Resumo semanal: 21/07 a 25/07
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A 25ª Cúpula China-União Europeia, realizada em Pequim no dia 24 de julho de 2025, marcou um avanço nas relações bilaterais ao celebrar o cinquentenário dos laços diplomáticos entre os blocos. Durante o encontro, foi anunciado um mecanismo para agilizar o fornecimento de terras raras, minerais essenciais para setores estratégicos como baterias, veículos elétricos e equipamentos militares, buscando mitigar os gargalos impostos pelas recentes restrições chinesas às exportações. Apesar do progresso, a União Europeia destacou preocupações quanto ao desequilíbrio comercial e às barreiras de acesso ao mercado chinês, criticando investigações sobre exportações europeias de conhaque, carne suína e laticínios. O presidente Xi Jinping defendeu o respeito mútuo e o multilateralismo e rejeitou qualquer ideia de “desacoplamento” econômico, sugerindo cooperação em setores verdes e digitais. Em contrapartida, a UE elogiou o novo mecanismo, mas ressaltou a necessidade de o governo chinês abandonar práticas protecionistas.
No contexto doméstico, o Banco do Povo da China (PBoC) optou por manter as taxas de juros estáveis, conforme amplamente esperado pelo mercado. A taxa de empréstimo de referência (LPR) permaneceu em 3% para o prazo de um ano e 3,5% para cinco anos, sinalizando prudência diante dos desafios econômicos globais e regionais. Em paralelo às celebrações e acordos internacionais, a cúpula também abordou comprometimentos ambientais para a COP30, além de ressaltar tensões sobre a guerra na Ucrânia, com a UE cobrando postura mais equilibrada da China quanto ao conflito. Embora o acordo sobre terras raras represente um passo pragmático na cooperação sino-europeia, as divergências comerciais e geopolíticas ainda desafiam uma parceria mais robusta entre os blocos. Esses desenvolvimentos apontam para uma postura cautelosa por parte da China, tanto no âmbito interno quanto internacional, diante do cenário econômico e diplomático complexo.
Europa
Na Europa, o ambiente macroeconômico seguiu marcado pela persistência da guerra entre Rússia e Ucrânia, que já ultrapassa seu quarto ano e segue sem perspectiva de solução definitiva, mantendo elevado o grau de incerteza regional. Em meio a esse cenário, o Banco Central Europeu (BCE) optou por manter as taxas de juros estáveis, destacando que a inflação atingiu a meta de 2% e que as pressões internas sobre os preços estão em queda. Ainda assim, a presidente do BCE, Christine Lagarde, ressaltou que a política monetária permanece adequada para aguardar maior clareza do contexto internacional, enquanto permanece aberta à possibilidade de um novo corte nas taxas caso o cenário exija.
A atividade econômica no bloco europeu surpreendeu positivamente, com o PMI composto da zona do euro avançando para 51 pontos em julho, impulsionado principalmente pela aceleração dos serviços, que atingiram 51,2 pontos, apesar da manufatura seguir em retração. Os números da Alemanha e França apontaram tendências semelhantes, evidenciando leve recuperação, mas com desafios persistentes no setor industrial. No Reino Unido, apesar da alta inflação pressionar a demanda doméstica, também foi observada leve expansão da atividade, com o PMI de julho em 51 pontos e o setor de serviços mostrando resiliência. No entanto, o varejo britânico permaneceu fraco, com crescimento das vendas abaixo do esperado, refletindo ainda as pressões sobre o consumo local.
Oriente Médio
Na última semana, diplomatas de Israel e Síria participaram de uma reunião inédita em Paris, mediada pelo enviado especial dos EUA, Tom Barrack, marcando o primeiro encontro público entre representantes de Jerusalém e do novo governo sírio. O objetivo do diálogo foi aliviar as tensões entre os países, que vêm mantendo conversas indiretas há meses e enfrentaram, recentemente, confrontos violentos na província síria de Sweida. Apesar de alguns avanços diplomáticos, relatos indicam que Israel exige uma zona desmilitarizada na fronteira e não se comprometeu a suspender ataques em território sírio. Paralelamente, as negociações vêm sendo monitoradas por Turquia e Estados Unidos, com planos de novas rodadas em Baku, no Azerbaijão.
