Resumo semanal: 28/04 a 02/05

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

Na China, a atividade industrial apresentou retração mais acentuada do que o previsto em abril. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial recuou para 49,0 pontos, abaixo das expectativas de 49,7 e inferior aos 50,5 pontos registrados em março. Como o índice abaixo de 50 sinaliza contração, os dados sugerem enfraquecimento no setor. O principal destaque negativo veio da categoria de novas encomendas, que caiu de 51,8 para 49,2 pontos, indicando que o setor começa a sentir os efeitos das novas tarifas comerciais. Esse movimento levanta preocupações sobre a recuperação econômica chinesa e sua capacidade de sustentar o crescimento industrial nos próximos meses. Enquanto isso, no Japão, o Banco Central (BoJ) decidiu manter a taxa de juros inalterada em 0,50%, em linha com as expectativas do mercado, reforçando sua postura de cautela diante do atual cenário inflacionário e cambial.

No campo diplomático, a China declarou que está avaliando a possibilidade de retomar negociações comerciais com os Estados Unidos. De acordo com o Ministério do Comércio chinês, autoridades americanas têm demonstrado interesse em retomar o diálogo, e Pequim está analisando as propostas recebidas. No entanto, o governo chinês destacou a necessidade de “sinceridade” por parte de Washington como condição para o avanço nas conversas. A sinalização de um possível reaproximamento entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados, que reagiram positivamente à notícia. Esse movimento pode representar uma mudança relevante no cenário geopolítico e econômico, especialmente em um momento em que o comércio global enfrenta desafios crescentes. O desenrolar das negociações será monitorado de perto pelos investidores nas próximas semanas.

Europa

Os Estados Unidos e a Ucrânia firmaram um acordo que permite a exploração de recursos naturais ucranianos por empresas americanas, em reconhecimento ao apoio financeiro e material fornecido por Washington desde o início da guerra contra a Rússia. O texto prevê acesso preferencial a minerais estratégicos como terras raras, titânio e lítio, além da criação de um fundo conjunto para investimentos em infraestrutura, energia e projetos de extração. De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, a iniciativa reforça a parceria bilateral e representa um passo importante na reconstrução econômica da Ucrânia no período pós-guerra. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que o acordo também serve como um sinal de advertência à Rússia e fortalece a posição americana em futuras negociações por um cessar-fogo. A movimentação amplia a influência geopolítica dos Estados Unidos na região e reforça sua presença estratégica no setor de recursos naturais críticos.

Na zona do euro, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, superando as expectativas de 0,2% e acelerando em relação ao crescimento de 0,2% no quarto trimestre de 2024. Apesar do desempenho acima do previsto, as projeções para os próximos meses são cautelosas. Estima-se estagnação no segundo trimestre e um crescimento modesto de apenas 0,1% no terceiro trimestre, em parte devido aos impactos negativos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Além disso, o Indicador de Sentimento Econômico da região caiu para 93,6 pontos em abril, o menor nível desde dezembro, refletindo deterioração da confiança em todos os setores, especialmente entre os consumidores. O núcleo da inflação, por sua vez, subiu 2,7% em 12 meses, acima dos 2,5% esperados, ainda pressionado por efeitos sazonais como o feriado da Páscoa. O Banco Central Europeu, no entanto, mantém a projeção de que a inflação deve convergir para a meta ao longo do ano, o que pode abrir espaço para a continuidade dos cortes de juros.

Oriente Médio

As negociações nucleares entre Estados Unidos e Irã foram adiadas, e a definição de uma nova data dependerá da postura adotada por Washington, segundo autoridades iranianas. A próxima rodada, prevista inicialmente para ocorrer em Roma no dia 3 de maio, foi suspensa por “razões logísticas”, conforme informou Omã, que atua como mediador. No entanto, fontes afirmam que os EUA nunca chegaram a confirmar presença na reunião. O Irã acusa os americanos de comportamento contraditório e de adotar sanções unilaterais que dificultam avanços diplomáticos. Paralelamente, o governo dos EUA reforçou sua pressão sobre Teerã com novas sanções ao setor petrolífero e ameaças por conta do apoio iraniano aos Houthis no Iêmen. Mesmo assim, o Irã declarou que continuará comprometido com uma abordagem séria e voltada para resultados nas negociações. O presidente americano Donald Trump, por sua vez, reiterou confiança em obter um novo acordo que impeça o desenvolvimento de armas nucleares por parte do Irã.

