Payroll e Powell movimentam os mercados

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[04/04/25]

… Mais um dia agitado para os mercados globais, com o payroll nos EUA, falas de dois Fed boys, inclusive de Powell. Uma agenda importante neste momento em que investidores aumentam as apostas em cortes mais profundos do juro americano, após as tarifas de Trump. Sobre o impacto do Liberation Day, que afundou Wall Street, as praças asiáticas e europeias, esperam-se, ainda, as reações dos países mais atingidos, que podem agravar a guerra comercial. Aqui, os ativos surfaram na sensação de que toda essa crise poderá ser positiva para o Brasil, uma leitura que sustentou o Ibov e derreteu o dólar e os juros futuros. Como destaque entre os indicadores domésticos, a expectativa é para a balança comercial de março, que será divulgada às 15h.

… Na semana passada, a queda das exportações acendeu o alerta e justificou o déficit das transações correntes. A previsão para o fechamento do mês é de um superávit de US$ 7,2 bilhões, na mediana das estimativas de pesquisa Broadcast.

… Para o payroll (9h30), o consenso dos analistas é de abertura de 137 mil novas vagas em março, desacelerando em relação aos 151 mil de fevereiro, com a taxa de desemprego estável em 4,1%, assim como o ganho médio por hora mensal, em 0,3%.

… Powell fala às 12h25 e se espera dele um discurso mais cauteloso do que o otimismo na entrevista do Fomc, quando defendeu a tese de que a inflação causada pelas políticas comerciais de Trump teria caráter “transitório”.

… Nas primeiras manifestações de dirigentes do Fed após o anúncio das tarifas, nesta 5ªF, a diretora Lisa Cook admitiu o alto nível de incertezas, afirmando que seria prudente manter os juros inalterados, e foi além com uma visão diferente do mercado.

… Enquanto o CME Group elevou as expectativas de um corte de 100pbs do juro este ano, Cook disse que os aumentos de preços relacionados a tarifas podem argumentar pela manutenção de uma postura restritiva por mais tempo.

… Mas, antecipando uma situação que o Fed poderá enfrentar mais à frente, ressalvou que tais aumentos também podem reduzir a renda pessoal e levar a menores gastos do consumidor. Neste caso, o socorro seria ao risco de uma recessão.

… Segundo Lisa Cook, “em meio à crescente incerteza e riscos para os dois lados do nosso mandato duplo [inflação e crescimento], eu acredito que é apropriado manter o juro, enquanto monitoramos os desdobramentos que podem mudar o cenário”.

… Mais cedo, o vice do Fed, Philip Jefferson, afirmou que “não há pressa para fazer mais ajustes na taxa de juros” e que a atual política está bem posicionada para lidar com os riscos e incertezas ao buscar ambos os lados do seu mandato duplo.

… Para hoje estão previstas as falas do vice-presidente de supervisão, Michael Barr (13h), e de Christopher Waller (13h45).

PESSIMISMO GERAL – Ninguém, à exceção de Trump e de sua equipe de governo, viu algo de positivo nas tarifas recíprocas, mas o estrago que poderão fazer na economia mundial e a desordem nas relações comerciais foi uma unanimidade.

… Algumas projeções, como a do JP Morgan, são assustadoras; o banco elevou o risco de recessão global para 60% em 2026.

… Para o Citi, foi muito pior do que o esperado, com impacto “desproporcional” sobre a Ásia e os países que compõem a rede de produção liderada pela China, numa ação que visa fechar rotas alternativas de exportação chinesa.

… Wells Fargo diz que as políticas de Trump vão acelerar a divisão do mundo em dois blocos: um liderado pelos EUA e outro pela China. E aponta para um possível cenário onde a Europa se tornaria um terceiro polo econômico.

… Os analistas do banco acreditam que a incerteza tarifária deve persistir por um período prolongado. “Mesmo com as possíveis concessões, as tensões comerciais continuarão moldando a economia global nos próximos anos.”

… Já o Goldman Sachs estima que as tarifas recíprocas devem tirar 1,7 pp, somada a alíquota de 20% aplicada em fevereiro.

… O tarifaço foi equiparado aos níveis da Grande Depressão pelo economista-chefe global da Coface, Jean-Christophe Caffet, que definiu a política de Trump como “completamente autodestrutiva”. “Vai gerar inflação, com risco de estagflação nos EUA”.

