Resumo semanal: 05/05 a 09/05
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A China surpreendeu o mercado ao registrar alta de 8,1% nas exportações de abril, impulsionada por uma corrida de pedidos antes da implementação de novas tarifas pelos EUA. Apesar da queda nas exportações para o mercado americano (-2,5% no ano), houve forte expansão para regiões como Sudeste Asiático, América Latina e África, refletindo uma estratégia de diversificação geográfica. O superávit comercial com os EUA atingiu US$ 20,5 bilhões, alimentando tensões políticas. Já as importações caíram 0,2% no mês, mostrando sinais de demanda interna ainda fraca. A resiliência do comércio com países emergentes mostra que a China segue reposicionando suas cadeias produtivas diante da guerra comercial.
Em resposta ao ambiente externo adverso e à fraqueza doméstica, o Banco Popular da China reduziu a taxa de recompra para 1,4% e o compulsório bancário para 6,2%, injetando cerca de US$ 138 bilhões em liquidez. Pequim também cortou taxas de empréstimos e ampliou incentivos ao setor imobiliário e exportador. As medidas ocorrem às vésperas da retomada das negociações comerciais com os EUA e visam fortalecer a confiança do mercado. A estratégia inclui estímulos ao crédito habitacional e maior participação de fundos de seguradoras no mercado acionário, numa tentativa de conter os impactos da desaceleração industrial e estabilizar a economia em meio às incertezas globais.
Europa
A política alemã ganhou destaque nesta semana com a eleição de Friedrich Merz como novo chanceler, após uma segunda votação no Parlamento. Na primeira rodada, Merz ficou aquém da maioria exigida, com 310 votos dos 316 necessários, em um revés inesperado para a coalizão conservadora e centro-esquerda, que tem maioria formal. A votação secreta levantou dúvidas sobre a lealdade de parte dos deputados aliados. No entanto, em uma segunda tentativa no mesmo dia, Merz conquistou 325 votos, encerrando o impasse e garantindo sua posse pelo presidente Frank-Walter Steinmeier. Aos 69 anos, ele liderará um gabinete com 17 ministros, marcando um novo capítulo na política alemã. O episódio foi inédito desde 1949 e gerou forte repercussão no Bundestag.
No Reino Unido, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa básica de juros em 0,25 p.p., para 4,25%, em linha com as expectativas. A decisão dividiu o Comitê de Política Monetária, com dois votos contrários ao corte, refletindo cautela diante da inflação ainda resistente. Essa foi a quarta redução desde o pico de 5,25% no ano passado. A economia britânica segue fraca, com crescimento de apenas 0,9% em 2024 e projeções ainda mais modestas para os anos seguintes. Apesar disso, um possível acordo comercial abrangente com os EUA anunciado por Trump pode amenizar parte das incertezas. A inflação segue elevada, mas o BoE estima alívio no terceiro trimestre com pico reduzido para 3,5%. O mercado já precifica mais três cortes até o fim do ano, levando a taxa para 3,50%.
Oriente Médio
A conta X do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi bloqueada na Turquia por determinação judicial, conforme informado por uma mensagem em sua própria rede social. Detido em 19 de março sob acusações de corrupção — que nega — Imamoglu é visto como o principal adversário político do presidente Tayyip Erdogan, e sua prisão desencadeou os maiores protestos no país em uma década. Quatro dias após a detenção, ele foi mantido preso aguardando julgamento. Críticos do governo classificaram a ação como politicamente motivada, enquanto o Partido Republicano do Povo (CHP), do qual Imamoglu faz parte, considerou a prisão um ataque direto à democracia. O governo turco rejeita as críticas e afirma que o Judiciário atua de forma independente. A plataforma X, ao cumprir a ordem judicial, afirmou ter iniciado um processo judicial, defendendo o acesso livre à informação e à liberdade de expressão. Pesquisas apontam que a prisão fortaleceu a popularidade de Imamoglu, ampliando sua vantagem sobre Erdogan para as eleições previstas apenas para 2028.
