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Resumo semanal: 19/05 a 23/05
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A economia chinesa apresentou moderação em abril, após um início robusto no primeiro trimestre de 2025. A produção industrial cresceu 6,1% em relação ao ano anterior, em linha com o esperado, mas as vendas no varejo avançaram apenas 5,1%, abaixo das expectativas. Os investimentos aumentaram 4% entre janeiro e abril, ainda sustentados por infraestrutura e manufatura, mas com ritmo menor do que no período anterior. Em contraste, os investimentos imobiliários continuam em queda, refletindo a fraqueza do setor. As vendas de imóveis novos recuaram frente a abril de 2024, repetindo a tendência de março, enquanto novas construções também se retraíram. Os preços dos imóveis, novos e usados, nas 70 maiores cidades do país, caíram 0,12% no mês. Esses dados apontam para uma desaceleração mais ampla na atividade econômica chinesa.
O setor imobiliário segue como ponto crítico, impactado por desafios estruturais como envelhecimento populacional e alta dívida pública local. Esses fatores devem limitar o crescimento no longo prazo, mesmo com ações recentes para estímulo. Apesar disso, há otimismo com a possibilidade de a China atingir a meta de crescimento de 5% em 2025, impulsionada por alívio nas tensões comerciais com os EUA. Como parte de uma política expansionista, o Banco do Povo da China reduziu as taxas de juros em 10 pontos-base, no pacote de estímulo anunciado no início do mês. A taxa de empréstimo de 1 ano caiu de 3,1% para 3%, e a de 5 anos, de 3,6% para 3,5%. A medida visa sustentar a demanda interna e reforçar o ritmo de crescimento, diante de um ambiente ainda marcado por incertezas.
Europa
Na Europa, os dados econômicos recentes revelam um cenário de inflação ainda pressionada, com destaque para o aumento nos preços de energia, água e salários, além do reajuste do salário-mínimo nacional e dos seguros-desemprego para empresas. Esses fatores, somados a um amplo reajuste de preços comum no início do ano, elevaram o índice de preços ao consumidor. Esse resultado reforça as expectativas de que o Banco Central Europeu pausar os juros em sua próxima reunião de junho, enquanto diminuem as chances de cortes na de agosto. A combinação entre a política monetária cautelosa e os preços persistentes sugere uma abordagem mais conservadora nos próximos meses. A moderação econômica, aliada às pressões fiscais, continua limitando o espaço para estímulos adicionais. Nesse contexto, o ambiente macroeconômico segue desafiador para os formuladores de política econômica. A tendência é de manutenção da atual postura de contenção inflacionária, com vigilância redobrada sobre os indicadores.
Em paralelo, a presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro britânico deram um passo significativo rumo à reaproximação entre a União Europeia e o Reino Unido. Um novo acordo de defesa está em negociação, e espera-se que em breve haja mudanças na relação comercial entre os dois blocos. Contudo, quanto à circulação de pessoas, sobretudo jovens, o avanço ainda é limitado e não deve haver retomada completa da liberdade de trânsito. Embora o impacto econômico das medidas até aqui seja modesto, o gesto simbólico de aproximação ocorre em um momento estratégico. Isso acontece em meio à pressão dos EUA por mais gastos militares europeus, à continuidade de conflitos próximos ao continente e às possíveis tarifas adicionais sobre exportações europeias para os EUA. Nesse cenário, reuniões como essa devem se tornar anuais, sinalizando um novo ciclo de diálogo transatlântico. A expectativa é de que o processo ganhe tração nos próximos meses.
Oriente Médio
O conflito entre Israel e Hamas continua, sem avanço concreto em um novo cessar-fogo após a trégua no início do ano. Israel intensificou sua ofensiva em Gaza, enquanto líderes ocidentais cogitam impor sanções ao país, citando abusos de direitos humanos. Uma solução definitiva ainda parece distante, ampliando a tensão geopolítica na região.
O preço do petróleo (Brent) manteve-se estável entre 15 e 22 de maio, em torno de 85 dólares por barril, com a OPEP+ encerrando o período sem novos cortes de produção. A decisão do grupo foi adiada para a próxima reunião. Já os preços futuros das commodities agrícolas subiram, com destaque para milho (+3%), trigo e soja (+2% e +1,5%, respectivamente).