… Para a Fitch, a taxa tarifária americana foi elevada a nível visto pela última vez em 1909, para 25%, e transformará a economia global. A agência vê riscos “significativos” de recessão nos EUA, revisando a expectativa do PIB para menos de 1,7%.

… As estimativas iniciais da OMC sugerem que as medidas de Trump podem reduzir o comércio global em até 1% em 2025, e vê o risco de uma “guerra tarifária” de maiores proporções, com medidas retaliatórias que agravariam a queda.

… Para o FMI, as tarifas representam claramente um risco significativo para as perspectivas globais num momento de crescimento lento. A diretora-gerente, Kristalina Georgieva, apelou para que EUA e parceiros resolvam as tensões comerciais.

… Na América Latina, o México, altamente integrado à economia dos Estados Unidos, será um dos países mais impactados, com o PIB saindo de 1,5% em 2024 para 0,2% em 2025, na avaliação da CEO da Coface, Marcele Lemos.

… A presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que buscará diversificar o comércio do país com a União Europeia.

… Já o Brasil deve ser pouco atingido, segundo opinião consensual dos analistas, e isso virou uma festa no mercado (abaixo).

LULA – Em manifestação discreta e calculada, evitando o confronto, o presidente disse que o governo vai tomar “todas as medidas cabíveis” para defender o Brasil, as empresas e os trabalhadores da alíquota de 10% nas exportações brasileiras.

… Segundo ele, a atuação terá como referência a Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso e as diretrizes da OMC.

AS RESPOSTAS – A única retaliação concreta, nesta 5ªF, foi do Canadá, quando o primeiro-ministro, Mark Carney, anunciou tarifa de 25% sobre todos os veículos importados dos Estados Unidos que não estejam dentro do acordo USMCA.

… Carney classificou as medidas como ilegais e esclareceu que as novas tarifas canadenses não afetarão importações do México.

… Trump e seus asseclas já vinham ameaçando que os EUA podem aumentar as tarifas aos países que partirem para a retaliação.

… Mark Carney afirmou que o Canadá está reforçando laços com outros parceiros comerciais e disse que tinha falado com Claudia Sheinbaum (México), Olaf Scholz (Alemanha), Ursula Von der Leyen (UE), Keir Starmer (Reino Unido) e Macron (França).

… Outra iniciativa veio do presidente da Espanha, Pedro Sánchez, que anunciou um pacote de ajuda de 14,1 bilhões de euros às empresas para enfrentarem os impactos internos das tarifas de 20% sobre produtos da União Europeia.

… “As tarifas não são recíprocas. Ninguém sairá beneficiado. Por isso, pedimos mais uma vez que ele reconsidere. Nossa mão está estendida. Mas não ficaremos de braços cruzados. A UE reagirá com proporcionalidade, unidade e firmeza”, disse Sánchez.

… O governo do Japão também promete medidas de apoio às empresas e o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, questionou se as tarifas são “precisas” e “consistentes” com os acordos da OMC, pedindo que os EUA revisem as medidas.

… Já o presidente da França, Emmanuel Macron, foi mais duro na retórica, dizendo que as tarifas são “brutais e infundadas”, que são um “choque para o comércio internacional” e defendeu “retaliações massivas” contra os EUA.

… Macron alertou que, com as tarifas, a economia e os consumidores dos EUA “ficarão mais pobres e fracos” e destacou que as novas taxas de Trump podem “levar os países da Ásia a aumentarem suas exportações para a Europa”.

… Por fim, o governo do Reino Unido, agraciado com a tarifa mínima de 10%, disse que conversará com as empresas britânicas antes de definir sua resposta às medidas impostas pelos Estados Unidos.

ISENÇÃO DO IR – Warren Investimentos avalia que a proposta do PP com mudanças na compensação da nova faixa de isenção do IR aumenta o risco de não neutralidade fiscal da medida enviada pelo governo ao Congresso.

… Segundo seus economistas, a emenda do senador Ciro Nogueira tende a piorar a compensação defendida pelo Executivo. Além disso, atribui à União a obrigação de repassar recursos adicionais a Estados e municípios.

… A principal alteração no texto do PP está na elevação, de R$ 50 mil para R$ 150 mil/mês, do valor sobre o qual será cobrada a alíquota progressiva, com a tributação iniciando em 4% e chegando a 15% nos rendimentos superiores a R$ 1 bilhão/ano.

… A complementação para cobrir o custo da isenção a salários de até R$ 5 mil viria da redução linear de benefícios tributários.

