Ibovespa fica estável em dia de articulação do governo contra tarifas dos EUA; NY termina sem direção única
Em um dia bastante volátil, o Ibovespa fechou praticamente estável. O indicador chegou a cair 0,68%, subiu 0,53% na máxima e terminou a sessão em -0,04%, aos 135.250,10 pontos. O giro foi de R$ 18,1 bilhões.
Já na reta final do pregão, a CNN Brasil noticiou que a audiência de conciliação entre Executivo e Legislativo sobre o aumento do IOF, realizada hoje no STF, terminou sem acordo.
Os investidores monitoram também as reuniões do governo com empresários para definir uma estratégia de negociação após os EUA impor tarifa de 50% ao Brasil. Alckmin disse que quer resolver o assunto até o fim deste mês.
Entre as blue chips, destaque para a queda de 2,62% da Vale (R$ 53,91), na contramão do minério, sinalizando realização de lucros recentes. Petrobras ON recuou 1,14% (R$ 34,69) e a PN caiu 0,78% (R$ 31,95).
O dólar à vista interrompeu sequência de quatro altas e fechou em baixa de 0,47%, a R$ 5,5581, na contramão do movimento da moeda americana no exterior.
Já as bolsas em NY terminaram mistas, após o dado mais importante do dia, o CPI de junho, que aumentou 0,3%, ter vindo dentro do esperado. Com isso, reforçam-se as apostas de corte da taxa de juros em setembro.
Os investidores também ficaram atentos aos resultados do 2TRI de grandes bancos, que abriram hoje a temporada de balanços.
Dow Jones caiu 0,98% (44.023,29). S&P500 recuou 0,40% (6.243,73). Nasdaq subiu 0,18% (20.677,80). Os retornos dos Treasuries avançaram.
A inflação ao consumidor registrou leve alta de 0,1% em junho, após quatro meses consecutivos de retração, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China (NBS). Alimentos e energia ainda apresentaram queda, mas o núcleo do índice — que exclui esses itens — subiu 0,7%, impulsionado pelos preços de bens. Os serviços mantiveram a mesma variação do mês anterior. Já o índice de preços ao produtor (PPI) continuou em deflação pelo 33º mês seguido, com recuo de 3,6%. A queda reflete menor demanda por metais e insumos, além do recuo nos preços de combustíveis.
Esses resultados são consequência de uma desaceleração nos investimentos em infraestrutura e imóveis, além de aumento da produção de energia limpa. O enfraquecimento da demanda externa também pesa, especialmente nos setores eletrônico e têxtil, devido à imposição de tarifas pelos EUA. Diante desse cenário, espera-se que a inflação continue baixa no país. A fraca atratividade dos produtos chineses no mercado americano e o consumo doméstico contido reforçam essa tendência. O excesso de capacidade produtiva instalada amplia ainda mais esse quadro deflacionário.
Europa
A guerra entre Rússia e Ucrânia segue em seu quarto ano, com ataques russos intensos e recorrentes. Até o momento, não há perspectiva concreta de uma solução definitiva para o conflito, que continua gerando instabilidade geopolítica na região. Enquanto isso, a economia europeia dá sinais de fraqueza, especialmente no varejo da Zona do Euro. Em maio, o volume de vendas no setor contraiu 0,7%, segundo o Eurostat, refletindo quedas na Alemanha (-1,7%), França (-0,2%) e Itália (-0,4%). O indicador segue abaixo da tendência observada antes da pandemia.
No Reino Unido, a atividade econômica também apresentou recuo em maio, após já ter caído no mês anterior. O PIB mensal encolheu 0,1% frente a abril, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). A retração foi puxada principalmente pela indústria, com queda de 0,9%, e pela construção civil, que recuou 0,6%. Por outro lado, o setor de serviços teve leve recuperação no período, com avanço de 0,1%. O quadro reforça o cenário de desaceleração econômica nos principais países europeus.
