Morning Call
Tombo das high techs e payroll movimentam NY
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[02/08/24]
… Se o payroll nos Estados Unidos (9h30) surpreender com números mais fracos em julho, tende a reforçar o medo de um hard landing da economia, que estressou os mercados nesta 5ªF e elevou as apostas em doses maiores de corte do juro, com o Fed correndo atrás do prejuízo. Wall Street tem ainda os tombos de Amazon (-7,26%) e Intel (-19%) no after hours, após a decepção com os balanços de ontem à noite. A aversão ao risco que dominou os negócios atingiu em cheio os emergentes e bateu forte no real, com o dólar disparando até a máxima de R$ 5,74, um dia depois de o Copom sinalizar que prefere esperar a acomodação da taxa de câmbio e das expectativas antes de decidir se vai ou não subir o juro. Na agenda dos indicadores domésticos, destaque para a produção industrial de junho (9h).
… A mediana indica avanço de 2,5% na produção da indústria na margem, após recuo de 0,9% em maio, e de +1,7% na comparação anual. A retomada na fabricação de automóveis após as enchentes no Rio Grande do Sul deve contribuir para o resultado de junho.
… Meia hora depois (9h30), o relatório de emprego dos EUA deve mostrar a criação de 180 mil vagas em julho, abaixo de junho (206 mil), com a taxa de desemprego mantida em 4,1% e aumento de 0,30% do salário médio (3,7% na base anual, de 3,9% no mês anterior).
… Nesta 5ªF, apenas um dia depois que Powell fez a festa do mercado confirmando as expectativas de corte do juro a partir de setembro, os investidores foram surpreendidos por dados da atividade e do emprego bem mais fracos que o esperado.
… O PMI/ISM industrial de julho caiu a 46,8, de 48,5 (consenso era de 48,8), detonando um movimento de aversão ao risco que derrubou as bolsas em NY, os juros dos Treasuries com a demanda defensiva e disparou o dólar, como ativo de proteção.
… Ainda os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA atingiram o maior nível em um ano, com desaceleração nas contratações, reforçando a evidência de que o mercado de trabalho pode estar esfriando mais que o desejado.
… Na ferramenta do CME Group, os investidores aumentaram a aposta num corte de 0,50pp pelo Fed (11,8% para 18,5%) em setembro. A aposta majoritária ainda é de um corte de 25pbs, que está agora em 81,5%, de 88,1% na véspera.
… Entre os emergentes, a alta do dólar foi generalizada, mas o real teve a pior performance, enquanto os juros futuros de curto prazo se ajustavam em queda ao Copom, reduzindo as apostas em uma alta de 100pbs do juro neste ano (leia abaixo).
INTEL – O prejuízo líquido de US$ 1,6 bilhão no 2Tri (US$ 0,02/ação) reverteu lucro de US$ 1,5 bilhões no mesmo período de 2023, melhor do que a expectativa de analistas à FactSet (US$ 0,10), mas a queda da receita (US$ 12,8 bilhões) superou as projeções.
… A companhia ainda anunciou um plano de demitir perto de 15 mil funcionários.
AMAZON – A receita de US$ 147,98 bilhões no 2Tri também ficou abaixo do esperado pelo mercado, assim como a previsão de receita e dos lucros no 3Tri, o que neutralizou o lucro acima do previsto (US$ 13,49 bilhões, ou US$ 1,26/ação, da projeção US$ 1,03/ação).
APPLE – Das três big techs que divulgaram balanço, só ela escapou da decepção, com lucro líquido de US$ 21,45 bilhões no 3Tri fiscal, alta 8% ante o mesmo período do ano passado, e acima da projeção de US$ 20,65 bilhões de analistas consultados pela FactSet.
… Diluído por ação, o lucro foi de US$ 1,40, acima dos US$ 1,27 do mesmo período de 2023, e maior do que os US$ 1,34 previstos.
… A receita da Apple no trimestre encerrado em junho foi de US$ 85,78 bilhões, alta de quase 5% em comparação ao ano anterior, acima do esperado. Já as vendas de Iphones desaceleraram no período, embora ainda tenham ficado acima das expectativas.
… No after hours, a ação fechou em alta de 0,58%, após oscilar entre perdas e ganhos.
MAIS AGENDA – Nos EUA, saem os balanços da Chevron e ExxonMobil, antes da abertura. As encomendas à indústria (11h) têm previsão de +0,5%. Às 14h, a Baker Hughes solta os poços de petróleo em operação.
… Aqui, saem o IPC-Fipe (5h), que deve desacelerar a 0,09% em julho, e os dados da Fenabrave (sem horário).