PRECATÓRIOS – O debate prioritário do governo no segundo semestre será encontrar uma solução para o impasse fiscal em torno dos precatórios, segundo um interlocutor da equipe econômica ouvido pelo Broadcast.

… A partir de 2027, esses recursos deverão ser integralmente contabilizados dentro das regras fiscais e, por isso, a Fazenda quer equacionar o assunto neste ano e enviar o PLDO e o PLOA de 2027 com essas novas diretrizes.

MAIS AGENDA – Além da balança comercial à tarde, está prevista pela manhã (8h) a divulgação do IGP-DI de março, que deverá trazer deflação de 0,52%, segundo a mediana do Broadcast, após o resultado de 1% em fevereiro.

LEILÃO CANCELADO – MME deve anunciar hoje o cancelamento do leilão de reserva de capacidade previsto para dia 27 de junho, apurou o Broadcast. A motivação central é a “guerra judicial” entre grupos econômicos, segundo fontes do governo.

HADDAD – Ministro terá uma reunião nesta 6ªF (11h), em São Paulo, com o presidente da CVM, João Pedro Nascimento. Às 15h, encontra-se com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Josué Gomes.

NOS EUA – Como você viu acima, tem payroll (9h30), Powell (12h25), Michael Barr (13h) e Christopher Waller (13h45).

… Nada previsto na Zona do Euro. Na Ásia, um feriado deixou os mercados fechados na China Continental, Hong Kong e Taiwan.

UNIÃO EUROPEIA & JAPÃO – Reúnem-se hoje em Bruxelas (9h45, Brasília) para discutir o fortalecimento das relações bilaterais nas áreas de segurança e defesa, além de desafios globais como a guerra na Ucrânia e a situação no Oriente Médio.

DEBANDADA – US$ 2,5 trilhões. É o que a queda dos preços das ações em NY tirou do valor das empresas, no tarifaço de Trump.

… Tudo despencou – fabricantes de tênis e vestuário, bancos, techs, varejistas – depois que Trump lançou tarifas pesadas sobre países que são fornecedores cruciais para o mercado americano, como Taiwan, Vietnã e Indonésia.

… Termômetro do choque no mercado, o Vix, também conhecido por índice do medo, disparou 39,56%, a 30,02 pontos. Níveis acima de 30 são associados a maior incerteza, risco e medo dos investidores.

… Nas primeiras análises sobre o impacto da reorganização do comércio global sob Trump, o denominador comum é que as tarifas vão provocar mais inflação, menos consumo e baixo crescimento nos EUA. A economia mundial deve ser afetada.

… Wall Street viu uma debandada. O Nasdaq caiu 5,97% (16.550,61 pontos), levado pelas sete magníficas: Apple (-9,25%), Amazon (-8,98%), Meta (-8,96%), Nvidia (-7,81%), Tesla (-5,47%), Alphabet (-4,02%) e Microsoft (-2,36%).

… O setor de tecnologia, dependente de mão de obra e insumos asiáticos, tendem a ser um dos principais perdedores.

… O S&P 500 caiu 4,84% (5.396,54), maior baixa desde junho de 2020, no meio da pandemia, e entrou novamente em correção técnica. Nike derreteu 14%. Pelo mundo, foi uma derrota generalizada das bolsas, das asiáticas às europeias.

… À Barron’s, Rich Ross, chefe de análise técnica da Evercore ISI, afirmou que o fechamento do S&P 500 abaixo de 5.500 pontos abre portas para 5.150 e níveis abaixo disso. O mercado, disse, passou de uma “uma correção para uma situação de crise”.

… O Dow Jones recuou 3,98% (40.544,64 pontos).

… Na fuga dos ativos de risco, investidores correram para os Treasuries. O retorno da note de 2 anos desceu a 3,702%, de 3,863% na sessão anterior. O da note de 10 anos recuou a 4,043% (de 4,127%) e o do T-bond de 30 anos, a 4,481% (de 4,627%).

… Essa queima de prêmios nos títulos americanos também seguiu a lógica de que um menor crescimento nos Estados Unidos vai abrir espaço para cortes mais profundos de juros pelo Fed.

… Mas o cenário é tão incerto que, enquanto o Morgan Stanley acha que o Fed não cortará o juro este ano, por causa da inflação, estrategistas do Citi veem cinco cortes, totalizando 125pbs em 2025, por causa da economia.

… No Brasil, as taxas dos DIs derreteram, com alguns vértices queimando até 50pbs. De um lado, seguiram os Treasuries, de outro captaram o sentimento de que uma eventual queda de juros nos EUA abriria espaço para o fim do ciclo de aperto por aqui.

