Resumo semanal: 18/08 a 22/08

Nos EUA, a economia segue firme com PMI Composto em 55,4 pontos, mas Jerome Powell sinaliza riscos crescentes ao mercado de trabalho e mantém possibilidade de corte de juros. Na Europa, a atividade econômica avança moderadamente, com inflação britânica acima do esperado, enquanto a guerra Rússia-Ucrânia mantém o risco geopolítico elevado. No Brasil, o câmbio oscilou até R$ 5,50 e a arrecadação desacelerou, mas deve sustentar a meta fiscal; a atividade mostra perda de fôlego com IBC-Br negativo. No Oriente Médio, Israel aprovou novos assentamentos na Cisjordânia, EUA ampliaram sanções ao petróleo iraniano e a Síria revalorizou sua moeda. Na Ásia, a China manteve juros recorde baixos diante da desaceleração e a Tailândia enfrenta instabilidade política com julgamentos que podem alterar seu cenário governamental.

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Por Matheus Gomes, CEA

Ásia

Na Tailândia, a dinastia política Shinawatra enfrenta simultaneamente três julgamentos na Suprema Corte que podem redefinir o cenário político do país. As ações judiciais envolvem acusações contra figuras-chave do governo e questionamentos sobre a elegibilidade de líderes ligados ao partido Pheu Thai, atualmente no poder. Analistas apontam que uma eventual condenação poderia gerar instabilidade institucional, com potenciais efeitos sobre o clima de negócios e a confiança de investidores estrangeiros. Esse ambiente jurídico-político turbulento ocorre em um momento em que a região enfrenta desafios econômicos mais amplos, aumentando a sensibilidade dos mercados locais.

Na China, o Banco Popular manteve as taxas de empréstimo no menor patamar histórico pelo terceiro mês consecutivo — 3,0% para prazo de um ano e 3,5% para cinco anos, usada nos financiamentos imobiliários. A decisão vem em meio à desaceleração da atividade, com a produção industrial registrando o crescimento mais lento em oito meses e as vendas no varejo avançando no menor ritmo desde dezembro de 2024. Notavelmente, os novos financiamentos em yuan encolheram pela primeira vez em duas décadas. O PBOC reafirmou, em seu relatório trimestral, a intenção de manter uma política monetária moderadamente expansionista para sustentar o consumo e a recuperação econômica. 

Europa

A guerra entre Rússia e Ucrânia entrou no quarto ano sem avanços concretos em direção a um acordo de paz. Negociações permanecem estagnadas, enquanto Estados Unidos, União Europeia e aliados reforçam garantias de segurança a Kiev. Os dois lados mantêm ofensivas militares, com ataques pontuais e escalonamento de tensões. No campo econômico, a zona do euro apresentou crescimento moderado em agosto, segundo prévia do PMI Composto, que atingiu 51,1 pontos, acima do esperado. O avanço foi puxado por manufaturas (50,5) e serviços (50,7), apesar de diferenças de desempenho entre os países do bloco.

A Alemanha registrou expansão de 50,9 pontos, enquanto a França recuou para 49,8, evidenciando a heterogeneidade da recuperação. No Reino Unido, a atividade também cresceu: o PMI Composto avançou para 53 pontos, com destaque para serviços (53,6), ainda que as manufaturas tenham recuado (47,3). A inflação britânica superou expectativas, passando de 3,6% para 3,8% no acumulado de 12 meses, segundo o Escritório de Estatísticas Nacionais. O núcleo de preços manteve-se pressionado, alimentando expectativas de postura mais dura do Banco da Inglaterra. Essa combinação de atividade moderada e preços resilientes aumenta os desafios para a política monetária europeia.