No contexto das tensões regionais, Israel bombardeou uma área próxima ao palácio presidencial em Damasco, na Síria, em uma ação que o governo israelense classificou como um recado direto às novas autoridades sírias. A ofensiva marca a intensificação das operações militares de Israel desde a queda do regime de Bashar al-Assad, agora substituído por Ahmed al-Sharaa, um ex-líder da Al Qaeda que rompeu com o grupo em 2016. O principal objetivo de Israel é impedir o avanço de forças hostis nas proximidades de vilarejos habitados por drusos, minoria que também tem presença em Israel e no Líbano. O exército israelense confirmou a mobilização de tropas no sul da Síria e a evacuação de cidadãos sírio-drusos feridos para hospitais israelenses. O governo sírio classificou o ataque como uma “escalada perigosa” e criticou a alegada proteção israelense aos drusos como pretexto para agressões. O episódio ocorre em meio a confrontos sectários entre sunitas e drusos, que deixaram dezenas de mortos e testam a promessa de unidade feita por Sharaa.

Estados Unidos

Os Estados Unidos deram início a uma nova rodada de negociações tarifárias com a China, segundo o Ministério do Comércio chinês. Representantes americanos propuseram o início das conversas, e Pequim afirma estar avaliando a proposta. Essa é a primeira sinalização concreta desde a escalada tarifária entre os países. Washington também intensificou esforços diplomáticos com a Índia e a União Europeia, que demonstraram abertura para discutir acordos comerciais. A movimentação ocorre em um momento de fragilidade econômica: o PIB dos EUA contraiu 0,3% no 1º trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior, frustrando expectativas de estabilidade. Foi a primeira queda desde o início de 2022, puxada por um salto de 41,3% nas importações – reflexo da corrida por estoques antes da entrada em vigor de tarifas mais altas. O consumo das famílias, embora positivo, desacelerou para o ritmo mais fraco desde meados de 2023.

Nos indicadores de preços e emprego, os dados reforçam o cenário desafiador para o Federal Reserve. A inflação medida pelo deflator do PCE – índice preferido do banco central – acelerou para 3,5% no 1º trimestre, acima da expectativa de 3,3% e distante da meta de 2,0%. O mercado de trabalho, por sua vez, segue resiliente: em abril, foram criadas 177 mil vagas, superando a previsão de 130 mil, e a taxa de desemprego manteve-se em 4,2%. Diante disso, o Fed deve manter uma postura de cautela na próxima reunião de política monetária, evitando decisões precipitadas. A combinação de inflação elevada e crescimento fraco reforça temores de estagflação na maior economia do mundo. O banco central deve seguir com uma comunicação prudente, adotando o tom de “esperar para ver” enquanto monitora a persistência da inflação e a resposta da atividade.

Brasil

O mercado de trabalho brasileiro segue sólido, com a taxa de desemprego em 7,0% no trimestre encerrado em março, em linha com as expectativas. A renda real do trabalho continua em trajetória de alta: o rendimento médio real habitual subiu 0,3% entre fevereiro e março e acumula alta de 4,0% na comparação anual. Apesar da desaceleração no ritmo mensal, o mercado formal gerou 71,6 mil vagas em março, acumulando 456 mil novas vagas no 1º trimestre. A ocupação total segue em expansão, impulsionada principalmente por empregos formais. Os salários reais sustentam a demanda doméstica e contribuem para a persistência da inflação de serviços. Essa dinâmica reforça o cenário de desaceleração gradual da atividade e inflação elevada nesse segmento no curto prazo.

