Morning Call

Troca no comando do BC pode explicar cautela

Atualizado 19/12/2023 às 00:53:59

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[19/12/23]

… O BoJ japonês manteve os juros negativos em 0,10% e a meta do rendimento do título público local (JGB) de 10 anos em 0%. Apesar de esperada, a decisão anunciada hoje provocou novo tombo do iene. Já na zona do euro, se vier com uma boa desaceleração, o CPI de novembro (7h) pode animar apostas em corte antecipado do juro, apesar do tom hawk do BCE, enquanto, nos EUA, os alertas dos Fed boy são ignorados pelo mercado, convencido de que o desaperto começa em março. Aqui, é grande a expectativa pela ata do Copom (8h), que tem a chance de explicar o conservadorismo da semana passada, após surpreender boa parte dos investidores, em meio à euforia com Powell e os avanços da pauta econômica no Congresso para melhorar a arrecadação e alcançar um resultado fiscal mais próximo da meta.

… Nesta 2ªF, os juros futuros de curto prazo fecharam nas mínimas na B3 à espera de um documento mais suave que, pelo menos, admita o debate sobre um ritmo mais acelerado das quedas da Selic. E porque o Comitê achou importante manter a dose de 0,50pp.

… São aguardadas explicações sobre as perspectivas melhores para a inflação, a desaceleração da economia, uma análise mais detalhada do cenário externo “menos adverso” e sobre os riscos fiscais, aliviados com a aprovação das propostas da Fazenda.

… A aposta mais óbvia é de que o Copom insistirá na necessidade de uma “reancoragem total, e não parcial”, das expectativas de inflação, como o Banco Central já vem insistindo. Mas se for isso mesmo pode ser apenas uma meia verdade.  

… Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, a cautela do BC, mesmo diante da euforia no exterior com o aceno do Fed para uma redução dos juros, está ligada “à briga que ainda trava com as expectativas de inflação”.

… Em entrevista ao Broadcast, ele comentou que a comunicação pode ser uma estratégia para tentar trazer as expectativas para baixo.

… Na avaliação de Barbosa, no entanto, essas expectativas refletem incertezas sobre a execução da política fiscal e sobre a substituição da presidência do Banco Central, que vai acontecer em dezembro de 2024, com a saída de Roberto Campos Neto.

… Essa também é a tese de Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor adjunto na Georgetown University.

… Em artigo publicado no site do www.bomdiamercado.com.br, ele escreve que a “teimosia” do BC com as expectativas longas no Focus “não é usual” e que tem algo mais acontecendo “fora dos dados”, que são as incertezas fiscais com a saída de RCN.

… Para Volpon, existe um déficit de credibilidade pelo risco de troca de gestão que reflete a contínua retórica do governo contra o BC.

… “Atacando o BC, o governo acaba colhendo o resultado contrário ao desejado [queda mais rápida dos juros].” O risco, acrescenta, é que os juros mais elevados em um ano eleitoral podem aumentar a tentação de uma política fiscal ainda mais expansionista.

… No fechamento após os ajustes, a taxa do DI para janeiro de 2025 projetava 10,05% (de 10,07% na 6ªF) e a do DI para janeiro de 2026, 9,64% (de 9,66% no ajuste anterior). O janeiro de 2027 encerrou na mínima de 9,74% e janeiro de 2029 fechou estável em 10,18%.

… Os juros longos operaram descolados dos Treasuries, que esboçaram um pequeno ajuste em alta, após falas dos presidentes do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, e de Cleveland, Loretta Mester. No contraponto a Powell, eles recomendaram cautela no otimismo.

… Apesar das declarações, no entanto, as apostas para o juro americano no CME Group seguem majoritariamente (com quase 70% de chance) sendo de que o Fomc decidirá o primeiro corte dos juros em março, com um orçamento total de 150pbs em 2024.

… Em sintonia com um Fed mais dovish, e sem poder avançar no ritmo de quedas, cresceram aqui as apostas em Selic terminal de 9%.

LDO – Congresso vota hoje a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 em sessão marcada para as 12h.

… O relatório, aprovado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) na última 5ªF, determinou um calendário para o governo empenhar os recursos de emendas individuais, a que cada parlamentar tem direito, e de bancada estadual. Ambas são impositivas (obrigatórias).

… A imposição do cronograma reduz o poder do Executivo e aumenta o do Legislativo. O projeto prevê o valor recorde de R$ 48,8 bilhões em emendas para o ano que vem, levando em conta também as que não são impositivas.

… Durante a votação na CMO, o relator, Danilo Forte (União), fez um acordo com o governo e permitiu que os investimentos das estatais no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em um valor de R$ 5 bilhões, fiquem fora da meta fiscal.

… O deputado também deixou o seguro rural fora do contingenciamento de verbas.

