Resumo semanal: 14/04 a 18/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A economia chinesa surpreendeu positivamente no primeiro trimestre de 2025, com crescimento do PIB de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior — superando a expectativa de 5,2%. Na comparação trimestral, o avanço foi de 1,2%, representando uma leve desaceleração frente aos 1,6% do trimestre anterior. Os dados refletem, sobretudo, os efeitos das medidas de estímulo implementadas por Pequim, ainda antes da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos em abril. Em termos setoriais, a produção industrial registrou alta de 7,7% em março, superando a projeção de 5,9%, impulsionada pelo aumento dos envios antecipados de exportadores preocupados com os impactos tarifários. No varejo, as vendas cresceram 5,9% na comparação interanual, também acima do consenso de mercado, favorecidas pelos estímulos ao consumo. A balança comercial apresentou superávit de US$ 102,6 bilhões, bem acima da previsão de US$ 74,3 bilhões. As exportações, por sua vez, cresceram expressivos 12,4%, indicando aceleração no ritmo de embarques antes do aperto nas relações comerciais.
No Japão, a inflação ao consumidor segue desafiando o Banco Central local (BoJ), com o núcleo inflacionário acelerando em março. O núcleo do índice de preços ao consumidor (que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos) subiu 3,2% em relação a março de 2024, superando os 3% registrados em fevereiro e pressionando ainda mais a política monetária. Esta leitura antecede a próxima reunião do BoJ, marcada para os dias 30 de abril e 1º de maio, quando o mercado espera manutenção dos juros em 0,5% e uma provável revisão negativa das projeções de crescimento — influenciada pelas tarifas americanas recentemente elevadas. A inflação mais ampla, medida por um indicador que exclui os preços de alimentos frescos e combustíveis, também acelerou para 2,9%, ante 2,6% no mês anterior. O salto nos preços foi generalizado: gasolina, hospedagens, chocolates e, especialmente, arroz, cujo preço aumentou 92,5% em relação ao ano passado. Apesar disso, os preços de serviços avançaram apenas 1,4%, contra 5,6% dos bens, sinalizando que o choque inflacionário decorre majoritariamente do repasse de custos de matérias-primas.
Europa
O Banco Central Europeu (BCE) reduziu em 0,25 ponto percentual suas taxas de juros de referência, levando a taxa de depósito para 2,25%, em linha com as expectativas do mercado. Essa foi a sétima redução de juros no atual ciclo de flexibilização monetária. A decisão veio em meio ao aumento das incertezas econômicas provocadas pelas recentes tensões comerciais globais, especialmente com os Estados Unidos. O BCE reiterou seu compromisso com uma política monetária “dependente de dados”, sinalizando que novas decisões dependerão do comportamento da inflação e da atividade. Segundo a instituição, o processo de desinflação está bem encaminhado, com a inflação convergindo gradualmente para a meta de 2%. A autoridade monetária também indicou que os juros atuais já se encontram no limite superior da chamada “taxa neutra” — patamar em que a política monetária nem estimula nem freia o crescimento econômico.
Entre os dados divulgados na semana, a produção industrial da zona do euro surpreendeu positivamente, superando as expectativas do mercado. No entanto, o ambiente econômico ainda inspira cautela: a confiança dos agentes econômicos recuou significativamente, passando de 39,8 pontos em março para -18,5 pontos em abril — o menor nível desde dezembro de 2022. De acordo com o BCE, essa deterioração está diretamente relacionada à intensificação das tensões comerciais, que vêm gerando preocupações sobre cadeias de suprimento, competitividade e ritmo da recuperação. Esse contraste entre melhora dos dados reais e piora das expectativas reforça o cenário de incerteza para os próximos meses. A postura mais cautelosa do BCE reflete justamente essa dualidade, buscando calibrar o estímulo monetário sem comprometer a estabilidade de preços ou agravar desequilíbrios. A evolução do comércio internacional continuará sendo um fator-chave para a condução da política monetária europeia.