Enquanto isso, o Irã confirmou a retomada das negociações nucleares com os Estados Unidos no domingo, em Omã, após um adiamento por “motivos logísticos”, segundo o mediador. O chanceler iraniano Abbas Araqchi afirmou que as tratativas estão avançando e que as delegações precisam de mais tempo para analisar os pontos críticos. A iniciativa busca reviver o acordo de 2015, do qual os EUA se retiraram sob a presidência de Donald Trump, que chegou a ameaçar ações militares caso não houvesse novo pacto. O Ocidente acusa o Irã de usar seu programa nuclear com fins militares, o que Teerã nega, alegando ser um projeto civil. Em paralelo, a tensão entre Israel e o Hezbollah escalou após ataques aéreos israelenses no sul do Líbano, causando mortes e destruição. Israel justificou os bombardeios como resposta a violações do cessar-fogo, enquanto o Líbano acusa Tel Aviv de não cumprir os termos do acordo. Ao mesmo tempo, o exército israelense interceptou um míssil lançado pelos Houthis do Iêmen, que assumiram responsabilidade como forma de apoiar os palestinos em Gaza.
Estados Unidos
O Federal Reserve manteve os juros no intervalo entre 4,25% e 4,50%, decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado. O comunicado da reunião destacou um aumento na incerteza sobre o cenário econômico, além de ressaltar a inflação ainda elevada e um mercado de trabalho aquecido. Diante desse contexto, o Fed preferiu manter a política monetária estável, adotando uma postura de cautela. O presidente Jerome Powell afirmou que este é um momento adequado para “esperar para ver”, aguardando maior clareza antes de novos movimentos. Indicadores recentes, como o índice ISM de serviços, subiram para 65,1 pontos, refletindo possíveis efeitos das tarifas. Ainda assim, os dados não indicam uma recessão severa. Nossa projeção é de, no máximo, um ou dois cortes de 0,25 p.p. ainda este ano, caso uma recessão leve se confirme.
A semana também trouxe novidades relevantes no front comercial. O anúncio de um encontro entre o Secretário do Tesouro americano e o vice-primeiro-ministro chinês reacendeu expectativas positivas nos mercados, sendo a primeira reunião oficial desde abril. A sinalização de Donald Trump, que sugeriu tarifas de 80% sobre produtos chineses como “adequadas”, reforça a complexidade das negociações. Apesar disso, o mercado recebeu bem os primeiros sinais de alívio. O Reino Unido foi o primeiro país a firmar um novo acordo comercial com os EUA, reduzindo tarifas sobre produtos americanos de 5,1% para 1,8%, enquanto os EUA mantêm alíquota de 10%. Além disso, outras 17 negociações estão em curso. Por outro lado, a União Europeia ameaça impor tarifas adicionais sobre 100 bilhões de euros em bens americanos caso as tratativas fracassem.
Brasil
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, alcançando 14,75%, conforme amplamente previsto pelo mercado. O comunicado pós-reunião destacou as incertezas no cenário global e doméstico, além do dinamismo da atividade econômica interna. Apesar disso, o tom mais brando — ou “dovish”, no jargão econômico — sugere que o ciclo de alta de juros está encerrado ou muito próximo do fim. O Copom não indicou claramente os próximos passos, preferindo enfatizar a necessidade de cautela e flexibilidade diante de novos dados econômicos. Avaliamos que os estímulos fiscais recentes — como o Minha Casa Minha Vida, liberação do FGTS e crédito consignado privado — somados à desancoragem das expectativas, podem levar a um último aumento de 0,25 p.p. na próxima reunião. A projeção de inflação do Copom, de 3,6% para o final de 2026, segue acima da meta, o que reforça a postura vigilante da autoridade monetária.
