Prazo final de acordo tarifário pode ser estendido

… Vence nesta quarta-feira o deadline aos países que ainda não fecharam acordos comerciais com os Estados Unidos – ou quase todos. A chance de o prazo ser estendido é grande. Bessent indicou que quem não chegar a um acordo agora terá a opção de extensão de três semanas para negociar. Trump já assinou (e vai mandar hoje) 12 ou 15 cartas aos parceiros que ainda não fizeram propostas, com sugestões de tarifas no estilo “pegar ou largar”. Ele também espera fechar acordo de cessar-fogo em Gaza nesta semana e retomar as negociações nucleares com o Irã. Aqui, a crise entre Congresso e governo entrou em stand-by, após Moraes suspender os atos sobre IOF e marcar audiência de conciliação para dia 15. Na agenda dos indicadores, saem a ata do Fed, dados da China e, no Brasil, o IPCA de junho, vendas no varejo, volume de serviços e, hoje, o IGP-DI, com forte deflação.

… O Ibovespa funciona normalmente no feriado de 9 de Julho em SP, mas desde já o noticiário das tarifas domina o cenário dos negócios.

… Ainda na semana passada, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que esperava uma “chuva” de acordos antes do prazo final para as negociações, com o possível retorno das tarifas “recíprocas” estabelecidas no Liberation Day, em 2 de abril.

… Mas, até agora, a Casa Branca anunciou só dois acordos comerciais: com o Reino Unido, que ainda tem pendências a serem resolvidas, e com o Vietnã. Especulações apontam que a Índia deve ser o próximo país a anunciar um acerto.

… Com os países e regiões mais relevantes, entretanto, ainda não há sinais de avanço firme. Na União Europeia, há relatos de que o bloco talvez aceite a taxa recíproca atual de 10%. Com o Japão, as conversas prosseguiram no fim de semana, ainda inconclusivas.

… Em relação à China, após o acerto sobre a questão das terras raras, o prazo final tem uma data diferente: 12 de agosto.

… Em entrevistas a dois programas no domingo, Bessent sinalizou que as cartas que Trump está prestes a enviar aos parceiros comerciais esta semana não são a palavra final sobre as tarifas imediatas dos países.

… As tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto, então ainda há tempo para aqueles que não estão próximos de um acordo apresentarem propostas, disse ele. Mas ainda acredita em “grandes anúncios nos próximos dias”.

… A estratégia das negociações, disse ele, é aplicar pressão máxima para destravá-las.

… Segundo ele, o foco atual da política tarifária está concentrado em 18 nações que representam 95% do déficit comercial americano. Já cerca de 100 países menores, “que nunca nos procuraram”, devem receber uma taxa de tarifa fixa.

… No domingo, Trump disse que mandará hoje, amanhã e quarta-feira 12 cartas, “talvez 15”, impondo condições tarifárias, com o objetivo de pressionar esses países a firmarem acordos comerciais até quarta-feira, dia 9. Ele não disse para quais países enviará as cartas.

… Segundo a Folha, os governos do Brasil e dos Estados Unidos buscam fechar um acordo comercial antes do prazo final. Na sexta-feira, as delegações dos dois países se reuniram por videoconferência para tentar um entendimento. Novas reuniões estão previstas.

GAZA – A bordo do Force One, Trump também disse no domingo aos jornalistas que um acordo sobre Gaza está próximo. “Eu acho que há boas chances de chegarmos a um acordo com o Hamas durante esta semana, relativo a vários dos reféns israelenses.”

… O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, viajou a Washington para tratar de um cessar-fogo no território palestino. Antes de embarcar, ele disse que há 20 reféns vivos e 30 mortos. O acordo de uma trégua seria por 60 dias.

IRÃ –Trump pretende aproveitar a visita de Netanyahu para também tratar de acordo permanente com o Irã, voltando a afirmar que os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas “obliteraram total e completamente” o programa nuclear do país.

OPEP – Ainda no sábado, o cartel decidiu aumentar a produção de petróleo em 548 mil barris por dia (bpd) em agosto, acelerando o ritmo em relação aos aumentos mensais de produção feitos em maio, junho e julho, da ordem de 411 mil bpd, e de 138 mil bpd em abril.

… Os aumentos em série da oferta (e agora em maior proporção) revertem a estratégia de restrição que vinha sendo adotada desde 2022, com vários países da Opep e de seus aliados querendo recuperar fatia de mercado.