No lado fiscal, o governo central registrou superávit primário de R$ 1,1 bilhão em março, abaixo das projeções. No acumulado de 2025, o superávit chega a R$ 54,5 bilhões, mas o resultado em 12 meses aponta déficit de R$ 8,6 bilhões (0,1% do PIB). A receita líquida cresceu apenas 0,8% em termos reais, enquanto a despesa caiu 0,5% – queda considerada pontual, relacionada à fila represada da Previdência. Com a normalização desses pagamentos, os gastos devem voltar a subir. Com a desaceleração da economia e a queda nos preços do petróleo, espera-se novo esfriamento das receitas. Isso eleva os riscos para o cumprimento da meta fiscal, e o governo pode ter de bloquear R$ 10,5 bilhões para se manter dentro do arcabouço. Enquanto isso, após operação da PF que revelou fraudes de R$ 6,3 bilhões no INSS, o Tesouro reafirmou que o ressarcimento será feito com recursos do próprio órgão, sem aporte adicional.

Resumo semanal: 21/04 a 25/04

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A China decidiu isentar determinados produtos dos Estados Unidos das tarifas de 125% e orientou empresas locais a identificarem itens essenciais que devem ser liberados de impostos. A medida, segundo fontes corporativas notificadas, evidencia a preocupação de Pequim com os impactos prolongados da guerra comercial. Essa flexibilização, que ocorre após sinalizações conciliatórias de Washington, indica uma possível disposição mútua de conter o conflito que travou o comércio bilateral e intensificou temores de recessão global. Espera-se que as isenções alcancem diversos setores, o que contribuiu para a valorização do dólar e alta nas bolsas de Hong Kong e Tóquio. Segundo Alfredo Montufar-Helu, do China Center do Conference Board, a iniciativa pode ser uma tentativa de reaproximação, embora nenhum dos dois países pareça disposto a ceder primeiro. Pequim ainda não confirmou oficialmente as isenções. Enquanto isso, Donald Trump afirmou à revista TIME que Xi Jinping teria ligado para discutir tarifas, mas a China contestou essa versão.

No Japão, os dados de abril revelaram que a inflação subjacente em Tóquio atingiu o maior patamar em dois anos, impulsionada principalmente pela alta dos alimentos. O aumento representa um desafio para o Banco do Japão (BOJ), que tenta gradualmente abandonar sua política monetária ultraflexível sem comprometer a estabilidade econômica. Os números vieram às vésperas da reunião do BOJ marcada para o fim de abril, quando se espera a manutenção da taxa de juros em 0,5%. Takeshi Minami, economista-chefe do Instituto Norinchukin, prevê que a inflação deve continuar elevada por vários meses. Ele avalia que o banco central será prudente diante dos efeitos das tarifas dos EUA, mas poderá considerar novos aumentos nas taxas se o impacto for administrável. O índice de preços ao consumidor, excluindo alimentos frescos, avançou 3,4% em comparação com abril de 2023. Esse dado reforça a pressão sobre a autoridade monetária para agir com cautela no ajuste de sua política.

Europa

O índice de gerentes de compras (PMI) da zona do euro caiu de 50,9 em março para 50,1 em abril, abaixo da expectativa de 50,2, indicando uma estagnação econômica na região. O resultado sugere que os empresários estão mais cautelosos quanto ao cenário atual, marcado por tensões comerciais globais e elevada incerteza. Essa desaceleração econômica reflete os impactos indiretos da guerra tarifária, mesmo em países que não estão diretamente envolvidos. A Rússia, por exemplo, decidiu manter a taxa básica de juros em 21%, citando a queda nos preços do petróleo e a perspectiva de receitas fiscais mais baixas como riscos relevantes. Embora a inflação esteja começando a recuar, o Banco Central russo se mostra prudente diante do ambiente externo volátil. Moscou, que até agora havia escapado dos principais efeitos das tarifas dos EUA, começa a se preparar para uma possível desaceleração global. A política monetária agressiva da Rússia segue como resposta preventiva ao cenário externo incerto.

