Mercados reagem mal às tarifas de Trump
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[03/04/25]
… Os futuros das bolsas de NY ontem à noite deram o primeiro sinal de que os mercados não gostaram nem um pouco das tarifas anunciadas por Trump no Liberation Day. As techs eram as ações que mais perdiam no after hours, com os 34% para a China e os 32% para Taiwan. A Apple, que fabrica os iPhones na Ásia, teve um tombo de 6%. Em seguida, os pregões asiáticos refletiam o baque, assim como os negócios na Europa, taxada em 20%. O Brasil ficou entre os menos atingidos, com a tarifa mínima de 10% a todos os parceiros comerciais dos EUA, mas o agronegócio já pressiona o governo para tentar reverter. Hoje, a expectativa é para as reações dos países, em especial, da China e da União Europeia, que podem determinar a proporção da guerra comercial.
… Em entrevista à Fox News, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que o governo observará a reação de Pequim, avisando que, “se quiserem retaliar, haverá uma escalada, pois Trump aumentará ainda mais as alíquotas”.
… Na primeira resposta, o Ministério do Comércio da China pediu a “revogação das medidas unilaterais”.
… As tarifas para a China e Taiwan foram consideradas “desconcertantes” pela Werbush, especializada em tecnologia, que alertou para a destruição da demanda e cadeias de suprimentos. “Foi pior do que o pior cenário que poderia vir do tarifaço.”
… Todas as fabricantes de chips têm exposição significativa às cadeias de suprimentos dos asiáticos, como a Nvidia (-4,3%).
… Ainda itens de pequeno valor importados da China e HK, com valor de até US$ 800 e que eram isentos, pagarão 30% do preço.
… A União Europeia deve se manifestar ainda hoje, assim como o Canadá que, embora não tenha sido incluído na lista das tarifas recíprocas, promete “contramedidas” às tarifas para o setor automotivo e o aço.
… Já ontem à noite, a Austrália disse que pedirá aos EUA que isentem o país do plano de Trump. Segundo o primeiro-ministro Anthony Albanese, “as tarifas não têm base lógica; uma tarifa recíproca seria zero e não 10%”.
… No after hours de NY, também as ações de fabricantes de agroquímicos caíram, como a Corteva (-5,5%), com receios de que o plano tarifário do presidente Trump possa causar mais turbulência do que ajudar o setor agrícola.
… O risco é de que as tarifas retaliatórias pressionem as cotações do milho, soja e outras commodities, prejudicando a capacidade dos agricultores americanos de investirem em sementes e pesticidas de alta tecnologia.
… Uma informação que causou alívio foi o esclarecimento da Casa Branca de que as tarifas recíprocas não serão cumulativas com as taxas recentes de 25% anunciadas para o aço, alumínio, carros e autopeças que já estão em vigor.
… Para o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, sem a cumulatividade das tarifas, o Brasil tem “total condições” de manter suas exportações para os EUA. O receio era de uma alíquota que chegasse a 35%.
… O que não está ainda esclarecido é se haverá alguma medida em relação ao etanol brasileiro, que não foi citado.
… Já a alíquota linear de 10%, apesar de mais baixa do que se cogitou, foi criticada pela Frente Parlamentar da Agropecuária. O deputado Pedro Lupion (PP) disse que os países têm realidades diferentes e que o Brasil tem déficit comercial com os EUA.
… Nota conjunta do Itamaraty e do MDIC acusou os Estados Unidos de violarem os compromissos que assumiu perante a OMC, e afirmou que avalia “todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral”.
… Pouco depois do anúncio das tarifas, a Câmara aprovou em votação simbólica a Lei da Reciprocidade, que dá base legal para o governo Lula contestar a imposição dessa alíquota. A matéria tinha passado na véspera no Senado.
… Em relatório, a consultoria britânica Capital Economics avaliou que “o golpe das tarifas recíprocas foi maior que o esperado”, com os cálculos apontando para uma tarifa média ponderada por importação de 19,1%.
… A Pantheon concorda que os anúncios de Trump foram muito maiores do que a maioria dos investidores previa e estima que o PCE, medida favorita do Fed para a inflação, pode sofrer um aumento acima de 1%, além da estagnação.
… A consultoria acredita que o Fed reduzirá o juro em 75pbs este ano e mais 75pbs em 2026 para compensar os danos tarifários. De madrugada, os juros dos Treasuries recuavam, enquanto o ouro batia máxima histórica e o petróleo caía (abaixo).
AFUNDOU – Foi muito negativa, a reação dos mercados nas horas seguintes ao anúncio do tarifaço. As variações falam por si.
… A primeira leitura foi a de que as tarifas podem colocar a economia americana em recessão, enquanto os preços sobem. Para alguns analistas, deve ficar mais comum falar de estagflação daqui para frente.
… Os futuros dos índices das bolsas em NY derreteram, com o Dow em queda de mais de 2%, o S&P 500 em baixa de 3% e o Nasdaq perdendo 3,5%. Os futuros de petróleo caíram em torno de 2,5%. A ordem foi sair do risco.
… A reação negativa provocou uma corrida para o ouro, visto como ativo seguro. A onça-troy quase bateu em US$ 3.200 na madrugada, na máxima de US$ 3.196, maior preço da história.
… Investidores também foram buscar refúgio dos Treasuries, ainda mais porque a expectativa de um baque na economia eleva as chances de cortes de juro pelo Fed. O retorno da note de 2 anos caiu a 3,75% e, o da note de 10 anos, a 4,05%.
… Por aqui, o mercado de juros ainda estava aberto na B3 quando Trump anunciou a tarifa de 10% sobre importações de produtos do Brasil e a reação foi de ligeira queda nos vencimentos curtos e médios.
… A interpretação inicial é de que, ao receber a alíquota mínima, o Brasil saiu com vantagem comparativa no tarifaço.
… Como a questão é mais complexa, com a economia dos EUA podendo sair chamuscada do episódio e, talvez até a brasileira, a depender do impacto interno e das retaliações, o Ibov futuro caiu (-0,69%) e o dólar para maio subiu (+0,14%).
… Em NY, o EWZ, principal fundo de índice (ETF) do Brasil, fechou em queda de 1,11% no after hours.