Em abril, o IPCA subiu 0,43%, em linha com as expectativas, levando a inflação anual de 5,48% para 5,53% — o maior patamar desde meados de 2023. A alta foi impulsionada pelos preços de vestuário, itens de higiene pessoal e pela reversão de descontos da semana do consumidor. A inflação de serviços sensíveis ao ciclo econômico segue pressionada, atingindo 6,73% em 12 meses. O quadro de curto prazo ainda indica inflação resistente, sem sinais claros de alívio nos componentes cíclicos, o que deve influenciar as decisões futuras do Copom. Apesar disso, a valorização do câmbio e a queda no preço do petróleo motivaram uma revisão na projeção do IPCA de 2025, de 6,0% para 5,7%. Já a produção industrial surpreendeu positivamente em março, com alta de 1,2% após cinco leituras fracas. No entanto, com confiança empresarial em queda e condições financeiras apertadas, projetamos desaceleração para 2025, com crescimento estimado em 2,2%, abaixo dos 3,1% esperados para este ano.
Resumo semanal: 28/04 a 02/05
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
Na China, a atividade industrial apresentou retração mais acentuada do que o previsto em abril. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial recuou para 49,0 pontos, abaixo das expectativas de 49,7 e inferior aos 50,5 pontos registrados em março. Como o índice abaixo de 50 sinaliza contração, os dados sugerem enfraquecimento no setor. O principal destaque negativo veio da categoria de novas encomendas, que caiu de 51,8 para 49,2 pontos, indicando que o setor começa a sentir os efeitos das novas tarifas comerciais. Esse movimento levanta preocupações sobre a recuperação econômica chinesa e sua capacidade de sustentar o crescimento industrial nos próximos meses. Enquanto isso, no Japão, o Banco Central (BoJ) decidiu manter a taxa de juros inalterada em 0,50%, em linha com as expectativas do mercado, reforçando sua postura de cautela diante do atual cenário inflacionário e cambial.
No campo diplomático, a China declarou que está avaliando a possibilidade de retomar negociações comerciais com os Estados Unidos. De acordo com o Ministério do Comércio chinês, autoridades americanas têm demonstrado interesse em retomar o diálogo, e Pequim está analisando as propostas recebidas. No entanto, o governo chinês destacou a necessidade de “sinceridade” por parte de Washington como condição para o avanço nas conversas. A sinalização de um possível reaproximamento entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados, que reagiram positivamente à notícia. Esse movimento pode representar uma mudança relevante no cenário geopolítico e econômico, especialmente em um momento em que o comércio global enfrenta desafios crescentes. O desenrolar das negociações será monitorado de perto pelos investidores nas próximas semanas.
Europa
Os Estados Unidos e a Ucrânia firmaram um acordo que permite a exploração de recursos naturais ucranianos por empresas americanas, em reconhecimento ao apoio financeiro e material fornecido por Washington desde o início da guerra contra a Rússia. O texto prevê acesso preferencial a minerais estratégicos como terras raras, titânio e lítio, além da criação de um fundo conjunto para investimentos em infraestrutura, energia e projetos de extração. De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, a iniciativa reforça a parceria bilateral e representa um passo importante na reconstrução econômica da Ucrânia no período pós-guerra. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que o acordo também serve como um sinal de advertência à Rússia e fortalece a posição americana em futuras negociações por um cessar-fogo. A movimentação amplia a influência geopolítica dos Estados Unidos na região e reforça sua presença estratégica no setor de recursos naturais críticos.
