Morning Call
PCE e contas do Governo Central fecham a semana
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[26/07/24]
… Após o PCE no 2Tri confirmar a desaceleração da inflação nos EUA, sai hoje o índice de junho (9h30), em meio às expectativas unânimes de que o Fed iniciará o corte dos juros em setembro, com mais duas outras quedas até o final do ano. Investidores já esperam receber uma sinalização mais firme no Fomc da próxima semana, na mesma 4ªF da reunião do Copom. Só que aqui, apesar das apostas de estabilidade da Selic, o mercado se prepara para alertas mais conservadores do BC, depois do IPCA-15 acima do esperado, câmbio depreciado e dificuldades do governo para cumprir as metas do arcabouço fiscal. Na agenda doméstica, destaque para as contas do Governo Central no mês de junho (10h30). No noticiário corporativo, repercute na B3 o balanço de Vale. Hoje, sai Usiminas, antes da abertura.
… O resultado de Vale, ontem à noite, ficou 43% acima do previsto, com lucro líquido de US$ 2,769 bilhões no 2Tri e uma alta de 210% na base anual (2Tri/23). Mas o Ebitda ajustado, de US$ 3,993 bilhões, veio 1,5% abaixo do esperado pelos analistas ao Broadcast.
… No after hours em NY, o ADR da mineradora reagiu em alta aos resultados, fechando os negócios a US$ 10,80 (+0,93%).
… Pouco antes do balanço, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez duros ataques à Vale, afirmando que o governo brasileiro pode aplicar “medidas e sanções mais duras” para combater a postura “arrogante” da companhia.
… A escalada das críticas segue as pressões do presidente Lula para que a mineradora e seus parceiros fechem acordo para o pagamento das indenizações pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015.
… Na véspera, Silveira já havia dito que o governo analisa leis e políticas públicas para possíveis medidas contra a Vale, mas sem entrar em detalhes. Segundo a Reuters, essas medidas envolveriam uma possível mudança na legislação sobre mineração no País.
… Já Eletrobras, privatizada há dois anos, deve ceder às pressões do presidente Lula e propor aos acionistas, até o início do mês de agosto, uma mudança no conselho de administração para aumentar o poder de voto da União.
… Segundo o Estadão, a negociação entre a companhia e o governo para encerrar a briga judicial avançou nos últimos dias e a proposta é aumentar o número de cadeiras no conselho de 9 para 10 e entregar três delas à União, que hoje tem apenas uma.
… Em troca, a AGU retiraria uma ação protocolada no STF contra trechos da lei de privatização da Eletrobras.
DÉFICIT MENOR – O mercado projeta um déficit primário de R$ 37,70 bilhões para o Governo Central em junho, na mediana das previsões de pesquisa Broadcast, pouco mais da metade do saldo negativo de maio (R$ 60,983 bilhões) e 16,3% menor do que em junho/23.
… Segundo economistas, as despesas previdenciárias devem puxar o resultado deficitário nesta leitura, mas o bom desempenho das receitas no período tende a moderar o saldo negativo sobre junho do ano passado.
… Nesta 5ªF, a arrecadação federal de junho divulgada pela Receita somou R$ 208,844 bilhões, com aumento de 2,67% na margem (maio) e 11,02% sobre junho/2023. Foi a maior arrecadação da série histórica para junho e a maior para o período até junho.
… Já as desonerações somaram R$ 9,899 bilhões em junho e no acumulado deste ano, R$ 56,246 bilhões.
DIFÍCIL – A Fazenda já trabalha com a possibilidade de não chegar a um acordo com o Congresso sobre as medidas de compensação para a desoneração da folha de pagamentos de empresas e municípios até o prazo prorrogado pelo STF: 11 de setembro.
… Entre as soluções, a equipe econômica diz que não consegue realizar um corte de R$ 25 bilhões, o impacto estimado do benefício.