… Houve forte baixa também nos principais ADRs de empresas brasileiras. O da Vale recuou 3,37%, o do Itaú Unibanco perdeu 1,63%, o do Bradesco cedeu 1,35% e o da Petrobras caiu 0,97%.
… No Valor, Matias Spektor (FGV) ponderou que, com os EUA mais fechados à China, fabricantes do país e de outros asiáticos, os mais atingidos pelo tarifaço, vão inundar outros mercados e o Brasil deve ser um dos alvos.
… “A China tem uma capacidade muito importante de pressionar o Brasil”, disse. A reação dos mercados asiáticos na abertura de hoje foi bem ruim. Em Taiwan, uma das mais atingidas pelas tarifas, o feriado deixou os mercados financeiros fechados.
… No fechamento de ontem, o juro do DI para janeiro de 2026 cedeu a 14,980% (de 15,005%); o Jan/27, a 14,795% (de 14,855%); o Jan/29, a 14,575% (de 14,595%); o Jan/31, a 14,750% (de 14,720%); e o Jan/33, a 14,780% (de 14,740%).
… As taxas abriram em queda depois de a produção industrial de fevereiro no Brasil (-0,1%) vir abaixo do esperado (+0,2%), mais um dado a apontar desaceleração na economia. Depois, subiram com os Treasuries, para terminar em baixa após o tarifaço.
… Os dados acima do esperado da pesquisa ADP e das encomendas à indústria tinham dado uma animada no dia.
… O setor privado dos Estados Unidos criou 155 mil empregos em março, acima de 123 mil previstos, e as encomendas à indústria americana cresceram 0,6% em fevereiro ante janeiro, ante expectativa de +0,5%.
… No pregão regular do Ibovespa, o dia foi de muita volatilidade com o mercado à espera das tarifas, com o fechamento do índice estável (+0,03%), a 131.190,34 pontos. Em NY, houve muito sobe e desce, mas as bolsas fecharam no azul.
… O Dow Jones subiu 0,56%, a 42.225,32 pontos; o S&P 500 avançou 0,67% (5.670,97) e o Nasdaq ganhou 0,87% (17.601,05).
… Tesla, que chegou a cair mais de 6% no dia, fechou com alta de 5,4% com rumores de que Elon Musk deixará o governo Trump para se concentrar nas suas empresas. A Casa Branca disse que ele só sairá quando terminar o trabalho no DOGE.
… O dólar fechou em alta ante o real (+0,25%, a R$ 5,6967), mas abaixo da linha de R$ 5,70 – em um movimento de busca de proteção por investidores locais. Em alta contra emergentes, a moeda americana perdeu terreno para o euro e a libra.
… A moeda comum subiu 0,59%, a US$ 1,0853, e a divisa britânica avançou 0,54%, a US$ 1,2985. O iene ganhou 0,61%, a 148,717/US$. Na média contra seis pares, o dólar (DXY) caiu 0,43% e furou os 104 pontos, a 103,807.
… Em meio à cautela, as blue chips do Ibovespa recuaram, na contramão de suas respectivas commodities. Petrobras ON caiu 0,51% (R$ 40,82) e PN, -0,27% (R$ 37,20). Vale caiu 0,45% (R$ 56,93). Já os bancos sustentaram o sinal positivo.
… Santander teve elevação de 1,69%, a R$ 27,15. Bradesco PN avançou 0,24% (R$ 12,47), Banco do Brasil (+0,07%) e Itaú (+0,03%) fecharam estáveis. A exceção foi Bradesco ON, com baixa de 0,36%, a R$ 11,18.
… CSN (-5,71%) liderou as perdas, seguida de Brava Energia (-2,78%), CSM Mineração (-2,45%) e Metalúrgica Gerdau (-1,84%).
… O Grupo Pão de Açúcar disparou 15,84%, com expectativa por mudanças em seu conselho de administração. Magazine Luiza subiu 7,08% (R$ 11,19) e Vamos ganhou 7,00% (R$ 4,74) e também foram destaques.
AGENDA – Indicadores mais fracos no Brasil, nesta 5ªF, com o PMI Composto e de Serviços de março da S&P Global (10h), que em fevereiro registrou 51,2 pontos, e os emplacamentos de veículos da Fenabrave em março (11h).
… O presidente Lula e ministros participam no Palácio do Planalto do evento ‘O Brasil dando a Volta por Cima’, sobre entregas do governo nos dois primeiros anos de mandato (10h).
… No Estadão, a última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou mais uma queda vertiginosa na aprovação de Lula, surpreendeu e preocupou o Planalto. Assessores começam a desconfiar que o problema não é só de comunicação.
… Às 11h, o Tesouro faz leilão de LTN para 1º/10/25, 1º/4/27, 1º/1/29 e 1º/1/32 e de NTN-F para 1º/1/31 e 1º/1/35.
… Lá fora, divulgam índices PMI Composto e de Serviços a Alemanha, Zona do Euro e Reino Unido. Ainda na Zona do Euro, sairá hoje (8h30) a ata da última reunião de política monetária.
… Nos EUA, os novos pedidos de auxílio-desemprego têm previsão de manter a média da semana anterior (+224 mil), com o total somando 1,866 milhão. Os dados serão divulgados às 9h30.
… Também às 9h30, sai a balança comercial americana de fevereiro, com previsão de déficit de US$ 121,4 bilhões.
… São importantes o PMI de serviços da S&P Global (10h45) e PMI de serviços do ISM (11h) – ambos de março.
… Dois Fed boys têm falas previstas: Philip Jefferson (13h30) e Lisa Cook (15h30) – os primeiros após o anúncio das tarifas.
EM TEMPO… Para o Santander, EMBRAER é a empresa brasileira mais exposta às tarifas dos EUA; TUPY e WEG são segunda e terceira brasileiras mais expostas, segundo o banco.
EMBRAER entregou 30 aeronaves no 1TRI, alta de 20% em relação ao mesmo trimestre de 2024.
CEMIG. Cemig Distribuição anunciou 13ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,5 bilhão.
CLEARSALE. AGE aprovou cancelamento de listagem na B3.