Na zona do euro, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, superando as expectativas de 0,2% e acelerando em relação ao crescimento de 0,2% no quarto trimestre de 2024. Apesar do desempenho acima do previsto, as projeções para os próximos meses são cautelosas. Estima-se estagnação no segundo trimestre e um crescimento modesto de apenas 0,1% no terceiro trimestre, em parte devido aos impactos negativos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Além disso, o Indicador de Sentimento Econômico da região caiu para 93,6 pontos em abril, o menor nível desde dezembro, refletindo deterioração da confiança em todos os setores, especialmente entre os consumidores. O núcleo da inflação, por sua vez, subiu 2,7% em 12 meses, acima dos 2,5% esperados, ainda pressionado por efeitos sazonais como o feriado da Páscoa. O Banco Central Europeu, no entanto, mantém a projeção de que a inflação deve convergir para a meta ao longo do ano, o que pode abrir espaço para a continuidade dos cortes de juros.
Oriente Médio
As negociações nucleares entre Estados Unidos e Irã foram adiadas, e a definição de uma nova data dependerá da postura adotada por Washington, segundo autoridades iranianas. A próxima rodada, prevista inicialmente para ocorrer em Roma no dia 3 de maio, foi suspensa por “razões logísticas”, conforme informou Omã, que atua como mediador. No entanto, fontes afirmam que os EUA nunca chegaram a confirmar presença na reunião. O Irã acusa os americanos de comportamento contraditório e de adotar sanções unilaterais que dificultam avanços diplomáticos. Paralelamente, o governo dos EUA reforçou sua pressão sobre Teerã com novas sanções ao setor petrolífero e ameaças por conta do apoio iraniano aos Houthis no Iêmen. Mesmo assim, o Irã declarou que continuará comprometido com uma abordagem séria e voltada para resultados nas negociações. O presidente americano Donald Trump, por sua vez, reiterou confiança em obter um novo acordo que impeça o desenvolvimento de armas nucleares por parte do Irã.
No contexto das tensões regionais, Israel bombardeou uma área próxima ao palácio presidencial em Damasco, na Síria, em uma ação que o governo israelense classificou como um recado direto às novas autoridades sírias. A ofensiva marca a intensificação das operações militares de Israel desde a queda do regime de Bashar al-Assad, agora substituído por Ahmed al-Sharaa, um ex-líder da Al Qaeda que rompeu com o grupo em 2016. O principal objetivo de Israel é impedir o avanço de forças hostis nas proximidades de vilarejos habitados por drusos, minoria que também tem presença em Israel e no Líbano. O exército israelense confirmou a mobilização de tropas no sul da Síria e a evacuação de cidadãos sírio-drusos feridos para hospitais israelenses. O governo sírio classificou o ataque como uma “escalada perigosa” e criticou a alegada proteção israelense aos drusos como pretexto para agressões. O episódio ocorre em meio a confrontos sectários entre sunitas e drusos, que deixaram dezenas de mortos e testam a promessa de unidade feita por Sharaa.
Estados Unidos
Os Estados Unidos deram início a uma nova rodada de negociações tarifárias com a China, segundo o Ministério do Comércio chinês. Representantes americanos propuseram o início das conversas, e Pequim afirma estar avaliando a proposta. Essa é a primeira sinalização concreta desde a escalada tarifária entre os países. Washington também intensificou esforços diplomáticos com a Índia e a União Europeia, que demonstraram abertura para discutir acordos comerciais. A movimentação ocorre em um momento de fragilidade econômica: o PIB dos EUA contraiu 0,3% no 1º trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior, frustrando expectativas de estabilidade. Foi a primeira queda desde o início de 2022, puxada por um salto de 41,3% nas importações – reflexo da corrida por estoques antes da entrada em vigor de tarifas mais altas. O consumo das famílias, embora positivo, desacelerou para o ritmo mais fraco desde meados de 2023.
