Resumo semanal: 21/04 a 25/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A China decidiu isentar determinados produtos dos Estados Unidos das tarifas de 125% e orientou empresas locais a identificarem itens essenciais que devem ser liberados de impostos. A medida, segundo fontes corporativas notificadas, evidencia a preocupação de Pequim com os impactos prolongados da guerra comercial. Essa flexibilização, que ocorre após sinalizações conciliatórias de Washington, indica uma possível disposição mútua de conter o conflito que travou o comércio bilateral e intensificou temores de recessão global. Espera-se que as isenções alcancem diversos setores, o que contribuiu para a valorização do dólar e alta nas bolsas de Hong Kong e Tóquio. Segundo Alfredo Montufar-Helu, do China Center do Conference Board, a iniciativa pode ser uma tentativa de reaproximação, embora nenhum dos dois países pareça disposto a ceder primeiro. Pequim ainda não confirmou oficialmente as isenções. Enquanto isso, Donald Trump afirmou à revista TIME que Xi Jinping teria ligado para discutir tarifas, mas a China contestou essa versão.
No Japão, os dados de abril revelaram que a inflação subjacente em Tóquio atingiu o maior patamar em dois anos, impulsionada principalmente pela alta dos alimentos. O aumento representa um desafio para o Banco do Japão (BOJ), que tenta gradualmente abandonar sua política monetária ultraflexível sem comprometer a estabilidade econômica. Os números vieram às vésperas da reunião do BOJ marcada para o fim de abril, quando se espera a manutenção da taxa de juros em 0,5%. Takeshi Minami, economista-chefe do Instituto Norinchukin, prevê que a inflação deve continuar elevada por vários meses. Ele avalia que o banco central será prudente diante dos efeitos das tarifas dos EUA, mas poderá considerar novos aumentos nas taxas se o impacto for administrável. O índice de preços ao consumidor, excluindo alimentos frescos, avançou 3,4% em comparação com abril de 2023. Esse dado reforça a pressão sobre a autoridade monetária para agir com cautela no ajuste de sua política.
Europa
O índice de gerentes de compras (PMI) da zona do euro caiu de 50,9 em março para 50,1 em abril, abaixo da expectativa de 50,2, indicando uma estagnação econômica na região. O resultado sugere que os empresários estão mais cautelosos quanto ao cenário atual, marcado por tensões comerciais globais e elevada incerteza. Essa desaceleração econômica reflete os impactos indiretos da guerra tarifária, mesmo em países que não estão diretamente envolvidos. A Rússia, por exemplo, decidiu manter a taxa básica de juros em 21%, citando a queda nos preços do petróleo e a perspectiva de receitas fiscais mais baixas como riscos relevantes. Embora a inflação esteja começando a recuar, o Banco Central russo se mostra prudente diante do ambiente externo volátil. Moscou, que até agora havia escapado dos principais efeitos das tarifas dos EUA, começa a se preparar para uma possível desaceleração global. A política monetária agressiva da Rússia segue como resposta preventiva ao cenário externo incerto.
No Reino Unido, o varejo surpreendeu positivamente com um crescimento de 0,4% nas vendas de março, marcando o melhor início de ano desde 2021. No primeiro trimestre, o avanço acumulado de 1,6% foi o mais forte em quatro anos, contribuindo com 0,08 ponto percentual para o PIB britânico. Apesar disso, o otimismo é cauteloso: um importante índice de confiança do consumidor caiu ao menor nível desde o fim de 2023. O aumento das contas de energia e a turbulência financeira global têm pressionado o orçamento das famílias e minado a disposição para o consumo. Analistas alertam que o cenário para o varejo ainda é desafiador, com dificuldades para manter margens e investimentos. Na Ucrânia, a pressão diplomática dos EUA ganhou força após Donald Trump afirmar que a Crimeia “ficará com a Rússia” em eventual acordo de paz, gerando críticas. A declaração ocorre em meio a uma nova onda de ataques russos, que deixou mortos e feridos em várias cidades. A tensão entre Washington, Kiev e Moscou continua elevada, com as negociações travadas e sem sinal claro de avanço.
