Morning Call
Risco geopolítico e PPI nos EUA conduzem os mercados
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[13/08/24]
… Os riscos de uma guerra ampliada no Oriente Médio, diante da expectativa de um ataque iminente do Irã contra Israel, impõem cautela aos mercados globais, com investidores correndo para os Treasuries e o ouro, enquanto o petróleo dispara e as ações esperam pelos indicadores de inflação nos EUA. O primeiro já sai hoje (9h30): o índice de preços ao produtor (PPI), que poderá antecipar a reação ao CPI, amanhã (4ªF), e deve definir as apostas para o tamanho do corte do juro em setembro. Números muito diferentes do consenso podem provocar fortes movimentos dos ativos. Ainda em NY, Home Depot divulga balanço antes da abertura, enquanto a B3 só tem resultados à noite. O volume de serviços em junho (9h) é destaque entre os indicadores, em dia de novas falas de RCN e de diretores do BC.
… Campos Neto participa de audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, a partir das 10h; Gabriel Galípolo profere palestra em evento da Potion, no Rio (13h45); e Diogo Guillen discursa na entrega dos Prêmios Broadcast 2024 (19h50).
… Em particular, as declarações de Galípolo têm surpreendido positivamente o mercado, devolvendo confiança na credibilidade da política monetária. Nesta 2ªF, ele admitiu em evento da Warren que “uma alta da Selic está na mesa do Copom”.
… A curva a termo de juros projetava no fechamento quase 70% de probabilidade de aumento de 25pbs da Selic no Copom de setembro, apesar das notícias melhores do Boletim Focus e da forte queda do dólar, que fechou abaixo de R$ 5,50 (leia abaixo).
… Hoje, é importante o volume de serviços do IBGE (9h), que deve subir 0,9% em junho, após ter ficado estável em maio. Em pesquisa do Broadcast junto a economistas do mercado, as estimativas, todas de alta, variam de 0,3% a 2,0%.
… O desempenho positivo dos serviços prestados às famílias e o impulso do mercado de trabalho devem corroborar o avanço do setor.
… Meia hora depois (9h30), sai nos EUA o PPI, que tem previsão no índice cheio de alta de 0,2% em julho (0,2% em junho) e 2,3% na base anual. Já para o núcleo, a mediana aponta para desaceleração de 0,4% para 0,2% na margem e de 3% para 2,7% anual.
… Se os dados vierem mais ou menos dentro do esperado, é possível que o mercado aumente as apostas em um corte de 25pbs do juro americano em setembro, que estava ontem em 48,5%, reduzindo as fichas em uma queda maior, de 50pbs (51,5%).
… Para o BMO Capital Markets, os mercados podem tomar decisões baseados no PPI, sem paciência para aguardar o CPI amanhã, já que a leitura da inflação será um “teste decisivo para a sustentabilidade de um regime de menor volatilidade nas próximas semanas”.
… Já analistas do BofA avaliam que uma leitura fraca da inflação deve incentivar um rali de alívio nas ações, enquanto sinais de aceleração da inflação podem se tornar catalisadores de uma “forte baixa” nas bolsas em Wall Street.
REFORMA TRIBUTÁRIA – A Câmara aprovou o requerimento de urgência para o segundo projeto de regulamentação, que poderá ser votado diretamente no plenário, sem passar antes por análise em comissões.
… Com a tramitação do texto acelerada, lideranças partidárias tentam votar a matéria entre hoje e amanhã.
… O governo tem como prioridade concluir a votação da regulamentação da reforma tributária ainda neste ano. Mas, no Senado, Pacheco já afirmou que o projeto não será votado antes das eleições municipais de outubro.
BALANÇOS – JBS, Cemig, Localiza, Raízen, Rede D´Or e Nubank soltam resultados após o fechamento.
LÁ FORA – Já com o dado de inflação do PPI em mãos, Raphael Bostic (Fed) fala às 14h15. AIE divulga relatório mensal sobre petróleo (5h) e, na Alemanha, sai o índice ZEW de expectativas econômicas em agosto (6h).