… Dólar e petróleo em baixas fortes, sinalizando alívio para a inflação, também pesaram e a precificação da curva a termo passou a mostrar aumento das apostas num ciclo mais brando da Selic e antecipação do início dos cortes.

… Segundo cálculos do Banco BMG, a curva mostra uma Selic terminal em 15,10% e, para o fim do ano, 14,95%. Também aponta probabilidade, ainda que residual, de corte em novembro.

… No fechamento após os ajustes na B3, o DI para Jan/26 caiu a 14,740% (de 15,01%); o Jan/27, a 14,375% (de 14,850%); o Jan/29, a 14,130% (de 14,610%) e o Jan/31, a 14,370% (de 14,775%).

… Embora momentos extremos de aversão ao risco costumem valorizar o dólar não foi o que se viu aqui e no mundo.

… O real foi destaque entre divisas de exportações de commodities com a moeda americana furando o piso de R$ 5,60 na mínima do dia (R$ 5,5934%), para fechar com queda de 1,20%, a R$ 5,6281.

… O índice DXY chegou a recuar 2,5%, mas chegou ao fim do dia com queda menor, ainda expressiva, de 1,67%, a 102,072 pontos.

… O euro subiu 1,53% (US$ 1,1019) e a libra, +0,75% (US$ 1,3083). O iene, ativo de segurança, subiu 1,9% (145,941/US$).

… No meio de tudo, o Ibovespa foi um capítulo à parte. Com o Brasil menos taxa do que outros parceiros comerciais importantes dos Estados Unidos, o índice passou ileso pelo banho de sangue visto nas bolsas globais.

… Até chegou a avançar ao longo do pregão, mas sem a ajuda de Vale e Petrobras acabou fechando estável (-0,04%), na marca dos 131.140,65 pontos. Ainda ficou no lucro. O giro foi forte, de R$ 28 bilhões.

… Com o Brent para junho em baixa de 6,42% (US$ 70,14 o barril) as ações de petrolíferas ficaram entre as maiores perdas.

… No setor, Petrobras ON (-3,53%; R$ 39,38) e PN (-3,23%; R$ 36,00) foram as que menos caíram. Brava Energia recuou 7,18% (R$ 21,06), Prio cedeu 6,95% (R$ 36,83) e Petrorecôncavo caiu 5,54% (R$ 15,70).

… Vale baixou 3,62% (R$ 54,87), apesar da queda até que discreta (-0,32%) do minério de ferro em Dalian.

… Bancos contrabalançaram as perdas. Bradesco PN (+1,92%; R$ 12,71) e ON (+1,88%; R$ 11,39), Itaú (+1,78%; R$ 31,97), Santander (+1,40%; R$ 27,53) e Banco do Brasil (+0,56%; R$ 28,51).

… Auren, com +7,58% (R$ 7,95), Magazine Luiza, +5,45% (R$ 11,80) e Iguatemi, +5,12% (R$ 19,52) lideraram as altas.

EM TEMPO… PETROBRAS informou que, no processo de licenciamento do bloco FZA-M-59 em águas profundas do Amapá, ainda há uma solicitação do Ibama por “informações detalhadas” sobre o Plano de Proteção à Fauna…

… O Ibama também questiona sobre a nova base de recuperação de animais em Oiapoque, naquele Estado.

PRIO. Produção total de petróleo atingiu 104,79 mil boepd em março, queda de 3,47% sobre fevereiro, com dados preliminares…

… Produção média de petróleo atingiu 108,1 mil boepd no 1TRI25, alta de 22,3% na base anual.

CARREFOUR elevou de R$ 7,70 para R$ 8,50 o valor do resgate de ação para fechamento de capital.

AGROGALAXY. Acionistas aprovaram grupamento de ações, na proporção de 15 para 1…

… Grupamento não altera o capital social da companhia, que permanecerá em cerca de R$ 1 bilhão, mas reduz número de ações em circulação de 254,5 milhões para 16,97 milhões.