Oriente Médio
As negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos devem ser retomadas no sábado, mas o principal impasse agora gira em torno do programa de mísseis iraniano, e não mais do enriquecimento de urânio. Segundo autoridades de Teerã, os EUA aceitaram que o Irã continue com parte de seu programa nuclear, contanto que o país importe urânio enriquecido para uso civil. No entanto, o arsenal de mísseis do Irã continua sendo uma barreira crítica ao avanço diplomático. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que não haverá acordo sem o fim completo do enriquecimento local. Paralelamente, a tensão na Turquia segue elevada após a prisão do prefeito de Istambul, o que impactou os mercados e levou o banco central a elevar os juros de 42,5% para 46%. Apesar da inflação anual ter caído para 38,1% em março, as famílias ainda projetam inflação de 59,3% em 12 meses. O Banco Central turco considera que as expectativas inflacionárias seguem altas e ameaçam o processo de desinflação.
No mercado de energia, a OPEP+ discute um novo aumento acelerado na produção de petróleo para o mês de junho, após ter ampliado a produção em maio em mais de 400 mil barris por dia — três vezes acima do previsto. A medida gerou atrito entre os membros do grupo, que divergem sobre o cumprimento das cotas e os impactos nos preços. A queda recente no preço do barril, pressionado por fatores como a guerra comercial entre EUA e China, também contribui para o debate interno. Nesta quarta-feira, o Brent caiu mais de 2%, sendo negociado abaixo de US$ 66 — o nível mais baixo em quatro anos. A proposta de novo aumento deve ser decidida por oito países no encontro de 5 de maio. A Arábia Saudita, peça-chave nas articulações da OPEP+, ainda não se manifestou oficialmente sobre a medida. A decisão pode ter forte impacto geopolítico e nas economias dependentes da exportação de petróleo, especialmente diante da atual fragilidade dos mercados globais.
Estados Unidos
Os dados mais recentes da economia americana não indicam recessão no curto prazo, apesar de sinais mistos nos indicadores de atividade. O PMI industrial de abril avançou de 50,2 para 50,7 pontos, superando as expectativas e apontando expansão no setor, o que surpreendeu positivamente os analistas. Por outro lado, o PMI de serviços caiu de 54,4 para 51,4, abaixo do esperado, sugerindo possível perda de fôlego nesse segmento. Ainda assim, o cenário geral segue resiliente e o Federal Reserve continua adotando uma política monetária baseada em dados, mantendo-se cauteloso quanto a novos movimentos nos juros. A divergência entre os setores evidencia uma economia em transição, sem sinais claros de retração. A evolução dos próximos indicadores será fundamental para definir o rumo da política monetária. O foco permanece no balanço entre crescimento sustentável e controle da inflação.
No mercado imobiliário, os dados de março apontaram enfraquecimento nas vendas de imóveis existentes, que caíram 5,9% em relação ao mês anterior e 2,4% na comparação anual. Ainda assim, os preços se mantêm firmes: o valor mediano das vendas subiu 2,7% em 12 meses, alcançando US$ 403.700. O aumento no estoque de imóveis, que chegou a 1,33 milhão de unidades, representa uma alta de 8,1% sobre fevereiro e quase 20% em relação ao ano anterior. Esse movimento pode oferecer algum alívio à demanda reprimida por moradias, mas ainda reflete um mercado apertado, com poucas opções disponíveis. O aumento nos estoques pode ser um sinal positivo para a moderação de preços, embora ainda não haja indícios de queda expressiva. A resiliência nos valores mostra que a pressão sobre o custo de moradia segue sendo um desafio para a política monetária. O setor continua sob os efeitos de juros elevados e baixo dinamismo na oferta.
Brasil
O IPCA-15 de abril avançou 0,43%, em linha com as expectativas, mas reforçou a percepção de que a inflação segue pressionada. No acumulado de 12 meses, a taxa subiu de 5,26% para 5,49%, com destaque para os bens industrializados, cuja alta mensal foi de 0,57%. Mesmo com esse dado acima do esperado, o Banco Central tem comunicado que vê tendência de aceleração pontual nos preços de bens. Ao mesmo tempo, fatores externos como a guerra comercial e a volatilidade do dólar podem aliviar essas pressões inflacionárias adiante. Por ora, a projeção de IPCA em 6% para 2025 segue mantida, mas com viés de baixa. O comportamento dos preços nos próximos meses será decisivo para calibrar a política monetária. A inflação ainda exige atenção, mas não altera significativamente o cenário base.