AVISO EM DOIS? – Galípolo, que mais parece um falcão, disse ontem que o fato de a alta da Selic estar no radar “não é guidance”. Mas assegurou que o BC “de maneira nenhuma” se desviará de perseguir a meta de inflação.
… Os comentários combinaram com a mensagem transmitida mais cedo por Campos Neto, de que, mesmo após sua saída do BC (dezembro), o Copom manterá o compromisso “inequívoco” de trabalhar pela inflação na meta.
… No segundo dia de reunião de economistas com diretores do BC, boa parte dos profissionais disse que, com a postura expansionista da política fiscal, dificilmente a Selic escapará de subir novamente em algum momento.
… Segundo relatos ao Broadcast, em geral, a percepção dos analistas presentes no encontro é de que há excesso de demanda na economia brasileira, que pressiona a inflação via salários, com o mercado de trabalho apertado.
… Dentro deste contexto, a indicação ontem de Haddad de que a projeção da Fazenda para o PIB do ano será revista, superando 2,5%, entra como fator adicional de risco, à medida que pode abrir espaço para mais gastos.
… Com o BC preparando o espírito do mercado para a possível retomada do ciclo de alta da Selic, o DI ignorou nesta 2ªF a baixa das taxas dos Treasuries e o alívio do dólar. O salto do petróleo entrou como pressão extra.
… Pela manhã, traders chegaram a comemorar o fato de as estimativas para o IPCA de 2025 terem parado de piorar no levantamento Focus pela primeira vez desde março, com ajuste marginal de 3,98% para 3,97%.
… Já a aposta para a inflação de 2024 subiu pela quarta semana seguida (4,12% para 4,20%) e está a só 0,3pp de estourar o teto da meta, de 4,5%. À tarde, os juros futuros zeraram a queda com Galípolo e a tensão geopolítica.
… O DI para Jan/25 fechou na máxima de 10,765% (contra 10,745% no pregão anterior); Jan/26 subiu a 11,560% (de 11,540%); Jan/27, a 11,560% (de 11,550%); Jan/29 ficou estável (11,600%); e Jan/31, 11,620% (de 11,580%).
… A promessa de fluxo com a chance de Selic alta por mais tempo e a queda do iene, que alivia as operações de desmonte do carry trade, encorajaram o dólar a rodar abaixo de R$ 5,50, o que não ocorria há quase um mês.
… Nas primeiras horas do pregão, a moeda americana chegou até mesmo a furar a marca de R$ 5,48, com mínima intraday a R$ 5,4729. À tarde, subiu pontualmente com as ameaças de ataque do Irã a Israel.
… Mas voltou e fechou em -0,34%, a R$ 5,4962. Foi o quinto pregão seguido em baixa, com perda acumulada de 4,27% no período. Agora é ver se a inflação nos EUA e a violência no Oriente Médio não botam tudo a perder.
… O Copom já deixou explícito que precisa de um câmbio comportado para manter a Selic onde está.
MIL PONTOS POR DIA – É praticamente isso que o Ibov tem subido, na escalada de quase 6 mil pontos no intervalo de uma semana. Saiu da faixa dos 125 mil pontos na 2ªF passada para reconquistar os 131 mil ontem.
… Embora o índice à vista da bolsa tenha desacelerado da máxima intraday (+0,80%), quando bateu 131.661,99 pontos, conseguiu emplacar o quinto pregão consecutivo no azul e recuperou as marcas exibidas em janeiro.
… Fechou em alta de 0,38%, a 131.115,90 pontos, com giro de R$ 21,4 bi. Para o Itaú BBA, o Ibov reassumiu tendência de alta no curto prazo e o grande desafio é superar a resistência de 131.700 pontos (está perto).
… Os motores da bolsa ontem foram Petrobras e os bancos, que subiram em bloco. O salto de quase 3% do Brent/out (+3,31%, a US$ 82,30), diante da ameaça de ataque do Irã a Israel, deu combustível para a petrolífera.
… Deixando de lado a frustração com o prejuízo trimestral apresentado na semana passada, Petrobras ON teve a maior valorização da sessão, com +2,79%, a R$ 40,46, e Petrobras PN registrou ganho de 2,27% (R$ 37,34).