Oriente Médio
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo suas projeções de crescimento da demanda por petróleo em 2025, reduzindo a estimativa de 1,45 milhão para 1,3 milhão de barris por dia — um corte de cerca de 10%. A decisão reflete uma maior incerteza sobre o desempenho econômico global diante da escalada nas tensões comerciais, especialmente após o endurecimento da política tarifária dos Estados Unidos. Além disso, a entidade também revisou para baixo as projeções de crescimento das grandes economias para o próximo ano. Segundo relatório da própria Opep, o ambiente de comércio global instável compromete a perspectiva de crescimento no curto prazo. A expectativa de menor demanda pode exercer pressão de baixa sobre os preços do petróleo. Curiosamente, no início de abril, a organização havia anunciado um aumento na produção para maio, surpreendendo o mercado e gerando dúvidas sobre sua estratégia de equilíbrio entre oferta e demanda. Essa dualidade pode ampliar a volatilidade dos preços da commodity nos próximos meses.
No campo geopolítico, o Hamas rejeitou uma nova proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, classificando as exigências como “condições impossíveis”. A proposta incluía um cessar-fogo de 45 dias em troca da libertação de dez reféns e a soltura de palestinos presos, além da retomada da ajuda humanitária. No entanto, o grupo exige garantias para o fim definitivo da guerra e a retirada total do exército israelense da Faixa de Gaza, além de rechaçar a exigência de desarmamento. A crise humanitária na região continua a se agravar: desde o fim da última trégua, em março, mais de 1.600 pessoas foram mortas em Gaza, incluindo dezenas nas últimas 24 horas. Israel também sinalizou que manterá presença militar por tempo indeterminado nas “zonas de segurança” criadas dentro do enclave, ampliando o controle sobre partes estratégicas como Rafah. O impasse aumenta os riscos de escalada regional, com efeitos diretos sobre segurança, diplomacia e mercados globais de energia.
Estados Unidos
Nesta semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou a importância da cautela na condução da política monetária, enfatizando que o banco central precisa garantir que o impacto das tarifas não provoque pressões inflacionárias persistentes. Powell reforçou o compromisso com o duplo mandato da instituição — estabilidade de preços e pleno emprego —, mas ressaltou que, sem o controle da inflação, não há condições para sustentar um mercado de trabalho robusto a longo prazo. Segundo ele, o Fed está em posição confortável para aguardar maior clareza sobre o cenário econômico antes de tomar novas decisões sobre a taxa de juros. Apesar da volatilidade recente, os mercados continuam operando de forma funcional. Powell afirmou ainda que, mesmo diante de incertezas elevadas e riscos negativos, a economia americana segue resiliente. A fala do presidente do Fed foi interpretada como hawkish (mais conservadora) por boa parte do mercado, resultando em um desempenho negativo dos ativos de risco.
No campo da atividade econômica, os dados mais recentes vieram majoritariamente em linha com as expectativas, embora o risco de estagflação continue no radar. A produção industrial dos EUA avançou 0,3% em março, conforme o esperado, mas deve perder fôlego nos próximos meses diante do agravamento da guerra comercial com a China. Já as vendas no varejo surpreenderam positivamente, com alta de 1,4% no mês — o melhor resultado desde janeiro de 2023 —, acumulando crescimento de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O destaque ficou para o setor automotivo, com expansão de 5,3% nas vendas de veículos, refletindo a antecipação de compras por parte dos consumidores diante da possibilidade de novas tarifas. Em meio a esse cenário, a Casa Branca anunciou que as tarifas aplicadas a certos produtos chineses podem atingir até 245%, incluindo veículos elétricos e seringas. Por outro lado, o ex-presidente Donald Trump indicou que alguns itens de tecnologia, como smartphones e semicondutores, estarão temporariamente isentos dessas tarifas, o que trouxe alívio aos mercados — dada a forte dependência dos eletrônicos chineses na cadeia global de suprimentos.