… Ainda segundo a Reuters, a ofensiva responde a tensões internas na Opep+: Cazaquistão e Iraque vêm produzindo acima das cotas, o que irritou os demais membros, que seguiam cumprindo os cortes à risca.

… Oficialmente, em nota, a entidade afirma que a novo aumento na produção responde a uma “perspectiva econômica global estável e fundamentos de mercado saudáveis, refletidos nos baixos estoques de petróleo”.

… Oito países produzirão mais em agosto: Arábia, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Iraque, Argélia e Cazaquistão. Antecipando que a oferta subiria em 411 mil bpd, o Brent caiu 0,73% na sexta-feira, a US$ 68,30.

… Mas como o aumento veio maior do que o esperado, o barril ampliava a queda na abertura dos negócios, ontem à noite (-1%).

BRICS – Com um comunicado enxuto, a área financeira do grupo, que reuniu no sábado no Rio, sugeriu mudanças de cotas e em relação à escolha do comando para o FMI e o Bird, mostrando insatisfação com o acordo de cavalheiros entre Estados Unidos e Europa.

… O grupo criticou ainda o tarifaço do presidente Trump e medidas que possam distorcer o comércio internacional.

… O bloco assegurou também apoio às negociações tributárias que ocorrem no âmbito da ONU, englobando a taxação para os super ricos, e, às vésperas da COP30, apelou por mais apoio financeiro a medidas de mitigação climática lideradas por economias desenvolvidas.

… Na reunião de Finanças, Fernando Haddad defendeu o multilateralismo e a globalização baseada no desenvolvimento social.

… “Nenhum país isoladamente, por mais poderoso, pode dar resposta efetiva ao aquecimento global ou atender as aspirações da maior parte da humanidade por uma vida digna. Criar ilhas excludentes de prosperidade é moralmente inaceitável.”

… As declarações vieram numa aparente crítica aos Estados Unidos e às tarifas contra produtos importados de outros países.

… Haddad ainda destacou o compromisso do Brasil com a previsibilidade em tempos de incerteza global, afirmando que “em parceria com o Brics, almejamos consolidar-nos como um porto seguro em um mundo cada vez mais instável”.

… A cúpula dos Brics prossegue hoje no Rio de Janeiro.

ALCKMIN – Em participação no Fórum Empresarial do Brics, o vice disse que Alexandre de Moraes (STF) teve “sabedoria” ao suspender os decretos relacionados ao IOF, mas defendeu que os decretos são atribuição do Executivo. “Vamos aguardar. Estamos otimistas.”

… Moraes é o relator de ações que tramitam no Supremo envolvendo o IOF, que aumentou o nível de tensão entre Executivo e Legislativo nas últimas semanas. Uma audiência de conciliação foi marcada para 15 de julho, no plenário de audiências da Corte, em Brasília.

… Também o presidente da Câmara, Hugo Motta, elogiou a decisão de Moraes em um post no X, dizendo que “evita o aumento do IOF”.

MAIS AGENDA – A ata do Fed, na quarta-feira (9), pode trazer a inclinação de membros mais dovish para iniciar os cortes de juro mais cedo, em linha com a pressão de Trump sobre Powell. Mas, dificilmente, o Fomc de julho voltará a ser uma opção.

… Além das incertezas sobre os efeitos das tarifas na atividade e na inflação, o aumento do núcleo do índice PCE e o payroll forte na quinta-feira, com a taxa de desemprego recuando de 4,2% para 4,1%, esvaziaram as apostas para este mês.

… Na China, estão previstos para amanhã à noite os índices de inflação de junho, com o CPI e o PPI. Na sexta-feira, à meia-noite, saem os dados de exportações e importações, com a balança comercial chinesa de junho.

… Aqui, o IPCA de junho é o destaque da semana, na quarta-feira (9h), com expectativa de ficar próximo de zero, em mais um sinal de desaceleração na margem, mas ainda distante do centro da meta de 3% ao ano e do teto de tolerância de 4,5%.

… Hoje, o IGP-DI de junho (8h) tem previsão de queda de 1,60% (mediana do Broadcast), após deflação de 0,85% registrada em maio, com o recuo dos preços industriais. Em 12 meses, o índice deve desacelerar de 6,27% em maio para 4,05%.

… A semana também reserva a divulgação das vendas no varejo em maio, amanhã, e do volume de serviços, na sexta-feira, enquanto o Copom promete manter os “juros elevados por um período bastante longo”.

