a inflação – subiu 0,3% em fevereiro, acumulando alta de 2,5% em 12 meses. Já o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis, atingiu 2,8% no mesmo período, superando a meta de 2%. No setor produtivo, a sondagem empresarial PMI de fevereiro trouxe dados mistos: enquanto o setor de serviços superou expectativas ao alcançar 54,3 pontos, o índice industrial decepcionou, registrando 49,8 pontos. Além disso, o componente de expectativas desses indicadores caiu para o segundo menor nível desde outubro de 2022, refletindo preocupações sobre os impactos das novas políticas econômicas. Na mesma linha, o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan recuou pelo terceiro mês consecutivo. Diante desse quadro, alguns analistas de mercado já começam a prever uma possível recessão no país no segundo semestre deste ano.
Brasil
A ata do Copom reforçou o tom vigilante sobre a inflação, indicando que o ciclo de alta de juros pode não ter terminado. O comitê destacou que os desafios inflacionários persistem, apesar da desaceleração recente no IPCA-15 de março, que registrou alta de 0,64%, abaixo das expectativas. No entanto, a inflação acumulada em 12 meses segue acima da meta, pressionada pelo mercado de trabalho aquecido e pela depreciação cambial. A Selic pode alcançar 15,50%, caso a atividade não desacelere mais do que o esperado. Enquanto isso, o crédito consignado privado começou a operar, facilitando o acesso ao crédito para trabalhadores do setor privado. Em poucos dias, R$ 550 milhões foram liberados, com alta demanda e potencial impacto no consumo. A expansão do crédito pode sustentar o crescimento econômico no curto prazo, mas também representa um risco inflacionário adicional.
O mercado de trabalho segue aquecido, com taxa de desemprego em 6,8% e criação de 432 mil vagas formais em fevereiro, bem acima do esperado. Esse cenário fortalece o consumo e mantém a demanda interna elevada, mas pode dificultar a convergência da inflação para a meta. Na balança comercial, o déficit de US$ 1,0 bilhão em fevereiro refletiu importações mais fortes e atrasos nas exportações agrícolas, tendência que pode persistir no primeiro semestre. Já o governo central registrou déficit de R$ 31,7 bilhões, impactado por fatores sazonais e pela mudança no calendário de precatórios. A arrecadação ainda cresce, mas deve desacelerar junto com a economia, enquanto as despesas seguem pressionadas pelos benefícios previdenciários. Assim, o equilíbrio fiscal dependerá de medidas adicionais para conter gastos, evitando que o quadro fiscal se deteriore ainda mais.
Resumo semanal: 17/03 a 21/03
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
As bolsas asiáticas encerraram a semana majoritariamente em queda, refletindo preocupações com o desempenho da economia global e as políticas do governo americano de Donald Trump. O período foi marcado por divulgações de indicadores econômicos e decisões sobre taxas de juros. O Banco do Japão (BoJ) manteve sua taxa básica em 0,50%, em linha com as expectativas do mercado. Em comunicado, a instituição destacou as incertezas que ainda pairam sobre a economia japonesa, incluindo o impacto das políticas comerciais e econômicas de outros países. Apesar dessas incertezas, o banco manteve a avaliação de que a atividade econômica está se recuperando moderadamente, embora com fraqueza em alguns setores. Após a decisão, os mercados japoneses acompanharam os dados da inflação, que atingiu 3,0% em fevereiro. O índice que exclui os custos com combustíveis registrou sua maior alta em quase um ano, reforçando as expectativas de novos aumentos na taxa de juros.