Brasil
O governo federal encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, estabelecendo uma meta de superávit primário de R$ 34,3 bilhões, equivalente a 0,25% do PIB. A proposta também estima um superávit de R$ 38,2 bilhões (0,28% do PIB) e projeta que a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) atingirá o pico de 84,2% do PIB em 2029, um avanço de 4,6 pontos percentuais em relação à estimativa anterior. O PLDO prevê metas fiscais crescentes para os anos seguintes: 0,5% do PIB em 2027, 1,0% em 2028 e 1,25% em 2029. Apesar disso, nossas projeções apontam para um déficit primário de R$ 74,8 bilhões em 2026, o que exigiria um esforço fiscal adicional de R$ 110 bilhões para cumprimento da meta. O cenário para 2026 é desafiador, considerando a esperada desaceleração da atividade econômica e da inflação, fatores que tendem a impactar negativamente a arrecadação tributária. Ao mesmo tempo, as despesas devem continuar pressionadas, especialmente com a elevação dos gastos sociais, que seguem crescendo acima da inflação. Embora a possibilidade de mudança na meta fiscal não seja nosso cenário base, ela não pode ser totalmente descartada.
Paralelamente, foi aprovada a criação da faixa 4 do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” (MCMV), destinada a famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. Essa nova modalidade contará com taxa de juros anual de 10% e será financiada por um aporte de R$ 30 bilhões, sendo metade proveniente do FGTS e o restante de recursos próprios das instituições financeiras, como poupança e LCI — com a Caixa Econômica Federal liderando a implementação, segundo seu presidente. Estimamos que essa ampliação do MCMV pode impulsionar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 0,4 ponto percentual em 2025 e 0,6 ponto percentual em 2026. Esse estímulo aos investimentos deve refletir positivamente no PIB, com impactos estimados de 0,10 p.p. e 0,15 p.p., respectivamente. Esses efeitos, combinados a outras medidas do governo, já foram incorporados ao nosso novo cenário base para a economia doméstica. Como resultado, revisamos as projeções de crescimento do PIB: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026, conforme detalhado em nosso último relatório Brasil Macro Mensal.
Resumo semanal: 07/04 a 11/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Brasil
O cenário econômico brasileiro nesta semana foi marcado pela influência das tensões comerciais globais e indicadores domésticos. O dólar encerrou em queda, cotado a R$ 5,8, refletindo expectativas de fluxo positivo ao país, enquanto o Ibovespa avançou 1,05% na sexta-feira. O IPCA de março subiu 0,56%, pressionado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos, especialmente in natura. O dado reforça preocupações inflacionárias mesmo com a desaceleração recente dos combustíveis. O IBC-Br cresceu 0,4% em fevereiro, indicando recuperação da atividade econômica. No mercado de juros futuros, houve queda nas taxas de longo prazo, com alívio na curva de janeiro de 2031 para 14,55%. O ambiente externo, sobretudo a guerra tarifária entre potências, ainda gera volatilidade nos ativos locais.
A valorização dos ativos na semana também foi favorecida por uma percepção de que o Brasil pode se beneficiar com o desvio de fluxos comerciais. Exportadores locais enxergam oportunidades no redirecionamento de demandas internacionais, enquanto o agronegócio brasileiro ganha força nas negociações com mercados asiáticos. Ao mesmo tempo, a política fiscal continua no radar com expectativas sobre cortes de gastos e possível avanço da reforma administrativa. A equipe econômica de Haddad reforçou compromisso com metas fiscais, mas investidores seguem céticos quanto à execução. O clima político se manteve estável, sem grandes ruídos. Por fim, o setor bancário iniciou a temporada de resultados, com lucros robustos em bancos privados, sinalizando resiliência financeira no crédito.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a semana foi dominada pelas repercussões do agravamento da guerra comercial com a China. O governo chinês aumentou tarifas sobre bens norte-americanos em retaliação direta às tarifas de 145% impostas por Donald Trump. O presidente norte-americano defendeu a medida como proteção ao setor industrial, mas analistas alertam para impacto inflacionário e efeitos negativos no comércio global. Apesar disso, os mercados acionários reagiram positivamente, com S&P 500 e Nasdaq acumulando altas na semana, impulsionados por expectativas de que o Federal Reserve possa postergar novos aumentos de juros. O rendimento do Treasury de 10 anos subiu para 4,496%, refletindo maior aversão ao risco.
Além das disputas comerciais, o mercado monitorou os dados da inflação ao consumidor (CPI), que vieram levemente abaixo do esperado, reacendendo debates sobre a trajetória futura da política monetária. O Fed indicou que aguarda dados mais consistentes antes de qualquer ajuste de juros, mantendo o mercado em compasso de espera. Grandes empresas de tecnologia puxaram os índices para cima, mesmo com o pano de fundo global incerto. O setor industrial e os exportadores, no entanto, mostraram volatilidade. O dólar se fortaleceu frente a moedas emergentes.