Nos indicadores de preços e emprego, os dados reforçam o cenário desafiador para o Federal Reserve. A inflação medida pelo deflator do PCE – índice preferido do banco central – acelerou para 3,5% no 1º trimestre, acima da expectativa de 3,3% e distante da meta de 2,0%. O mercado de trabalho, por sua vez, segue resiliente: em abril, foram criadas 177 mil vagas, superando a previsão de 130 mil, e a taxa de desemprego manteve-se em 4,2%. Diante disso, o Fed deve manter uma postura de cautela na próxima reunião de política monetária, evitando decisões precipitadas. A combinação de inflação elevada e crescimento fraco reforça temores de estagflação na maior economia do mundo. O banco central deve seguir com uma comunicação prudente, adotando o tom de “esperar para ver” enquanto monitora a persistência da inflação e a resposta da atividade.
Brasil
O mercado de trabalho brasileiro segue sólido, com a taxa de desemprego em 7,0% no trimestre encerrado em março, em linha com as expectativas. A renda real do trabalho continua em trajetória de alta: o rendimento médio real habitual subiu 0,3% entre fevereiro e março e acumula alta de 4,0% na comparação anual. Apesar da desaceleração no ritmo mensal, o mercado formal gerou 71,6 mil vagas em março, acumulando 456 mil novas vagas no 1º trimestre. A ocupação total segue em expansão, impulsionada principalmente por empregos formais. Os salários reais sustentam a demanda doméstica e contribuem para a persistência da inflação de serviços. Essa dinâmica reforça o cenário de desaceleração gradual da atividade e inflação elevada nesse segmento no curto prazo.
No lado fiscal, o governo central registrou superávit primário de R$ 1,1 bilhão em março, abaixo das projeções. No acumulado de 2025, o superávit chega a R$ 54,5 bilhões, mas o resultado em 12 meses aponta déficit de R$ 8,6 bilhões (0,1% do PIB). A receita líquida cresceu apenas 0,8% em termos reais, enquanto a despesa caiu 0,5% – queda considerada pontual, relacionada à fila represada da Previdência. Com a normalização desses pagamentos, os gastos devem voltar a subir. Com a desaceleração da economia e a queda nos preços do petróleo, espera-se novo esfriamento das receitas. Isso eleva os riscos para o cumprimento da meta fiscal, e o governo pode ter de bloquear R$ 10,5 bilhões para se manter dentro do arcabouço. Enquanto isso, após operação da PF que revelou fraudes de R$ 6,3 bilhões no INSS, o Tesouro reafirmou que o ressarcimento será feito com recursos do próprio órgão, sem aporte adicional.
Resumo semanal: 21/04 a 25/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A China decidiu isentar determinados produtos dos Estados Unidos das tarifas de 125% e orientou empresas locais a identificarem itens essenciais que devem ser liberados de impostos. A medida, segundo fontes corporativas notificadas, evidencia a preocupação de Pequim com os impactos prolongados da guerra comercial. Essa flexibilização, que ocorre após sinalizações conciliatórias de Washington, indica uma possível disposição mútua de conter o conflito que travou o comércio bilateral e intensificou temores de recessão global. Espera-se que as isenções alcancem diversos setores, o que contribuiu para a valorização do dólar e alta nas bolsas de Hong Kong e Tóquio. Segundo Alfredo Montufar-Helu, do China Center do Conference Board, a iniciativa pode ser uma tentativa de reaproximação, embora nenhum dos dois países pareça disposto a ceder primeiro. Pequim ainda não confirmou oficialmente as isenções. Enquanto isso, Donald Trump afirmou à revista TIME que Xi Jinping teria ligado para discutir tarifas, mas a China contestou essa versão.
No Japão, os dados de abril revelaram que a inflação subjacente em Tóquio atingiu o maior patamar em dois anos, impulsionada principalmente pela alta dos alimentos. O aumento representa um desafio para o Banco do Japão (BOJ), que tenta gradualmente abandonar sua política monetária ultraflexível sem comprometer a estabilidade econômica. Os números vieram às vésperas da reunião do BOJ marcada para o fim de abril, quando se espera a manutenção da taxa de juros em 0,5%. Takeshi Minami, economista-chefe do Instituto Norinchukin, prevê que a inflação deve continuar elevada por vários meses. Ele avalia que o banco central será prudente diante dos efeitos das tarifas dos EUA, mas poderá considerar novos aumentos nas taxas se o impacto for administrável. O índice de preços ao consumidor, excluindo alimentos frescos, avançou 3,4% em comparação com abril de 2023. Esse dado reforça a pressão sobre a autoridade monetária para agir com cautela no ajuste de sua política.