O cenário segue tenso, com trocas de acusações e pressões internacionais. Enquanto isso, a Turquia intensifica sua influência na Síria ao fornecer suporte técnico e militar ao governo interino liderado por Sharaa, seu novo aliado, e negociar possíveis bases em território sírio. Inglaterra e Estados Unidos demonstram preocupação com os ataques israelenses, temendo impactos na estabilidade do novo regime sírio, apoiado por Washington. Por fim, questões envolvendo minorias, como a drusa, e o uso de negociações para fins estratégicos agravam ainda mais o quadro, demonstrando que os conflitos históricos e a rivalidade regional continuam desafiando os esforços diplomáticos e dificultando uma solução definitiva para as disputas no Oriente Médio.
Estados Unidos
Durante a última semana, os Estados Unidos avançaram em negociações comerciais com países como Japão, Vietnã, Indonésia e Filipinas, buscando firmar acordos que envolvem a redução de tarifas para produtos específicos. Destaca-se que, embora a implementação das tarifas recíprocas esteja prevista para o dia 1º de agosto, poucas parcerias foram oficialmente concluídas até o momento. Além disso, seguem em curso os diálogos com a União Europeia, que permanecem sem definição. A estratégia comercial norte-americana visa ampliar acordos para fortalecer a posição internacional. Esse cenário reforça o caráter dinâmico e cauteloso das negociações atuais.
No âmbito econômico interno, os pedidos de bens duráveis, excluindo o setor de transportes, registraram um aumento de 0,2% em junho, segundo o Departamento de Comércio. Da mesma forma, o núcleo de pedidos de bens de capital – que exclui aeronaves e equipamentos de defesa – apresentou um crescimento de 0,4%, sinalizando resiliência na demanda por investimento produtivo. Por outro lado, o setor imobiliário continua apresentando fraqueza, com as vendas de casas usadas recuando 2,7% no mesmo período, ficando abaixo das expectativas. Os estoques de imóveis à venda seguem elevados, refletindo uma demanda menos aquecida. Apesar desse quadro, o número de pedidos iniciais de seguro-desemprego permaneceu baixo, indicando estabilidade no mercado de trabalho.
Brasil
Durante a semana, o cenário econômico brasileiro foi marcado pela divulgação do Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central que reúne as expectativas das principais instituições financeiras do país. Destacou-se a revisão para baixo das projeções de inflação medida pelo IPCA: agora, a expectativa é de 5,1% para 2025 (ante 5,17%) e 4,45% para 2026 (ante 4,5%), enquanto a previsão para 2027 segue em 4%. Esses dados indicam um ambiente de preços mais controlados no médio prazo, contribuindo para maior previsibilidade econômica. O Boletim também detalhou as projeções para o crescimento do PIB, que se mantiveram estáveis em 2,23% para 2025 e apresentaram leve ajuste negativo em 2026, de 1,89% para 1,88%.
No âmbito da política monetária, as expectativas para a taxa básica de juros (Selic) permanecem inalteradas no relatório, projetando 15% em 2025, 12,5% em 2026 e 10,5% em 2027. A manutenção dessas taxas indica cautela diante do cenário global, mas, ao mesmo tempo, sinaliza confiança na trajetória de queda gradual da inflação. Esses dados refletem o esforço das autoridades monetárias em equilibrar o controle de preços e o estímulo ao crescimento econômico. No geral, o panorama apresentado pelo Boletim Focus aponta para um quadro de moderação inflacionária, com ajustes pontuais nas projeções, e destaca a estabilidade dos principais indicadores como um fator positivo para o ambiente de negócios no Brasil.