Resumo semanal: 07/04 a 11/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Brasil
O cenário econômico brasileiro nesta semana foi marcado pela influência das tensões comerciais globais e indicadores domésticos. O dólar encerrou em queda, cotado a R$ 5,8, refletindo expectativas de fluxo positivo ao país, enquanto o Ibovespa avançou 1,05% na sexta-feira. O IPCA de março subiu 0,56%, pressionado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos, especialmente in natura. O dado reforça preocupações inflacionárias mesmo com a desaceleração recente dos combustíveis. O IBC-Br cresceu 0,4% em fevereiro, indicando recuperação da atividade econômica. No mercado de juros futuros, houve queda nas taxas de longo prazo, com alívio na curva de janeiro de 2031 para 14,55%. O ambiente externo, sobretudo a guerra tarifária entre potências, ainda gera volatilidade nos ativos locais.
A valorização dos ativos na semana também foi favorecida por uma percepção de que o Brasil pode se beneficiar com o desvio de fluxos comerciais. Exportadores locais enxergam oportunidades no redirecionamento de demandas internacionais, enquanto o agronegócio brasileiro ganha força nas negociações com mercados asiáticos. Ao mesmo tempo, a política fiscal continua no radar com expectativas sobre cortes de gastos e possível avanço da reforma administrativa. A equipe econômica de Haddad reforçou compromisso com metas fiscais, mas investidores seguem céticos quanto à execução. O clima político se manteve estável, sem grandes ruídos. Por fim, o setor bancário iniciou a temporada de resultados, com lucros robustos em bancos privados, sinalizando resiliência financeira no crédito.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a semana foi dominada pelas repercussões do agravamento da guerra comercial com a China. O governo chinês aumentou tarifas sobre bens norte-americanos em retaliação direta às tarifas de 145% impostas por Donald Trump. O presidente norte-americano defendeu a medida como proteção ao setor industrial, mas analistas alertam para impacto inflacionário e efeitos negativos no comércio global. Apesar disso, os mercados acionários reagiram positivamente, com S&P 500 e Nasdaq acumulando altas na semana, impulsionados por expectativas de que o Federal Reserve possa postergar novos aumentos de juros. O rendimento do Treasury de 10 anos subiu para 4,496%, refletindo maior aversão ao risco.
Além das disputas comerciais, o mercado monitorou os dados da inflação ao consumidor (CPI), que vieram levemente abaixo do esperado, reacendendo debates sobre a trajetória futura da política monetária. O Fed indicou que aguarda dados mais consistentes antes de qualquer ajuste de juros, mantendo o mercado em compasso de espera. Grandes empresas de tecnologia puxaram os índices para cima, mesmo com o pano de fundo global incerto. O setor industrial e os exportadores, no entanto, mostraram volatilidade. O dólar se fortaleceu frente a moedas emergentes.
Ásia
Os mercados asiáticos enfrentaram forte volatilidade na semana, impulsionados pelo aumento das tensões comerciais entre EUA e China. Em resposta às tarifas impostas por Washington, Pequim anunciou medidas retaliatórias, o que afetou fortemente os índices nos primeiros dias da semana. No entanto, a sexta-feira marcou uma recuperação parcial, com o Hang Seng subindo 1,1% e ações de tecnologia chinesas como SMIC e Hua Hong liderando os ganhos. Ainda assim, o índice de Hong Kong acumulou perda de 8,5% na semana — o pior desempenho desde fevereiro de 2018. O índice de Xangai e o CSI300 fecharam a semana em leve alta, impulsionados por compras técnicas e expectativas de estímulos do governo chinês.
