Resumo semanal: 28/07 a 01/08

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

No Japão, o Banco Central (BoJ) decidiu manter a taxa de juros em 0,5% ao ano, sinalizando postura cautelosa diante da incerteza global. Embora suas projeções apontem para uma inflação abaixo da meta de 2%, o BoJ elevou suas perspectivas para o núcleo do CPI e para o crescimento econômico, reforçando que pretende observar o comportamento da economia internacional antes de alterar sua política monetária. Essa precaução reflete a busca por estabilidade em meio às pressões externas, especialmente diante do cenário mundial incerto. O banco também destacou a importância de sinais mais claros de recuperação da demanda interna antes de qualquer mudança.

Na China, o governo evitou anunciar estímulos econômicos no curto prazo, apesar das recentes quedas na atividade manufatureira, com o índice PMI composto em julho registrando 51,1 pontos. O setor manufatureiro apresentou desempenho inferior, com 49,3 pontos, enquanto os serviços ficaram exatamente em 50. O lucro industrial acumulado de janeiro a junho diminuiu 1,8%, indicando desafios para a indústria, apesar dos esforços do governo em revitalizar o setor. Ainda, questões externas como a tarifa média de 19,3% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos chineses e a cautela demonstrada na última reunião do Politburo reforçam a postura de prudência econômica nas decisões atuais.

Europa

Na Europa, a inflação finalmente atingiu a meta dos principais bancos centrais, refletindo um cenário econômico de maior estabilidade nos preços. Mesmo com o persistente conflito entre Rússia e Ucrânia, que já se arrasta por quatro anos e sem perspectiva próxima de resolução, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro apresentou crescimento moderado de 0,4% no primeiro trimestre de 2025, superando as expectativas do mercado. Países como Alemanha, França e Espanha obtiveram desempenhos positivos, apesar das altas nos preços de energia limitarem parte da recuperação econômica.

O mercado de trabalho europeu permaneceu aquecido, atingindo uma mínima histórica de desemprego de 6,2%. Por outro lado, o índice de confiança econômica registrou ligeira melhora em julho, ainda que permaneça abaixo dos níveis observados antes da pandemia. Além disso, o índice de preços ao consumidor subiu 2% nos últimos doze meses, indicando controle da inflação. Ainda assim, preocupações geopolíticas continuam influenciando as projeções para a região, especialmente diante da ameaça de novas sanções e da lenta volta da confiança dos agentes econômicos aos patamares anteriores à crise.

Oriente Médio

No Oriente Médio, o mercado internacional de petróleo foi influenciado por uma combinação de fatores políticos e econômicos. Entre 24 e 31 de julho, o preço futuro do petróleo Brent apresentou alta de 5%, encerrando o período cotado a 72,5 dólares por barril. Esse aumento foi impulsionado pela pressão dos Estados Unidos por um acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia até 8 de agosto, além da possível implementação de tarifas para países que adquirirem petróleo russo, o que pode elevar a demanda por petróleo de outras regiões e impulsionar os preços globalmente.

Além disso, as decisões da OPEP+ e de importantes produtores como a Arábia Saudita contribuíram para a volatilidade do mercado. Embora o grupo tenha rejeitado um aumento imediato na produção para conter os preços, a Arábia Saudita confirmou um corte voluntário de 1,22 milhão de barris por dia até o fim de 2024. Enquanto isso, as commodities agrícolas registraram comportamento oposto, com quedas nos preços futuros da soja, trigo e milho de 4%, 3% e 2%, respectivamente, evidenciando movimentos distintos entre os diferentes mercados de commodities da região.

Estados Unidos

Na última semana, o mercado de trabalho dos Estados Unidos apresentou sinais de moderação, com a criação de apenas 73 mil empregos em julho, resultado abaixo das expectativas. O Departamento de Trabalho destacou que houve revisões negativas em meses anteriores, enquanto a taxa de desemprego subiu levemente para 4,2%, ainda considerada baixa em termos históricos. Apesar desse cenário, o salário médio por hora registrou alta de 3,9% no acumulado de 12 meses. Além disso, a taxa de participação da força de trabalho caiu para 62,2% e as vagas de emprego seguiram elevadas, com o índice de pedidos de seguro-desemprego permanecendo em patamar reduzido, indicando certa resiliência do mercado.