… As incertezas complicam a elaboração do Orçamento/2025, que precisa ser enviado ao Legislativo até 31 de agosto. O diagnóstico é que o conjunto de medidas propostas pelo Senado não é suficiente para cobrir os custos da desoneração.
… A Fazenda sugeriu completar as medidas com o aumento da CSLL, mas essa opção enfrenta resistências dos parlamentares. Caso não haja acordo no prazo fixado pelo STF, voltam a valer os efeitos da liminar que suspendeu a prorrogação da desoneração até 2027.
MEU PIRÃO PRIMEIRO – A equipe econômica enfrenta ainda dificuldades para executar o congelamento de R$ 15 bilhões anunciados por Haddad para adequar o Orçamento às regras do arcabouço fiscal. O detalhamento está prometido para a próxima 3ªF, dia 30.
… Na Folha, a jornalista Adriana Fernandes apurou que o governo tem apenas R$ 65 bilhões de espaço para cortar, e que ministros estão numa “guerra” em Brasília para ficarem de fora e não serem atingidos pelos bloqueios e contingenciamentos.
… Com quase oito meses do ano já transcorridos, os ministérios já empenharam boa parte das despesas, o que tem dificultado o trabalho de definição das tesouradas. Empenho é o estágio em que o governo se compromete com o pagamento de determinada despesa.
… O valor de R$ 65 bilhões é o total de despesas discricionárias (não obrigatórias) que ainda não foram empenhadas e onde o corte pode ser feito. Esse espaço pode diminuir porque os ministérios estão correndo para empenhar despesas.
… O clima é de apreensão e movimentação nos bastidores da Esplanada dos Ministérios. Ministros têm procurado integrantes da equipe econômica e auxiliares do presidente Lula para defender seus investimentos e evitar os cortes.
… O Planejamento ainda não repassou aos Ministérios os valores dos cortes, o que está previsto para até 2ªF, na véspera da publicação do decreto com os novos limites orçamentários. Antes, esse detalhamento passará pelo crivo de Lula.
IFI – Em entrevista ao Poder360, o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente do Senado, Marcus Pestana, disse que o governo precisará promover um congelamento adicional de mais R$ 14 bilhões para chegar a um déficit de 0,25% do PIB.
… O cálculo considera que, sem nenhum congelamento, haveria um déficit primário de 0,50% do PIB este ano, excluindo os gastos com o socorro ao RS. O cenário-base da IFI é de um PIB nominal de R$ 11,5 trilhões; 0,25% do PIB equivale a R$ 28,8 bilhões.
MAIS AGENDA – Aqui, o BC divulga a nota de crédito de junho às 8h30. Lula participa às 10h de cerimônia, no Palácio do Planalto, para divulgação dos resultados do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
LÁ FORA – Nos EUA, as projeções apontam que o núcleo do PCE (indicador de inflação predileto do Fed) deve acelerar de 0,1% em maio para 0,2% em junho, mas o dado anualizado deve perder ritmo, de 2,6% para 2,4%.
… O investidor ainda confere as expectativas inflacionárias de 1 e 5 anos embutidas no sentimento do consumidor (Michigan), às 11h. A Baker Hughes informa às 14h os poços de petróleo em operação.
… O BC da Rússia divulga decisão de política monetária às 7h30.
OFICINA DE VOLATILIDADE – Caro do jeito que está, o dólar se consolida como um canal importante de contaminação das expectativas inflacionárias e já desperta na curva do DI apostas especulativas de alta da Selic.
… Talvez isso seja um exagero. Mas parece bastante provável que o Copom assuma um tom mais agressivo no comunicado da semana que vem, quando poderá citar o câmbio, a inflação e o fiscal no balanço de riscos.
… A curva do DI registrou ontem uma arrancada em todos os trechos. O impulso veio da surpresa do IPCA-15 de julho (+0,30%) acima da previsão (+0,23%). Em 12 meses, a inflação de 4,45% encosta no teto da meta (4,50%).