No câmbio, o dólar recuou para R$ 5,65 após ter começado a semana em R$ 5,80, influenciado por falas de Donald Trump sobre negociações comerciais com vários países, incluindo a China. A volatilidade permanece elevada e nossa estimativa para o fim de 2025 é de R$ 6,00. No front doméstico, a segunda fase do novo crédito consignado começou a operar, agora com liberação direta pelos bancos, o que deve dar impulso ao consumo. O programa já movimentou mais de R$ 8 bilhões e, junto a outras ações do governo, deve ajudar a conter a desaceleração da atividade. Considerando esses estímulos, nossas projeções de crescimento do PIB foram revisadas para cima: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026. O crédito ao consumo pode atuar como importante amortecedor para o cenário econômico nos próximos trimestres.
Resumo semanal: 14/04 a 18/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A economia chinesa surpreendeu positivamente no primeiro trimestre de 2025, com crescimento do PIB de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior — superando a expectativa de 5,2%. Na comparação trimestral, o avanço foi de 1,2%, representando uma leve desaceleração frente aos 1,6% do trimestre anterior. Os dados refletem, sobretudo, os efeitos das medidas de estímulo implementadas por Pequim, ainda antes da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos em abril. Em termos setoriais, a produção industrial registrou alta de 7,7% em março, superando a projeção de 5,9%, impulsionada pelo aumento dos envios antecipados de exportadores preocupados com os impactos tarifários. No varejo, as vendas cresceram 5,9% na comparação interanual, também acima do consenso de mercado, favorecidas pelos estímulos ao consumo. A balança comercial apresentou superávit de US$ 102,6 bilhões, bem acima da previsão de US$ 74,3 bilhões. As exportações, por sua vez, cresceram expressivos 12,4%, indicando aceleração no ritmo de embarques antes do aperto nas relações comerciais.
No Japão, a inflação ao consumidor segue desafiando o Banco Central local (BoJ), com o núcleo inflacionário acelerando em março. O núcleo do índice de preços ao consumidor (que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos) subiu 3,2% em relação a março de 2024, superando os 3% registrados em fevereiro e pressionando ainda mais a política monetária. Esta leitura antecede a próxima reunião do BoJ, marcada para os dias 30 de abril e 1º de maio, quando o mercado espera manutenção dos juros em 0,5% e uma provável revisão negativa das projeções de crescimento — influenciada pelas tarifas americanas recentemente elevadas. A inflação mais ampla, medida por um indicador que exclui os preços de alimentos frescos e combustíveis, também acelerou para 2,9%, ante 2,6% no mês anterior. O salto nos preços foi generalizado: gasolina, hospedagens, chocolates e, especialmente, arroz, cujo preço aumentou 92,5% em relação ao ano passado. Apesar disso, os preços de serviços avançaram apenas 1,4%, contra 5,6% dos bens, sinalizando que o choque inflacionário decorre majoritariamente do repasse de custos de matérias-primas.
Europa
O Banco Central Europeu (BCE) reduziu em 0,25 ponto percentual suas taxas de juros de referência, levando a taxa de depósito para 2,25%, em linha com as expectativas do mercado. Essa foi a sétima redução de juros no atual ciclo de flexibilização monetária. A decisão veio em meio ao aumento das incertezas econômicas provocadas pelas recentes tensões comerciais globais, especialmente com os Estados Unidos. O BCE reiterou seu compromisso com uma política monetária “dependente de dados”, sinalizando que novas decisões dependerão do comportamento da inflação e da atividade. Segundo a instituição, o processo de desinflação está bem encaminhado, com a inflação convergindo gradualmente para a meta de 2%. A autoridade monetária também indicou que os juros atuais já se encontram no limite superior da chamada “taxa neutra” — patamar em que a política monetária nem estimula nem freia o crescimento econômico.
Entre os dados divulgados na semana, a produção industrial da zona do euro surpreendeu positivamente, superando as expectativas do mercado. No entanto, o ambiente econômico ainda inspira cautela: a confiança dos agentes econômicos recuou significativamente, passando de 39,8 pontos em março para -18,5 pontos em abril — o menor nível desde dezembro de 2022. De acordo com o BCE, essa deterioração está diretamente relacionada à intensificação das tensões comerciais, que vêm gerando preocupações sobre cadeias de suprimento, competitividade e ritmo da recuperação. Esse contraste entre melhora dos dados reais e piora das expectativas reforça o cenário de incerteza para os próximos meses. A postura mais cautelosa do BCE reflete justamente essa dualidade, buscando calibrar o estímulo monetário sem comprometer a estabilidade de preços ou agravar desequilíbrios. A evolução do comércio internacional continuará sendo um fator-chave para a condução da política monetária europeia.