RAÍZEN. Baillie Gifford Overseas Limited reduziu participação acionária na empresa para 9,91%, com 134.674.091 de papéis.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Mercados reagem mal às tarifas de Trump

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[03/04/25]

… Os futuros das bolsas de NY ontem à noite deram o primeiro sinal de que os mercados não gostaram nem um pouco das tarifas anunciadas por Trump no Liberation Day. As techs eram as ações que mais perdiam no after hours, com os 34% para a China e os 32% para Taiwan. A Apple, que fabrica os iPhones na Ásia, teve um tombo de 6%. Em seguida, os pregões asiáticos refletiam o baque, assim como os negócios na Europa, taxada em 20%. O Brasil ficou entre os menos atingidos, com a tarifa mínima de 10% a todos os parceiros comerciais dos EUA, mas o agronegócio já pressiona o governo para tentar reverter. Hoje, a expectativa é para as reações dos países, em especial, da China e da União Europeia, que podem determinar a proporção da guerra comercial.

… Em entrevista à Fox News, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que o governo observará a reação de Pequim, avisando que, “se quiserem retaliar, haverá uma escalada, pois Trump aumentará ainda mais as alíquotas”.

… Na primeira resposta, o Ministério do Comércio da China pediu a “revogação das medidas unilaterais”.

… As tarifas para a China e Taiwan foram consideradas “desconcertantes” pela Werbush, especializada em tecnologia, que alertou para a destruição da demanda e cadeias de suprimentos. “Foi pior do que o pior cenário que poderia vir do tarifaço.”

… Todas as fabricantes de chips têm exposição significativa às cadeias de suprimentos dos asiáticos, como a Nvidia (-4,3%).

… Ainda itens de pequeno valor importados da China e HK, com valor de até US$ 800 e que eram isentos, pagarão 30% do preço.

… A União Europeia deve se manifestar ainda hoje, assim como o Canadá que, embora não tenha sido incluído na lista das tarifas recíprocas, promete “contramedidas” às tarifas para o setor automotivo e o aço.

… Já ontem à noite, a Austrália disse que pedirá aos EUA que isentem o país do plano de Trump. Segundo o primeiro-ministro Anthony Albanese, “as tarifas não têm base lógica; uma tarifa recíproca seria zero e não 10%”.

… No after hours de NY, também as ações de fabricantes de agroquímicos caíram, como a Corteva (-5,5%), com receios de que o plano tarifário do presidente Trump possa causar mais turbulência do que ajudar o setor agrícola.

… O risco é de que as tarifas retaliatórias pressionem as cotações do milho, soja e outras commodities, prejudicando a capacidade dos agricultores americanos de investirem em sementes e pesticidas de alta tecnologia.

… Uma informação que causou alívio foi o esclarecimento da Casa Branca de que as tarifas recíprocas não serão cumulativas com as taxas recentes de 25% anunciadas para o aço, alumínio, carros e autopeças que já estão em vigor.

… Para o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, sem a cumulatividade das tarifas, o Brasil tem “total condições” de manter suas exportações para os EUA. O receio era de uma alíquota que chegasse a 35%.

… O que não está ainda esclarecido é se haverá alguma medida em relação ao etanol brasileiro, que não foi citado.

… Já a alíquota linear de 10%, apesar de mais baixa do que se cogitou, foi criticada pela Frente Parlamentar da Agropecuária. O deputado Pedro Lupion (PP) disse que os países têm realidades diferentes e que o Brasil tem déficit comercial com os EUA.

… Nota conjunta do Itamaraty e do MDIC acusou os Estados Unidos de violarem os compromissos que assumiu perante a OMC, e afirmou que avalia “todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral”.

… Pouco depois do anúncio das tarifas, a Câmara aprovou em votação simbólica a Lei da Reciprocidade, que dá base legal para o governo Lula contestar a imposição dessa alíquota. A matéria tinha passado na véspera no Senado.

… Em relatório, a consultoria britânica Capital Economics avaliou que “o golpe das tarifas recíprocas foi maior que o esperado”, com os cálculos apontando para uma tarifa média ponderada por importação de 19,1%.

… A Pantheon concorda que os anúncios de Trump foram muito maiores do que a maioria dos investidores previa e estima que o PCE, medida favorita do Fed para a inflação, pode sofrer um aumento acima de 1%, além da estagnação.

… A consultoria acredita que o Fed reduzirá o juro em 75pbs este ano e mais 75pbs em 2026 para compensar os danos tarifários. De madrugada, os juros dos Treasuries recuavam, enquanto o ouro batia máxima histórica e o petróleo caía (abaixo).

AFUNDOU – Foi muito negativa, a reação dos mercados nas horas seguintes ao anúncio do tarifaço. As variações falam por si.

… A primeira leitura foi a de que as tarifas podem colocar a economia americana em recessão, enquanto os preços sobem. Para alguns analistas, deve ficar mais comum falar de estagflação daqui para frente.

