Resumo semanal: 12/05 a 16/05
Por Matheus Gomes de Souza, CEA Ásia O fluxo de crédito agregado na China veio abaixo do esperado, com 16,3 trilhões de yuans no acumulado até abril. O resultado do mês, puxado por emissões de títulos públicos, escondeu a fraqueza nos empréstimos de médio e longo prazo às empresas, que cresceram menos que em março. […]
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
O fluxo de crédito agregado na China veio abaixo do esperado, com 16,3 trilhões de yuans no acumulado até abril. O resultado do mês, puxado por emissões de títulos públicos, escondeu a fraqueza nos empréstimos de médio e longo prazo às empresas, que cresceram menos que em março. Esse dado sinaliza menor apetite por investimentos à frente, em linha com a cautela das famílias, que também reduziram a tomada de crédito. Ao mesmo tempo, a inflação ao consumidor recuou 0,1% nos últimos 12 meses, reforçando o cenário de baixa pressão inflacionária. Os preços de combustíveis caíram, e o núcleo da inflação subiu 0,5%, sem grandes surpresas. Já o índice de preços ao produtor (PPI) encolheu pelo 31º mês seguido, com retração de 2,7%. A fraqueza no setor imobiliário e a queda nos preços de energia e metais explicam parte dessa pressão.
Com o ambiente doméstico ainda frágil, a China viu alívio externo com a redução temporária de tarifas comerciais com os EUA. As duas potências decidiram suspender por 90 dias parte das sobretaxas, o que melhorou o humor dos mercados. Os EUA reduziram tarifas de 125% para 10% sobre produtos chineses, enquanto Pequim baixou a retaliação equivalente. A medida reduz a tensão em torno do comércio bilateral, especialmente em um momento de desaceleração na China. A inflação baixa, o crédito fraco e a demanda doméstica contida reforçam o desafio das autoridades em sustentar a atividade. Apesar disso, o alívio tarifário pode suavizar o impacto da desaceleração global sobre a economia chinesa. O movimento também sugere espaço para novas rodadas de negociação. O foco segue em evitar pressões deflacionárias persistentes.
Europa
A guerra entre Rússia e Ucrânia entra no quarto ano, com negociações estagnadas e sem participação dos principais líderes, o que reduz a chance de cessar-fogo no curto prazo. Apesar disso, a produção industrial na zona do euro surpreendeu positivamente em março, com alta de 2,6% frente a fevereiro, puxada pela Irlanda e pela Alemanha, que registrou expansão de 3,1% com destaque para a indústria farmacêutica. França, Itália e Espanha apresentaram avanços tímidos, e o nível geral de produção ainda segue abaixo do patamar de 2019. Incertezas comerciais com os EUA e dados fracos do PMI mantêm a perspectiva cautelosa para o setor. No Reino Unido, o PIB cresceu 0,7% no 1T25, acima do esperado, com apoio da expansão dos investimentos privados. Exportações e consumo das famílias também contribuíram. Serviços (+0,4%) e construção (+0,5%) avançaram, enquanto a indústria recuou 0,7%.
O mercado de trabalho britânico, por sua vez, mostra sinais de arrefecimento. A taxa de desemprego subiu para 4,5% nos três meses até março, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). Indicadores alternativos sugerem queda do emprego em abril, após dois meses consecutivos de retração nas contratações, indicando uma tendência de desaceleração. A amostra reduzida da pesquisa exige cautela na leitura dos dados, mas o movimento é consistente com um mercado menos aquecido. Os salários também deram sinais de moderação: o ganho médio semanal, excluindo bônus, cresceu 5,6% no período, ritmo ainda elevado, porém inferior ao observado anteriormente. O cenário reforça o desafio do Banco da Inglaterra em equilibrar controle inflacionário com estímulo à atividade. A combinação de crescimento moderado e mercado de trabalho mais fraco exige atenção.
Oriente Médio
O conflito entre Israel e Hamas segue sem solução próxima, alimentando incertezas no mercado de energia. Após uma trégua no início do ano, a segunda fase do acordo de cessar-fogo não avançou, e Israel anunciou nova ofensiva em Gaza. O ambiente geopolítico permanece instável, afastando perspectivas de resolução. Esse cenário pressiona os mercados e contribui para volatilidade nos preços de commodities. A ausência de acordo afeta diretamente o humor global, elevando os riscos no fornecimento. A insegurança na região sustenta a cautela dos investidores. A continuidade da guerra prejudica o equilíbrio entre oferta e demanda energética.
