Morning Call
Trump volta a atacar em dia de Powell e IPCA

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*.
[11/02/25]
… A desaceleração esperada para o IPCA de janeiro (9h), de 0,52% em dezembro para 0,16%, na mediana do mercado, terá o impacto do bônus de Itapu nas tarifas de energia elétrica e, por isso, economistas estão mais interessados nos dados de abertura para projetar expectativas à Selic. Em outro destaque da agenda doméstica, Haddad reúne-se às 14h com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para vender sua agenda econômica. Na sequência, o ministro tem encontro com Lula para discutir o Orçamento/2025. Antes disso, às 12h, as atenções estarão voltadas para Powell, que fará o seu depoimento semestral sobre política monetária no Senado americano. O presidente do Fed deve abordar os riscos das políticas de Trump, que, ontem à noite, assinou a tarifa de 25% para o aço e o alumínio.
… Com entrada prevista para vigorar a partir de 4 de março, a nova alíquota (até agora era de 10%) foi oficializada em ordem executiva do presidente e cancela isenções e cotas para grandes fornecedores, como o Canadá, México e o Brasil.
… A ação ainda restabelece uma tarifa de 25% sobre milhões de toneladas de importações de aço e alumínio que estavam entrando no país isentos de impostos sob acordos de cotas, isenções e milhares de exclusões de produtos.
… No Salão Oval, Trump disse que os 25% valem para todos, “sem exceções ou isenções”.
… Trump também impôs um novo padrão exigindo que as importações de aço sejam “fundidas e vertidas” e o alumínio “fundido e moldado” para conter as importações de aço chinês minimamente processado nos Estados Unidos.
… A medida, que até o último minuto foi relativizada pelos mercados, pode aumentar o risco de uma guerra comercial em várias frentes.
… A imposição de uma taxa de 25% a importadores americanos de aço e alumínio trouxe algum estresse apenas na abertura dos negócios, nesta 2ªF, pressionando o dólar e a curva de juros, mas investidores passaram a apostar que não se concretizaria.
… Confirmadas, destacaram analistas da Monte Bravo, as tarifas terão impacto no Brasil, pois 48% das exportações brasileiras de aço têm os Estados Unidos como destino. No caso do alumínio, o porcentual é de 16%.
… Segundo a consultoria Eurasia, o Brasil deve ser atingido duplamente pela política comercial de Trump, não só nas tarifas setoriais, mas também na reciprocidade tarifária aos países parceiros que, segundo o presidente, “tiram vantagem dos Estados Unidos”.
… Embora os dois países mantenham uma balança comercial equilibrada, as tarifas de ambos são consideravelmente desiguais: o Brasil impõe uma tarifa média de cerca de 11% sobre produtos americanos, enquanto a tarifa média dos EUA é de apenas 2%.
… Na avaliação do ING, os países mais expostos são Brasil, Índia e Coreia do Sul, que têm tarifas mais altas que a dos americanos. Trump prometeu anunciar a reciprocidade nesta 3ªF (ainda hoje) ou 4ªF (amanhã).
… A expectativa agora é para a reação dos países, ou se vão retaliar, como prometeu o presidente Lula na semana passada.
… As primeiras reações, nesta 2ªF, foram de cautela. Nem o ministro Fernando Haddad nem o vice Geraldo Alckmin quiseram comentar a possibilidade de Trump cumprir a ameaça de sobretaxar as importações de aço e alumínio.
… Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o Brasil tende a ser “cauteloso” em resposta às tarifas de Trump, mesmo porque “uma retaliação pode ser um impulso a mais para a inflação, que tem sido a preocupação número um do governo”.
… Já na Europa, que parece ser a próxima da lista, os líderes continuam se manifestando.
… Depois do chanceler alemão Olaf Scholz prometer reação em até uma hora se os EUA impuserem novas tarifas, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou ontem que a União Europeia “precisa estar pronta para agir em função de seus próprios interesses”.
… Para Cristine Lagarde (BCE), os atritos no comércio global tornam incertas as perspectivas para a inflação na zona do euro.