No Japão, o Nikkei também foi afetado pela aversão ao risco global, encerrando a semana com leve queda, enquanto os mercados sul-coreanos e taiwaneses acompanharam o movimento de alta nas techs chinesas nos últimos pregões. Analistas na região destacam que a instabilidade cambial e a redução das exportações são riscos crescentes caso a disputa entre EUA e China se prolongue. O yuan se desvalorizou levemente, e especulações sobre intervenção estatal aumentaram. O Banco do Povo da China reiterou que manterá liquidez adequada e poderá flexibilizar mais as condições de crédito. Investidores institucionais seguem cautelosos, com foco em empresas voltadas ao mercado interno e setores estratégicos como semicondutores e energia.
Europa
Na Europa, os mercados terminaram a semana sob pressão, impactados pelo recrudescimento da guerra tarifária global. As bolsas europeias reverteram ganhos iniciais após a China anunciar retaliação contra os EUA, sinalizando riscos para o comércio internacional. O DAX alemão caiu 0,92% na sexta-feira, enquanto o CAC 40 francês recuou 0,30% e o Ibex 35 espanhol 0,18%. A exceção foi o FTSE 100 de Londres, que subiu 0,64% com dados positivos da indústria britânica. Na semana, os principais índices acumularam perdas significativas: Frankfurt (-1,30%), Paris (-2,34%) e Londres (-1,13%). O euro se desvalorizou frente ao dólar, refletindo incertezas externas e projeções de menor crescimento.
Além do cenário internacional, o foco europeu esteve na revisão das projeções econômicas da Comissão Europeia, que reduziu as expectativas de crescimento para a zona do euro em 2025. A inflação segue persistentemente acima da meta em países como Alemanha e Itália, dificultando o espaço para cortes de juros pelo BCE. O setor industrial europeu apresenta sinais mistos, com melhora em parte da atividade fabril na França e retração na Alemanha. O debate fiscal voltou à tona com discussões sobre o novo arcabouço de regras da União Europeia. Investidores também acompanham de perto o andamento de conflitos geopolíticos e sua influência nos preços da energia, especialmente gás natural importado da Rússia.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a atenção se concentrou no mercado de petróleo e nas tensões regionais. Os preços do barril Brent encerraram a semana ao redor de US$ 65, sustentados por maior demanda no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, ataques Houthi a navios comerciais no Mar Vermelho continuam a elevar os custos de frete global e a ameaçar a segurança das rotas comerciais. A instabilidade em Gaza e no sul do Líbano persiste, com trocas de ataques entre Israel, Hezbollah e facções aliadas, gerando apreensão nos mercados globais. Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita reforçaram compromissos de estabilidade energética.
A Arábia Saudita também anunciou investimentos em energia renovável e hidrogênio verde, parte de sua estratégia Vision 2030, tentando diversificar sua matriz e atrair capital estrangeiro. O Irã, por sua vez, voltou ao centro das atenções com sanções renovadas pelos EUA após movimentações nucleares suspeitas, elevando o risco geopolítico na região. Investidores estão cada vez mais atentos ao papel do Oriente Médio como pivô entre mercados asiáticos e europeus, especialmente no contexto energético e de cadeias logísticas. Com a crescente instabilidade global, a região volta a ser vista como barômetro da segurança energética mundial. O petróleo deve permanecer volátil nas próximas semanas.
Resumo semanal: 31/03 a 04/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
Na Ásia, as tensões comerciais voltaram a escalar após o governo chinês anunciar tarifas de 34% como resposta às medidas protecionistas dos Estados Unidos, aprofundando o embate entre as duas maiores economias do mundo. Como reflexo da retaliação, os preços das principais commodities recuaram ainda mais, com destaque para o petróleo Brent — referência global para precificação — que caiu para abaixo dos 65 dólares por barril, atingindo o menor valor desde 2021. Paralelamente, o índice Nasdaq entrou tecnicamente em bear market, ao registrar uma queda acumulada de aproximadamente 20% em relação às máximas recentes. As tarifas chinesas entrarão em vigor no próximo dia 10 de abril, sinalizando um novo capítulo na disputa comercial que já afeta os mercados globais.