Na China, o Banco Central manteve as taxas referenciais de empréstimos pelo quinto mês consecutivo, em linha com as projeções do mercado. A recuperação econômica do país tem mostrado sinais de melhora, reduzindo a necessidade imediata de novas medidas de estímulo, apesar da política monetária mais flexível adotada neste ano. A taxa primária de empréstimos (LPR) de um ano permaneceu em 3,1%, enquanto a de cinco anos seguiu em 3,6%. Uma pesquisa da Reuters com 33 participantes do mercado mostrou que 88% não esperavam mudanças nessas taxas. Além disso, indicadores recentes, como a produção industrial e as vendas no varejo, sugerem uma recuperação contínua da economia. Diante desse cenário, Pequim adotou novas medidas para estimular o consumo interno, e o Banco do Povo da China reafirmou que reduzirá as taxas de juros e o compulsório no momento adequado, garantindo ampla liquidez no sistema financeiro.
Europa
As bolsas europeias encerraram a semana em queda, pressionadas pelo desempenho negativo do setor aéreo após o fechamento do Aeroporto de Heathrow, em Londres. A interrupção das operações ocorreu devido a um incêndio em uma subestação elétrica, que resultou em uma queda de energia no terminal. Nem mesmo a aprovação preliminar do pacote de expansão fiscal da Alemanha foi suficiente para impulsionar os mercados da região. No cenário macroeconômico, a Câmara Alta do Parlamento alemão aprovou uma reforma que amplia o endividamento público, reforçando a disposição do país em adotar medidas para sustentar sua economia. Além disso, as tensões geopolíticas seguiram no radar dos investidores, com Rússia e Ucrânia trocando acusações sobre um ataque na cidade de Sudzha, no Oblast de Kursk. O índice de confiança do consumidor na zona do euro também recuou, refletindo um ambiente de maior cautela no bloco.
No front geopolítico, a Rússia voltou a atacar a Ucrânia, apesar da promessa anterior de poupar alvos energéticos e de infraestrutura. O presidente Vladimir Putin reafirmou que um amplo cessar-fogo de 30 dias continua fora de cogitação até que suas exigências sejam atendidas, incluindo a manutenção dos territórios conquistados e a retirada de forças militares estrangeiras da região. Paralelamente, a Alemanha concluiu a aprovação de um pacote fiscal histórico, abrindo espaço no orçamento para aumentar os gastos com defesa e infraestrutura. A decisão ocorre em meio a uma crescente preocupação com a segurança europeia, especialmente diante do afastamento dos Estados Unidos do conflito. Como resultado, Berlim e outros países do bloco enfrentam pressão para fortalecer suas capacidades defensivas diante da postura agressiva do governo russo.
Oriente Médio
A semana no Oriente Médio foi marcada por ataques e pelo aumento das tensões geopolíticas. Buscando pressionar o Irã e forçá-lo a negociar sobre seu programa nuclear, os Estados Unidos intensificaram as sanções ao país e conduziram a maior operação militar americana na região desde o início do governo de Donald Trump. Além disso, em resposta às ameaças do movimento Houthi, alinhado ao Irã, contra o transporte marítimo internacional, Washington reforçou sua presença militar. Diante desse cenário de instabilidade, o petróleo registrou forte alta. Outro fator relevante foi a publicação, pela Opep+, de um cronograma para que sete países membros realizem novos cortes na produção, compensando o bombeamento acima dos níveis acordados. Os cortes, que variam entre 189.000 e 435.000 barris por dia, estão programados para durar até junho de 2026.
A Opep+, composta pela Opep, Rússia e outros aliados, já vinha reduzindo a produção em 5,85 milhões de barris diários – cerca de 5,7% da oferta global – como parte de uma série de medidas adotadas desde 2022 para sustentar o mercado. No entanto, o recente excesso de produção do Cazaquistão gerou descontentamento entre os membros do grupo e foi um dos fatores decisivos para a implementação dos cortes adicionais. Segundo o plano revisado, o Iraque assumirá a maior parte da redução, seguido pelo Cazaquistão e pela Rússia. A Arábia Saudita, por sua vez, deverá realizar cortes menores, entre 6.000 e 15.000 barris por dia ao longo de três meses. Enquanto isso, sem grandes novidades no conflito, Israel interceptou mísseis lançados pelos Houthis e realizou novos ataques na Faixa de Gaza.