Estados Unidos
A economia americana apresentou desempenho mais favorável em maio, conforme a prévia do PMI composto, que subiu 1,5 ponto para 52,1, indicando expansão moderada nos setores de manufatura e serviços. A atividade industrial se recuperou após contração em abril, e o setor de serviços acelerou. A demanda doméstica cresceu, enquanto a externa caiu pelo segundo mês. A produção registrou atrasos e o emprego teve leve recuo. Os preços subiram significativamente em ambos os setores, mas, até o momento, os dados sinalizam uma moderação da atividade, sem indícios de desaceleração abrupta. No setor imobiliário, as vendas de casas usadas caíram 0,5% em abril, após alta de 5,9% em março, com preços e taxas de hipoteca ainda elevados, dificultando o fechamento de novos negócios. Os pedidos de seguro-desemprego continuam baixos, com 227 mil na semana encerrada em 17 de maio.
No cenário político, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que prevê aumento de gastos e cortes de impostos propostos por Donald Trump, com votos apertados e apoio republicano. O plano prorroga cortes tributários de 2017 e concede isenções a setores como defesa e energia, mas restringe o acesso a programas sociais. A medida pode elevar a dívida pública em US$ 3,1 trilhões em dez anos, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso. Com isso, as taxas de juros de longo prazo subiram a níveis inéditos desde 2007, refletindo apreensão dos investidores com o alto custo de financiamento. A nota de crédito dos EUA foi rebaixada por uma agência de risco, destacando as preocupações fiscais. Paralelamente, tensões comerciais aumentaram após Trump ameaçar impor tarifas de 50% à União Europeia, caso não haja proposta para reduzir tarifas sobre produtos americanos. O prazo para acordo é curto, e o risco de retaliações cresce.
Brasil
O governo brasileiro divulgou o relatório bimestral de receitas e despesas com destaque para um forte contingenciamento de R$ 31,3 bilhões, sendo R$ 20,7 bilhões para cumprimento da meta de saldo primário e R$ 10,6 bilhões para respeitar o teto de gastos. A frustração de receitas, estimada em R$ 81,5 bilhões, se deve à revisão de projeções envolvendo o CARF, CSLL e transações tributárias. Além disso, foi anunciada uma reforma no IOF que elevaria a arrecadação em R$ 20,5 bilhões, com aumentos para aplicações no VGBL, créditos a empresas e câmbio. A reação negativa do mercado, que levou o dólar de R$ 5,60 para R$ 5,70, forçou o governo a recuar parcialmente, isentando transferências para fundos no exterior e mantendo a alíquota de 1,1% para pessoas físicas. No campo econômico, o IBC-Br de março surpreendeu positivamente ao subir 0,8% no mês e 3,5% na comparação anual, puxado pelo forte desempenho do agronegócio. A safra recorde de soja impulsionou o setor agropecuário, com alta anual de 19,8%. A expectativa é de crescimento do PIB em 2,3% em 2025, ainda com mercado de trabalho aquecido e consumo sustentado.
No entanto, alguns fatores geram preocupações. A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja no Rio Grande do Sul levou mais de 30 países, incluindo China, México, Chile e União Europeia, a suspender temporariamente as importações de frango e derivados do Brasil, prejudicando um setor vital para a balança comercial. Já no setor elétrico, o governo editou uma Medida Provisória que amplia a tarifa social para cerca de 60 milhões de pessoas com consumo de até 80 kWh/mês, ao custo de R$ 3,6 bilhões – valor que será compensado pelos demais consumidores residenciais. A MP também antecipa a abertura do mercado livre de energia para consumidores de baixa tensão e altera incentivos a grandes consumidores, com redução gradual de subsídios e novas regras para autoprodução. Essas medidas devem afetar o custo da energia no médio prazo e estão sendo acompanhadas de perto pelo setor produtivo. Em meio a incertezas globais, o governo aposta nessas ações para sustentar a atividade interna.