BRASÍLIA – Haddad tem reunião com Davi Alcolumbre (14h) para discutir a agenda econômica, após ter conversado com Hugo Motta na semana passada. Na ocasião, disse que a Câmara toparia reabrir o debate dos supersalários e que “a bola estava com o Senado”.
… Da agenda de 25 itens para este ano, a mais importante para o governo é a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, um custo que a equipe econômica quer cobrir com a tributação de quem tem renda a partir de R$ 50 mil.
… Do Senado, Haddad segue para reunião com Lula no Planalto (15h30), onde junto com os ministros que compõem a Junta de Execução Orçamentária (Simone Tebet e Esther Dweck), discutirá a reformulação do Orçamento deste ano. Rui Costa participa.
MAIS AGENDA – O bônus de Itaipu na tarifa de energia elétrica deve contribuir para a desaceleração do IPCA, de 0,52% em dezembro para 0,16% em janeiro. Mas esse é um impacto pontual e a inflação subjacente é a mais importante.
… O resultado reflete a queda mais intensa esperada em Habitação, devido à queda de 14% em energia elétrica residencial. Já o grupo de Alimentação e Bebidas deve continuar exercendo pressão sobre o índice, embora a perspectiva seja de redução do ímpeto de alta.
… A perspectiva também é de aceleração para o grupo Transportes, como efeito de avanço nos preços das passagens aéreas.
… Segundo o Projeções Broadcast, as medianas apontam avanço das médias de núcleos (de 0,58% em dezembro para 0,62%), de serviços (0,66% para 0,78%), serviços subjacentes (0,67% para 0,91%) e preços livres (de 0,76% para 0,80%).
… Já bens industriais (0,65% para 0,56%), administrados (-0,17% a -1,64%) e alimentação no domicílio (1,56% a 1,20%) devem arrefecer.
… Antes do IPCA, saem as primeiras prévias de janeiro do IPC-Fipe (5h) e IGP-M (8h). Os dados regionais da produção industrial de dezembro vêm às 9h. Galípolo se reúne às 15h com o presidente do Goldman Sachs, Durão Barroso.
NOS EUA – Além de Powell, três dirigentes do Fed participam hoje de eventos públicos: Beth Hammack (10h50), John Williams e Michelle Bowman (17h30). O presidente do BC inglês (BoE), Andrew Bailey, discursa às 9h15.
GUERRA COM VENCEDORES E PERDEDORES – O salto de 5% da Gerdau ontem revela que a empresa pode faturar alto com o protecionismo trumpista, na medida em que tem parte relevante da produção nos EUA.
… Gerdau (+5,21%; R$ 17,57) e Metalúrgica Gerdau (+4,81%; R$ 9,80) ficaram entre os maiores ganhos do pregão.
… Já outras ações do setor de aço e alumínio, que não serão poupadas do alcance da tarifação anunciada, têm tudo para devolver o embalo da véspera, caso de Usiminas PNA (+2,14%; R$ 5,72) e CSN ON (+1,45%; R$ 9,07).
… A CSN vende produtos laminados de alto valor agregado aos americanos. Ainda entre as fabricantes que mais devem perder com a barreira tarifária, estão a ArcelorMittal e Ternium, produtoras de aço semiacabado (placas).
… O Ibov esteve insensível ontem às ameaças de Trump, julgando que era blefe para negociar só “no gogó”.
… A força das ações das commodities e dos bancos garantiu impulso à bolsa (+0,76%, a 125.571,81 pontos), ainda que o Ibov não tenha bancado até o fechamento a linha dos 126 mil pontos conquistada na máxima (126.386).
… O minério (+0,79%) subiu na cola do aumento acima do esperado da inflação na China em janeiro e o petróleo foi impulsionado pelo risco de que divergências possam melar o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.
… O Hamas acusa Israel de não cumprir as exigências acertadas, ameaçando a retomada do conflito em breve.
… Vale fechou na máxima do dia, em R$ 55,40 (+1,04%). Petrobras ON registrou +0,83% (R$ 40,03) e, PN, +0,68% (R$ 36,83). Lá fora, o barril do Brent para abril registrou valorização de 1,62%, negociado a US$ 75,87 no fechamento.