BTG PACTUAL. Em resposta à CVM, o banco informa que nunca fez proposta para aquisição de ativos ou participação no capital social do Banco Master. Divulgado ontem à noite.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
BDM Morning Call: Chegou o dia
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[02/04/25]
… O presidente Trump deve anunciar as tarifas recíprocas no evento Make America Wealthy Again, previsto para as 17h (de BSB), informou a Casa Branca. Faltando poucas horas para o show do Liberation Day, ainda não se sabe o que virá. Várias opções estão na mesa, entre as quais, tarifas distintas para cada parceiro comercial dos EUA, uma alíquota universal de 20% a todos os países e uma sobretaxa menos elevada para um subgrupo de países. Sob forte expectativa e apreensão, os mercados se mantêm na defensiva. Na agenda dos indicadores, destaque para mais um dado do emprego americano antes do payroll (6ªF), pesquisa ADP, com a criação de vagas no setor privado em março, e os números da produção industrial no Brasil em fevereiro.
… Ao que tudo indica, o presidente Trump planeja um espetáculo midiático; a porta-voz do governo, Karoline Leavitt, disse no breafing aos jornalistas que o dia 2 de abril será “uma das datas mais marcantes da história moderna”.
… Ela também antecipou que as tarifas recíprocas e sobre automóveis entrarão em vigor amanhã, no dia 3 abril.
… “O presidente já fez a sua cabeça sobre as tarifas, mas está sempre aberto para receber ligações”, disse Leavitt, afirmando que alguns poucos países foram convocados para conversar. Mais um sinal de que haverá (ou já está havendo) negociações.
… Israel, por exemplo, se antecipou, anunciando a eliminação de todas as tarifas sobre importações de bens dos Estados Unidos, nesta 3ªF. A decisão foi comunicada pelo gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
… Também autoridades do Reino Unido já conversaram com os EUA e o primeiro-ministro Keir Starmer, que tem boa relação com Trump, prometeu uma abordagem “calma e pragmática”, sem “reação precipitada” ao que for anunciado.
… Já o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, confirmou que implantará medidas retaliatórias contra os EUA se houver novas sanções e tarifas. Disse que suas ações “terão impacto mínimo para os canadenses e máximo para os americanos”.
… O Swissquote Bank espera hoje um anúncio “exagerado, exaustivo, barulhento e nervoso, para provocar temor e concessões”.
… Para o banco suíço, tarifas mais “razoáveis” do que se teme podem trazer alívio aos mercados. Mas medidas “irracionais”, como as tarifas de 200% ameaçadas contra bebidas alcoólicas europeias, aprofundariam a turbulência global.
… Reportagem do Washington Post relatou no início do dia que assessores de Trump elaboraram uma proposta que impõe tarifas de 20% à maioria das importações. A equipe pretende usar trilhões de dólares em novas receitas para cortar impostos.
… Já no fim da tarde, a Dow Jones apurou que uma nova opção estaria sendo preparada para o presidente na véspera do anúncio: uma tarifa geral sobre um subconjunto de nações que provavelmente não seria tão alta quanto a opção universal de 20%.
… Segundo essas fontes, ainda não está claro qual opção Trump escolherá e pessoas familiarizadas com o planejamento enfatizam que as discussões continuam, apesar de o presidente ter dito na noite de 2ªF que já havia “definido” um plano.
… Não só os países, mas as empresas que podem ser atingidas esperam pelas tarifas e podem reagir.
… Na Bloomberg, a Mercedes-Benz está considerando retirar seus carros mais baratos dos EUA porque as tarifas de automóveis provavelmente tornariam suas vendas inviáveis, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
… A montadora não tomou uma decisão final e ainda pode mudar de curso dependendo de como as taxas forem implementadas.
O RISCO PARA O BRASIL – Em relatório, o BTG avaliou que o Brasil será afetado se Trump aplicar tarifas generalizadas a setores específicos da economia, mas pode se livrar se a taxação incluir apenas países que têm grandes déficits com os EUA.
… A tarifa média ponderada pelo volume de importações do Brasil é cerca de 5,8%, contra cerca de 1,3% dos EUA. Já em relação às barreiras não tarifárias, o País tem um índice de BNT de 86%, acima dos EUA (77%) e da média internacional (72%).
… Em um cenário de tarifa média similar que o Brasil impõe aos EUA (5,8%), o BTG estima uma perda de cerca de US$ 3 bilhões na balança comercial, podendo ultrapassar US$ 10 bilhões em 2026, no caso de tarifa linear de 25%.
… As barreiras sanitárias e fitossanitárias do Brasil equivalem a tarifas médias de 20% a 40%, dependendo do setor. O risco, diz o BTG, é a imposição de tarifas muito acima da média tarifária brasileira (5,8%) para compensar barreiras regulatórias.
… Se o Brasil for obrigado a reduzir barreiras não tarifárias, setores intensivos em uso de insumos básicos e aqueles relacionados ao vestuário, maquinário e produtos semimanufaturados seriam os mais pressionados e potencialmente prejudicados.
ETANOL NA MIRA – O relatório do USTR sobre barreiras comerciais divulgado nesta semana pelo governo do presidente Trump reforçou a relevância que o etanol tem e terá nas negociações comerciais com o Brasil.
… Embora o relatório repita as reclamações americanas dos últimos anos, o temor agora é de que sirva de pretexto para elevação unilateral de tarifas, disse ao Broadcast o sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados, Welber Barral.
… A tarifa aplicada sobre o etanol norte-americano é a reclamação mais clara dos EUA, da qual o Brasil não deve ter escapatória se quiser negociar com o governo Trump para reverter um eventual um tarifaço agressivo.
… O setor privado espera que o governo brasileiro não suba demasiadamente o tom se o País for atingido diretamente, avaliando que o País precisará ter frieza para reagir, antes analisando os impactos e depois partindo para a negociação com os EUA.
… É consenso que estudar uma alternativa para o pleito antigo dos americanos para a redução do imposto de importação sobre o etanol dos EUA é uma necessidade, se o Brasil quiser permanecer à mesa com os americanos.
… O Brasil cobra 18% sobre o produto americano, enquanto a tarifa cobrada para o etanol brasileiro que entra nos EUA é de 2,5%.
… O relatório do USTR também cita “tarifas relativamente altas do Brasil sobre importações de automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, máquinas industriais, aço e têxteis e vestuário.
ALCKMIN – O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que o Brasil deve aguardar o anúncio de Trump sobre o plano tarifário para decidir qual será a linha de ação do governo.