SPIKE – Não bastasse o real ter o rali do iene no script de suas perdas recentes, ontem teve que lidar também com a pressão defensiva do dólar no exterior, diante do movimento de risk-off detonado pelo medo de recessão nos EUA.
… A queda foi generalizada entre as moedas emergentes, mas o real teve a pior performance. O dólar rompeu a resistência psicológica dos R$ 5,70 e voou até R$ 5,7430 na máxima, para fechar perto disso, a R$ 5,7350 (+1,41%).
… A moeda norte-americana não ficava tão cara desde dezembro de 2021. Agora quase sempre sob ataque vendedor (apesar do Fed dovish), a divisa brasileira continua complicando a dinâmica da inflação para o Copom.
… Apesar de o dólar ter escalado e de o fantasma de recessão ter voltado à cena nos EUA, os juros futuros curtos e intermediários ainda caíram, embora tenha freado o ritmo de queda ao longo da segunda metade do pregão.
… Os contratos se ajustaram em queda à baixa nas taxas dos Treasuries, despertada pelo risco de hard landing, e também ao consenso que o comunicado do Copom não pegou tão pesado como se temia nos alertas de cautela.
… Só os DIs longos subiram, em movimento de compensação, diante do risco de que, se o BC não subir a Selic no curto prazo, possa ter que apertar lá na frente, no caso de o câmbio, inflação e fiscal assustarem demais.
… No fechamento, o DI Jan/25 caiu a 10,685% (contra 10,724% no dia anterior); Jan/26, a 11,560% (de 11,620%); e Jan/27, a 11,810% (de 11,840%). Já o Jan/29 subiu a 12,020% (de 11,980%); e Jan/31, a 12,060% (de 11,960%).
… Na curva, a precificação de alta de 1pp da Selic perdeu força, mas novos apertos não estão fora do radar.
… Já entre os economistas, à espera da ata, na próxima 3ªF, a aposta para a taxa Selic segue em 10,5% até o final do ano, segundo pesquisa do Broadcast. Essa é a expectativa de 39 de 43 economistas (90,6%), sendo que 24 entre 41 (58,5%) projetam cortes em 2025.
PROVA DE RESISTÊNCIA – Em demonstração de força nesta 5ªF, apesar da liquidação das bolsas em NY, o Ibovespa limitou a queda a quase nada (-0,20%) e bancou os 127 mil pontos (127.395), com giro de R$ 23,6 bi.
… Operou também à prova de balas de três blue chips – Vale (ON, -2,24%, a R$ 60,25), Petrobras (ON, -1,85%, a R$ 39,85; PN, -1,52%, a R$ 36,84) e Itaú (-1,45%, a R$ 33,37) – desafiando com ousadia os focos negativos.
… BB caiu 0,68%, para R$ 26,37. As perdas no índice à vista da bolsa foram amortecidas pelo desempenho favorável de Bradesco (ON, +1,07%, a R$ 11,35; e PN, +1,29%, a R$ 12,59) e de Santander (+1,78%; R$ 29,16).
… Outros três papéis que também possuem forte peso no Ibov exibiram ganhos expressivos: Telefônica (4,31%), considerada boa pagadora de dividendos; Weg (4,30%); e Marfrig (3,71%), à espera de seu balanço (dia 14).
… Impulsionada pelo resultado trimestral considerado “bom” pelo BofA, Ambev registrou valorização de 1,38%.
… Animada pela temporada de balanços melhor no 2Tri, a XP elevou a projeção do Ibovespa de 145 mil pontos para 147 mil no final do ano. Os fundamentos das empresas permanecem saudáveis no Brasil, avalia a corretora.
… Em sua estreia depois da concretização da fusão entre Arezzo e Grupo Soma, o papel da Azzas (nome da nova empresa) se destacou no ranking positivo da bolsa doméstica e registrou valorização de 3,58%, cotado a R$ 50,39.
… A B3 divulgou a primeira prévia da carteira teórica do índice à vista com a saída dos papéis da Dexco (-4,38%) e a inclusão de Auren, Caixa Seguridade e Santos Brasil. Até o final do mês, a bolsa informará mais duas prévias.
FESTA CURTA – Mal deu tempo de NY curtir o momento de Powell (corte de juro em setembro), porque menos de 24h depois já foi atropelada pela inesperada volta à tona do debate de hard landing, que andava adormecido.
… Bateu o medo de que o payroll venha fraco e, ao invés de animar as apostas do Fed dovish, eleve o perigo de uma desaceleração mais severa da economia americana. O temor acionou uma espiral de estresse ontem.