… Grandes bancos subiram, com exceção de Santander (-0,98%; R$ 26,15). Itaú ganhou 1,09% (R$ 34,29); Bradesco ON, +0,83% (R$ 10,97); e BB, +0,14% (R$ 27,82). Bradesco PN ficou praticamente estável (+0,08%; R$ 12,00).
… BTG Pactual recuou 1,77% (R$ 31,55) apesar do balanço trimestral sólido do 4Tri24. A baixa foi considerada por alguns operadores como um movimento de realização dos lucros recentes.
… TIM valorizou 1,21% (R$ 15,83) à espera dos resultados do 4Tri, divulgados depois do fechamento. Azul, com -3,17%, a R$ 3,66; e Embraer, com -2,13%, a R$ 60,97, lideraram as perdas do dia.
BLEFE NADA – Tem correção à vista para hoje no câmbio e na curva do DI, que ontem, junto com o Ibov, arriscaram o palpite de que a ameaça de Trump sobre o aço não se concretizaria ou seria revertida rapidamente.
… Decidindo não levar tão a sério a retórica do republicano, o real recebeu algum suporte nesta 2ªF do impulso das commodities, favorável às moedas de países produtores. Além disso, o carry trade entrou na conta.
… A perspectiva de Selic de 15% (Focus) ou mais no fim do ano elege o Brasil como alvo do capital estrangeiro.
… O economista Nicolas Borsoi (Nova Futura Investimentos) observou ao Broadcast que o k externo também pode estar entrando aqui como forma indireta de aproveitar a melhora nas expectativas para a China.
… O dólar à vista fechou em leve baixa de 0,13%, cotado a R$ 5,7860. Mas, diante do protecionismo nos EUA, onde Trump joga com todas as armas, volta à cena o perigo de a moeda recobrar os R$ 5,80 e ir mais além.
… Também a curva do DI tem cada vez menos espaço de manobra para devolver prêmio de risco, não só por causa de Trump, que tem tudo para exigir mais do Copom, como pelos ruídos fiscais, potencializados pelo viés eleitoreiro.
… O BC fez certo ao ganhar flexibilidade para agir, sem se comprometer com guidance para a decisão de política monetária em maio, porque o campo é minado de incertezas e Galípolo ganha tempo para se ambientar melhor.
… No levantamento Focus, houve nova piora das expectativas para a inflação. A mediana para o IPCA suavizado nos próximos 12 meses, relevante diante da meta contínua, subiu de 5,74% para 5,87%. Um mês atrás, estava em 5,01%.
… Já rompe faz tempo o teto tolerado, de 4,5%. A estimativa para o IPCA/25 subiu pela 17ª semana seguida: 5,51% para 5,58%, mais de 1pp acima do limite superior da banda. A mediana para o IPCA/26 foi de 4,28% para 4,30%.
… Não houve alteração nas projeções de Selic para o fim de 2025 (15,00%) e 2026 (12,50%), já bem elevadas.
… Em sessão morna, os contratos futuros dos juros fecharam nesta 2ªF em leve baixa na ponta curta e no “miolo” da curva, induzidos pelo discreto alívio do dólar, enquanto a ponta longa terminou o pregão praticamente estável.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,975% (de 15,020% no fechamento anterior); Jan/27, 15,160% (de 15,195%); Jan/29, a 14,885% (14,900%); e Jan/31, 14,840% (14,820%). Jan/33 não se mexeu (14,770%).
… Antes mesmo da confirmação oficial de Trump das tarifas sobre o aço, carta mensal divulgada pela gestora Verde indicava aos seus clientes que a melhora recente dos ativos domésticos parece ter caráter temporário e técnico.
… “Esperamos que, conforme a agenda de aumento da faixa de isenção do IR volte à tona nos próximos meses, o mercado deva retomar o olhar para a frágil situação fiscal do País e demande prêmios de risco maiores.”
QUASE PASSOU BATIDO – Em Wall Street, predominou ontem a leitura de que os resultados da política tarifária de Trump seriam menores do que o temido e os investidores se sentiram encorajados a comprar ações.