Apesar do ambiente externo conturbado, os dados de atividade econômica da China surpreenderam positivamente. O índice PMI Composto, que reflete a percepção dos empresários sobre as condições gerais da economia, subiu de 51,5 pontos em fevereiro para 51,8 pontos em março — o maior nível registrado nos últimos três meses. De forma semelhante, o PMI Caixin da Indústria, que reúne as avaliações de cerca de 400 empresas privadas do setor de serviços, avançou para 51,2 pontos, superando a expectativa de 50,6. Esse desempenho representa a maior expansão em quatro meses e sugere alguma resiliência da economia chinesa no curto prazo. Ainda assim, os desdobramentos da guerra comercial aumentam significativamente os riscos de desaceleração no país ao longo de 2025.
Europa
Na zona do euro, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,6% em março na comparação com fevereiro, em linha com as expectativas do mercado. Como resultado, a inflação anual da região recuou levemente, passando de 2,3% para 2,2%. Já o núcleo do CPI — indicador que desconsidera itens mais voláteis como alimentos e energia — caiu de 2,6% para 2,4% no acumulado de 12 meses, ficando abaixo da projeção de 2,5%. Esses dados reforçam a tendência de desaceleração da inflação, ainda que em ritmo gradual, e alimentam expectativas quanto à possibilidade de cortes nos juros por parte do Banco Central Europeu nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, a economia europeia segue enfrentando desafios significativos, especialmente diante do agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos. As tarifas impostas por Washington podem atingir até 90% sobre determinados produtos, o que já leva analistas a projetarem revisões para baixo no crescimento do PIB europeu. Um acréscimo de 20% nas tarifas direcionadas à União Europeia levou os líderes do bloco a se reunirem com representantes dos setores mais impactados, com o objetivo de formular uma resposta conjunta ainda em abril. A Alemanha é o país mais vulnerável neste contexto, dado que cerca de 5% de seu PIB depende diretamente das exportações para os EUA. Em tom firme, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou: “se você enfrenta um de nós, você enfrenta todos nós”.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a Opep+ decidiu avançar com o plano de reversão gradual dos cortes de produção de petróleo, acordando um aumento de 411 mil barris por dia (bpd) a partir de maio. O grupo, formado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados como a Rússia, havia inicialmente programado um incremento de 135 mil bpd para o mesmo mês. A mudança veio após uma reunião virtual, na qual os membros destacaram fundamentos de mercado sólidos e uma perspectiva positiva para justificar a ampliação. O aumento inclui o volume já previsto, além de dois incrementos mensais adicionais, que poderão ser pausados ou revertidos conforme as condições de mercado. Essa decisão faz parte de um plano mais amplo firmado por países como Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos para reverter o corte mais recente de 2,2 milhões de bpd. Ainda há outros 3,65 milhões de bpd em cortes vigentes até o fim de 2025. Analistas apontam que o movimento também visa reforçar a disciplina entre os membros, especialmente após a produção recorde do Cazaquistão gerar insatisfação dentro do grupo.
Na Turquia, o destaque da semana foi a divulgação dos dados de inflação de março, que apontaram uma alta anual de 38,1%, abaixo dos 38,9% esperados pelo mercado e dos 39,1% registrados em fevereiro. A variação mensal foi de 2,5%, também inferior à expectativa de 3,0%, indicando que a recente desvalorização da lira ainda não gerou forte impacto inflacionário. Apesar do aumento expressivo nos preços dos alimentos (4,9% no mês), outras categorias mais sensíveis à taxa de câmbio mostraram estabilidade, como vestuário (-2,5%) e transporte (+0,25%). A inflação subjacente — que exclui alimentos e energia — teve alta de 1,5%, a menor desde 2021. Esses resultados dão alguma margem de manobra ao Banco Central da Turquia (CBRT), que pode optar por manter os juros na próxima reunião, marcada para 17 de abril. A autoridade monetária havia sinalizado em março uma postura mais rígida, mas os dados recentes oferecem um breve alívio antes da divulgação do IPC de abril, prevista para 5 de maio.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o chamado “Dia da Libertação Tarifária”, anunciado por Donald Trump, gerou forte turbulência nos mercados globais. O presidente declarou um aumento nas tarifas de importação para praticamente todos os países, elevando a taxa efetiva média para mais de 25% — o maior nível desde o início do século passado. Se todas as medidas entrarem em vigor a partir de 9 de abril, haverá um salto de quase 20 pontos percentuais sobre o nível atual. A China foi especialmente atingida, com uma tarifa adicional de 34%, somando-se aos 20% já vigentes. O anúncio veio acima das projeções mais pessimistas e provocou quedas acentuadas nos ativos de risco, como ações e commodities. O petróleo, por exemplo, caiu cerca de 12% no mercado internacional. Com cadeias produtivas globalizadas, o mercado teme agora impactos negativos sobre o crescimento mundial e o avanço da inflação.