… Classificou como “importante” o relacionamento com os EUA, “para onde exportamos mais produtos de valor agregado”. Mais uma vez, Alckmin disse que a disposição do Brasil é estar aberto ao diálogo e fortalecer o comércio exterior.
… O vice-presidente louvou a iniciativa do Senado de aprovar o PL da Reciprocidade, mas voltou a destacar que o caminho diante da política tarifária do governo norte-americano é o de buscar negociação e a complementariedade econômica.
… Ao Valor, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, foi na mesma linha, afirmando que o Brasil prefere o caminho da negociação para evitar ser atingido pelo “tarifaço” que o presidente Trump anunciará hoje.
… Segundo ele, caso as conversas fracassem, o governo brasileiro adotará medidas de retaliação, mas sem dar um “tiro no pé”.
… O próprio presidente Lula mudou a conversa nas últimas semanas, poupando as críticas e passando a defender o diálogo.
TARIFAS, JUROS E RECESSÃO – O mercado em NY ampliou as suas apostas de queda dos juros americanos e já espera um corte de 100pbs neste ano, embora a redução de 75pbs ainda seja vista como a mais provável no CME Group, com 33%.
… O temor de uma recessão nos Estados Unidos, como resultado das tarifas de Trump, justificam as novas expectativas (abaixo).
… Para Thomas Barkin (Fed/Richmond), a política comercial da Casa Branca deve apresentar desafios para a inflação e o mercado de trabalho. Segundo ele, o mercado de títulos, cada vez, sinaliza riscos de recessão.
… “Estamos todos na neblina”, disse Barkin, admitindo que as incertezas dificultam a perspectiva da política monetária.
… À noite, Austan Goolsbee (Fed/Chicago) afirmou à Fox News que a confiança está “quase se desintegrando”, que a incerteza está associada ao medo da inflação. “Há temores de que as tarifas aumentem além das importações e afetem outros custos.”
… Para a Capital Economics, a queda no PMI/ISM industrial dos EUA em março, nesta 3ªF, mostra que a estagflação está no ar. A consultoria apontou o salto no índice de preços pagos como uma preocupação com as tarifas.
… Os três principais subíndices do PMI tiveram quedas significativas em março, incluindo produção (48,3) e emprego (44,7).
… Também o ING alertou em nota o risco que as perspectivas de retaliação estrangeira significarão para as cadeias de oferta. O banco observa que, além do PMI/ISM, o relatório de Jolts veio mais fraco que o esperado.
… Já a Pantheon Macro avalia que, apesar do enfraquecimento na demanda por mão de obra, o nível ainda não é consistente com uma recessão. Mas não descarta que um declínio maior “provavelmente” ocorrerá mais adiante.
MAIS AGENDA – A produção industrial (9h), indicador mais importante no Brasil, tem estimativa de um crescimento de 0,20% em fevereiro, após a estabilidade registrada em janeiro, segundo a mediana apurada em pesquisa Broadcast.
… Economistas atribuem a leve expansão a uma correção estatística, que se segue aos recuos dos últimos três meses de 2024.
… Logo cedinho, o IPC-Fipe de março deve avançar a 0,63%, acelerando sobre o resultado de fevereiro (0,51%), com a pressão dos grupos de Alimentação (com alta do tomate, batata, aves e ovos) e Habitação (reajuste de energia elétrica).
… Às 8h, a FGV divulga o IPC-S das Capitais de março; na 3ª quadrissemana, o índice desacelerou em todas as sete cidades.
… Às 14h, saem as vendas de máquinas e equipamentos da Abimaq em fevereiro e, às 14h30, o fluxo cambial semanal.
BC – Faz evento o dia todo para celebrar 60 anos, com as presenças de Gabriel Galípolo, diretores, do presidente Lula (14h30), do ministro Haddad (de volta de Paris) e de ex-presidentes da autarquia, que participam de painéis.
LÁ FORA – Mais um indicador de emprego, com a pesquisa ADP de março (9h15), será divulgado nos Estados Unidos com a criação de vagas no setor privado, com o consenso de +122,5 mil, bem acima dos 77 mil de fevereiro.
… Às 11h, saem os pedidos de encomendas à indústria americana, que podem crescer 0,5% em fevereiro (+1,7% em janeiro).
… Às 11h30, o DoE informa os estoques semanais de petróleo nos Estados Unidos, com previsão de queda de 700 mil barris.
… Às 17h30, a diretora do Fed Adriana Kugler discursa sobre expectativas de inflação e política monetária.
… À noite, Japão (21h30) e China (22h45) divulgam os índices PMI do setor de serviços em março.
TIKTOK – No mesmo dia das tarifas, a CBS informa que Trump considerará uma proposta final para o TikTok nesta 4ªF. O governo finaliza planos para investidores que podem incluir a Blackstone e Oracle, além de uma longa lista de outros investidores.
… Trump estabeleceu um prazo até sábado, 5 de abril, para que a empresa controladora chinesa do TikTok, a ByteDance, venda a sua participação no aplicativo ou, potencialmente, enfrente uma proibição no mercado americano.
CLIMÃO – Na véspera do dia D das tarifas, dados fracos de indústria e emprego nos Estados Unidos reforçaram a percepção dos mercados de que a política comercial de Trump pode prejudicar a economia americana.
… Como tem acontecido nas últimas semanas, o clima de cautela só aumentou entre os investidores.
… Inicialmente, os números derrubaram as bolsas em NY, que, no fim do dia, conseguiram se recuperar diante da leitura de que o Fed poderá ter mais motivos para cortar juro este ano, o que beneficia os ativos de risco.
… Os rendimentos dos Treasuries caíram, com os traders aumentando suas apostas na flexibilização da política monetária.
… No monitoramento da CME Group, cresceu a expectativa para um corte total de 100 pontos-base em 2025, de 16% para 26%, embora a chance de 75 pontos-base ainda seja majoritária (33,7%).
… Enquanto isso, Ibovespa, real e DIs continuaram a se beneficiar do fluxo estrangeiro, na esteira da rotação global de ativos. Os juros voltaram a se distanciar de 15% e o dólar voltou a valer menos de R$ 5,70.