Europa
O índice de gerentes de compras (PMI) da zona do euro caiu de 50,9 em março para 50,1 em abril, abaixo da expectativa de 50,2, indicando uma estagnação econômica na região. O resultado sugere que os empresários estão mais cautelosos quanto ao cenário atual, marcado por tensões comerciais globais e elevada incerteza. Essa desaceleração econômica reflete os impactos indiretos da guerra tarifária, mesmo em países que não estão diretamente envolvidos. A Rússia, por exemplo, decidiu manter a taxa básica de juros em 21%, citando a queda nos preços do petróleo e a perspectiva de receitas fiscais mais baixas como riscos relevantes. Embora a inflação esteja começando a recuar, o Banco Central russo se mostra prudente diante do ambiente externo volátil. Moscou, que até agora havia escapado dos principais efeitos das tarifas dos EUA, começa a se preparar para uma possível desaceleração global. A política monetária agressiva da Rússia segue como resposta preventiva ao cenário externo incerto.
No Reino Unido, o varejo surpreendeu positivamente com um crescimento de 0,4% nas vendas de março, marcando o melhor início de ano desde 2021. No primeiro trimestre, o avanço acumulado de 1,6% foi o mais forte em quatro anos, contribuindo com 0,08 ponto percentual para o PIB britânico. Apesar disso, o otimismo é cauteloso: um importante índice de confiança do consumidor caiu ao menor nível desde o fim de 2023. O aumento das contas de energia e a turbulência financeira global têm pressionado o orçamento das famílias e minado a disposição para o consumo. Analistas alertam que o cenário para o varejo ainda é desafiador, com dificuldades para manter margens e investimentos. Na Ucrânia, a pressão diplomática dos EUA ganhou força após Donald Trump afirmar que a Crimeia “ficará com a Rússia” em eventual acordo de paz, gerando críticas. A declaração ocorre em meio a uma nova onda de ataques russos, que deixou mortos e feridos em várias cidades. A tensão entre Washington, Kiev e Moscou continua elevada, com as negociações travadas e sem sinal claro de avanço.
Oriente Médio
As negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos devem ser retomadas no sábado, mas o principal impasse agora gira em torno do programa de mísseis iraniano, e não mais do enriquecimento de urânio. Segundo autoridades de Teerã, os EUA aceitaram que o Irã continue com parte de seu programa nuclear, contanto que o país importe urânio enriquecido para uso civil. No entanto, o arsenal de mísseis do Irã continua sendo uma barreira crítica ao avanço diplomático. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que não haverá acordo sem o fim completo do enriquecimento local. Paralelamente, a tensão na Turquia segue elevada após a prisão do prefeito de Istambul, o que impactou os mercados e levou o banco central a elevar os juros de 42,5% para 46%. Apesar da inflação anual ter caído para 38,1% em março, as famílias ainda projetam inflação de 59,3% em 12 meses. O Banco Central turco considera que as expectativas inflacionárias seguem altas e ameaçam o processo de desinflação.
No mercado de energia, a OPEP+ discute um novo aumento acelerado na produção de petróleo para o mês de junho, após ter ampliado a produção em maio em mais de 400 mil barris por dia — três vezes acima do previsto. A medida gerou atrito entre os membros do grupo, que divergem sobre o cumprimento das cotas e os impactos nos preços. A queda recente no preço do barril, pressionado por fatores como a guerra comercial entre EUA e China, também contribui para o debate interno. Nesta quarta-feira, o Brent caiu mais de 2%, sendo negociado abaixo de US$ 66 — o nível mais baixo em quatro anos. A proposta de novo aumento deve ser decidida por oito países no encontro de 5 de maio. A Arábia Saudita, peça-chave nas articulações da OPEP+, ainda não se manifestou oficialmente sobre a medida. A decisão pode ter forte impacto geopolítico e nas economias dependentes da exportação de petróleo, especialmente diante da atual fragilidade dos mercados globais.