Ainda que os riscos macroeconômicos tenham aumentado, os dados do mercado de trabalho americano surpreenderam positivamente em março. O relatório de emprego (Nonfarm Payroll) apontou a criação líquida de 228 mil vagas, acima das estimativas e superior às 117 mil registradas em fevereiro. A taxa de desemprego permaneceu estável em 4,2%, enquanto os salários médios por hora cresceram 0,3% no mês e 3,8% em relação ao ano anterior. Apesar disso, os indicadores de atividade mostram sinais de enfraquecimento. O PMI industrial caiu de 50,3 para 49,0 pontos, sinalizando contração no setor, enquanto o PMI de serviços recuou de 50,8 para 53,5 — seu menor nível desde junho de 2024. Dado o cenário de tarifas elevadas, deterioração da confiança e enfraquecimento de setores-chave, aumentam os temores de uma recessão no curto prazo, tanto nos EUA quanto globalmente.
Brasil
Nesta semana, o Congresso Nacional aprovou a chamada “Lei de Reciprocidade”, que autoriza o governo brasileiro a alterar tarifas comerciais em resposta à escalada da guerra tarifária global. Segundo autoridades, o governo ainda está avaliando os possíveis impactos das medidas anunciadas por Donald Trump e mantém todas as opções em aberto para garantir um comércio justo. No entanto, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o objetivo principal é manter o diálogo e buscar uma solução negociada. Como a tarifa imposta pelos EUA ao Brasil é relativamente baixa (10%) e o Brasil já pratica tarifas mais altas sobre produtos americanos, o governo não deve adotar retaliações significativas no curto prazo.
No mercado financeiro, a semana foi marcada por forte volatilidade no câmbio. Após atingir R$ 5,59 por dólar na quarta-feira, a cotação disparou para R$ 5,85 no fechamento da sexta, refletindo o aumento da incerteza global. Em meio a esse cenário, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 8,155 bilhões em março (cerca de R$ 48 bilhões), revertendo o déficit de US$ 324 milhões observado em fevereiro — o pior resultado desde janeiro de 2022. No mês passado, as exportações somaram US$ 29,178 bilhões, com alta de 5,5% na comparação anual, enquanto as importações cresceram 2,6%, alcançando US$ 21,023 bilhões. No acumulado do ano, o país apresenta superávit de US$ 9,982 bilhões, segundo dados divulgados pelo MDIC. Esse desempenho reforça a resiliência do setor externo brasileiro mesmo em um ambiente global mais turbulento.