… O dado mais preocupante nos EUA ontem foi a queda do PMI industrial medido pelo ISM, que passou a mostrar contração do setor, com leitura de 49 em março, de 50,3 em fevereiro e abaixo da projeção, de 49,5.
… Segundo a Pantheon, o PMI teria caído mais não fosse um aumento de 3,5 pontos no subíndice de estoques, que pode indicar um movimento de antecipação do setor industrial americano ao anúncio das tarifas.
… No mercado de trabalho, o relatório Jolts informou que o número de vagas em aberto nos Estados Unidos somou 7,56 milhões em fevereiro, abaixo das 7,76 milhões em janeiro, e aquém do consenso de 7,63 milhões.
… É quase um milhão de vagas a menos que em fevereiro/24, quando havia 8,445 milhões postos à espera de candidatos.
… Divulgados os dados, o S&P 500 chegou a cair mais de 1%, mas recuperou-se à tarde para fechar com alta de 0,38% (5.633,07).
… Com retomada das techs depois de um recuo forte na véspera, o Nasdaq subiu 0,87% (17.449,89 pontos), enquanto o índice Dow Jones terminou o dia estável (-0,03%), aos 41.989,96 pontos.
… Nos Treasuries, o rendimento note de 2 anos caiu para 3,871% (de 3,886%, na sessão anterior); o da note de 10 anos cedeu a 4,166% (de 4,206%) e o do T-bond de 30 anos recuou a 4,528% (4,575%).
… Na contagem regressiva para o anúncio das tarifas dos EUA, o dólar frente aos pares não saiu do lugar. O índice DXY (+0,05%), aos 104,260 pontos, passou o dia perto da estabilidade, oscilando entre pequenas baixas e altas.
… O euro caiu 0,29%, a US$ 1,0789, e a libra esterlina ficou estável (-0,07%), em US$ 1,2915. O iene subiu 0,20%, a 149,635/US$.
… Por aqui, o dólar à vista fechou em baixa de 0,40%, a R$ 5,6824, acompanhando outras moedas emergentes, beneficiadas pela busca de ativos mais rentáveis pelo investidor estrangeiro.
… Na B3, os juros futuros engataram novo dia de queda, novamente influenciados pelo exterior e turbinados pela queda do dólar ante o real. A forte demanda pelos leilões de LTF e NTN-B, mesmo com risco maior, ajudou a tirar prêmio da curva.
… No fechamento, o juro do Jan/26 caía a 15,005% (de 15,015% na sessão anterior); o Jan/27 cedia a 14,855% (de 14,930%); o Jan/29, a 14,595% (de 14,175%); o Jan/31, a 14,720% (de 14,860%); e o Jan/33, a 14,740% (de 14,870%).
… O Ibovespa terminou a primeira sessão de abril em alta (+0,68%; 131.147,29 pontos), apoiado na valorização de ações ligadas a commodities, mas o índice perdeu força ao longo do dia, quando chegou perto dos 132 mil pontos, na máxima.
… Seguindo a alta de 1,86% no minério de ferro em Dalian, Vale subiu 0,86% (R$ 57,19). A ação também foi influenciada pelo anúncio de acordo da mineradora com a GIP para estabelecer uma joint-venture na Aliança Geração de Energia.
… Petrobras ON registrou +0,51% (R$ 41,03) e PN, +0,38% (R$ 37,30), a despeito da queda de 0,37% no Brent/junho (US$ 74,49).
… Bancos foram em direções distintas. Banco do Brasil (+0,50%; R$ 28,33), Bradesco ON (+0,54%; R$ 11,23) e Itaú Unibanco (+0,03%; R$ 31,40) ficaram no azul. Bradesco PN caiu 0,16%, a R$ 12,46, e Santander cedeu 0,07%, a R$ 26,70.
… Destaques de alta foram Assaí, +5,57% (R$ 7,96); Telefônica, +4,96% (R$ 52,30) e Localiza, +4,50% (R$ 35,10). Na outra ponta ficaram Natura (-7,91%; R$ 9,20), Braskem (-3,45%; R$ 10,62) e Azul (-2,74%; R$ 3,20).
EM TEMPO… BANCO MASTER registrou lucro líquido de R$ 1 bilhão em 2024, ante R$ 532 milhões em 2023; patrimônio líquido encerrou 2024 em R$ 4,7 bilhões, alta de 104%…
… Banco tem R$ 7,6 bilhões para honrar em CDBs com vencimento até junho; até o fim do ano, o Master tem compromissos que somam R$ 12,4 bilhões para honrar em CDBs.
JBS concluiu a aquisição de 50% das ações com direito a voto da Mantiqueira.
PETROBRAS vai se reunir com a categoria dos petroleiros nesta 4ªF para discutir regras de teletrabalho e bônus, segundo a FUP.
BRF. Conselho de Administração aprovou por unanimidade nomeação do advogado Heraldo Geres para o cargo de vice-presidente do Jurídico Brasil, Tributário, Gente e Compliance.
TELEFÔNICA aprovou distribuição de R$ 204 milhões em JCP, R$ 0,1258/ação, com pagamento até 30/4/26; ex em 12/4/25.
GPA recebeu cartas dos acionistas Casino Guichard Perrachon e Ronaldo Iabrudi dos Santos Pereira manifestando apoio ao pedido de convocação de AGE e às propostas do fundo de investimento Saint German, do empresário Nelson Tanure…
… A gestora Trustee DTVM, responsável pelo Saint German, solicitou no último domingo (30) a convocação de AGE para destituir o atual Conselho de Administração e eleger uma nova composição para o órgão.
CASAS BAHIA informou que Michael Klein atingiu posição equivalente a 10,42% em ações de emissão da companhia.
AEGEA cotou bancos para buscar IPO a partir do fim do ano, segundo fontes do Broadcast…
… Empresa buscará levantar ao menos R$ 8 bilhões na oferta; recursos deverão ser usados para fazer frente a investimentos.
NEOENERGIA PERNAMBUCO fará a 16ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, com garantia adicional fidejussória, em série única e no valor de R$ 700 milhões.
UNIDAS anunciou a segunda emissão de notas comerciais escriturais, em série única, no montante de R$ 200 milhões. Serão 200 mil notas comerciais, com valor unitário de R$ 1.000 e vencimento em 28 de março de 2028.