No Reino Unido, o varejo surpreendeu positivamente com um crescimento de 0,4% nas vendas de março, marcando o melhor início de ano desde 2021. No primeiro trimestre, o avanço acumulado de 1,6% foi o mais forte em quatro anos, contribuindo com 0,08 ponto percentual para o PIB britânico. Apesar disso, o otimismo é cauteloso: um importante índice de confiança do consumidor caiu ao menor nível desde o fim de 2023. O aumento das contas de energia e a turbulência financeira global têm pressionado o orçamento das famílias e minado a disposição para o consumo. Analistas alertam que o cenário para o varejo ainda é desafiador, com dificuldades para manter margens e investimentos. Na Ucrânia, a pressão diplomática dos EUA ganhou força após Donald Trump afirmar que a Crimeia “ficará com a Rússia” em eventual acordo de paz, gerando críticas. A declaração ocorre em meio a uma nova onda de ataques russos, que deixou mortos e feridos em várias cidades. A tensão entre Washington, Kiev e Moscou continua elevada, com as negociações travadas e sem sinal claro de avanço.

Oriente Médio

As negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos devem ser retomadas no sábado, mas o principal impasse agora gira em torno do programa de mísseis iraniano, e não mais do enriquecimento de urânio. Segundo autoridades de Teerã, os EUA aceitaram que o Irã continue com parte de seu programa nuclear, contanto que o país importe urânio enriquecido para uso civil. No entanto, o arsenal de mísseis do Irã continua sendo uma barreira crítica ao avanço diplomático. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que não haverá acordo sem o fim completo do enriquecimento local. Paralelamente, a tensão na Turquia segue elevada após a prisão do prefeito de Istambul, o que impactou os mercados e levou o banco central a elevar os juros de 42,5% para 46%. Apesar da inflação anual ter caído para 38,1% em março, as famílias ainda projetam inflação de 59,3% em 12 meses. O Banco Central turco considera que as expectativas inflacionárias seguem altas e ameaçam o processo de desinflação.

No mercado de energia, a OPEP+ discute um novo aumento acelerado na produção de petróleo para o mês de junho, após ter ampliado a produção em maio em mais de 400 mil barris por dia — três vezes acima do previsto. A medida gerou atrito entre os membros do grupo, que divergem sobre o cumprimento das cotas e os impactos nos preços. A queda recente no preço do barril, pressionado por fatores como a guerra comercial entre EUA e China, também contribui para o debate interno. Nesta quarta-feira, o Brent caiu mais de 2%, sendo negociado abaixo de US$ 66 — o nível mais baixo em quatro anos. A proposta de novo aumento deve ser decidida por oito países no encontro de 5 de maio. A Arábia Saudita, peça-chave nas articulações da OPEP+, ainda não se manifestou oficialmente sobre a medida. A decisão pode ter forte impacto geopolítico e nas economias dependentes da exportação de petróleo, especialmente diante da atual fragilidade dos mercados globais.

Estados Unidos

Os dados mais recentes da economia americana não indicam recessão no curto prazo, apesar de sinais mistos nos indicadores de atividade. O PMI industrial de abril avançou de 50,2 para 50,7 pontos, superando as expectativas e apontando expansão no setor, o que surpreendeu positivamente os analistas. Por outro lado, o PMI de serviços caiu de 54,4 para 51,4, abaixo do esperado, sugerindo possível perda de fôlego nesse segmento. Ainda assim, o cenário geral segue resiliente e o Federal Reserve continua adotando uma política monetária baseada em dados, mantendo-se cauteloso quanto a novos movimentos nos juros. A divergência entre os setores evidencia uma economia em transição, sem sinais claros de retração. A evolução dos próximos indicadores será fundamental para definir o rumo da política monetária. O foco permanece no balanço entre crescimento sustentável e controle da inflação.

