Economia PicPay
Resumo semanal: 09/06 a 13/06
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
Na China, o fluxo de crédito agregado em maio veio dentro das expectativas, totalizando 18,6 trilhões de yuans no acumulado do ano, de acordo com o Banco do Povo da China (PBOC). O volume mensal (RMB 2,3 trilhões) foi impulsionado por emissões de títulos públicos, enquanto os empréstimos de médio e longo prazo às empresas seguiram fracos — o que indica perspectivas modestas de investimento. A inflação ao consumidor recuou novamente, registrando deflação de 0,1% nos últimos 12 meses. Essa queda foi influenciada pela redução acentuada dos preços dos combustíveis. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 0,6% no mês, mas segue contido. O índice de preços ao produtor caiu pelo 32º mês consecutivo, com recuo de 3,3%.
A inflação baixa reflete fatores como excesso de capacidade instalada, fraco consumo doméstico e perda de competitividade externa após tarifas dos EUA. Apesar do cenário frágil, a balança comercial chinesa registrou superávit de US$ 103,2 bilhões em maio, ligeiramente acima do esperado. No entanto, houve queda expressiva nas exportações para os EUA (-34,5%), intensificando a tendência de desaceleração nas vendas externas. Um acordo comercial temporário entre China e EUA, firmado em maio, levou à redução de tarifas, mas ainda depende de formalização. A China se comprometeu a reduzir controles sobre a exportação de terras raras, enquanto os EUA devem diminuir restrições tecnológicas. O gesto diplomático indica tentativa de descompressão, embora a confiança mútua ainda seja limitada.
Europa
A guerra entre Rússia e Ucrânia entrou em seu quarto ano, com ataques contínuos de ambos os lados e sem uma solução duradoura à vista. Esse cenário contribui para o enfraquecimento da atividade econômica na zona do euro. Em abril, a produção industrial da região caiu 2,4% em relação a março, segundo o Eurostat, após dois meses consecutivos de crescimento. O recuo parece estar relacionado à antecipação de exportações para os EUA no início do ano, diante da possível imposição de tarifas comerciais por parte dos americanos. Além disso, houve queda expressiva na produção industrial de países como Irlanda, Alemanha, França e Espanha, acentuando a percepção de perda de dinamismo.
O setor manufatureiro também mostrou sinais de fraqueza, com o PMI da indústria em níveis baixos. A elevada volatilidade da produção irlandesa colaborou para o resultado negativo, mas incertezas comerciais mais amplas também influenciam. A atividade segue afetada por fatores estruturais, como demanda externa enfraquecida e alta nos custos de energia. Além disso, as sanções econômicas impostas à Rússia seguem afetando cadeias produtivas. A produção industrial na zona do euro continua abaixo do patamar registrado em 2019, o que reforça um quadro de estagnação prolongada. O cenário atual gera dúvidas quanto à força da recuperação europeia no curto prazo.
Oriente Médio
As tensões no Oriente Médio voltaram a se intensificar com a continuidade do conflito entre Israel e Hamas. Israel segue com ofensiva militar em Gaza e realizou ataques aéreos ao Irã, focando instalações nucleares e bases militares. O governo israelense afirmou que novas operações podem ocorrer, enquanto o Irã prometeu retaliar. A escalada militar aumenta o risco geopolítico na região e reduz as perspectivas de um cessar-fogo próximo. A instabilidade reforça preocupações com o fornecimento de energia global, pressionando os mercados de petróleo e elevando a aversão ao risco internacionalmente.
O preço do petróleo Brent subiu 6% entre os dias 5 e 12 de junho, encerrando o período próximo a US$ 70 por barril. Já no dia 13/06, a commodity chegou a subir mais 7% pela manhã, refletindo a piora no cenário geopolítico. A alta interrompeu semanas de estabilidade nos preços e elevou a volatilidade no mercado de energia. Por outro lado, os preços das commodities agrícolas registraram queda: o trigo recuou 3,5%, após alta anterior relacionada às tensões entre Rússia e Ucrânia, dois dos principais exportadores globais. A soja e o milho também tiveram leve queda semanal, de 1% e 0,2%, respectivamente. O movimento aponta para ajustes pontuais após semanas de maior estresse nos mercados.
Estados Unidos
A inflação nos Estados Unidos surpreendeu positivamente em maio. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) subiu 0,1%, abaixo das expectativas, refletindo desaceleração nos preços de serviços. O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, também subiu apenas 0,1%. Esse comportamento foi favorecido por preços mais baixos de bens duráveis, como veículos. Apesar disso, as tarifas elevadas sobre produtos importados ainda não mostraram impacto relevante. Em 12 meses, o núcleo do CPI acumula alta de 2,8%, ainda acima da meta do Fed. Já o índice de preços ao produtor (PPI) subiu 0,1% no mês, com núcleo também em 0,1%. Em 12 meses, o PPI registra alta de 3%.
Apesar do alívio momentâneo, a inflação deve permanecer acima da meta do Fed nos próximos meses. As tarifas de importação continuam elevadas, e negociações comerciais ainda em andamento tendem a manter pressão sobre os preços. Diante disso, acreditamos que o banco central americano manterá os juros elevados por mais tempo, contrariando o consenso de parte do mercado. Indicadores como o índice de otimismo das pequenas empresas (NFIB), que subiu 3 pontos em maio, ainda refletem incertezas acima da média pré-pandemia. Pedidos iniciais de seguro-desemprego mostraram leve alta, mas seguem historicamente baixos. Por fim, a tensão comercial com a China arrefeceu temporariamente, com sinalizações de redução de tarifas e barreiras mútuas. Contudo, Donald Trump ameaçou novos anúncios tarifários a parceiros nos próximos dias.
Brasil
As projeções do Boletim Focus trouxeram leve melhora para a inflação em 2025, com o IPCA recuando de 5,46% para 5,44%. Para 2026 e 2027, as estimativas permaneceram estáveis, em 4,50% e 4,00%, respectivamente. Já a expectativa de crescimento do PIB subiu ligeiramente para 2025, passando de 2,13% para 2,18%, enquanto 2026 teve leve ajuste de 1,8% para 1,81%. A taxa Selic continua projetada em 14,75% para 2025, com quedas previstas para 12,5% em 2026 e 10,5% em 2027. Os dados refletem um cenário de cautela, com o mercado ainda receoso quanto à convergência da inflação para a meta no curto prazo.
No campo da atividade, os dados de abril reforçaram sinais de desaceleração. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) apontou expansão de 0,2% no mês, abaixo do esperado, com destaque negativo para os serviços prestados às famílias, que recuaram 0,1%. Apesar disso, o setor ainda demonstra resiliência, sustentando parte do crescimento recente. Já o varejo ampliado recuou 1,9% no mês, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), pressionado por quedas nas vendas de veículos (-2,2%) e produtos alimentícios (-0,8%). Esses números sugerem perda de fôlego no consumo, especialmente em segmentos sensíveis à renda e crédito, e indicam que o crescimento pode enfrentar mais obstáculos nos próximos trimestres.