Ásia
Os mercados asiáticos enfrentaram forte volatilidade na semana, impulsionados pelo aumento das tensões comerciais entre EUA e China. Em resposta às tarifas impostas por Washington, Pequim anunciou medidas retaliatórias, o que afetou fortemente os índices nos primeiros dias da semana. No entanto, a sexta-feira marcou uma recuperação parcial, com o Hang Seng subindo 1,1% e ações de tecnologia chinesas como SMIC e Hua Hong liderando os ganhos. Ainda assim, o índice de Hong Kong acumulou perda de 8,5% na semana — o pior desempenho desde fevereiro de 2018. O índice de Xangai e o CSI300 fecharam a semana em leve alta, impulsionados por compras técnicas e expectativas de estímulos do governo chinês.
No Japão, o Nikkei também foi afetado pela aversão ao risco global, encerrando a semana com leve queda, enquanto os mercados sul-coreanos e taiwaneses acompanharam o movimento de alta nas techs chinesas nos últimos pregões. Analistas na região destacam que a instabilidade cambial e a redução das exportações são riscos crescentes caso a disputa entre EUA e China se prolongue. O yuan se desvalorizou levemente, e especulações sobre intervenção estatal aumentaram. O Banco do Povo da China reiterou que manterá liquidez adequada e poderá flexibilizar mais as condições de crédito. Investidores institucionais seguem cautelosos, com foco em empresas voltadas ao mercado interno e setores estratégicos como semicondutores e energia.
Europa
Na Europa, os mercados terminaram a semana sob pressão, impactados pelo recrudescimento da guerra tarifária global. As bolsas europeias reverteram ganhos iniciais após a China anunciar retaliação contra os EUA, sinalizando riscos para o comércio internacional. O DAX alemão caiu 0,92% na sexta-feira, enquanto o CAC 40 francês recuou 0,30% e o Ibex 35 espanhol 0,18%. A exceção foi o FTSE 100 de Londres, que subiu 0,64% com dados positivos da indústria britânica. Na semana, os principais índices acumularam perdas significativas: Frankfurt (-1,30%), Paris (-2,34%) e Londres (-1,13%). O euro se desvalorizou frente ao dólar, refletindo incertezas externas e projeções de menor crescimento.
Além do cenário internacional, o foco europeu esteve na revisão das projeções econômicas da Comissão Europeia, que reduziu as expectativas de crescimento para a zona do euro em 2025. A inflação segue persistentemente acima da meta em países como Alemanha e Itália, dificultando o espaço para cortes de juros pelo BCE. O setor industrial europeu apresenta sinais mistos, com melhora em parte da atividade fabril na França e retração na Alemanha. O debate fiscal voltou à tona com discussões sobre o novo arcabouço de regras da União Europeia. Investidores também acompanham de perto o andamento de conflitos geopolíticos e sua influência nos preços da energia, especialmente gás natural importado da Rússia.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a atenção se concentrou no mercado de petróleo e nas tensões regionais. Os preços do barril Brent encerraram a semana ao redor de US$ 65, sustentados por maior demanda no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, ataques Houthi a navios comerciais no Mar Vermelho continuam a elevar os custos de frete global e a ameaçar a segurança das rotas comerciais. A instabilidade em Gaza e no sul do Líbano persiste, com trocas de ataques entre Israel, Hezbollah e facções aliadas, gerando apreensão nos mercados globais. Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita reforçaram compromissos de estabilidade energética.
A Arábia Saudita também anunciou investimentos em energia renovável e hidrogênio verde, parte de sua estratégia Vision 2030, tentando diversificar sua matriz e atrair capital estrangeiro. O Irã, por sua vez, voltou ao centro das atenções com sanções renovadas pelos EUA após movimentações nucleares suspeitas, elevando o risco geopolítico na região. Investidores estão cada vez mais atentos ao papel do Oriente Médio como pivô entre mercados asiáticos e europeus, especialmente no contexto energético e de cadeias logísticas. Com a crescente instabilidade global, a região volta a ser vista como barômetro da segurança energética mundial. O petróleo deve permanecer volátil nas próximas semanas.