Estados Unidos
O Federal Reserve (Fed) manteve a taxa de juros de referência no intervalo de 4,25% a 4,50%, destacando maior incerteza no cenário econômico. No comunicado pós-reunião, a autoridade monetária indicou a possibilidade de dois cortes de 0,25 ponto percentual até o final do ano. Além disso, revisou suas projeções: a expectativa de crescimento do PIB foi reduzida de 2,1% para 1,7%, enquanto a previsão de inflação subiu de 2,5% para 2,8%. Essas revisões já refletem, em grande parte, os impactos das tarifas comerciais recentemente anunciadas pelo governo.
O mercado acompanhou com atenção a abordagem do Fed diante da possibilidade de uma recessão na maior economia do mundo. O presidente da instituição, Jerome Powell, afirmou que “a incerteza em relação às perspectivas econômicas aumentou”, atribuindo parte dessa incerteza à política comercial adotada pelo governo de Donald Trump. Apesar disso, Powell enfatizou que o Fed deve “esperar por maior clareza” antes de tomar novas decisões e minimizou a probabilidade de uma recessão no curto prazo. Ele também avaliou que a pressão inflacionária causada pelas tarifas tende a ser “transitória”, mas não descartou um risco inflacionário maior no longo prazo. Diante desse cenário, nossa expectativa é de que o Fed mantenha os juros dentro da faixa de 4,25% a 4,50% até o final do ano, uma visão divergente do consenso de mercado.
Brasil
O Banco Central elevou a Selic para 14,25%, conforme esperado, destacando a necessidade de uma política monetária mais restritiva diante da desancoragem das expectativas de inflação e da resiliência econômica. O Copom sinalizou ajustes adicionais, prevendo um aumento menor na próxima reunião. Com isso, a taxa pode ultrapassar a mediana do Boletim Focus (15,00%), reforçando o compromisso com o controle inflacionário. Nossa projeção aponta para uma Selic terminal de 15,50%, com novas altas de 0,75 p.p. em maio e 0,50 p.p. em junho.
O governo enviou ao Congresso um projeto de lei para isentar do IR quem ganha até R$ 5.000, com custo fiscal de R$ 25,8 bilhões em 2026. Para compensar, propôs tributação mínima para quem recebe acima de R$ 50 mil/mês e taxação de dividendos no exterior. Além disso, o Congresso aprovou o Orçamento de 2025, mantendo a meta de déficit zero e projetando superávit de R$ 15 bilhões. O texto prevê aumento de gastos sociais e cortes em programas irregulares, totalizando R$ 40 bilhões em mudanças. O orçamento segue para sanção presidencial.
Resumo semanal: 10/03 a 14/03
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
As bolsas asiáticas encerraram a semana em alta, mesmo com o aumento das tensões comerciais, impulsionadas pela expectativa de novos estímulos econômicos na China e pela aguardada decisão de juros do Banco do Japão (BoJ), prevista para a próxima semana. O índice Nikkei 225 do Japão avançou 0,72%, aos 37.053,10 pontos, enquanto o Kospi, da Coreia do Sul, recuou 0,28%, a 2.566,36 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng subiu 2,12%, a 23.959,98 pontos, e na China continental, o Xangai Composto ganhou 1,81%, fechando a 3.419,56 pontos. No acumulado da semana, o Nikkei teve alta de 0,45%, o Kospi de 0,11% e o Xangai Composto de 1,39%, enquanto o Hang Seng caiu 1,12%. Apesar das incertezas, investidores aguardam o anúncio de medidas para estimular o consumo, que devem ser detalhadas pelo Conselho de Estado da China na próxima segunda-feira, o que impulsionou principalmente o setor de consumo na Bolsa de Hong Kong.