… O investidor também saiu comprando o setor financeiro: Bradesco ON (+1,00%, a R$ 13,16), Bradesco PN (+0,68%, a R$ 14,70), Itaú PN (+0,14%; R$ 34,61), Santander unit (+1,01%; R$ 28,96) e BB ON (+2,15%; R$ 27,12).
… Quem não vem bem é a Vale, com perda acumulada de quase 5% no mês. A ação voltou a ser impactada negativamente ontem pelo minério de ferro (-1,08%) e fechou em queda 0,51%, cotada a US$ 102,39.
… Azul levou um tombo de 11,95%, a R$ 7,00, após reportar prejuízo líquido ajustado de R$ 744,4 mi no 2Tri.
ROTAS DE FUGA – Coincidindo com a expectativa pelo PPI nos EUA, antes do CPI, que dá algum frio na barriga, ainda teve a tensão geopolítica ontem para deflagar uma onda de busca por proteção nos negócios em NY.
… No Oriente Médio, comenta-se que o Irã pode atacar hoje Israel, que está no maior nível de alerta do mês. Segundo as informações na imprensa, os EUA teriam enviado um segundo navio porta-aviões para a costa israelense.
… Outro foco de tensão vem do Kremlin, depois das ofensivas da Ucrânia dentro do território russo.
… No alvo do apelo defensivo, estiveram o ouro (+1,24%), que rompeu os US$ 2.500 (US$ 2.504,00), e os Treasuries, considerados os ativos mais seguros do mundo e sempre demandados em momentos de cautela.
… A procura pelos títulos do Tesouro derrubou as taxas dos bônus de todos os prazos: da Note-2 anos, a 4,008% (contra 4,048% no pregão anterior); de 10 anos, a 3,902% (de 3,939%), e do T-bond-30, a 4,198%, de 4,221%.
… Na contagem regressiva pelos dados de inflação nos EUA, como se viu, voltou a ser levemente majoritária na ferramenta de aposta do CME a chance de o Fed dar um corte maior no juro, de 50 pontos-base, em setembro.
… Mas como se vê, a disputa está muito acirrada, indicando que os próximos indicadores ainda podem virar o jogo.
… Veterano de mercado, o investidor David Roche acredita que o ciclo de queda do juro nos EUA será mais conservador, com menos cortes do que o mercado espera, contribuindo para que 2025 seja um ano de bear market.
… Segundo ele, que é estrategista da Quantum Strategy, a desaceleração dos EUA deve se juntar ao estouro da bolha de IA para projetar recuo de pelo menos 20% contra os picos recentes nas bolsas de Wall Street no ano que vem.
… Sem querer arriscar antes da agenda da semana, os índices de ações pouco oscilaram. O S&P 500 nem se mexeu (5.344,39 pontos). O Dow Jones caiu 0,36%, a 39.357,01 pontos, e o Nasdaq subiu só 0,21% (16.780,61 pontos).
… Ao contrária de outros ativos defensivos, o iene caiu 0,42%, negociado a 147,11/US$. Não vem bem desde a semana passada, quando o vice do BoJ descartou uma alta do juro enquanto os mercados estiverem instáveis.
… A depreciação da moeda japonesa, no entanto, não conseguiu garantir alta do índice DXI, que operou travado (+0,01%, a 103,139 pontos) antes do PPI. A libra subiu a US$ 1,2768 e o euro avançou para US$ 1,0933.
EM TEMPO… CSN apresentou prejuízo líquido de R$ 222,6 milhões no 2Tri, resultado 34% menor ante o esperado pelo Broadcast, que calculou a média de seis casas (Ágora, Santander, XP, BofA, Itaú BBA e Genial)…
… O Ebitda ajustado de R$ 2,645 bilhões veio 11% acima dos R$ 2,368 bilhões previstos. Já a receita líquida foi de R$ 10,8 bilhões, praticamente em linha com os R$ 10,5 bilhões esperados pelo mercado.
CSN MINERAÇÃO. O lucro líquido no 2Tri, de R$ 1,507 bilhão, deu um salto de 132,2% contra o previsto por analistas no Broadcast, que apontavam R$ 649 milhões. O Ebitda de R$ 1,618 bi ficou 7,9% acima do estimado (R$ 1,5 bi)…
… Por outro lado, a receita líquida, que somou R$ 3,324 bilhões, ficou 18,9% abaixo da esperada (R$ 4,1 bilhões).