… Na corrida pelo apelo defensivo dos Treasuries, pela primeira vez desde fevereiro, a taxa da Note-10 anos furou 4% e foi parar em 3,987%, contra 4,050% no pregão anterior. O retorno do título de 2 anos caiu a 4,166%, de 4,253%.
… As bolsas em NY também operaram no susto. O índice Dow Jones caiu 1,21%, para 40.347,97 pontos, o S&P 500 recuou 1,37%, aos 5.446,68 pontos, e o Nasdaq foi pior ainda, em queda de 2,30%, aos 17.194,15 pontos.
… Priorizando a busca por segurança, o investidor comprou dólar, puxando o índice DXY (+0,31%) para 104,421 pontos. A libra (US$ 1,2746) foi pior que o euro (US$ 1,0797), após o BoE dar início ao seu ciclo de flexibilização.
… Em decisão apertada (5 a 4), o BC inglês decidiu cortar o juro em 25pb, para 5%. No BCE, o dirigente Yannis Stournaras previu a chance de mais dois cortes no ano, caso o processo de desinflação continue como o esperado.
… Firme e forte, o iene (+0,38%, a 149,74/US$) não interrompeu o entusiasmo com a decisão hawkish do BoJ.
… O cenário de cautela ontem também foi intensificado pelas tensões geopolíticas no Oriente Médio, conforme o Irã e o Hezbollah prometem retaliação a Israel após o assassinato de um líder militar do grupo extremista.
… O risco de a violência aumentar, no entanto, não foi computado pelo petróleo, porque a preocupação com a demanda falou mais alto, diante do risco de que a desaceleração econômica nos EUA possa virar um agravante.
… O contrato do Brent para outubro caiu 1,63%, a US$ 79,52 por barril, na ICE. A Opep+ manteve inalterada ontem a política de produção e reiterou os planos de desfazer os cortes gradualmente ao longo do próximo ano.
EM TEMPO… CIELO registrou lucro líquido recorrente de R$ 385,6 milhões, baixa de 20,7% na comparação anual; Ebitda somou R$ 727 milhões no 2TRI, queda de 30,5% em relação ao mesmo período de 2023.
EZTEC registrou lucro líquido de R$ 88,66 milhões no 2TRI, alta de 17,7% na comparação anual…
… Construtora aprovou a distribuição de R$ 21,057 milhões em dividendos intermediários, o equivalente R$ 0,0965 por ação, com pagamento em 30/8; ex em 9/8.
MARCOPOLO registrou lucro líquido de R$ 250,9 milhões no 2TRI, alta de 78,6% na comparação anual; Ebitda somou R$ 382,3 milhões, avanço de 142% em relação ao mesmo período de 2023.
LOG COMMERCIAL PROPERTIES registrou lucro líquido de R$ 91,9 milhões no 2TRI, alta de 108,8% na comparação anual; Ebtida somou R$ 140,8 milhões, o dobro do apurado um ano antes.
AUREN ENERGIA registrou lucro líquido de R$ 91,1 milhões no 2TRI, queda de 50,2% na comparação anual; Ebitda somou R$ 398,1 milhões, recuo de 13,1% em relação ao mesmo período de 2023…
… Empresa prepara caixa para fusão com a AES Brasil, anunciada em maio e que tornará a empresa a terceira maior geradora do País, com expectativa de concluir a operação até o fim de outubro.
AES BRASIL registrou prejuízo líquido de R$ 104,1 milhões no 2TRI, revertendo lucro de R$ 35,9 milhões de um ano antes; Ebitda ajustado somou R$ 373,2 milhões, alta de 7,4% em relação ao mesmo período de 2023.
TOTVS aprovou a distribuição de R$ 136,8 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,23 por ação, com pagamento em 26/8; ex em 7/8.
COPASA fechou contrato no abastecimento de água e esgoto com o município de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata Mineira…
… A forma de regulação foi alterada de discricionária para contratual, sendo a Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento Básico de Minas Gerais (Arisb-MG) a nova responsável pela regulação…
… Vigência contratual foi prorrogada em sete anos, para até julho de 2054.
REDE D’OR concluiu a alienação da totalidade das participações detidas na D’Or Consultoria para a MDS. Aquisição foi aprovada pelo Cade nesta 5ªF; negócio foi fechado em maio e avaliado em R$ 800 milhões.
SANTOS BRASIL movimentou 135.615 contêineres em julho, alta de 18,3% sobre igual mês de 2023.
EMBRAER informou que, em julho, realizou a primeira venda do avião agrícola Ipanema 203 movido a etanol, fabricado pela companhia…
… Comercialização foi viabilizada por financiamento do Programa Fundo Clima (BNDES), na modalidade que prevê aquisição de máquinas e equipamentos relacionados à redução de emissões de gases do efeito estufa.
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