Oriente Médio

O governo de Israel aprovou um novo plano de assentamentos considerado um esforço para inviabilizar a criação de um Estado palestino, elevando as tensões regionais. A medida, que envolve expansão de comunidades judaicas em áreas estratégicas da Cisjordânia, tem sido criticada por aliados ocidentais e grupos internacionais, com alertas sobre potenciais impactos na estabilidade diplomática e na segurança local. O anúncio ocorre em meio ao aumento de restrições e confrontos na região, reforçando o cenário de instabilidade. Essas ações podem gerar maior pressão política e econômica, tanto de organismos multilaterais quanto de parceiros comerciais, ampliando o risco geopolítico associado a Israel.

Paralelamente, os Estados Unidos anunciaram sanções contra redes e embarcações envolvidas no comércio de petróleo iraniano, em tentativa de reduzir as fontes de receita de Teerã e restringir seu programa nuclear e militar. No contexto econômico regional, a Síria iniciou um processo de revalorização de sua moeda ao cortar dois zeros, buscando conter a inflação e restaurar parte da confiança no sistema financeiro. A medida, considerada arriscada por analistas, visa frear a volatilidade cambial e estabilizar preços domésticos, embora enfrente desafios estruturais significativos. A combinação de tensões políticas, sanções econômicas e reformas monetárias ressalta a complexidade do ambiente macroeconômico no Oriente Médio, exigindo atenção redobrada dos investidores à evolução dos riscos.

Estados Unidos

A economia norte-americana manteve sinal de expansão em agosto, com o PMI Composto subindo para 55,4 pontos, impulsionado pelo setor de serviços (55,4) e pela indústria (53,3). O aumento da atividade veio acompanhado por maior geração de empregos e pressões inflacionárias, tanto em custos de insumos quanto em preços ao consumidor. No setor imobiliário, o cenário segue enfraquecido: taxas de hipoteca elevadas, queda nas vendas de casas usadas (responsáveis por 80% do mercado) e permissões para novas construções abaixo dos níveis pré-pandemia revelam resiliência limitada. A ata recente do Federal Reserve indicou manutenção dos juros entre 4,25% e 4,5%, apesar de dois votos favoráveis a cortes. A maioria dos dirigentes reforçou que os riscos de alta da inflação ainda superam as preocupações com enfraquecimento do mercado de trabalho.

No Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou riscos crescentes no mercado de trabalho, alertando para a possibilidade de deterioração rápida do emprego, mesmo com a inflação ainda em patamares elevados. Ele mencionou que o impacto das tarifas de importação tende a ser de curta duração, mas mantém pressão sobre preços. Apesar da postura cautelosa, Powell sinalizou que, na ausência de choques relevantes, há espaço para um corte de juros já na próxima reunião. O discurso, aliado à moderação de alguns membros do comitê, reforça a percepção de que o ciclo de política monetária pode estar próximo de um ponto de inflexão. No entanto, a autoridade monetária segue orientada pelo balanço entre combate à inflação e preservação da atividade econômica.

Brasil

A semana foi marcada por forte volatilidade no mercado de câmbio, com a cotação oscilando entre R$ 5,40 e R$ 5,50 por dólar. O movimento refletiu a preocupação com uma possível escalada nas tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, após decisão do ministro Flávio Dino estabelecendo que leis e ordens estrangeiras não terão efeito automático no país. A medida pode afetar a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, aumentando o risco jurídico para instituições financeiras. Bancos enfrentam o dilema entre seguir a legislação doméstica e correr o risco de sanções externas, ou cumprir exigências internacionais e sofrer penalizações internas. Esse cenário contribuiu para a desvalorização do real e ampliou a incerteza regulatória.

A arrecadação federal de julho somou R$ 254,2 bilhões, avanço de 4,6%, com destaque para impostos de importação (+23%). Apesar do crescimento, observa-se desaceleração, alinhada ao arrefecimento da atividade econômica. A baixa de preços no atacado pode pressionar a receita nos próximos meses, afetando tributos ligados ao consumo e ao lucro empresarial. Ainda assim, a arrecadação atual deve ser suficiente para sustentar a meta de resultado primário em 2025, mitigando parte das preocupações fiscais.

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