Oriente Médio
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo suas projeções de crescimento da demanda por petróleo em 2025, reduzindo a estimativa de 1,45 milhão para 1,3 milhão de barris por dia — um corte de cerca de 10%. A decisão reflete uma maior incerteza sobre o desempenho econômico global diante da escalada nas tensões comerciais, especialmente após o endurecimento da política tarifária dos Estados Unidos. Além disso, a entidade também revisou para baixo as projeções de crescimento das grandes economias para o próximo ano. Segundo relatório da própria Opep, o ambiente de comércio global instável compromete a perspectiva de crescimento no curto prazo. A expectativa de menor demanda pode exercer pressão de baixa sobre os preços do petróleo. Curiosamente, no início de abril, a organização havia anunciado um aumento na produção para maio, surpreendendo o mercado e gerando dúvidas sobre sua estratégia de equilíbrio entre oferta e demanda. Essa dualidade pode ampliar a volatilidade dos preços da commodity nos próximos meses.
No campo geopolítico, o Hamas rejeitou uma nova proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, classificando as exigências como “condições impossíveis”. A proposta incluía um cessar-fogo de 45 dias em troca da libertação de dez reféns e a soltura de palestinos presos, além da retomada da ajuda humanitária. No entanto, o grupo exige garantias para o fim definitivo da guerra e a retirada total do exército israelense da Faixa de Gaza, além de rechaçar a exigência de desarmamento. A crise humanitária na região continua a se agravar: desde o fim da última trégua, em março, mais de 1.600 pessoas foram mortas em Gaza, incluindo dezenas nas últimas 24 horas. Israel também sinalizou que manterá presença militar por tempo indeterminado nas “zonas de segurança” criadas dentro do enclave, ampliando o controle sobre partes estratégicas como Rafah. O impasse aumenta os riscos de escalada regional, com efeitos diretos sobre segurança, diplomacia e mercados globais de energia.
Estados Unidos
Nesta semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou a importância da cautela na condução da política monetária, enfatizando que o banco central precisa garantir que o impacto das tarifas não provoque pressões inflacionárias persistentes. Powell reforçou o compromisso com o duplo mandato da instituição — estabilidade de preços e pleno emprego —, mas ressaltou que, sem o controle da inflação, não há condições para sustentar um mercado de trabalho robusto a longo prazo. Segundo ele, o Fed está em posição confortável para aguardar maior clareza sobre o cenário econômico antes de tomar novas decisões sobre a taxa de juros. Apesar da volatilidade recente, os mercados continuam operando de forma funcional. Powell afirmou ainda que, mesmo diante de incertezas elevadas e riscos negativos, a economia americana segue resiliente. A fala do presidente do Fed foi interpretada como hawkish (mais conservadora) por boa parte do mercado, resultando em um desempenho negativo dos ativos de risco.
No campo da atividade econômica, os dados mais recentes vieram majoritariamente em linha com as expectativas, embora o risco de estagflação continue no radar. A produção industrial dos EUA avançou 0,3% em março, conforme o esperado, mas deve perder fôlego nos próximos meses diante do agravamento da guerra comercial com a China. Já as vendas no varejo surpreenderam positivamente, com alta de 1,4% no mês — o melhor resultado desde janeiro de 2023 —, acumulando crescimento de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O destaque ficou para o setor automotivo, com expansão de 5,3% nas vendas de veículos, refletindo a antecipação de compras por parte dos consumidores diante da possibilidade de novas tarifas. Em meio a esse cenário, a Casa Branca anunciou que as tarifas aplicadas a certos produtos chineses podem atingir até 245%, incluindo veículos elétricos e seringas. Por outro lado, o ex-presidente Donald Trump indicou que alguns itens de tecnologia, como smartphones e semicondutores, estarão temporariamente isentos dessas tarifas, o que trouxe alívio aos mercados — dada a forte dependência dos eletrônicos chineses na cadeia global de suprimentos.