No âmbito da política monetária, o Federal Reserve optou por manter as taxas de juros no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano, em decisão marcada por dois votos dissidentes. O comunicado do banco central ressaltou que a atividade econômica mostrou sinais de moderação no primeiro semestre, embora a inflação continue acima da meta e as expectativas sigam pressionadas. Jerome Powell, presidente do Fed, enfatizou a necessidade de manter uma postura cautelosa enquanto a inflação persiste elevada. Diante desse contexto, a previsão é que as taxas de juros permaneçam nos níveis atuais até o final de 2025. O balanço da semana, portanto, aponta para um mercado de trabalho ainda robusto, mas sob atenção devido aos desafios inflacionários.

Brasil

O Banco Central manteve a Selic em 15,00%, indicando que a política monetária seguirá restritiva por um período prolongado, em linha com sinais de arrefecimento da atividade econômica, ainda que o mercado de trabalho permaneça aquecido e a inflação acima da meta. Expectativas apontam para uma melhora gradual da inflação no segundo semestre, com cortes na Selic previstos a partir de janeiro até alcançar 12,50% após cinco reduções de 0,50 ponto percentual. No cenário externo, o governo dos EUA confirmou tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, mas com uma lista de exceções que atinge 45% do total exportado, amenizando os impactos imediatos. A estimativa para este ano é de queda de US$ 4 bilhões nas exportações e impacto pontual na inflação, enquanto negociações futuras entre os países permanecem possíveis. O governo brasileiro já planeja medidas de contingência, priorizando subsídios de crédito ao invés de isenções fiscais.

No mercado de trabalho, a taxa de desemprego caiu para 5,8% no segundo trimestre, com aumento consistente dos salários reais, demonstrando que a economia continua resiliente em setores ligados à renda. Por outro lado, a produção industrial registrou desempenho modesto, crescendo apenas 0,1% em junho, com algumas categorias – como bens de capital e intermediários – mostrando força, mas com queda em bens de consumo. Para 2025, espera-se expansão da produção industrial em 2% e do PIB em 2,5%, com a taxa de desemprego encerrando o ano em torno de 6%. Já nas contas públicas, o déficit primário de junho chegou a R$ 47,1 bilhões, resultado das despesas crescentes, especialmente na previdência. A dívida subiu para 76,6% do PIB, e o governo deverá realizar novos bloqueios de gastos para cumprir o limite orçamentário deste ano.

Semana de volatilidade para os mercados financeiros termina carregada de assuntos

Tarifaço de 50%, exceções às tarifas, Lei Magnitsky, Fed, Copom, Payroll fraco. A semana foi carregada de assuntos e de volatilidade para os mercados financeiros.

Para o Brasil, talvez a informação mais relevante tenha surgido no fim da tarde desta sexta-feira (1º): “Ele [Lula] pode falar comigo quando quiser”, disse Trump, em uma rápida entrevista a repórteres na saída da Casa Branca.

Resta saber como o governo brasileiro usará essa oportunidade para abrir efetivamente a comunicação com o governo americano e tentar evitar que o tarifaço de 50% entre em vigor na próxima quarta-feira (6), ainda que muitos produtos (suco de laranja, aviões da Embraer, petróleo) tenham ficado de fora da “lista negra” de Trump.

Bom fim de semana!

Juros futuros seguem queda do dólar e dos rendimentos dos Treasuries

Os juros futuros recuaram nesta sexta-feira, na esteira do tombo do dólar e dos rendimentos dos Treasuries, após o payroll de julho e a revisão drástica para baixo dos números de emprego de maio e junho nos EUA surpreenderem os mercados.

Na agenda doméstica, a fraqueza da produção industrial também colaborou para deprimir os DIs. Conforme o IBGE, a produção subiu apenas 0,1% em junho, depois da queda de 0,6% em maio (dado revisado de -0,5%), mas aquém do consenso do mercado, que era de alta de 0,4%.

Na comparação anual, a produção caiu 1,3%, pior que o esperado (-0,6%).

No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,910% (de 14,923% no ajuste anterior); Jan/27 a 14,210% (14,348%); Jan/29 a 13,460% (13,566%); Jan/31 a 13,690% (13,758%); e Jan/33 a 13,810% (13,864%).