… Ainda nesta segunda-feira, o BC divulga o Boletim Focus (8h25) e a Anfavea, a produção e vendas de veículos em junho (11h).

LDO – O relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, enviado pelo governo ao Congresso em abril, deve ser votado na Comissão Mista de Orçamento nesta quarta-feira (9), afirmou ao Valor o presidente da CMO, senador Efraim Filho.

… O objetivo é deliberar a legislação antes do envio do texto da Lei Orçamentária Anual (LOA) pelo Planalto, até o fim de agosto.

ALÍVIO COM PRAZO DE VALIDADE – Têm circulado avaliações sobre o câmbio de que o dólar ainda pode ficar mais barato e, quem sabe, chegar aos R$ 5,00, tendo como drivers o carry trade e a onda de queda global.

… O real segue surfando na promessa de Selic em 15% por pelo menos mais seis meses e na fraqueza da moeda americana em escala global, com os cortes do Fed no terceiro trimestre e a guerra tarifária que não acaba.

… Nos últimos dias, muitas casas têm ajustado em baixa a perspectiva para o dólar no curto prazo. A má notícia é que analistas ouvidos pelo Broadcast duvidam que o dólar resista perto das cotações atuais até o fim do ano.

… O maior desafio no meio do caminho são os ruídos fiscais domésticos, na crise agora mediada pelo STF.

… Na sexta-feira, diante do real fortalecido, foi a vez de o Santander diminuir a expectativa para o IPCA deste ano, de 5,4% para 5,1%, e do ano que vem, de 4,8% para 4,5%. Apesar disso, ajustou para cima a aposta da Selic.

… A projeção para o final do ano pulou de 14,75% para 15,00%, compatível com o recado do Copom.  

… Segundo o banco, a atividade econômica segue heterogênea, o crédito apresenta sinais de deterioração e o risco inflacionário continua presente. “Projetamos Selic estável até o início/26, com cortes a partir de janeiro”.

… Pesquisa da Febraban ouviu 21 bancos e revelou que a maioria (62%) acredita que o BC começará a cortar a Selic no primeiro trimestre de 2026, quando a inflação no horizonte relevante deve se aproximar da meta (3%).

… Na sexta-feira, um dia depois de ter revisitado as mínimas em quase um ano e voltado à faixa de R$ 5,40, o dólar entrou em bom ponto de compra e testou alguma correção de lucro, cotado a R$ 5,4242 (+0,36%).

… O ajuste aconteceu em meio à liquidez baixa aqui, roubada pelo feriado do Independence Day em Nova York.

… A revisão para baixo da expectativa do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio para o superávit da balança comercial neste ano, de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões, não chegou a fazer preço no câmbio.

… A demanda mundial vem se enfraquecendo, o que vem afetando preço das commodities, acredita a pasta, embora pondere que a economia brasileira continua crescendo, demandando insumos e bens de capital importados.

… Em junho, o saldo da balança comercial veio positivo em US$ 5,889 bilhões, abaixo da mediana das apostas do mercado, de US$ 6,20 bilhões. No acumulado do ano, o superávit comercial está em US$ 30,092 bilhões.

… Sincronizados ao dólar, a curva do DI foi para o final de semana com viés de alta, sem a referência dos Treasuries.

… No fechamento, o juro para Jan/26 foi à máxima do dia, de 14,925% , contra 14,915% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,185% (de 14,134%); Jan/29, a 13,230% (de 13,188%); Jan/31, a 13,290% (13,264%); e Jan/33, 13,340% (13,326%).

BIS – Repetindo as façanhas do pregão anterior, lá foi o Ibov para um novo “recorde duplo”, como definiu o Valor.

… Pelo segundo dia consecutivo, o índice à vista da bolsa doméstica emplacou nova máxima intraday (141.563,85 pontos) e renovou a marca histórica de fechamento dos negócios, aos 141.263,56 pontos, em alta de 0,24%.

… Menos da metade de um dia normal, o giro foi de apenas R$ 9 bilhões, com Nova York fechada para o feriado.

… Vale fechou em +0,29% (na máxima de R$ 55,20), sem o mesmo fôlego do minério (+2,45%). De olho na queda do petróleo, Petrobras PN caiu de leve: -0,12% (R$ 32,12). Mas o papel ON escapou em leve alta de 0,11% (R$ 35,15).