No mercado imobiliário, os dados de março apontaram enfraquecimento nas vendas de imóveis existentes, que caíram 5,9% em relação ao mês anterior e 2,4% na comparação anual. Ainda assim, os preços se mantêm firmes: o valor mediano das vendas subiu 2,7% em 12 meses, alcançando US$ 403.700. O aumento no estoque de imóveis, que chegou a 1,33 milhão de unidades, representa uma alta de 8,1% sobre fevereiro e quase 20% em relação ao ano anterior. Esse movimento pode oferecer algum alívio à demanda reprimida por moradias, mas ainda reflete um mercado apertado, com poucas opções disponíveis. O aumento nos estoques pode ser um sinal positivo para a moderação de preços, embora ainda não haja indícios de queda expressiva. A resiliência nos valores mostra que a pressão sobre o custo de moradia segue sendo um desafio para a política monetária. O setor continua sob os efeitos de juros elevados e baixo dinamismo na oferta.

Brasil

O IPCA-15 de abril avançou 0,43%, em linha com as expectativas, mas reforçou a percepção de que a inflação segue pressionada. No acumulado de 12 meses, a taxa subiu de 5,26% para 5,49%, com destaque para os bens industrializados, cuja alta mensal foi de 0,57%. Mesmo com esse dado acima do esperado, o Banco Central tem comunicado que vê tendência de aceleração pontual nos preços de bens. Ao mesmo tempo, fatores externos como a guerra comercial e a volatilidade do dólar podem aliviar essas pressões inflacionárias adiante. Por ora, a projeção de IPCA em 6% para 2025 segue mantida, mas com viés de baixa. O comportamento dos preços nos próximos meses será decisivo para calibrar a política monetária. A inflação ainda exige atenção, mas não altera significativamente o cenário base.

No câmbio, o dólar recuou para R$ 5,65 após ter começado a semana em R$ 5,80, influenciado por falas de Donald Trump sobre negociações comerciais com vários países, incluindo a China. A volatilidade permanece elevada e nossa estimativa para o fim de 2025 é de R$ 6,00. No front doméstico, a segunda fase do novo crédito consignado começou a operar, agora com liberação direta pelos bancos, o que deve dar impulso ao consumo. O programa já movimentou mais de R$ 8 bilhões e, junto a outras ações do governo, deve ajudar a conter a desaceleração da atividade. Considerando esses estímulos, nossas projeções de crescimento do PIB foram revisadas para cima: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026. O crédito ao consumo pode atuar como importante amortecedor para o cenário econômico nos próximos trimestres.

Resumo semanal: 14/04 a 18/04

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A economia chinesa surpreendeu positivamente no primeiro trimestre de 2025, com crescimento do PIB de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior — superando a expectativa de 5,2%. Na comparação trimestral, o avanço foi de 1,2%, representando uma leve desaceleração frente aos 1,6% do trimestre anterior. Os dados refletem, sobretudo, os efeitos das medidas de estímulo implementadas por Pequim, ainda antes da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos em abril. Em termos setoriais, a produção industrial registrou alta de 7,7% em março, superando a projeção de 5,9%, impulsionada pelo aumento dos envios antecipados de exportadores preocupados com os impactos tarifários. No varejo, as vendas cresceram 5,9% na comparação interanual, também acima do consenso de mercado, favorecidas pelos estímulos ao consumo. A balança comercial apresentou superávit de US$ 102,6 bilhões, bem acima da previsão de US$ 74,3 bilhões. As exportações, por sua vez, cresceram expressivos 12,4%, indicando aceleração no ritmo de embarques antes do aperto nas relações comerciais.

No Japão, a inflação ao consumidor segue desafiando o Banco Central local (BoJ), com o núcleo inflacionário acelerando em março. O núcleo do índice de preços ao consumidor (que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos) subiu 3,2% em relação a março de 2024, superando os 3% registrados em fevereiro e pressionando ainda mais a política monetária. Esta leitura antecede a próxima reunião do BoJ, marcada para os dias 30 de abril e 1º de maio, quando o mercado espera manutenção dos juros em 0,5% e uma provável revisão negativa das projeções de crescimento — influenciada pelas tarifas americanas recentemente elevadas. A inflação mais ampla, medida por um indicador que exclui os preços de alimentos frescos e combustíveis, também acelerou para 2,9%, ante 2,6% no mês anterior. O salto nos preços foi generalizado: gasolina, hospedagens, chocolates e, especialmente, arroz, cujo preço aumentou 92,5% em relação ao ano passado. Apesar disso, os preços de serviços avançaram apenas 1,4%, contra 5,6% dos bens, sinalizando que o choque inflacionário decorre majoritariamente do repasse de custos de matérias-primas.