… A alta dos índices de ações foi liderada pelo grupo mais poderoso, as techs. O Nasdaq avançou 0,98%, aos 19.714,27 pontos. O S&P 500 ganhou 0,67% (6.066,44), absorvendo o temor de uma guerra comercial.
… Siderúrgicas foram as ganhadoras no dia. Cleveland Cliffs deu um salto de 17,93%, seguida por Steel Dynamics (+4,86%), US Steel (4,8%, Commercial Metals Company (+2,36%) e Alcoa (+2,21%).
… Apesar de apresentar resultados do 4Tri24 levemente abaixo das expectativas, as ações do McDonald’s subiram 4,80%, ajudando a puxar a alta de 0,38% no Dow Jones, aos 44.470,41 pontos.
… Já o câmbio foi sustentado pela retórica do presidente dos EUA e o índice DXY subiu 0,26%, a 108,319 pontos. O euro caiu 0,17%, a US$ 1,0309. A libra cedeu 0,31%, a US$ 1,2366, e o iene perdeu 0,34%, a 151,918/US$.
… Nos Treasuries, não houve estresse. O juro da note-2 anos caiu a 4,273%, de 4,293% na sessão anterior. Os longos tiveram alta marginal: note-10 avançou a 4,499% (de 4,491%) e o do T-bond de 30 anos subiu a 4,713% (de 4,685%).
… Para o Commerzbank, a tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio afeta uma importante cadeia de produção e pode pressionar a inflação, o que levaria a uma política mais hawkish do Fed e a um dólar mais alto.
… Ontem, porém, pesquisa do Fed/NY indicou expectativas estáveis (em 3%) para a inflação nos horizontes de 1 e 3 anos e alta (de 2,7% para 3%) nas previsões dos consumidores para cinco anos.
… Os dados vêm na sequência da pesquisa da Universidade de Michigan, que na última 6ªF mostrou uma alta expressiva nas expectativas de inflação de curto prazo dos americanos.
EM TEMPO… ITAÚSA aprovou a distribuição de R$ 6,6 bilhões em proventos, sendo R$ 4,4 bilhões em dividendos (R$ 0,4081 por ação) e R$ 1,1 bilhão em JCP (R$ 0,1011 por ação), com pagamento em 7/3…
… Pagará ainda, em 1º/4, R$ 510 milhões em JCP correspondentes a duas parcelas dos proventos trimestrais fixos, a R$ 0,0235 por ação. Por fim, pagará em 22/4 mais R$ 1 bilhão em dividendos, correspondentes a R$ 0,092 por ação…
… A empresa aprovou aumento do capital social da companhia, no valor de até R$ 1 bilhão, passando a R$ 81,189 bilhões, mediante a emissão privada de 149.253.731 novas ações escriturais, sendo 51.305.206 ON e 97.948.525 PN.
AZUL vai propor a seus acionistas, em assembleia no próximo dia 25, uma conversão automática de ações preferenciais (PN) em ordinárias (ON)…
… A proposta segue um aumento de capital da companhia área, que pode chegar a R$ 6,2 bilhões, e seria feito só com ações PN.
LWSA. Conselho confirmou Rafael Chamas como CEO. Também aprovou a eleição de Fernando Biancardi Cirne, que liderou a LWSA nos últimos seis anos como diretor-presidente, para o cargo de membro efetivo do colegiado.
TIM registrou lucro líquido normalizado de R$ 1,055 bilhão no 4Tri24, alta anual de 17,1%. O Ebitda anualizado aumentou 6,2%, para R$ 3,346 bilhões, e a receita líquida cresceu 5,7%, para R$ 6,631 bilhões…
… A companhia vai distribuir R$ 200 milhões em JCP, a R$ 0,08 por ação; ex em 18/02.
COSAN anunciou que fará o resgate antecipado facultativo total da 7ª emissão de debêntures. Serão resgatadas 14,915 milhões de debêntures, no valor de US$ 306,724 milhões, convertida pela taxa cambial do dia 12/2.
OPENAI. Um consórcio de investidores liderado por Elon Musk fez oferta de US$ 97,4 bilhões pela empresa.
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