… Entre os bancos, Itaú (+0,05%, a R$ 37,73) e Bradesco ON (-0,07%, a R$ 14,41) fecharam estáveis. Já Bradesco PN caiu 0,48%, a R$ 16,67, e Santander unit perdeu 0,31%, a R$ 29,32. BB ON ganhou 0,58%, cotada a R$ 22,43.

FÔLEGO CURTO – Apesar do 4 de Julho, o mercado cambial operou normalmente nos Estados Unidos e, no day after do embalo do dólar com o payroll forte, o índice DXY já voltou à sua rotina de queda: -0,19%, a 96,997 pontos.

… Não há muita firmeza de que Trump obterá acordos satisfatórios para as tarifas antes do deadline de quarta-feira.

… O euro, que desde que o ano começou acumula rali de 14%, subiu 0,17% no último pregão (US$ 1,1776). A libra esterlina, envolvida em turbulências fiscais, caiu a US$ 1,3653. O iene subiu a 144,52/US$, antecipando BoJ hawkish.

… Semana passada, um conselheiro do BC japonês disse que o país deve estar pronto para mudar de marcha, abandonar a pausa no ciclo de alta e subir os juros se as negociações comerciais com os Estados Unidos progredirem.

EM TEMPO… PRIO. Produção de petróleo atingiu 88,2 mil barris de óleo equivalente por dia (boepd) em junho, recuo de 0,5% em relação a maio, segundo dados preliminares.

JBS informou que o primeiro carregamento de carne bovina ao Vietnã, com 27 toneladas processadas na unidade da Friboi de Mozarlândia (GO), foi feito no sábado, poucos dias após habilitação para exportar ao país.

MAGAZINE LUIZA esclareceu, em comunicado, que a informação na imprensa, atribuída a um de seus diretores em um evento do BNDES, de que a empresa irá faturar cerca de R$ 70 bilhões em 2025, é “meramente uma referência”.

… Segundo a empresa, a projeção é baseada no faturamento esperado pelo consenso dos analistas e não deve ser interpretada como promessa de desempenho futuro, guidance ou posicionamento oficial da companhia.

ALPARGATAS. BlackRock reduziu participação na empresa de 5,22% para 4,99%, passando a deter 17.157.043 de ações PN.

CYRELA reduziu participação acionária na Cury de 20,26% para 19,56%.

JHSF concluiu a venda de participações minoritárias no Catarina Fashion Outlet – Expansão 3, no Shopping Ponta Negra e no Shopping Bela Vista para o fundo de investimento imobiliário XP Malls por R$ 273,035 milhões…

… Com a conclusão da transação, a JHSF passou a deter 60,01% do Catarina Fashion Outlet, 18% do Shopping Ponta Negra e 11,70% do Shopping Bela Vista…

… A participação do grupo no Shopping Bela Vista deverá ser reduzida a 1,00% após a conclusão da venda de 10,70% para os atuais sócios daquele empreendimento.

ENERGISA aprovou a distribuição de R$ 492,3 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2332 por ação, com pagamento em 24/7.

CORREIOS. O presidente, Fabiano Silva, pediu demissão, pressionado pelo desempenho financeiro ruim e pelo Centrão. O Estadão apurou que o cargo é alvo de cobiça de Davi Alcolumbre, que tenta emplacar um aliado.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Resumo semanal: 30/06 a 04/07

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A economia chinesa apresentou expansão moderada em junho, segundo o índice PMI composto calculado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS). O indicador, que agrega os setores de manufaturas, construção e serviços, subiu 0,3 ponto, alcançando 50,7 — patamar que indica leve crescimento. O setor industrial mostrou melhora, mas continua em território contracionista, com o PMI de manufaturas marcando 49,7. Já o setor de serviços manteve-se praticamente estável, com leitura de 50,1. Esses dados sugerem que a recuperação da economia chinesa segue desigual, com alguns segmentos ganhando tração lentamente, enquanto outros permanecem enfraquecidos. O desempenho do setor de construção também influenciou positivamente o resultado geral. Ainda assim, a ausência de estímulos mais robustos por parte do governo limita a aceleração do crescimento.