Resumo semanal: 24/03 a 28/03
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A semana na Ásia foi marcada pela ausência de indicadores econômicos relevantes, enquanto os mercados acompanharam os desdobramentos das tarifas recíprocas impostas pelos Estados Unidos. A China, maior economia da região, declarou que adotará contramedidas firmes caso os EUA prejudiquem seus interesses com novas sanções. Em resposta, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que estaria disposto a reduzir as tarifas para viabilizar um acordo com a ByteDance, empresa chinesa controladora do TikTok, permitindo a venda do aplicativo utilizado por 170 milhões de norte-americanos. No entanto, Pequim rejeitou a proposta de forma imediata e categórica. Além disso, o índice de preços ao consumidor de Cingapura avançou 0,9% em fevereiro na comparação anual, registrando sua menor alta em quatro anos. O resultado, que ficou em linha com as projeções de economistas consultados pela Reuters, foi inferior ao de janeiro, quando a inflação marcou 1,2%.
Em um movimento estratégico para estreitar laços com a Rússia e adquirir avanços tecnológicos, a Coreia do Norte enviou mais 3.000 soldados para apoiar Moscou na guerra contra a Ucrânia, elevando para 14.000 o total de combatentes norte-coreanos enviados desde outubro do ano passado. Segundo estimativas do exército sul-coreano, cerca de 4.000 desses militares já foram mortos ou feridos, especialmente na região russa de Kursk, próxima à fronteira ucraniana, onde muitos foram alocados. O Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS) atribui as elevadas baixas à inexperiência dos soldados norte-coreanos no uso de drones, que têm sido uma peça-chave no conflito. Ainda assim, o NIS reconhece que, apesar das perdas, as tropas de Kim Jong-un vêm adquirindo conhecimento tático e operacional no manuseio desses equipamentos.
Europa
Nesta semana, os mercados europeus acompanharam a divulgação dos índices de gerentes de compras (PMIs) da zona do euro e do Reino Unido. Na Alemanha e no bloco europeu, os PMIs do setor manufatureiro superaram as expectativas, enquanto os de serviços registraram quedas inesperadas. Já no Reino Unido, o desempenho da indústria decepcionou, contrastando com o avanço do setor de serviços. O Produto Interno Bruto (PIB) britânico cresceu 0,1% no quarto trimestre de 2024 em relação aos três meses anteriores, conforme dados finais do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). O resultado confirmou a estimativa preliminar e ficou alinhado às projeções dos analistas. Na comparação anual, a economia do Reino Unido expandiu 1,5% entre outubro e dezembro, ligeiramente acima da leitura inicial de 1,4%. No acumulado de 2024, o crescimento foi de 1,1%, superando a estimativa anterior de 0,9% e acelerando em relação ao avanço de 0,4% registrado em 2023. Seguindo essa tendência positiva, as vendas no varejo britânico subiram 1% em fevereiro frente a janeiro, contrariando a expectativa de queda de 0,5%. Na comparação anual, o crescimento foi de 2,2%. Já na Espanha, o PIB avançou 0,8% no último trimestre de 2024, confirmando a estimativa divulgada em janeiro. No comparativo anual, a economia espanhola cresceu 3,4%, um pouco abaixo da projeção inicial de 3,5%.
Além disso, Ucrânia e Rússia chegaram a um acordo para suspender ataques no Mar Negro, com o objetivo de garantir a segurança da navegação marítima. Paralelamente, as nações negociam um cessar-fogo parcial que abrangeria infraestruturas energéticas, como refinarias de petróleo, usinas nucleares e estações elétricas. No entanto, Moscou condicionou a assinatura do acordo à remoção das sanções contra seus bancos e exportações agrícolas, exigência que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou como “irrealista”. Poucas horas após o anúncio da trégua no Mar Negro, a Ucrânia acusou a Rússia de atacar um de seus portos, que supostamente estaria protegido pelo pacto, aumentando novamente as tensões na região.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a semana foi pouco movimentada no campo econômico, mas trouxe desdobramentos relevantes no cenário geopolítico. Na Turquia, a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan, desencadeou uma onda de protestos em várias cidades do país. Imamoglu foi detido sob acusações de suborno, manipulação de licitações, liderança de organizações criminosas e apoio a grupos terroristas, alegações que ele nega, classificando-as como perseguição política. Em resposta, manifestações ocorreram em mais de uma dezena de cidades, incluindo Istambul e a capital, Ancara. Segundo o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, aproximadamente 1,9 mil pessoas foram detidas nos atos.