Europa

O Banco Central Europeu (BCE) reduziu em 0,25 ponto percentual suas taxas de juros de referência, levando a taxa de depósito para 2,25%, em linha com as expectativas do mercado. Essa foi a sétima redução de juros no atual ciclo de flexibilização monetária. A decisão veio em meio ao aumento das incertezas econômicas provocadas pelas recentes tensões comerciais globais, especialmente com os Estados Unidos. O BCE reiterou seu compromisso com uma política monetária “dependente de dados”, sinalizando que novas decisões dependerão do comportamento da inflação e da atividade. Segundo a instituição, o processo de desinflação está bem encaminhado, com a inflação convergindo gradualmente para a meta de 2%. A autoridade monetária também indicou que os juros atuais já se encontram no limite superior da chamada “taxa neutra” — patamar em que a política monetária nem estimula nem freia o crescimento econômico.

Entre os dados divulgados na semana, a produção industrial da zona do euro surpreendeu positivamente, superando as expectativas do mercado. No entanto, o ambiente econômico ainda inspira cautela: a confiança dos agentes econômicos recuou significativamente, passando de 39,8 pontos em março para -18,5 pontos em abril — o menor nível desde dezembro de 2022. De acordo com o BCE, essa deterioração está diretamente relacionada à intensificação das tensões comerciais, que vêm gerando preocupações sobre cadeias de suprimento, competitividade e ritmo da recuperação. Esse contraste entre melhora dos dados reais e piora das expectativas reforça o cenário de incerteza para os próximos meses. A postura mais cautelosa do BCE reflete justamente essa dualidade, buscando calibrar o estímulo monetário sem comprometer a estabilidade de preços ou agravar desequilíbrios. A evolução do comércio internacional continuará sendo um fator-chave para a condução da política monetária europeia.

Oriente Médio

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo suas projeções de crescimento da demanda por petróleo em 2025, reduzindo a estimativa de 1,45 milhão para 1,3 milhão de barris por dia — um corte de cerca de 10%. A decisão reflete uma maior incerteza sobre o desempenho econômico global diante da escalada nas tensões comerciais, especialmente após o endurecimento da política tarifária dos Estados Unidos. Além disso, a entidade também revisou para baixo as projeções de crescimento das grandes economias para o próximo ano. Segundo relatório da própria Opep, o ambiente de comércio global instável compromete a perspectiva de crescimento no curto prazo. A expectativa de menor demanda pode exercer pressão de baixa sobre os preços do petróleo. Curiosamente, no início de abril, a organização havia anunciado um aumento na produção para maio, surpreendendo o mercado e gerando dúvidas sobre sua estratégia de equilíbrio entre oferta e demanda. Essa dualidade pode ampliar a volatilidade dos preços da commodity nos próximos meses.

No campo geopolítico, o Hamas rejeitou uma nova proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, classificando as exigências como “condições impossíveis”. A proposta incluía um cessar-fogo de 45 dias em troca da libertação de dez reféns e a soltura de palestinos presos, além da retomada da ajuda humanitária. No entanto, o grupo exige garantias para o fim definitivo da guerra e a retirada total do exército israelense da Faixa de Gaza, além de rechaçar a exigência de desarmamento. A crise humanitária na região continua a se agravar: desde o fim da última trégua, em março, mais de 1.600 pessoas foram mortas em Gaza, incluindo dezenas nas últimas 24 horas. Israel também sinalizou que manterá presença militar por tempo indeterminado nas “zonas de segurança” criadas dentro do enclave, ampliando o controle sobre partes estratégicas como Rafah. O impasse aumenta os riscos de escalada regional, com efeitos diretos sobre segurança, diplomacia e mercados globais de energia.