Complementando esse quadro, a sondagem privada do PMI Caixin reforçou sinais mistos. A indústria apresentou melhora, com o indicador subindo de 48,3 para 50,4 pontos, superando as expectativas e voltando à zona de expansão, impulsionada por aumento da demanda interna. No entanto, o setor de serviços registrou desaceleração mais intensa: o PMI caiu de 51,5 para 50,6, marcando o ritmo mais fraco desde setembro de 2024. O enfraquecimento foi atribuído à perda de fôlego das novas encomendas e à redução nas vendas externas. A combinação de expansão limitada na indústria e desaceleração nos serviços indica que a recuperação chinesa ainda carece de impulso sustentável. A atenção do mercado se volta agora para possíveis novas medidas de estímulo por parte de Pequim, diante do risco de perda de dinamismo no segundo semestre.

Europa

A guerra entre Rússia e Ucrânia segue sem solução, entrando em seu quarto ano, com ataques russos se intensificando nas últimas semanas. A instabilidade geopolítica segue como fator de risco relevante, embora o foco recente do mercado esteja nos dados macroeconômicos. A inflação ao consumidor da Zona do Euro (CPI) veio em linha com as expectativas em junho, com alta de 0,3% no mês e avanço de 2,0% em doze meses, segundo prévia do Eurostat. O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, também apresentou alta moderada, de 2,3%. Os preços de bens permanecem sob controle, enquanto os serviços ainda pressionam a inflação, embora em desaceleração. A valorização do euro frente ao dólar e o enfraquecimento do mercado de trabalho contribuem para conter pressões inflacionárias. A expectativa é de que a inflação siga próxima da meta nos próximos meses.

Em evento anual promovido pelo Banco Central Europeu (BCE), a presidente Christine Lagarde afirmou que, embora a inflação esteja tecnicamente dentro da meta, a missão ainda não pode ser considerada cumprida. O BCE destacou que a decisão sobre cortes de juros dependerá da análise criteriosa dos próximos dados, diante de elevada incerteza econômica. O mercado de trabalho do bloco mostrou sinais de leve deterioração, com a taxa de desemprego subindo para 6,3% em maio, ainda próxima de mínimas históricas. Os dados mostram forte heterogeneidade entre os países: enquanto a taxa aumentou para 3,7% na Alemanha, houve queda para 10,8% na Espanha. Apesar do cenário mais brando, o BCE continua cauteloso quanto ao relaxamento monetário, dada a persistência de riscos inflacionários setoriais e as incertezas quanto à recuperação econômica.

Oriente Médio

A tensão geopolítica no Oriente Médio apresentou alívio recente, com avanços diplomáticos relevantes. Após o cessar-fogo firmado entre Israel e Irã na semana anterior, um novo acordo, mediado pelos Estados Unidos, está sendo articulado entre Israel e o grupo Hamas. Israel e Hamas já aceitaram os termos propostos. Essa redução no risco geopolítico contribuiu para a estabilização dos mercados de energia, que vinham reagindo com forte volatilidade nos últimos meses. O preço futuro do petróleo tipo Brent subiu 2% entre os dias 26 de junho e 3 de julho, encerrando o período próximo a US$ 69 por barril. A alta veio após forte queda na semana anterior, refletindo o menor risco de interrupções na oferta regional. A recuperação parcial dos preços ocorre também à espera da nova decisão da OPEP+.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) se reunirá no início de agosto para revisar sua política de produção. O grupo deve anunciar um aumento de 411 mil barris por dia, revertendo parcialmente os cortes voluntários de 2,2 milhões de barris promovidos no final de junho. A medida visa recuperar participação no mercado global de energia, diante da retomada parcial da demanda e da estabilização dos preços. No mercado agrícola, os preços futuros das commodities também subiram na semana, refletindo preocupações com o clima e com a oferta internacional. O trigo registrou valorização de 5%, o milho avançou 6% e a soja teve alta de 3%. A combinação entre geopolítica mais estável e oferta limitada tem sustentado preços elevados, o que segue no radar de investidores e autoridades monetárias.

Estados Unidos

O Departamento de Trabalho dos EUA divulgou os dados de junho, revelando a criação de 147 mil empregos, número superior ao do mês anterior, sinalizando resiliência no mercado. Apesar disso, grande parte das contratações ocorreu no setor público, enquanto o setor privado ficou aquém das expectativas. O ganho médio por hora trabalhada seguiu firme, com alta anual de 3,7% até junho, sustentando pressões inflacionárias. A taxa de desemprego recuou para 4,1%, permanecendo em patamar historicamente baixo, embora a taxa de participação na força de trabalho também tenha diminuído, para 62,3%. Já o número de vagas em aberto subiu em maio, indicando que a oferta de empregos ainda supera a demanda. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem contidos, em 233 mil solicitações na semana encerrada em 28 de junho. O cenário é compatível com um mercado ainda sólido, mas com sinais de moderação.