… Traders se valeram da pressão do indicador para especular que o BC possa desafiar a expectativa unânime entre os economistas de manutenção da política monetária e que resolva subir o juro na próxima 4ªF.
… Este tipo de hedge de última hora é bastante comum às vésperas do Copom contra a aposta de graça (Selic estável). Vale o registro de que a chance de um aperto monetário subiu de 16% para 24% na curva a termo.
… Operadores do mercado financeiro também puxaram nesta 5ªF a estimativa para o juro terminal, de 11,35% para 11,60% no final do ano, segundo cálculos do Banco Bmg veiculados pelo Broadcast.
… Depois do IPCA-15, a Warren Investimentos elevou a projeção de inflação do ano de 4,1% para 4,2%. Já o Bradesco manteve em 4,1%. O Santander e a ASA informaram que devem subir a projeção do IPCA de julho.
… Para o Itaú, como reflexo do câmbio, os preços de serviços e bens industriais devem seguir pressionados.
… Ontem, antes de fechar em leve queda, o dólar se aproximou de R$ 5,70 na máxima (R$ 5,6904). No fechamento (-0,15%, a R$ 5,6478), devolveu só marginalmente o que subiu nos dois pregões anteriores (1,54%).
… Ou seja, continua no high, o que ajudou a pressionar os contratos futuros dos futuros nesta 5ªF.
… O vencimento do DI para Jan/25 subiu a 10,790% (contra 10,683% no pregão anterior), Jan/26, 11,770% (de 11,590%); Jan/27, 12,030% (de 11,840%), Jan/29, 12,230% (de 12,130%); e Jan/31, 12,260% (de 12,180%).
REBOBINANDO – Esticado depois de passar a primeira metade do mês curtindo ganhos em linha reta (11 pregões seguidos em alta), o Ibov agora absorve lucro. Do último pico até aqui, já queimou quase 3,5 mil pontos.
… Furou ontem os 126 mil pontos (125.954,09), fechando em baixa moderada de 0,37%, na terceira queda consecutiva. O volume financeiro de R$ 17,5 bilhões continuou dentro do padrão para lá de inexpressivo.
… A surpresa negativa do IPCA-15 ajudou a compor o ambiente de falta de apetite por risco, que derrubou os bancos e levou a Petrobras a operar descolada da alta do petróleo. Vale operou engessada antes de seu balanço.
… A mineradora fechou estável (-0,05%), cotada a R$ 60,57, e neutralizou o efeito sobre a bolsa do brilho das siderúrgicas: Usiminas, +2,10% (R$ 8,28); Gerdau, +2,06% (R$ 18,32); e Metalúrgica Gerdau, +1,81% (R$ 10,66).
… Na contramão do petróleo, Petrobras ON perdeu 0,42% (R$ 40,73) e Petrobras PN caiu 0,13% (R$ 37,68). Lá fora, o barril da commodity virou para o positivo com a leitura mais forte que a esperada do PIB/2Tri dos EUA.
… O Brent para outubro subiu 0,71%, a US$ 81,39. Mais cedo, havia engatado recuo superior a 1% com a China.
… Ao invés de o investidor ter visto pelo viés positivo o inesperado corte de juro de médio prazo promovido por Pequim durante a madrugada, o mercado interpretou que a iniciativa foi tomada porque a economia vai mal.
… Entre os bancos, Santander recuou 2,43%, a R$ 27,72, entre as piores baixas do Ibov. Bradesco PN caiu 1,59% (R$ 12,35), Bradesco ON cedeu 1,23% (R$ 11,23) e Itaú, -0,44% (R$ 33,99). BB fechou estável (+0,07%; R$ 26,89).