Estados Unidos

Nesta semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou a importância da cautela na condução da política monetária, enfatizando que o banco central precisa garantir que o impacto das tarifas não provoque pressões inflacionárias persistentes. Powell reforçou o compromisso com o duplo mandato da instituição — estabilidade de preços e pleno emprego —, mas ressaltou que, sem o controle da inflação, não há condições para sustentar um mercado de trabalho robusto a longo prazo. Segundo ele, o Fed está em posição confortável para aguardar maior clareza sobre o cenário econômico antes de tomar novas decisões sobre a taxa de juros. Apesar da volatilidade recente, os mercados continuam operando de forma funcional. Powell afirmou ainda que, mesmo diante de incertezas elevadas e riscos negativos, a economia americana segue resiliente. A fala do presidente do Fed foi interpretada como hawkish (mais conservadora) por boa parte do mercado, resultando em um desempenho negativo dos ativos de risco.

No campo da atividade econômica, os dados mais recentes vieram majoritariamente em linha com as expectativas, embora o risco de estagflação continue no radar. A produção industrial dos EUA avançou 0,3% em março, conforme o esperado, mas deve perder fôlego nos próximos meses diante do agravamento da guerra comercial com a China. Já as vendas no varejo surpreenderam positivamente, com alta de 1,4% no mês — o melhor resultado desde janeiro de 2023 —, acumulando crescimento de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O destaque ficou para o setor automotivo, com expansão de 5,3% nas vendas de veículos, refletindo a antecipação de compras por parte dos consumidores diante da possibilidade de novas tarifas. Em meio a esse cenário, a Casa Branca anunciou que as tarifas aplicadas a certos produtos chineses podem atingir até 245%, incluindo veículos elétricos e seringas. Por outro lado, o ex-presidente Donald Trump indicou que alguns itens de tecnologia, como smartphones e semicondutores, estarão temporariamente isentos dessas tarifas, o que trouxe alívio aos mercados — dada a forte dependência dos eletrônicos chineses na cadeia global de suprimentos.

Brasil

O governo federal encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, estabelecendo uma meta de superávit primário de R$ 34,3 bilhões, equivalente a 0,25% do PIB. A proposta também estima um superávit de R$ 38,2 bilhões (0,28% do PIB) e projeta que a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) atingirá o pico de 84,2% do PIB em 2029, um avanço de 4,6 pontos percentuais em relação à estimativa anterior. O PLDO prevê metas fiscais crescentes para os anos seguintes: 0,5% do PIB em 2027, 1,0% em 2028 e 1,25% em 2029. Apesar disso, nossas projeções apontam para um déficit primário de R$ 74,8 bilhões em 2026, o que exigiria um esforço fiscal adicional de R$ 110 bilhões para cumprimento da meta. O cenário para 2026 é desafiador, considerando a esperada desaceleração da atividade econômica e da inflação, fatores que tendem a impactar negativamente a arrecadação tributária. Ao mesmo tempo, as despesas devem continuar pressionadas, especialmente com a elevação dos gastos sociais, que seguem crescendo acima da inflação. Embora a possibilidade de mudança na meta fiscal não seja nosso cenário base, ela não pode ser totalmente descartada.

Paralelamente, foi aprovada a criação da faixa 4 do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” (MCMV), destinada a famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. Essa nova modalidade contará com taxa de juros anual de 10% e será financiada por um aporte de R$ 30 bilhões, sendo metade proveniente do FGTS e o restante de recursos próprios das instituições financeiras, como poupança e LCI — com a Caixa Econômica Federal liderando a implementação, segundo seu presidente. Estimamos que essa ampliação do MCMV pode impulsionar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 0,4 ponto percentual em 2025 e 0,6 ponto percentual em 2026. Esse estímulo aos investimentos deve refletir positivamente no PIB, com impactos estimados de 0,10 p.p. e 0,15 p.p., respectivamente. Esses efeitos, combinados a outras medidas do governo, já foram incorporados ao nosso novo cenário base para a economia doméstica. Como resultado, revisamos as projeções de crescimento do PIB: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026, conforme detalhado em nosso último relatório Brasil Macro Mensal.