Oriente Médio
A tensão no Oriente Médio permanece moderada, com o cessar-fogo entre Israel e Irã ainda em vigor. No entanto, um acordo semelhante entre Israel e o Hamas parece mais distante, o que mantém o cenário geopolítico em alerta. Apesar disso, o preço futuro do petróleo Brent manteve-se praticamente estável entre os dias 3 e 10 de julho, oscilando próximo a US$ 69 por barril. A OPEP+ decidiu aumentar a produção em agosto, em ritmo superior ao dos meses anteriores. A expectativa é de novo aumento até setembro, quando serão devolvidos 2,2 milhões de barris por dia, retirados até o fim de 2024.
A estratégia da OPEP+ visa ampliar sua presença no mercado global de petróleo. No setor agrícola, os preços futuros das commodities tiveram desempenho misto ao longo da semana. O contrato futuro do trigo subiu 0,5%, enquanto milho e soja registraram quedas de 5,5% e 4%, respectivamente. As oscilações refletem ajustes na oferta e demanda global, com destaque para o impacto do clima nas safras americanas. A volatilidade também está associada à expectativa de crescimento econômico mais fraco em algumas regiões. O cenário permanece instável para os próximos meses.
Estados Unidos
O governo americano iniciou a aplicação de novas tarifas recíprocas após o fim do prazo de 90 dias para negociação com parceiros comerciais. O objetivo é reduzir o déficit da balança comercial, com destaque para as tarifas sobre o cobre, que subirão para 50% a partir de agosto. Japão e Coreia do Sul, dois dos principais parceiros dos EUA, tiveram tarifas elevadas de 24% para 25%. O Brasil também foi afetado, com a taxa passando de 10% para 50%, o que o governo justificou por razões políticas e comerciais. A União Europeia será notificada em breve, e países não notificados enfrentarão tarifas entre 15% e 20%.
Além disso, o índice de otimismo das pequenas empresas caiu 0,2 ponto em junho, para 98,6, ainda abaixo da média pré-pandemia, refletindo incertezas econômicas. Pedidos de seguro-desemprego seguem baixos, com 227 mil solicitações semanais. A ata do Fed revelou que a maioria dos membros acredita em corte de juros ainda em 2025, mas não no curto prazo. O comitê avaliou que os juros atuais, entre 4,25% e 4,5%, estão adequados ao cenário de inflação elevada. Em linha com essa leitura, o Fed deve manter a política monetária restritiva por mais tempo, mesmo com sinais de desaceleração moderada na economia.
Brasil
A inflação ao consumidor segue pressionada: o IPCA avançou 0,24% em junho, superando as expectativas do mercado, e acumula alta de 5,35% em 12 meses, superando o teto da meta pelo sexto mês seguido. O Banco Central justificou o descumprimento da meta com base na atividade aquecida, inércia inflacionária e depreciação cambial. Apesar disso, o IGP-DI caiu 1,8% no mês, refletindo alívio nos preços no atacado, em especial do IPA agrícola e do núcleo do IPA industrial. No Focus, as projeções apontam inflação de 5,18% para 2025 e crescimento do PIB de 2,23%. A taxa Selic deve seguir estável em 15% até 2025, com queda gradual nos anos seguintes.
Do lado da atividade, os dados de maio vieram mistos. O volume de serviços cresceu 0,1%, mas ficou abaixo do esperado, enquanto o comércio varejista ampliado teve alta de 0,3% frente ao mês anterior. O setor de combustíveis recuou, enquanto hipermercados surpreenderam positivamente. A leitura consolidada dos indicadores aponta uma economia em desaceleração, com expectativa de crescimento mais fraco nos próximos anos. No setor externo, os EUA anunciaram tarifa de 50% sobre exportações brasileiras a partir de agosto, o que pode prejudicar a balança comercial. O governo brasileiro prometeu reagir com base na Lei de Reciprocidade Econômica.
No Diário de hoje, a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, comenta o aumento da aversão ao risco após Trump anunciar novas tarifas contra países como Japão e Coreia do Sul. O Ibovespa caiu 1,26%, aos 139 mil pontos, e o dólar subiu 1%, fechando a R$ 5,47. Nos EUA, o dólar ganhou força, o VIX subiu e as bolsas caíram. Hoje, destaque para vendas no varejo no Brasil e dados de crédito nos EUA.