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EUA citam barreiras comerciais do Brasil
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[01/04/25]
… A agenda dos indicadores traz hoje os índices PMI industrial na zona do euro, Alemanha, Reino Unido e nos EUA, onde também será divulgado o relatório Jolts com a abertura de vagas de emprego em fevereiro. A zona do euro tem, ainda, dados de inflação e um discurso de Lagarde (BCE). A contagem regressiva para o anúncio das tarifas de Trump amanhã (4ªF) mantém a apreensão global e os mercados no modo aversão ao risco, com receio de uma guerra comercial de maiores proporções. Depois de dizer que “todos os países” serão atingidos, Trump prometeu ser “mais gentil e mais leniente”, afirmando que é uma “pessoa flexível”. No final do dia, um relatório do USTR acusou o Brasil e mais 58 países de imporem numerosas barreiras contra produtos americanos.
… Sobre o Brasil, o documento afirma que impõe tarifas relativamente altas sobre as importações de uma ampla gama de setores, incluindo automóveis, peças automotivas, TI, eletrônicos, produtos químicos, plásticos, maquinário, aço, têxteis e vestuário.
… Para o USTR, a falta de previsibilidade das alíquotas brasileiras traz dificuldade aos exportadores dos EUA na projeção de custos para fazerem negócios no Brasil, que apresenta restrições e exige que os contratos contenham requisitos de compensação.
… Na véspera do Dia da Libertação dos Estados Unidos, o relatório da USTR é um indicativo que o País também será atingido.
… Com relação à UE, o documento diz que os bens e serviços produzidos pelos americanos enfrentam barreiras persistentes para entrar nos países do bloco europeu, criticado por não manter uma única administração alfandegária.
… Diz o USTR que, embora as tarifas sejam geralmente baixas para produtos não agrícolas, algumas são altas, como os 26% para peixes e frutos do mar, 22% para caminhões, 14% para bicicletas, 10% para veículos e 6,5% para fertilizantes e plásticos.
… Sobre o Canadá, que faz parte do Acordo Estados Unidos-México-Canadá, o órgão afirma que os EUA continuam preocupados com possíveis ações canadenses que limitariam ainda mais as exportações de laticínios.
… O USTR também cita as barreiras de acesso que dificultam as exportações de vinho, cerveja e destilados americanos.
… Houve também uma queixa em relação à energia, acusando o mercado de Alberta de fornecer pontos de acesso separados e desiguais para os produtores de Montana e de propor taxas adicionais e outras restrições à energia importada.
… A Representação de Comércio americana ainda mencionou a China, citando o Acordo da Fase Um, assinado em janeiro/2020, afirmando que o país ficou muito aquém nos seus compromissos de compra de bens e serviços dos EUA.
… Este acordo prevê melhorar o acesso dos EUA ao mercado chinês nos setores da agricultura e dos serviços financeiros, além de abster-se de práticas problemáticas relacionadas à propriedade intelectual (PI) e transferência de tecnologia.
… Já no domingo, na entrevista à CBS News, Trump havia reclamado da “difícil relação comercial” com os países da Ásia, dizendo que os EUA tratarão os seus parceiros de maneira “muito mais generosa” [do que são tratados].
… Foi nessa entrevista que ele admitiu que “todos os países” serão atingidos pelas tarifas recíprocas, sugerindo que a negociação poderá vir depois dessa primeira medida. “Começaremos com todos os países, vamos ver o que acontece.”
… Trump parece convencido de que “vários países eliminarão tarifas contra nós”, mas, nesta 2ªF, a China, o Japão e Coreia do Sul concordaram em responder conjuntamente às tarifas dos Estados Unidos, informou a agência Reuters.
… A resposta dos parceiros comerciais é um ponto de grande preocupação nesse jogo do presidente dos EUA. O receio é de que retaliações, e não negociações, possam ser o estopim de um movimento de alto impacto para o crescimento global.
… Nos EUA, os temores de uma desaceleração do PIB, que já está nas projeções do mercado, se somam aos riscos inflacionários, na conjunção perversa de estagflação – o que seria um enorme desafio para a política do Fed.
… Se o cenário mais pessimista se confirmar, o Fed talvez tenha de escolher se prioriza a desaceleração da economia, ou recessão, cortando os juros, ou se mantém o aperto monetário para evitar que a inflação se desvie da convergência para a meta.
… Até aqui, o mercado aposta na redução das taxas, assim como a maioria dos Fed boys.
… Nesta 2ªF, John Williams (Fed/NY) disse esperar que a economia dos EUA continue crescendo este ano, em ritmo mais lento do que em 2024. “Não vou prever chances de uma recessão”, mas admitiu que as incertezas sobre as tarifas são elevadas.
… Já o presidente Thomas Barkin (Fed/Richmond) afirmou que não vê um “cenário de estagflação, no momento”.
… Em Wall Street, as incertezas são maiores e continuam a determinar uma corrida para ativos seguros, como o ouro, que renovou máxima história, enquanto o dólar avança ante pares e os juros dos Treasuries cedem na busca por qualidade (abaixo).
REUNIÃO DO BC – As incertezas sobre o cenário externo dominou a reunião entre economistas e diretores do Banco Central nesta 2ªF. Participantes relataram ao Broadcast que o debate das tarifas americanas tomou a maior parte do tempo.
… O único consenso é que a incerteza aumentou e que ainda não é possível cravar qual será o efeito do tarifaço.
… Em linhas gerais, a avaliação dos analistas é de que a mudança na política comercial dos EUA vai levar a uma desaceleração da economia do país e, consequentemente, a um cenário de juros mais baixos.
… Teoricamente, isso seria positivo para o real, mas a aversão ao risco pode enfraquecer o câmbio e pressionar o IPCA.
… Sobre o cenário doméstico, a maioria dos analistas concluiu que o crescimento da economia deve ser maior do que se esperava este ano, devido a medidas como o novo consignado privado.
… Esse quadro acaba implicando em uma inflação alta por mais tempo, exigindo que o BC mantenha os juros em nível restritivo.
… A maioria das projeções para o crescimento do PIB de 2025 ficou entre 1,8% e 2,3%, enquanto as estimativas para a inflação estiveram entre 5% e 6%. Para a Selic, os economistas esperam um nível de 15,0% a 15,5% no fim do ciclo.