NATURA &CO registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 858,9 milhões no 2Tri, alta de 17,4% contra o prejuízo líquido de R$ 732 milhões de igual período do ano anterior…
… Prejuízo líquido atribuído aos acionistas controladores também foi de R$ 859 mi, alta de 17,4% contra o prejuízo líquido atribuído aos acionistas um ano antes. O Ebitda consolidado ajustado totalizou R$ 808,5 mi (+14,2%)…
… A Avon pediu proteção a endividamento nos EUA. A Natura é a maior credora e, em processo de Chapter 11, equivalente à recuperação judicial, fará oferta de US$ 125 mi para seguir com operações da holding fora dos EUA.
ITAÚSA registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,635 bilhões no 2TRI, alta de 22,4% em um ano; ROE sobre PL médio foi de 17,7%, avanço de 1,9pp na comparação anual…
… Ativo total subiu 4,4% em um ano, para R$ 92,277 bilhões; Endividamento líquido caiu 70,1% em um ano, para R$ 833 milhões.
DIRECIONAL registrou lucro operacional de R$ 135,1 milhões no 2TRI, alta de 86,9% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 206,9 milhões, avanço de 56,8% em relação ao mesmo período de 2023.
MRV registrou prejuízo líquido atribuível aos acionistas controladores de R$ 71,3 milhões, revertendo lucro de R$ 181,1 milhões de um ano antes…
… Lucro líquido ajustado consolidado ficou em R$ 29,3 milhões, ante prejuízo do 2TRI23.
LOJAS QUERO-QUERO registrou prejuízo líquido de R$ 56,4 milhões no 2TRI, ante prejuízo de R$ 5,9 milhões no mesmo período de 2023; Ebitda somou R$ 11,9 milhões, queda de 75,1% em um ano.
3TENTOS registrou lucro líquido de R$ 145,6 milhões no 2TRI, alta de 89,3% na comparação anual; Ebtida ajustado somou R$ 83,4 milhões, avanço 90,2% em relação ao mesmo período de 2023.
SÃO MARTINHO registrou lucro líquido de R$ 106,32 milhões no 1TRI do ano-safra 2024/25, queda de 51,7%; Ebitda ajustado somou R$ 672,339, alta anual de 20,7%.
VIVEO registrou prejuízo líquido de R$ 88 milhões no 2TRI, revertendo lucro de R$ 55,4 milhões reportado um ano antes; Ebitda somou R$ 34 milhões, recuo de 82,5% em relação ao mesmo período de 2023.
SER EDUCACIONAL registrou lucro líquido de R$ 48,9 milhões no 2TRI, alta anual de 55,8%; Ebitda somou R$ 158,3 milhões, avanço de 111% em relação ao mesmo período de 2023.
COGNA. BlackRock reduziu participação na empresa de 9,962% para 7,62%, passando a deter 143 milhões de papéis e 91,6 milhões de CFDs.
AÉREAS. Representantes das companhias aéreas saíram otimistas da reunião realizada no STF em que se debateu o grande volume de processos judiciais contra o setor (fontes do Broadcast)…
… Na avaliação de um dos líderes presentes, os ministros se mostraram sensíveis ao tema, indicando apoio à discussão de medidas que visem a reduzir a litigiosidade.
EMBRAER. Virgin Australia encomendou oito jatos E190-E2 para renovação de frota; entrega do pedido está prevista para o segundo semestre de 2025.
TAESA. O lucro líquido IFRS somou R$ 403,1 mi no 2Tri, alta de 81,9% na base anual. A empresa informou que distribuirá R$ 223,2 mi em dividendos e JCP, a R$ 0,21 por ação (ON/PN). Os papéis ficam ex dia 16.
MSCI, de índices de mercado, adicionou Embraer, banco Inter, Nubank, PagBank, Stone e XP no MSCI Brazil na revisão de agosto; Eneva e Lojas Renner foram excluídos do índice…
… Mudanças começam a valer a partir do fechamento de 30 de agosto.
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