Em Tóquio, os papéis de empresas de eletrônicos e máquinas lideraram os ganhos, apoiados também pela notícia de que as companhias japonesas devem conceder o maior aumento salarial em três décadas, segundo a Confederação Sindical Japonesa. Esse cenário fortalece as expectativas de continuidade na elevação dos juros pelo BoJ. Por outro lado, a China segue enfrentando uma tendência deflacionária persistente, com o índice de preços ao consumidor recuando 0,7% em 12 meses, superando as expectativas de queda de 0,4%. Os dados reforçam as preocupações dos analistas com o enfraquecimento da demanda interna, que, apesar de uma produção doméstica sólida, não tem acompanhado o ritmo, agravando os riscos deflacionários. Esse cenário mantém o mercado atento aos próximos passos do governo chinês em relação à política monetária e fiscal.
Europa
As principais bolsas europeias encerraram a sexta-feira (14) em alta, recuperando parte das perdas da véspera, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre bebidas alcoólicas importadas do bloco. Apesar do alívio no pregão, os índices acumulam quedas na semana. O avanço dos mercados foi impulsionado por relatos de que Friedrich Merz, futuro chanceler da Alemanha, teria chegado a um acordo com o Partido Verde sobre um pacote de investimentos em infraestrutura e defesa. No entanto, a perspectiva de aumento de gastos pressionou os títulos públicos da zona do euro, elevando os rendimentos dos bunds alemães em até 10 pontos-base. Ao final do dia, o índice Stoxx 600 subiu 1,11%, o FTSE 100 ganhou 1,05%, o DAX avançou 1,86% e o CAC 40 teve alta de 1,13%, embora na semana acumulassem perdas de 1,32%, 0,54%, 0,09% e 1,13%, respectivamente.
Apesar do acordo, analistas da TS Lombard alertam que o impacto imediato do pacote de infraestrutura alemão pode ser menor do que o esperado, já que ainda há incertezas sobre os detalhes do projeto e a necessidade de aprovação no parlamento, onde Merz e os Verdes precisarão garantir maioria. No cenário geopolítico, a Ucrânia aceitou a proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo de 30 dias no conflito com a Rússia. Contudo, o presidente Vladimir Putin, embora tenha sinalizado apoio à ideia, condicionou a aceitação a garantias adicionais, temendo que a pausa seja usada por Kiev para reorganizar suas tropas. Segundo ele, a proposta é “correta”, mas levanta questões sobre a verificação e o cumprimento do acordo, que ainda precisam ser discutidas com os EUA para garantir que o cessar-fogo contribua para uma paz duradoura.
Oriente Médio
Os contratos futuros de petróleo encerraram a semana em alta superior a 2%, após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgar seu relatório mensal apontando para ajustes na oferta e demanda global da commodity. Além disso, uma queda acentuada e inesperada nos estoques de gasolina dos Estados Unidos contribuiu para o avanço dos preços. Com isso, o petróleo Brent para maio subiu 2,00%, a US$ 70,95 o barril, na ICE, enquanto o WTI para abril avançou 2,16%, a US$ 67,68 o barril, na Nymex. O mercado segue atento ao impacto de tensões geopolíticas e à expectativa de uma maior restrição na oferta. A combinação desses fatores alimenta a perspectiva de preços sustentados no curto prazo, mesmo em meio a um cenário global de demanda incerta.
No campo político, Estados Unidos e Israel mantêm diálogos com Sudão, Somália e Somalilândia sobre um plano para reassentar palestinos deslocados de Gaza, sob proposta do presidente Donald Trump, o que gerou forte oposição internacional. Segundo a Associated Press, a ideia seria transformar Gaza em um projeto imobiliário gerido pelos EUA, enquanto sua população seria relocada. O Sudão rejeitou a proposta publicamente, e Somália e Somalilândia negaram ter sido abordadas. A iniciativa, já classificada de “racista” pelo grupo Hamas — que governa Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista pelos EUA, UE e Israel —, foi criticada por países árabes e grupos de direitos humanos, que alertam para o risco de crimes de guerra. Apesar disso, Washington e Tel Aviv seguem tentando convencer os governos africanos com incentivos diplomáticos, financeiros e militares, seguindo a lógica dos Acordos de Abraão.