DIOGO GUILLEN – Em palestra ontem à noite na Faculdade ESEG, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, previu que o debate sobre incerteza no cenário econômico não se resolverá com o chamado “Liberation Day” nos Estados Unidos.
… “No dia seguinte, vai ter alguma discussão sobre tarifas que não foram implementadas, mas que ainda podem vir, ou qual serão as respostas dos países, algum escalonamento, se houver uma negociação. A incerteza deve se manter.”
… Em relação à política monetária, Guillen disse que, primeiro, será preciso saber como o Fed vai reagir e, segundo, como isso vai ter impacto no Brasil. “É um cenário de incerteza. Há um crescimento global menor e o que vai acontecer com o dólar.”
… Guillen confirmou que a defasagem temporal da política monetária na economia justifica o guidance de alta menor da Selic em maio, mas alertou que o ciclo de aperto permanecerá em meio à resiliência na inflação e ao dinamismo da economia.
… “Acho que o ciclo deve continuar, porque você tem um cenário adverso de inflação, com expectativas desancoradas, resiliência de crescimento, mercado de trabalho, tudo isso leva a um cenário adverso e exige a continuidade do ciclo.”
BRB & MASTER – Após se reunir nesta 2ªF com o presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, Galípolo terá hoje (11h) um encontro com o CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro, logo após a sessão solene de 60 anos do BC na Câmara (9h).
… Paulo Henrique Costa avaliou como positiva a reunião com Galípolo, informando que “o processo de aquisição do Master pelo BRB começa a ser avaliado pelo BC de maneira oficial”. O BRB anunciou a operação, no valor de R$ 2 bilhões, na 6ªF.
… O banco público, controlado pelo Governo do DF, vai comprar 49% das ações ON do Master e 100% das ações PN.
… Além do presidente do BRB, Galípolo se encontrou ontem com o chairman e sócio do BTG Pactual, André Esteves, que poderá entrar junto na compra de fatias do Banco Master, segundo reportagem do Estadão (na manchete de hoje).
… Quem acompanha de perto o desenho do negócio diz que carteira de precatórios (dívidas judiciais do governo) do Master ainda pode interessar ao BTG Pactual, pois esse era o interesse central de Esteves ao analisar as contas do Master.
… O BTG é um banco que atua fortemente nesse segmento.
… O Master detinha R$ 6,93 bilhões de precatórios federais, R$ 94,5 milhões de estaduais e R$ 58 milhões de municipais em junho do ano passado. O balanço do ano de 2024 fechado ainda não foi divulgado.
… O retorno do BTG para a mesa de negociação não afetaria a compra já anunciada pelo BRB. A saída pode ser costurada em uma negociação paralela, que seria analisada de forma conjunta pelo Banco Central mas em processos distintos.
… A esperança dos agentes que participam do desenho do negócio é que BRB e BTG consumam a maior parte das obrigações do Master e deixem uma porção menor na operação remanescente do banco, que apresenta maior risco.
… Dessa maneira, uma eventual intervenção do Banco Central ou dos bancos privados, via Fundo Garantidor de Crédito (FGC), custaria menos, diminuindo o risco para o sistema financeiro como um todo.
… O processo tem até 360 dias para ser analisado, mas a expectativa é que a operação seja concluída em até seis meses.
MAIS AGENDA – Além do presidente Gabriel Galípolo, todos os diretores do Banco Central participam hoje da sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem aos 60 anos do Banco Central, a partir das 9h.
… Entre os indicadores, a FGV divulga o IPC-S de março (8h), com a mediana das estimativas desacelerando a 0,54% (1,18% em fevereiro), e a S&P Global informa o PMI industrial de março, que registrou 53,0 no mês de fevereiro.
… Às 11h, o Tesouro faz leilão de LFT para 1º/3/2028 e 1º/6/2031 e de NTN-B para 15/8/2028, 15/8/2032 e 15/5/2045.
… Na Europa, o dia começa com o PMI industrial de março no Reino Unido, na Alemanha e na zona do euro, que também divulga os dados preliminares da inflação de março e a taxa de desemprego de fevereiro.
… Christine Lagarde, presidente do BCE, discursa em evento na Alemanha às 9h30.
… Nos EUA, o PMI industrial da S&P Global (10h45) pode recuar para 49,8 em março (de 52,7 em fevereiro) e o PMI industrial/ISM (11h) tem previsão de queda para 50,3 (em fevereiro).
… Também às 11h, sai o Relatório Jolts, com a abertura de vagas de emprego em fevereiro; previsão: 7,625 milhões.
CHINA HOJE – PMI industrial medido pela S&P Global/Caixin subiu para 51,2 em março, acima da expectativa de 50,8.
… Ainda na Ásia, o PMI industrial do Japão caiu de 49,0 em fevereiro para 48,8 em março.
… Também nesta 3ªF, o relatório Tankan informou que as empresas japonesas aumentaram suas previsões de inflação para um ano, três anos e cinco anos, apoiando os argumentos a favor de mais aumentos de taxas por parte do BoJ.
O RISCO TRUMP – A 2ªF fechou um trimestre que em 2024 parecia improvável.
… O ano começou bem, com Wall Street gostando do fato de o novo presidente dos EUA ter prometido políticas mais amigáveis às corporações. Em fevereiro, as bolsas bateram recordes.
… Mas o otimismo acabou em março com a retórica explosiva de Donald Trump contra parceiros comerciais e geopolíticos históricos e uma política tarifária, a ser anunciada amanhã, que ninguém sabe onde vai dar.
… Nesse intervalo, parte dos investidores passou a conviver com o medo de estagflação na maior economia do mundo, ou mesmo um cenário de recessão.
… Em NY, as bolsas derreteram no trimestre, abaladas principalmente pela baixa do mês passado. Em março, o Nasdaq perdeu 8,21%, o S&P 500 caiu 5,75% e o Dow Jones, -4,20%. De janeiro a março, caíram 10,42%, 4,59% e 1,28%, respectivamente.
… A média dos preços das ações das “sete magníficas”, as darlings do mercado até há pouco tempo, caiu 16% no trimestre, segundo cálculo da Bloomberg. Entre os piores desempenhos, Tesla cedeu 36%, Nvidia despencou 20%.