Estados Unidos
Os dados mais recentes da economia americana não indicam recessão no curto prazo, apesar de sinais mistos nos indicadores de atividade. O PMI industrial de abril avançou de 50,2 para 50,7 pontos, superando as expectativas e apontando expansão no setor, o que surpreendeu positivamente os analistas. Por outro lado, o PMI de serviços caiu de 54,4 para 51,4, abaixo do esperado, sugerindo possível perda de fôlego nesse segmento. Ainda assim, o cenário geral segue resiliente e o Federal Reserve continua adotando uma política monetária baseada em dados, mantendo-se cauteloso quanto a novos movimentos nos juros. A divergência entre os setores evidencia uma economia em transição, sem sinais claros de retração. A evolução dos próximos indicadores será fundamental para definir o rumo da política monetária. O foco permanece no balanço entre crescimento sustentável e controle da inflação.
No mercado imobiliário, os dados de março apontaram enfraquecimento nas vendas de imóveis existentes, que caíram 5,9% em relação ao mês anterior e 2,4% na comparação anual. Ainda assim, os preços se mantêm firmes: o valor mediano das vendas subiu 2,7% em 12 meses, alcançando US$ 403.700. O aumento no estoque de imóveis, que chegou a 1,33 milhão de unidades, representa uma alta de 8,1% sobre fevereiro e quase 20% em relação ao ano anterior. Esse movimento pode oferecer algum alívio à demanda reprimida por moradias, mas ainda reflete um mercado apertado, com poucas opções disponíveis. O aumento nos estoques pode ser um sinal positivo para a moderação de preços, embora ainda não haja indícios de queda expressiva. A resiliência nos valores mostra que a pressão sobre o custo de moradia segue sendo um desafio para a política monetária. O setor continua sob os efeitos de juros elevados e baixo dinamismo na oferta.
Brasil
O IPCA-15 de abril avançou 0,43%, em linha com as expectativas, mas reforçou a percepção de que a inflação segue pressionada. No acumulado de 12 meses, a taxa subiu de 5,26% para 5,49%, com destaque para os bens industrializados, cuja alta mensal foi de 0,57%. Mesmo com esse dado acima do esperado, o Banco Central tem comunicado que vê tendência de aceleração pontual nos preços de bens. Ao mesmo tempo, fatores externos como a guerra comercial e a volatilidade do dólar podem aliviar essas pressões inflacionárias adiante. Por ora, a projeção de IPCA em 6% para 2025 segue mantida, mas com viés de baixa. O comportamento dos preços nos próximos meses será decisivo para calibrar a política monetária. A inflação ainda exige atenção, mas não altera significativamente o cenário base.
No câmbio, o dólar recuou para R$ 5,65 após ter começado a semana em R$ 5,80, influenciado por falas de Donald Trump sobre negociações comerciais com vários países, incluindo a China. A volatilidade permanece elevada e nossa estimativa para o fim de 2025 é de R$ 6,00. No front doméstico, a segunda fase do novo crédito consignado começou a operar, agora com liberação direta pelos bancos, o que deve dar impulso ao consumo. O programa já movimentou mais de R$ 8 bilhões e, junto a outras ações do governo, deve ajudar a conter a desaceleração da atividade. Considerando esses estímulos, nossas projeções de crescimento do PIB foram revisadas para cima: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026. O crédito ao consumo pode atuar como importante amortecedor para o cenário econômico nos próximos trimestres.