Resumo semanal: 31/03 a 04/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
Na Ásia, as tensões comerciais voltaram a escalar após o governo chinês anunciar tarifas de 34% como resposta às medidas protecionistas dos Estados Unidos, aprofundando o embate entre as duas maiores economias do mundo. Como reflexo da retaliação, os preços das principais commodities recuaram ainda mais, com destaque para o petróleo Brent — referência global para precificação — que caiu para abaixo dos 65 dólares por barril, atingindo o menor valor desde 2021. Paralelamente, o índice Nasdaq entrou tecnicamente em bear market, ao registrar uma queda acumulada de aproximadamente 20% em relação às máximas recentes. As tarifas chinesas entrarão em vigor no próximo dia 10 de abril, sinalizando um novo capítulo na disputa comercial que já afeta os mercados globais.
Apesar do ambiente externo conturbado, os dados de atividade econômica da China surpreenderam positivamente. O índice PMI Composto, que reflete a percepção dos empresários sobre as condições gerais da economia, subiu de 51,5 pontos em fevereiro para 51,8 pontos em março — o maior nível registrado nos últimos três meses. De forma semelhante, o PMI Caixin da Indústria, que reúne as avaliações de cerca de 400 empresas privadas do setor de serviços, avançou para 51,2 pontos, superando a expectativa de 50,6. Esse desempenho representa a maior expansão em quatro meses e sugere alguma resiliência da economia chinesa no curto prazo. Ainda assim, os desdobramentos da guerra comercial aumentam significativamente os riscos de desaceleração no país ao longo de 2025.
Europa
Na zona do euro, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,6% em março na comparação com fevereiro, em linha com as expectativas do mercado. Como resultado, a inflação anual da região recuou levemente, passando de 2,3% para 2,2%. Já o núcleo do CPI — indicador que desconsidera itens mais voláteis como alimentos e energia — caiu de 2,6% para 2,4% no acumulado de 12 meses, ficando abaixo da projeção de 2,5%. Esses dados reforçam a tendência de desaceleração da inflação, ainda que em ritmo gradual, e alimentam expectativas quanto à possibilidade de cortes nos juros por parte do Banco Central Europeu nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, a economia europeia segue enfrentando desafios significativos, especialmente diante do agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos. As tarifas impostas por Washington podem atingir até 90% sobre determinados produtos, o que já leva analistas a projetarem revisões para baixo no crescimento do PIB europeu. Um acréscimo de 20% nas tarifas direcionadas à União Europeia levou os líderes do bloco a se reunirem com representantes dos setores mais impactados, com o objetivo de formular uma resposta conjunta ainda em abril. A Alemanha é o país mais vulnerável neste contexto, dado que cerca de 5% de seu PIB depende diretamente das exportações para os EUA. Em tom firme, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou: “se você enfrenta um de nós, você enfrenta todos nós”.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a Opep+ decidiu avançar com o plano de reversão gradual dos cortes de produção de petróleo, acordando um aumento de 411 mil barris por dia (bpd) a partir de maio. O grupo, formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados como a Rússia, havia inicialmente programado um incremento de 135 mil bpd para o mesmo mês. A mudança veio após uma reunião virtual, na qual os membros destacaram fundamentos de mercado sólidos e uma perspectiva positiva para justificar a ampliação. O aumento inclui o volume já previsto, além de dois incrementos mensais adicionais, que poderão ser pausados ou revertidos conforme as condições de mercado. Essa decisão faz parte de um plano mais amplo firmado por países como Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos para reverter o corte mais recente de 2,2 milhões de bpd. Ainda há outros 3,65 milhões de bpd em cortes vigentes até o fim de 2025. Analistas apontam que o movimento também visa reforçar a disciplina entre os membros, especialmente após a produção recorde do Cazaquistão gerar insatisfação dentro do grupo.