… “Foi um trimestre difícil para os investidores. Nem sabemos quais serão as tarifas finais”, disse Megan Horneman (Verdance Capital Advisors). “As chances de uma recessão aumentaram e os consumidores estão preocupados com os preços mais altos.”
… Ontem, depois de uma sessão de muita volatilidade na antevéspera do dia D das tarifas, o Nasdaq caiu 0,14%, para 17.299,29 pontos, O S&P 500 ganhou 0,55% (5.611,85) e o Dow Jones avançou 1% (42.001,75).
… Na fuga do risco, o yield da note de 2 anos caiu a 3,911% (de 3,914%), o da note de 10 anos, a 4,219% (de 4,235%) e o do T-bond de 30 anos, a 4,591% (de 4,624%). O índice DXY subiu 0,16%, a 104,21 pontos. Mas no mês (-3%) perdeu terreno.
… O euro ficou estável (-0,07%) em US$ 1,0820; o iene também (-0,04%), a 149,923/US$; e a libra cedeu 0,16%, a US$ 1,2924.
… Enquanto isso, o mercado brasileiro, que terminou 2024 no susto, com dólar acima de R$ 6, juros em disparada e bolsa em queda, foi o ganhador improvável dos últimos três meses.
… Na rotação global de ativos forçada pelas incertezas nos EUA, investidores viram aqui uma oportunidade de ganhar dinheiro. A entrada de capital gringo derrubou o dólar, queimou prêmios nos juros futuros e disparou o Ibovespa.
… A última sessão do trimestre foi bem negativa em meio à aversão global ao risco, registrada ontem. O Ibov caiu 1,25%, aos 130.259,54 pontos, com volume financeiro de R$ 20,3 bilhões.
… Mas, no trimestre, o índice ganhou 8,29%, puxado pelo resultado de março, quando subiu 6,08%.
… E embora os sinais de que a economia siga em ritmo robusto tenham levantado o temor de uma Selic mais alta por mais tempo, o ranking das vencedoras do trimestre são quase todas ações cíclicas.
… Cogna (+91,7%), Magazine Luiza (+56,1%), CVC (+53,6%), Cyrela (+41%), Assaí (+35,8%), Yduqs (+34,9%) e Carrefour (+33,5%).
… O real foi outro ganhador do período, com ajuda da alta dos 300 pontos-base de alta da Selic desde dezembro passado. No mês, o dólar caiu 3,57%, no ano acumulou baixa de 7,68%. Ontem ainda teve a disputa da Ptax.
… Já em queda firme desde o início do dia, o dólar desceu até R$ 5,7016, acompanhando a virada das bolsas em Nova York para o campo positivo. Fechou em baixa de 0,98%, a R$ 5,7053, na contramão do exterior.
… O discurso do diretor de Política Monetária, Nilton David, garantindo que o BC vai buscar a meta de 3% na inflação, ajudou.
… O alívio no câmbio contribuiu para uma queima nos prêmios dos juros futuros, que também seguiram os Treasuries. Na B3, o Jan/26 caiu a 15,015% (de 15,115% no fechamento anterior) e o Jan/27 cedeu a 14,930% (de 15,060%).
… O Jan/29 foi a 14,715% (de 14,820%), o Jan/31 desceu a 14,860% 9de 14,940%) e o Jan/33, a 14,870% (de 14,940%).
… Na forte queda do Ibovespa ontem, pesou o recuo de 1,49%, a R$ 56,79, de Vale, afetada pelo minério em Dalian (-1,47%).
… Já a Petrobras operou na contramão da alta do petróleo. A ação ON caiu 0,61% (R$ 40,82) e a PN, -0,72% (R$ 37,16), enquanto na ICE o Brent/junho subiu 2,76%, a US$ 74,77/barril, após Trump ameaçar tarifas sobre compradores de óleo russo.
… À noite disse que não é seu desejo tarifar o petróleo russo, e que só adotaria a medida se “houvesse necessidade”.
… As ações dos bancos também caíram, com destaque para Bradesco ON, -2,32% (R$ 11,35), na mínima. Banco do Brasil registrou queda de 1,57% (R$ 28,19), Santander, -1,51% (R$ 26,720), Bradesco PN, -1,32% (R$ 12,67) e Itaú, -0,88% (R$ 31,41).
… Entre as poucas altas da sessão, Grupo Pão de Açúcar saltou 13,60%, a R$ 3,09, após pedido de convocação de assembleia para mudança do conselho da companhia. CVC (-6,19%), Vamos (-6,00%) e Marcopolo (-5,26%) lideraram as perdas.
… Fora do Ibovespa, BRB PN disparou 90,34% e BRB ON, +83,44% (R$ 13,74), após anunciar a compra do Banco Master.
EM TEMPO… Justiça mandou a VALE manter pagamento integral a atingidos de Brumadinho…
… Mineradora celebrou acordo com a Global Infrastructure Partners para joint-venture na Aliança Energia; companhia receberá US$ 1 bilhão em dinheiro e deterá participação de 30% na joint-venture; GIP terá 70%.
PETROBRAS, por meio do seu Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação (Cenpes), firmou acordo de cinco anos renováveis por igual período com o Instituto Francês do Petróleo e Energias Renováveis (Ifpen)…
… Acordo será para pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados a projetos de transição energética e descarbonização.
LOJAS MARISA registrou lucro líquido de R$ 5,8 milhões no 4TRI e reverteu prejuízo visto um ano antes; Ebitda somou R$ 120,2 milhões no trimestre e reverteu resultado negativo do mesmo período de 2023.
QUALICORP aprovou a distribuição de R$ 1,56 milhão em dividendos: R$ 0,0055/ação, com pagamento até 31/12; ex em 30/6.
RD SAÚDE aprovou a distribuição de R$ 118,1 milhões em JCP: R$ 0,0689/ON, com pagamento até 1º/12; ex em 4/4.
RAÍZEN. Norges Bank atingiu participação acionária de 5,012% na empresa, passando a deter 68.110.514 de ações PN.
LIGHT. Tempo Capital Gestão de Recursos passou a deter 2.520.441 de ações da empresa, 5,56% do capital social da companhia.
MINERVA. Conselho aprovou proposta de aquisição da Fortunceres e do Frigorífico Patagônia, que será levada a assembleia de acionistas; negócio seria no âmbito de aquisição de ativos da Marfrig.
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