Já o preço do petróleo Brent subiu 3% entre 8 e 15 de maio, encerrando o período a 65 dólares por barril, impulsionado pelo alívio nas tensões comerciais entre EUA e China. A expectativa de melhora no crescimento global ajudou a valorizar a commodity na semana. Contudo, desde o início de abril, o petróleo ainda acumula queda de 14%, reflexo da política tarifária americana e de problemas logísticos nas cadeias globais. O movimento reflete um equilíbrio frágil entre fatores políticos e fundamentos de mercado. Também na semana, os preços futuros de commodities agrícolas subiram. O trigo avançou 4%, enquanto milho e soja tiveram alta de 2% cada.
Estados Unidos
Na semana encerrada em 17 de maio, os pedidos iniciais de seguro-desemprego permaneceram em patamares historicamente baixos, somando 229 mil solicitações. No campo comercial, um importante avanço ocorreu: Estados Unidos e China anunciaram uma redução substancial das tarifas comerciais por 90 dias, enquanto seguem em negociação. Os EUA diminuíram a tarifa recíproca de 125% sobre produtos chineses para 10%, mantendo a tarifa de 20% sobre itens ligados ao comércio de fentanil. A China, por sua vez, reduziu sua tarifa retaliatória de 125% para 10%. Essa flexibilização surpreendeu positivamente o mercado e contribuiu para reduzir as chances de uma recessão nos EUA, além de favorecer as expectativas de crescimento econômico global.
Apesar do alívio nas tensões comerciais, a inflação norte-americana deve seguir pressionada nos próximos meses, permanecendo acima da meta estabelecida pelo Federal Reserve. A tarifa média nas importações ainda se encontra elevada, o que tende a manter os preços sob pressão. Embora não haja sinais de recessão no curto prazo, observa-se um processo gradual de desaceleração econômica. Com isso, reforçamos nossa visão de que o Fed manterá os juros elevados por mais tempo, priorizando o retorno da inflação à meta. Em abril, a inflação ao consumidor (CPI) subiu 0,2%, abaixo do esperado, e o núcleo do índice ainda acumula alta de 2,8% em 12 meses. Já o índice de preços ao produtor (PPI) retraiu 0,5% no mês, apontando moderação adicional nas pressões inflacionárias.
Brasil
A ata do Copom reafirmou a necessidade de uma postura cautelosa diante de um ambiente ainda incerto e com pressões inflacionárias persistentes. Embora os efeitos da política monetária restritiva comecem a ser observados, os vetores inflacionários seguem adversos, especialmente diante da instabilidade do cenário externo. A guerra comercial entre EUA e China foi destacada como fator de risco para o crescimento global, podendo afetar decisões de juros nas economias desenvolvidas. O comitê evitou sinalizar novos passos, mas reforçou a possibilidade de juros elevados por mais tempo. Diante disso, espera-se mais uma alta de 0,25 p.p. na Selic, encerrando o ciclo em 15,00%. No câmbio, a volatilidade foi intensa, com o dólar indo de R$ 5,59 para R$ 5,70 após novos ruídos fiscais. A valorização inicial foi revertida rapidamente, refletindo a fragilidade do cenário doméstico.
Já no campo da atividade econômica, os sinais foram mistos. O setor de serviços recuou 0,2% no primeiro trimestre, após sete trimestres de alta, indicando enfraquecimento gradual da economia. Ainda assim, o mercado de trabalho aquecido e medidas de estímulo ajudam a sustentar parte da demanda. No varejo, os dados foram mais positivos: o comércio ampliado cresceu 1,9% em março e o restrito subiu 0,8%, com expansão em 8 das 10 atividades. A recuperação mostra resiliência no consumo, ainda que a expectativa seja de desaceleração ao longo do ano. A inflação persistente e os juros altos devem conter o ritmo, mas o crescimento da massa salarial real, projetado em 4,0% em 2025, deve apoiar o consumo. Com isso, a projeção para o varejo ampliado em 2025 é de crescimento de 2,5%, após 3,7% em 2024.