Além disso, o Irã respondeu à carta enviada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, propondo negociações para um novo acordo nuclear. O ministro das Relações Exteriores iraniano reafirmou que Teerã não participará de negociações diretas enquanto estiver sujeito a pressões e ameaças militares, mas não descartou um diálogo indireto. A carta, entregue ao Irã pelos Emirados Árabes Unidos, estabeleceu um prazo de dois meses para que um acordo fosse alcançado. Enquanto isso, novos desdobramentos no conflito entre Israel e grupos palestinos mantiveram a tensão elevada na região, reforçando a instabilidade geopolítica do Oriente Médio.
Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre automóveis e peças, justificando a medida como uma forma de proteger a base industrial do país. No entanto, autoridades do Federal Reserve (Fed) alertaram que a nova política pode pressionar a inflação, influenciando a decisão do banco central de pausar o ciclo de cortes de juros iniciado na semana passada. O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, destacou que, se plenamente implementada, a elevação de 10% na tarifa efetiva pode gerar um impacto significativo sobre os preços ao consumidor, elevando ainda mais a inflação.
O cenário inflacionário segue desafiador nos EUA. O índice de preços ao consumidor medido pelo deflator do PCE – principal referência do Fed para a inflação – subiu 0,3% em fevereiro, acumulando alta de 2,5% em 12 meses. Já o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis, atingiu 2,8% no mesmo período, superando a meta de 2%. No setor produtivo, a sondagem empresarial PMI de fevereiro trouxe dados mistos: enquanto o setor de serviços superou expectativas ao alcançar 54,3 pontos, o índice industrial decepcionou, registrando 49,8 pontos. Além disso, o componente de expectativas desses indicadores caiu para o segundo menor nível desde outubro de 2022, refletindo preocupações sobre os impactos das novas políticas econômicas. Na mesma linha, o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan recuou pelo terceiro mês consecutivo. Diante desse quadro, alguns analistas de mercado já começam a prever uma possível recessão no país no segundo semestre deste ano.
Brasil
A ata do Copom reforçou o tom vigilante sobre a inflação, indicando que o ciclo de alta de juros pode não ter terminado. O comitê destacou que os desafios inflacionários persistem, apesar da desaceleração recente no IPCA-15 de março, que registrou alta de 0,64%, abaixo das expectativas. No entanto, a inflação acumulada em 12 meses segue acima da meta, pressionada pelo mercado de trabalho aquecido e pela depreciação cambial. A Selic pode alcançar 15,50%, caso a atividade não desacelere mais do que o esperado. Enquanto isso, o crédito consignado privado começou a operar, facilitando o acesso ao crédito para trabalhadores do setor privado. Em poucos dias, R$ 550 milhões foram liberados, com alta demanda e potencial impacto no consumo. A expansão do crédito pode sustentar o crescimento econômico no curto prazo, mas também representa um risco inflacionário adicional.
O mercado de trabalho segue aquecido, com taxa de desemprego em 6,8% e criação de 432 mil vagas formais em fevereiro, bem acima do esperado. Esse cenário fortalece o consumo e mantém a demanda interna elevada, mas pode dificultar a convergência da inflação para a meta. Na balança comercial, o déficit de US$ 1,0 bilhão em fevereiro refletiu importações mais fortes e atrasos nas exportações agrícolas, tendência que pode persistir no primeiro semestre. Já o governo central registrou déficit de R$ 31,7 bilhões, impactado por fatores sazonais e pela mudança no calendário de precatórios. A arrecadação ainda cresce, mas deve desacelerar junto com a economia, enquanto as despesas seguem pressionadas pelos benefícios previdenciários. Assim, o equilíbrio fiscal dependerá de medidas adicionais para conter gastos, evitando que o quadro fiscal se deteriore ainda mais.