Na Turquia, o destaque da semana foi a divulgação dos dados de inflação de março, que apontaram uma alta anual de 38,1%, abaixo dos 38,9% esperados pelo mercado e dos 39,1% registrados em fevereiro. A variação mensal foi de 2,5%, também inferior à expectativa de 3,0%, indicando que a recente desvalorização da lira ainda não gerou forte impacto inflacionário. Apesar do aumento expressivo nos preços dos alimentos (4,9% no mês), outras categorias mais sensíveis à taxa de câmbio mostraram estabilidade, como vestuário (-2,5%) e transporte (+0,25%). A inflação subjacente — que exclui alimentos e energia — teve alta de 1,5%, a menor desde 2021. Esses resultados dão alguma margem de manobra ao Banco Central da Turquia (CBRT), que pode optar por manter os juros na próxima reunião, marcada para 17 de abril. A autoridade monetária havia sinalizado em março uma postura mais rígida, mas os dados recentes oferecem um breve alívio antes da divulgação do IPC de abril, prevista para 5 de maio.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o chamado “Dia da Libertação Tarifária”, anunciado por Donald Trump, gerou forte turbulência nos mercados globais. O presidente declarou um aumento nas tarifas de importação para praticamente todos os países, elevando a taxa efetiva média para mais de 25% — o maior nível desde o início do século passado. Se todas as medidas entrarem em vigor a partir de 9 de abril, haverá um salto de quase 20 pontos percentuais sobre o nível atual. A China foi especialmente atingida, com uma tarifa adicional de 34%, somando-se aos 20% já vigentes. O anúncio veio acima das projeções mais pessimistas e provocou quedas acentuadas nos ativos de risco, como ações e commodities. O petróleo, por exemplo, caiu cerca de 12% no mercado internacional. Com cadeias produtivas globalizadas, o mercado teme agora impactos negativos sobre o crescimento mundial e o avanço da inflação.
Ainda que os riscos macroeconômicos tenham aumentado, os dados do mercado de trabalho americano surpreenderam positivamente em março. O relatório de emprego (Nonfarm Payroll) apontou a criação líquida de 228 mil vagas, acima das estimativas e superior às 117 mil registradas em fevereiro. A taxa de desemprego permaneceu estável em 4,2%, enquanto os salários médios por hora cresceram 0,3% no mês e 3,8% em relação ao ano anterior. Apesar disso, os indicadores de atividade mostram sinais de enfraquecimento. O PMI industrial caiu de 50,3 para 49,0 pontos, sinalizando contração no setor, enquanto o PMI de serviços recuou de 50,8 para 53,5 — seu menor nível desde junho de 2024. Dado o cenário de tarifas elevadas, deterioração da confiança e enfraquecimento de setores-chave, aumentam os temores de uma recessão no curto prazo, tanto nos EUA quanto globalmente.
Brasil
Nesta semana, o Congresso Nacional aprovou a chamada “Lei de Reciprocidade”, que autoriza o governo brasileiro a alterar tarifas comerciais em resposta à escalada da guerra tarifária global. Segundo autoridades, o governo ainda está avaliando os possíveis impactos das medidas anunciadas por Donald Trump e mantém todas as opções em aberto para garantir um comércio justo. No entanto, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o objetivo principal é manter o diálogo e buscar uma solução negociada. Como a tarifa imposta pelos EUA ao Brasil é relativamente baixa (10%) e o Brasil já pratica tarifas mais altas sobre produtos americanos, o governo não deve adotar retaliações significativas no curto prazo.
No mercado financeiro, a semana foi marcada por forte volatilidade no câmbio. Após atingir R$ 5,59 por dólar na quarta-feira, a cotação disparou para R$ 5,85 no fechamento da sexta, refletindo o aumento da incerteza global. Em meio a esse cenário, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 8,155 bilhões em março (cerca de R$ 48 bilhões), revertendo o déficit de US$ 324 milhões observado em fevereiro — o pior resultado desde janeiro de 2022. No mês passado, as exportações somaram US$ 29,178 bilhões, com alta de 5,5% na comparação anual, enquanto as importações cresceram 2,6%, alcançando US$ 21,023 bilhões. No acumulado do ano, o país apresenta superávit de US$ 9,982 bilhões, segundo dados divulgados pelo MDIC. Esse desempenho reforça a resiliência do setor externo brasileiro mesmo em um ambiente global mais turbulento.