Brasil
O governo federal encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, estabelecendo uma meta de superávit primário de R$ 34,3 bilhões, equivalente a 0,25% do PIB. A proposta também estima um superávit de R$ 38,2 bilhões (0,28% do PIB) e projeta que a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) atingirá o pico de 84,2% do PIB em 2029, um avanço de 4,6 pontos percentuais em relação à estimativa anterior. O PLDO prevê metas fiscais crescentes para os anos seguintes: 0,5% do PIB em 2027, 1,0% em 2028 e 1,25% em 2029. Apesar disso, nossas projeções apontam para um déficit primário de R$ 74,8 bilhões em 2026, o que exigiria um esforço fiscal adicional de R$ 110 bilhões para cumprimento da meta. O cenário para 2026 é desafiador, considerando a esperada desaceleração da atividade econômica e da inflação, fatores que tendem a impactar negativamente a arrecadação tributária. Ao mesmo tempo, as despesas devem continuar pressionadas, especialmente com a elevação dos gastos sociais, que seguem crescendo acima da inflação. Embora a possibilidade de mudança na meta fiscal não seja nosso cenário base, ela não pode ser totalmente descartada.
Paralelamente, foi aprovada a criação da faixa 4 do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” (MCMV), destinada a famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. Essa nova modalidade contará com taxa de juros anual de 10% e será financiada por um aporte de R$ 30 bilhões, sendo metade proveniente do FGTS e o restante de recursos próprios das instituições financeiras, como poupança e LCI — com a Caixa Econômica Federal liderando a implementação, segundo seu presidente. Estimamos que essa ampliação do MCMV pode impulsionar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 0,4 ponto percentual em 2025 e 0,6 ponto percentual em 2026. Esse estímulo aos investimentos deve refletir positivamente no PIB, com impactos estimados de 0,10 p.p. e 0,15 p.p., respectivamente. Esses efeitos, combinados a outras medidas do governo, já foram incorporados ao nosso novo cenário base para a economia doméstica. Como resultado, revisamos as projeções de crescimento do PIB: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026, conforme detalhado em nosso último relatório Brasil Macro Mensal.
Resumo semanal: 07/04 a 11/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Brasil
O cenário econômico brasileiro nesta semana foi marcado pela influência das tensões comerciais globais e indicadores domésticos. O dólar encerrou em queda, cotado a R$ 5,8, refletindo expectativas de fluxo positivo ao país, enquanto o Ibovespa avançou 1,05% na sexta-feira. O IPCA de março subiu 0,56%, pressionado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos, especialmente in natura. O dado reforça preocupações inflacionárias mesmo com a desaceleração recente dos combustíveis. O IBC-Br cresceu 0,4% em fevereiro, indicando recuperação da atividade econômica. No mercado de juros futuros, houve queda nas taxas de longo prazo, com alívio na curva de janeiro de 2031 para 14,55%. O ambiente externo, sobretudo a guerra tarifária entre potências, ainda gera volatilidade nos ativos locais.
A valorização dos ativos na semana também foi favorecida por uma percepção de que o Brasil pode se beneficiar com o desvio de fluxos comerciais. Exportadores locais enxergam oportunidades no redirecionamento de demandas internacionais, enquanto o agronegócio brasileiro ganha força nas negociações com mercados asiáticos. Ao mesmo tempo, a política fiscal continua no radar com expectativas sobre cortes de gastos e possível avanço da reforma administrativa. A equipe econômica de Haddad reforçou compromisso com metas fiscais, mas investidores seguem céticos quanto à execução. O clima político se manteve estável, sem grandes ruídos. Por fim, o setor bancário iniciou a temporada de resultados, com lucros robustos em bancos privados, sinalizando resiliência financeira no crédito.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a semana foi dominada pelas repercussões do agravamento da guerra comercial com a China. O governo chinês aumentou tarifas sobre bens norte-americanos em retaliação direta às tarifas de 145% impostas por Donald Trump. O presidente norte-americano defendeu a medida como proteção ao setor industrial, mas analistas alertam para impacto inflacionário e efeitos negativos no comércio global. Apesar disso, os mercados acionários reagiram positivamente, com S&P 500 e Nasdaq acumulando altas na semana, impulsionados por expectativas de que o Federal Reserve possa postergar novos aumentos de juros. O rendimento do Treasury de 10 anos subiu para 4,496%, refletindo maior aversão ao risco.
