Resumo semanal: 07/07 a 11/07

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A inflação ao consumidor registrou leve alta de 0,1% em junho, após quatro meses consecutivos de retração, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China (NBS). Alimentos e energia ainda apresentaram queda, mas o núcleo do índice — que exclui esses itens — subiu 0,7%, impulsionado pelos preços de bens. Os serviços mantiveram a mesma variação do mês anterior. Já o índice de preços ao produtor (PPI) continuou em deflação pelo 33º mês seguido, com recuo de 3,6%. A queda reflete menor demanda por metais e insumos, além do recuo nos preços de combustíveis.

Esses resultados são consequência de uma desaceleração nos investimentos em infraestrutura e imóveis, além de aumento da produção de energia limpa. O enfraquecimento da demanda externa também pesa, especialmente nos setores eletrônico e têxtil, devido à imposição de tarifas pelos EUA. Diante desse cenário, espera-se que a inflação continue baixa no país. A fraca atratividade dos produtos chineses no mercado americano e o consumo doméstico contido reforçam essa tendência. O excesso de capacidade produtiva instalada amplia ainda mais esse quadro deflacionário.

Europa

A guerra entre Rússia e Ucrânia segue em seu quarto ano, com ataques russos intensos e recorrentes. Até o momento, não há perspectiva concreta de uma solução definitiva para o conflito, que continua gerando instabilidade geopolítica na região. Enquanto isso, a economia europeia dá sinais de fraqueza, especialmente no varejo da Zona do Euro. Em maio, o volume de vendas no setor contraiu 0,7%, segundo o Eurostat, refletindo quedas na Alemanha (-1,7%), França (-0,2%) e Itália (-0,4%). O indicador segue abaixo da tendência observada antes da pandemia.

No Reino Unido, a atividade econômica também apresentou recuo em maio, após já ter caído no mês anterior. O PIB mensal encolheu 0,1% frente a abril, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). A retração foi puxada principalmente pela indústria, com queda de 0,9%, e pela construção civil, que recuou 0,6%. Por outro lado, o setor de serviços teve leve recuperação no período, com avanço de 0,1%. O quadro reforça o cenário de desaceleração econômica nos principais países europeus.

Oriente Médio

A tensão no Oriente Médio permanece moderada, com o cessar-fogo entre Israel e Irã ainda em vigor. No entanto, um acordo semelhante entre Israel e o Hamas parece mais distante, o que mantém o cenário geopolítico em alerta. Apesar disso, o preço futuro do petróleo Brent manteve-se praticamente estável entre os dias 3 e 10 de julho, oscilando próximo a US$ 69 por barril. A OPEP+ decidiu aumentar a produção em agosto, em ritmo superior ao dos meses anteriores. A expectativa é de novo aumento até setembro, quando serão devolvidos 2,2 milhões de barris por dia, retirados até o fim de 2024.

A estratégia da OPEP+ visa ampliar sua presença no mercado global de petróleo. No setor agrícola, os preços futuros das commodities tiveram desempenho misto ao longo da semana. O contrato futuro do trigo subiu 0,5%, enquanto milho e soja registraram quedas de 5,5% e 4%, respectivamente. As oscilações refletem ajustes na oferta e demanda global, com destaque para o impacto do clima nas safras americanas. A volatilidade também está associada à expectativa de crescimento econômico mais fraco em algumas regiões. O cenário permanece instável para os próximos meses.

Estados Unidos

O governo americano iniciou a aplicação de novas tarifas recíprocas após o fim do prazo de 90 dias para negociação com parceiros comerciais. O objetivo é reduzir o déficit da balança comercial, com destaque para as tarifas sobre o cobre, que subirão para 50% a partir de agosto. Japão e Coreia do Sul, dois dos principais parceiros dos EUA, tiveram tarifas elevadas de 24% para 25%. O Brasil também foi afetado, com a taxa passando de 10% para 50%, o que o governo justificou por razões políticas e comerciais. A União Europeia será notificada em breve, e países não notificados enfrentarão tarifas entre 15% e 20%.

Além disso, o índice de otimismo das pequenas empresas caiu 0,2 ponto em junho, para 98,6, ainda abaixo da média pré-pandemia, refletindo incertezas econômicas. Pedidos de seguro-desemprego seguem baixos, com 227 mil solicitações semanais. A ata do Fed revelou que a maioria dos membros acredita em corte de juros ainda em 2025, mas não no curto prazo. O comitê avaliou que os juros atuais, entre 4,25% e 4,5%, estão adequados ao cenário de inflação elevada. Em linha com essa leitura, o Fed deve manter a política monetária restritiva por mais tempo, mesmo com sinais de desaceleração moderada na economia.

Brasil

A inflação ao consumidor segue pressionada: o IPCA avançou 0,24% em junho, superando as expectativas do mercado, e acumula alta de 5,35% em 12 meses, superando o teto da meta pelo sexto mês seguido. O Banco Central justificou o descumprimento da meta com base na atividade aquecida, inércia inflacionária e depreciação cambial. Apesar disso, o IGP-DI caiu 1,8% no mês, refletindo alívio nos preços no atacado, em especial do IPA agrícola e do núcleo do IPA industrial. No Focus, as projeções apontam inflação de 5,18% para 2025 e crescimento do PIB de 2,23%. A taxa Selic deve seguir estável em 15% até 2025, com queda gradual nos anos seguintes.

Do lado da atividade, os dados de maio vieram mistos. O volume de serviços cresceu 0,1%, mas ficou abaixo do esperado, enquanto o comércio varejista ampliado teve alta de 0,3% frente ao mês anterior. O setor de combustíveis recuou, enquanto hipermercados surpreenderam positivamente. A leitura consolidada dos indicadores aponta uma economia em desaceleração, com expectativa de crescimento mais fraco nos próximos anos. No setor externo, os EUA anunciaram tarifa de 50% sobre exportações brasileiras a partir de agosto, o que pode prejudicar a balança comercial. O governo brasileiro prometeu reagir com base na Lei de Reciprocidade Econômica.

Semana termina com mercado perplexo após decisão de Trump de taxar produtos brasileiros

A semana termina com o mercado ainda perplexo com a decisão de Donald Trump de impor tarifa de 50% aos produtos brasileiros, baseando-se em uma questão política como justificativa para a medida econômica.

Lá fora, permanece o suspense sobre como Trump tratará a Europa, depois de ter voltado a comprar briga com o Canadá, anunciando uma sobretaxa de 35% para o país.

Austan Goolsbee foi direto e reto, ao afirmar hoje que essa nova reviravolta na guerra tarifária de Trump pode levar o Fed a adiar os planos de cortes de juros para esperar eventuais efeitos das taxas sobre a inflação.

Bom fim de semana!

Juros futuros ficam de lado com tarifas de Trump no radar

Os juros futuros terminaram a sessão perto da estabilidade, em linha com o comportamento do câmbio, com investidores absorvendo a decisão do governo brasileiro de esperar e tentar um caminho diplomático até 1º de agosto, antes de retaliar a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump nesta semana.

Na agenda do dia, o dado de volume de serviços subiu 0,1% em maio frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, registrando o quarto mês seguido de alta do indicador.

No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,940% (de 14,936% no ajuste anterior); Jan/27 a 14,330% (14,300%); Jan/29 a 13,480% (13,462%); Jan/31 a 13,620% (13,615%); Jan/33 a 13,670% (13,669%).