Na atividade, o setor industrial continuou em contração, embora em ritmo mais brando: o PMI do ISM subiu 0,5 ponto, para 49 em junho, levemente acima das previsões. Os componentes de demanda e emprego ainda apontam retração, enquanto os preços pagos permanecem elevados, refletindo pressão inflacionária. O setor de serviços, por sua vez, mostrou leve expansão, com o PMI subindo para 50,8 pontos, impulsionado por alta na demanda e nos preços. Em evento recente, Jerome Powell, presidente do Fed, reforçou que a manutenção dos juros altos depende da evolução dos dados, mas sinalizou que cortes ainda este ano não estão descartados. A percepção da equipe do Fed é de que os juros devem seguir elevados por mais tempo, diante da inflação ainda acima da meta. No campo fiscal, o Congresso aprovou um projeto de lei do governo que amplia gastos e reduz impostos, estimando-se que isso eleve a dívida pública em US$ 3,4 trilhões em dez anos. O texto será assinado por Joe Biden e reverte medidas implementadas na era Trump.

Brasil

O cenário global permanece volátil, porém ainda favorável ao Brasil, com dólar enfraquecido, commodities valorizadas (à exceção do petróleo) e expectativa de cortes de juros pelo Fed no segundo semestre. Nesse contexto, o mercado projeta o dólar a R$ 5,50 ao fim de 2025 e R$ 5,70 em 2026. As estimativas para o PIB foram mantidas em 2,5% este ano e 1,7% no próximo, refletindo estímulos de curto prazo e um mercado de trabalho aquecido. A inflação esperada para 2025 recuou de 5,5% para 5,0%, e para 2026, de 4,7% para 4,5%. Com o alívio inflacionário, espera-se que o Banco Central inicie cortes na Selic em janeiro de 2026, atingindo 12,50% no fim do ano — ou menos, caso as reformas fiscais avancem em 2027. Ao mesmo tempo, o STF derrubou os decretos do governo que elevaram o IOF, bem como a revogação feita pelo Congresso, e agendou uma audiência de conciliação. O aumento poderia gerar até R$ 12 bilhões este ano e R$ 24 bilhões em 2026.

A produção industrial recuou 0,5% em maio, segundo mês consecutivo de queda, afetando três das quatro grandes categorias econômicas e 14 de 25 ramos industriais. A retração está alinhada com o esgotamento da ociosidade nas fábricas e com o aperto monetário vigente. Mesmo assim, a indústria deve crescer 2,2% em 2025, após expansão de 3,1% em 2024, sustentada por estímulos temporários e pela resiliência do mercado de trabalho. O CAGED reportou a criação líquida de 149 mil vagas formais em maio, abaixo das expectativas, mas o saldo em 12 meses segue robusto, com 1,63 milhão de empregos. Todos os setores apresentaram moderação no ritmo de contratações, mas a taxa de desemprego segue em mínimas históricas, com alta da massa salarial real. No campo fiscal, o déficit primário de R$ 33,7 bilhões em maio veio melhor que o esperado, mas a dívida bruta subiu para 76,1% do PIB. A tendência de alta no endividamento exigirá reformas estruturais nos próximos anos.

Após projeto tributário de Trump ser aprovado, mercado espera por definição sobre tarifas

A semana termina com o polêmico projeto tributário de Donald Trump aprovado, enquanto o mercado aguarda uma definição sobre as tarifas recíprocas na próxima semana.

Com apenas um acordo relevante (com o Reino Unido) fechado até agora, além de uma trégua com a China envolvendo a disputa por terras raras, tudo indica que Trump deve prorrogar o prazo.

Scott Bessent já até citou qual deverá ser a nova data: o Dia do Trabalho, em 1º de setembro.

Por aqui, as atenções dos investidores continuam voltadas à crise do IOF, que pode travar o andamento da pauta econômica do governo no Congresso.

O ministro Alexandre de Moraes decidiu manter tudo como está e convocou uma audiência de conciliação entre governo e Congresso. Motta, Lula e Haddad têm dados sinais de que estão dispostos a conversar, com a ajuda de Alcolumbre.

Com todos de volta ao Brasil na próxima semana, uma reconciliação pode finalmente acontecer.

Bom fim de semana!