Além das disputas comerciais, o mercado monitorou os dados da inflação ao consumidor (CPI), que vieram levemente abaixo do esperado, reacendendo debates sobre a trajetória futura da política monetária. O Fed indicou que aguarda dados mais consistentes antes de qualquer ajuste de juros, mantendo o mercado em compasso de espera. Grandes empresas de tecnologia puxaram os índices para cima, mesmo com o pano de fundo global incerto. O setor industrial e os exportadores, no entanto, mostraram volatilidade. O dólar se fortaleceu frente a moedas emergentes.
Ásia
Os mercados asiáticos enfrentaram forte volatilidade na semana, impulsionados pelo aumento das tensões comerciais entre EUA e China. Em resposta às tarifas impostas por Washington, Pequim anunciou medidas retaliatórias, o que afetou fortemente os índices nos primeiros dias da semana. No entanto, a sexta-feira marcou uma recuperação parcial, com o Hang Seng subindo 1,1% e ações de tecnologia chinesas como SMIC e Hua Hong liderando os ganhos. Ainda assim, o índice de Hong Kong acumulou perda de 8,5% na semana — o pior desempenho desde fevereiro de 2018. O índice de Xangai e o CSI300 fecharam a semana em leve alta, impulsionados por compras técnicas e expectativas de estímulos do governo chinês.
No Japão, o Nikkei também foi afetado pela aversão ao risco global, encerrando a semana com leve queda, enquanto os mercados sul-coreanos e taiwaneses acompanharam o movimento de alta nas techs chinesas nos últimos pregões. Analistas na região destacam que a instabilidade cambial e a redução das exportações são riscos crescentes caso a disputa entre EUA e China se prolongue. O yuan se desvalorizou levemente, e especulações sobre intervenção estatal aumentaram. O Banco do Povo da China reiterou que manterá liquidez adequada e poderá flexibilizar mais as condições de crédito. Investidores institucionais seguem cautelosos, com foco em empresas voltadas ao mercado interno e setores estratégicos como semicondutores e energia.
Europa
Na Europa, os mercados terminaram a semana sob pressão, impactados pelo recrudescimento da guerra tarifária global. As bolsas europeias reverteram ganhos iniciais após a China anunciar retaliação contra os EUA, sinalizando riscos para o comércio internacional. O DAX alemão caiu 0,92% na sexta-feira, enquanto o CAC 40 francês recuou 0,30% e o Ibex 35 espanhol 0,18%. A exceção foi o FTSE 100 de Londres, que subiu 0,64% com dados positivos da indústria britânica. Na semana, os principais índices acumularam perdas significativas: Frankfurt (-1,30%), Paris (-2,34%) e Londres (-1,13%). O euro se desvalorizou frente ao dólar, refletindo incertezas externas e projeções de menor crescimento.
Além do cenário internacional, o foco europeu esteve na revisão das projeções econômicas da Comissão Europeia, que reduziu as expectativas de crescimento para a zona do euro em 2025. A inflação segue persistentemente acima da meta em países como Alemanha e Itália, dificultando o espaço para cortes de juros pelo BCE. O setor industrial europeu apresenta sinais mistos, com melhora em parte da atividade fabril na França e retração na Alemanha. O debate fiscal voltou à tona com discussões sobre o novo arcabouço de regras da União Europeia. Investidores também acompanham de perto o andamento de conflitos geopolíticos e sua influência nos preços da energia, especialmente gás natural importado da Rússia.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a atenção se concentrou no mercado de petróleo e nas tensões regionais. Os preços do barril Brent encerraram a semana ao redor de US$ 65, sustentados por maior demanda no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, ataques Houthi a navios comerciais no Mar Vermelho continuam a elevar os custos de frete global e a ameaçar a segurança das rotas comerciais. A instabilidade em Gaza e no sul do Líbano persiste, com trocas de ataques entre Israel, Hezbollah e facções aliadas, gerando apreensão nos mercados globais. Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita reforçaram compromissos de estabilidade energética.
A Arábia Saudita também anunciou investimentos em energia renovável e hidrogênio verde, parte de sua estratégia Vision 2030, tentando diversificar sua matriz e atrair capital estrangeiro. O Irã, por sua vez, voltou ao centro das atenções com sanções renovadas pelos EUA após movimentações nucleares suspeitas, elevando o risco geopolítico na região. Investidores estão cada vez mais atentos ao papel do Oriente Médio como pivô entre mercados asiáticos e europeus, especialmente no contexto energético e de cadeias logísticas. Com a crescente instabilidade global, a região volta a ser vista como barômetro da segurança energética mundial. O petróleo deve permanecer volátil nas próximas semanas.