NA CORDA BAMBA – Mesmo após o tombo de quase 4% no dia anterior, o Nasdaq ampliou ontem a queda (-0,93%; 17.181,72 pontos) e ainda o S&P 500 renovou o pior desempenho desde 2022 (-0,51%; 5.399,22 pontos).
… No day after da liquidação das techs, tudo o que o Dow Jones subiu foi 0,20%, fechando em 39.935,07 pontos.
… O índice VIX de volatilidade só conseguiu testar uma reação parcial (+3,27%), depois de ter explodido 22% na véspera, com o pico de estresse em NY, que continua tendo que administrar focos importantes de incerteza.
… Não dá para saber ainda quem vai ganhar a eleição à Casa Branca e nem se a bolha das gigantes de tecnologia já está estourando, no quadro de dúvidas que ofusca o alívio à aposta segura em corte do Fed em setembro.
… Divulgada ontem, a leitura forte do PIB/2Tri dos EUA, de 2,8%, acima da previsão de 2,1%, não abalou a projeção amplamente precificada de que o ciclo de relaxamento monetário vai começar daqui a dois meses.
… Mesmo porque, a inflação trimestral do PCE veio comportada, desacelerando de 3,4% no 1Tri para 2,6%. Se o dado mensal de hoje confirmar a perda de fôlego dos preços, só vai consolidar a percepção do Fed dovish.
… Apesar disso, as taxas curtas dos Treasuries subiram. O movimento, porém, não parece estar associado a qualquer convicção de que o PIB forte encurte o ciclo de queda do juro (o consenso ainda é de -75pb no ano).
… O retorno da Note-2 anos avançou a 4,436%, de 4,424% na véspera, mas o yield de 10 anos caiu para 4,252%, de 4,285%, com o investidor em compasso de espera pelo PCE, dado mais importante da semana nos EUA.
… O iene se acalmou (-0,15%; 153,84/US$), mas chamou a atenção a queda firme da libra (-0,43%; US$ 1,2858).
… Estrategistas do ING entendem que a divisa britânica não é a melhor porta de entrada para os investidores aproveitarem a fraqueza do dólar contra o iene, porque o Banco da Inglaterra (BoE) deve cortar juros em agosto.
… O euro fechou praticamente estável (+0,04%, a US$ 1,0853), assim como o DXY (-0,03%), a 104,355 pontos.
… À margem do G-20, no Rio, o presidente do BC alemão, Joachim Nagel, disse que se os próximos indicadores econômicos não trouxeram surpresas negativas, o BCE poderá cortar mais o juro “em uma ou outra reunião”.
… Ele reconheceu que a “fera da inflação” não assusta mais, mas que a volta à meta de 2% será irregular.
EM TEMPO… VALE vai distribuir R$ 8,940 bilhões em JCP (R$ 2,0937/ação), com pagamento em 4/9; ex em 5/8.
BRASKEM. ADR saltou 2,53% no after hours, após a companhia ter informado que as vendas de produtos químicos no Brasil subiram 3% no 2TRI, na comparação anual, para 627 kton.
MULTIPLAN registrou lucro líquido de R$ 281,7 milhões no 2TRI, alta de 14% na comparação anual; Ebitda somou R$ 389,6 milhões, aumento de 5,5% em relação ao mesmo período de 2023.
JHSF registrou R$ 1,286 milhão em vendas no 2TRI, alta de 16,1% na comparação anual, segundo prévia operacional.
HYPERA registrou lucro de operações continuadas de R$ 491,8 milhões no 2TRI, queda de 2,5% na comparação anual; Ebitda das operações continuadas somou R$ 755 milhões, recuo de 4,5% contra o mesmo período de 2023.
AMERICANAS. Conselho de Administração homologou aumento de capital da companhia, aprovado em AGE em 21/5, com montante total de emissão de R$ 24,46 bilhões…
… Capital social da empresa passou a ser de R$ 39.918.251.652,38.
COTEMINAS. Justiça deferiu pedido de recuperação judicial da companhia.
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