Estados Unidos
Nesta semana, entraram em vigor nos Estados Unidos as tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, medida que atinge importantes parceiros comerciais como Canadá, México e Brasil. As tarifas fazem parte das promessas de campanha do presidente Donald Trump, com o objetivo de proteger a indústria americana. Em resposta, a China também implementou tarifas retaliatórias, com impostos entre 10% e 15% sobre produtos agropecuários norte-americanos, como carne bovina e frango. Além disso, Trump anunciou uma tarifa de 200% sobre bebidas alcoólicas europeias, como vinhos e champanhes, em retaliação à decisão da União Europeia de elevar para 50% as tarifas sobre o uísque americano, a partir de 1º de abril. As medidas intensificam o temor de uma guerra comercial e adicionam pressão à inflação global, em um cenário já marcado por incertezas econômicas.
Apesar do cenário desafiador, os dados mais recentes da inflação americana vieram levemente abaixo das expectativas, com alta de 0,2% em fevereiro. Assim, a inflação acumulada em 12 meses desacelerou de 3,0% para 2,8%, enquanto o núcleo da inflação — que exclui itens voláteis — também subiu 0,2%, levando a taxa anual de 3,7% para 3,2%. Já a inflação ao produtor permaneceu estável no mês. No mercado de trabalho, o relatório JOLTS mostrou 7,74 milhões de vagas abertas, superando as expectativas, embora ainda não reflita o impacto de medidas de corte de gastos no governo federal pelo novo Departamento de Eficiência Governamental. Com as tensões comerciais e o impacto das tarifas, o mercado segue incerto quanto ao ritmo de crescimento da economia americana e ao comportamento futuro da inflação.
Brasil
Os dados de atividade econômica de janeiro confirmaram o cenário de desaceleração gradual, após o fraco desempenho no final de 2024. A receita real do setor de serviços caiu 0,2% em relação a dezembro, enquanto as vendas do varejo, especialmente nos segmentos mais sensíveis ao crédito, mostraram leve recuperação, mas com tendência ainda de enfraquecimento. A produção industrial ficou estável, abaixo do esperado, embora com sinais positivos em setores específicos. Projetamos um crescimento do PIB pouco acima de 1% no primeiro trimestre, puxado por resiliência na indústria de transformação e nos serviços. Contudo, o movimento de desaceleração deve ficar mais evidente a partir do segundo trimestre. No campo fiscal, o governo enviou ao Congresso um pedido de mudanças no orçamento, com aumento de gastos sociais e previdenciários, e corte no Bolsa Família, a ser votado na próxima semana.
No lado inflacionário, o IPCA subiu 1,31% em fevereiro, acumulando alta de 5,06% em 12 meses, superando o teto da meta do Banco Central. A alta foi puxada por reajustes em energia elétrica, após o fim de descontos temporários, pela elevação do ICMS sobre combustíveis, e por aumentos em mensalidades escolares. Para conter a alta dos alimentos, o governo aprovou a isenção do imposto de importação para 11 itens essenciais, como carnes, café e óleo, com impacto fiscal estimado em até R$ 650 milhões se durar um ano. Além disso, o governo deve apresentar o projeto de reforma do Imposto de Renda, com proposta de isenção até R$ 5 mil mensais, cuja compensação será buscada por meio de nova tributação sobre rendas mais altas, com custo estimado entre R$ 25 bilhões e R$ 35 bilhões. A expectativa é de continuidade de pressões inflacionárias ao longo de 2025, com IPCA projetado em 6%.