… A LDO serve de base para a Lei Orçamentária Anual (LOA), que ainda precisa ser votada pela CMO e pelo plenário do Congresso.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Já para amanhã (4ªF), está confirmada a sessão solene do Congresso para promulgar a reforma tributária (15h), marcando de forma oficial a inscrição das novas regras para impostos sobre o consumo na Constituição do País.

… A reforma tributária cria o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que substituirá o ICMS estadual e o ISS municipal, e ainda a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que ficará no lugar de tributos federais, como o PIS e a Cofins.

… A PEC também cria um Imposto Seletivo, que servirá para desestimular o uso de produtos que fazem mal à saúde e ao meio ambiente.

… O princípio é deslocar a cobrança do imposto da origem (onde a mercadoria é produzida) para o destino (onde é consumida). O desafio para o ano que vem será a implementação da reforma, que será feita por meio de leis complementares.

… O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), disse que o presidente Lula deve participar da cerimônia.

REFORMA ADMINISTRATIVA – Questionado por jornalistas, Wagner disse que uma reforma administrativa que preserve os direitos dos atuais servidores públicos pode ser discutida no próximo ano. “Dessa forma, o governo toparia discutir o assunto.”

… Jaques deixou claro, no entanto, que “se for para atingir quem já está, aí a conclusão você sabe qual é, né? Então, não sei qual é a reforma administrativa que ele [Lira] está pensando”. Lira é o principal nome do Legislativo a defender a reforma do Estado.

ROTATIVO – Após fracassar na mediação para uma autorregulação para o rotativo do cartão de crédito, o BC levará a Conselho Monetário Nacional (CMN) uma proposta para apenas regulamentar o teto de juros da modalidade.

… Sem consenso para o pedido dos grandes bancos em limitar o parcelado sem juros do cartão, a ideia precisa amadurecer para voltar ao radar em 2024, possivelmente em consulta pública pela autoridade monetária.

… Sancionada no dia 3 de outubro, a Lei do Desenrola deu 90 dias para que os todos os agentes econômicos envolvidos no mercado de meios de pagamento chegassem a um entendimento para a redução dos juros do rotativo do cartão de crédito.

… O prazo está prestes a acabar; o CMN se reúne nesta 5ªF, 21, e fontes da equipe econômica disseram ao Estadão que o objetivo será pautar a regulação do teto de juros da modalidade na última reunião ordinária do ano.

… De acordo com dados mais recentes do BC, em outubro deste ano a taxa média de juros no rotativo do cartão chegava a 431% ao ano.

… O problema é que a Lei do Desenrola foi genérica ao estabelecer que, na falta de um acordo, como acabou acontecendo, “o total que poderá ser cobrado em cada caso a título de juros e encargos financeiros não poderá exceder o valor original da dívida”.

… Caberá agora ao CMN, composto por Campos Neto, Haddad e Simone Tebet, regulamentar quais custos serão considerados como valor original da dívida, e como esse valor deve ser atualizado em caso de novas parcelas em atraso pelos usuários.

MAIS AGENDA – Indicadores domésticos são fracos, com três prévias de inflação: as segundas quadrissemanas de dezembro do IPC-Fipe (5h), do IGP-M e do IPC-S – os dois últimos às 8h. Às 10h15, a FGV libera o monitor do PIB de outubro.

… O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reúne-se com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entre 17h30 e 18h30.

… Das 9h às 12h, Haddad participa da Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Política Energética, no Ministério de Minas e Energia.

… Já Campos Neto fará palestra no evento “Desafios 2024, o Brasil no rumo do crescimento sustentado, do Correio Braziliense” (19h).

NOS EUA – O Fed boy Raphael Bostic/Atlanta volta a falar hoje (14h30) e deve repetir os alertas contra a pressa do mercado para cortar os juros. Ontem à noite, a presidente do Fed/São Francisco, Mary Daly, foi na contramão de seus pares.

… Segundo Daly, é apropriado que o Fed comece a olhar para a redução de juros, devido a forma como a inflação arrefeceu este ano. Em entrevista afirmou que sua perspectiva estava “muito próxima” da mediana das projeções de 19 dirigentes, na semana passada.

… A maioria espera pelo menos três cortes nas taxas no próximo ano. “Reconhecemos o progresso quando há progresso”, disse ela.

CHINA – O Banco do Povo (PBoC) informa no final da noite de hoje as taxas de referência das LPRs de um ano e de cinco anos.

ARGENTINA – O Banco Central (BCRA) anunciou após o fechamento dos mercados que irá determinar a taxa de prazo fixo como juros básicos, agora em 110%, e não mais as Letras de Liquidez, conhecidas como Leliqs, cuja taxa estava em 133%.

… Apontou ainda que sua principal ferramenta de absorção de excedentes monetários serão as operações de recompra passivas.

… A mudança das Leliqs era promessa de campanha de Milei, que considerava a taxa com preços muito baixos e retornos muito elevados.

MAIS AMÉRICA LATINA – Colômbia e Chile (18h) divulgam decisão de política monetária hoje.

SEGUE O RALI – Impulsionado pelo avanço das commodities, o Ibovespa marcou mais uma máxima histórica no fechamento, em alta de 0,68%, aos 131.083,82 pontos. O petróleo foi o destaque do dia, subindo quase 2% com a tensão no Oriente Médio.

… Petroleiras desviaram navios cargueiros no Mar Vermelho, após ataques dos rebeldes Houthis, alinhados ao Irã, que controlam grande parte do Iêmen. No final do dia, os EUA anunciaram uma ofensiva para garantir a segurança das embarcações na região.

… O programa inclui outros países como Reino Unido, Barém, Canadá, França, Itália, Países Baixos, Noruega, Seychelles e Espanha.

… Para a StoneX, os eventos no Mar Vermelho representam a primeira ameaça real aos fluxos do petróleo desde o início do conflito em Gaza, em outubro. Já a CMC Markets alerta que o cenário parece ter provocado uma tendência “defensiva”.

… Nesta 2ªF, o barril do WTI para fevereiro fechou em alta de 1,44% (US$ 72,82) na Nymex, enquanto o Brent para o mesmo prazo subiu 1,83% (US$ 77,95) na Ice londrina. O avanço do petróleo colocou o setor de energia em destaque nas bolsas de NY.

… S&P 500 (+0,45%, a 4.740,56 pontos) e Nasdaq (+0,61%, a 14.905,19 pontos) fecharam em alta, enquanto o índice Dow Jones fechou estável (37.306,02 pontos), mas com um ponto acima da véspera, o suficiente para bater mais um recorde.

… O mercado acionário não se deixou influenciar por um leve ajuste em alta dos Treasuries: no fim da tarde em NY, o yield da Note-2 anos subia a 4,471%, o da Note-10 anos a 3,952% e o do T-Bond de 30 anos, a 4,057%.

… Aqui, o petróleo puxou as ações de Petrobras (ON, +2,05%, e PN, +1,24%). Vale (+0,47%) e o setor metálico também subiram, apesar da queda do minério de ferro em Dalian, na China (-1,59%). O dia foi positivo ainda para os bancos, que têm grande peso no índice.

… No câmbio, o dólar operou misto ante as moedas fortes, com o índice DXY fechando praticamente estável (+0,01%, a 102,561 pontos). No fim da tarde, o euro avançava a US$ 1,0918 e a libra tinha baixa a US$ 1,2646. O dólar subia a 142,94 ienes.

… No Brasil, o real teve o melhor desempenho entre emergentes, com o dólar em queda de 0,66%, cotado a R$ 4,9048, favorecido pelo aumento dos preços das commodities, que aumenta o fluxo para o País. O futuro/janeiro caiu 0,85%, para R$ 4.902,50.

EM TEMPO… AMERICANAS SA. Bancos devem aprovar plano de recuperação nesta 3ªF para dar baixa em dívida da varejista; com dívidas do grupo convertidas em ações, bancos contam com dividendos em 2025…

… Banco do Brasil assinou acordo sobre plano de recuperação judicial da empresa; Caixa e Banco da Amazônia também entraram no acordo. (fontes do Estadão)

AÉREAS. Lula criticou nesta 2ªF (17) o preço das passagens aéreas no Brasil e disse que o governo terá de “se debruçar” sobre o assunto; governo planeja um programa para baratear preços de passagens aéreas, o Voa Brasil.

GRUPO CASAS BAHIA. Titulares de Certificados de Recebíveis Imobiliários das 1ª, 2ª e 3ª séries da 20ª emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários da Opea Securitizadora, lastreados na 8ª emissão de debêntures da empresa, aprovaram em assembleia a não declaração de vencimento antecipado da 8ª emissão de debêntures e dos CRI.

LIGHT. Octavio Lopes deixará presidência da empresa em 31/12 e Alexandre Nogueira assumirá o posto.

ELETROBRAS disse que não há negociação com investidores e debenturistas sobre waivers no âmbito de potencial oferta da ISA Cteep e nem aprovação por sua diretoria ou Conselho de Administração em realizar a transação.

ENGIE BRASIL aprovou a distribuição de R$ 145 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1777 por ação, com pagamento em 31/12; ex em 22/12.

TELEFÔNICA E AUREN ENERGIA firmaram acordo de investimento para a constituição de uma joint-venture, na qual cada acionista deterá 50% de participação societária, focada na comercialização de soluções customizadas em energia renovável.

COSAN vai realizar a 9ª emissão de debêntures, no valor de R$ 3,289 bilhões.

LOCALIZA aprovou a emissão de R$ 700 milhões em debêntures; recursos serão usados para recomposição do caixa.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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