… Os futuros dos índices das bolsas em NY derreteram, com o Dow em queda de mais de 2%, o S&P 500 em baixa de 3% e o Nasdaq perdendo 3,5%. Os futuros de petróleo caíram em torno de 2,5%. A ordem foi sair do risco.

… A reação negativa provocou uma corrida para o ouro, visto como ativo seguro. A onça-troy quase bateu em US$ 3.200 na madrugada, na máxima de US$ 3.196, maior preço da história.

 … Investidores também foram buscar refúgio dos Treasuries, ainda mais porque a expectativa de um baque na economia eleva as chances de cortes de juro pelo Fed. O retorno da note de 2 anos caiu a 3,75% e, o da note de 10 anos, a 4,05%.

… Por aqui, o mercado de juros ainda estava aberto na B3 quando Trump anunciou a tarifa de 10% sobre importações de produtos do Brasil e a reação foi de ligeira queda nos vencimentos curtos e médios.

… A interpretação inicial é de que, ao receber a alíquota mínima, o Brasil saiu com vantagem comparativa no tarifaço.

… Como a questão é mais complexa, com a economia dos EUA podendo sair chamuscada do episódio e, talvez até a brasileira, a depender do impacto interno e das retaliações, o Ibov futuro caiu (-0,69%) e o dólar para maio subiu (+0,14%).

… Em NY, o EWZ, principal fundo de índice (ETF) do Brasil, fechou em queda de 1,11% no after hours.

… Houve forte baixa também nos principais ADRs de empresas brasileiras. O da Vale recuou 3,37%, o do Itaú Unibanco perdeu 1,63%, o do Bradesco cedeu 1,35% e o da Petrobras caiu 0,97%.

… No Valor, Matias Spektor (FGV) ponderou que, com os EUA mais fechados à China, fabricantes do país e de outros asiáticos, os mais atingidos pelo tarifaço, vão inundar outros mercados e o Brasil deve ser um dos alvos. 

… “A China tem uma capacidade muito importante de pressionar o Brasil”, disse. A reação dos mercados asiáticos na abertura de hoje foi bem ruim. Em Taiwan, uma das mais atingidas pelas tarifas, o feriado deixou os mercados financeiros fechados.

… No fechamento de ontem, o juro do DI para janeiro de 2026 cedeu a 14,980% (de 15,005%); o Jan/27, a 14,795% (de 14,855%); o Jan/29, a 14,575% (de 14,595%); o Jan/31, a 14,750% (de 14,720%); e o Jan/33, a 14,780% (de 14,740%).

… As taxas abriram em queda depois de a produção industrial de fevereiro no Brasil (-0,1%) vir abaixo do esperado (+0,2%), mais um dado a apontar desaceleração na economia. Depois, subiram com os Treasuries, para terminar em baixa após o tarifaço.

… Os dados acima do esperado da pesquisa ADP e das encomendas à indústria tinham dado uma animada no dia.

… O setor privado dos Estados Unidos criou 155 mil empregos em março, acima de 123 mil previstos, e as encomendas à indústria americana cresceram 0,6% em fevereiro ante janeiro, ante expectativa de +0,5%.

… No pregão regular do Ibovespa, o dia foi de muita volatilidade com o mercado à espera das tarifas, com o fechamento do índice estável (+0,03%), a 131.190,34 pontos. Em NY, houve muito sobe e desce, mas as bolsas fecharam no azul.

… O Dow Jones subiu 0,56%, a 42.225,32 pontos; o S&P 500 avançou 0,67% (5.670,97) e o Nasdaq ganhou 0,87% (17.601,05).

… Tesla, que chegou a cair mais de 6% no dia, fechou com alta de 5,4% com rumores de que Elon Musk deixará o governo Trump para se concentrar nas suas empresas. A Casa Branca disse que ele só sairá quando terminar o trabalho no DOGE.

… O dólar fechou em alta ante o real (+0,25%, a R$ 5,6967), mas abaixo da linha de R$ 5,70 – em um movimento de busca de proteção por investidores locais. Em alta contra emergentes, a moeda americana perdeu terreno para o euro e a libra.

… A moeda comum subiu 0,59%, a US$ 1,0853, e a divisa britânica avançou 0,54%, a US$ 1,2985. O iene ganhou 0,61%, a 148,717/US$. Na média contra seis pares, o dólar (DXY) caiu 0,43% e furou os 104 pontos, a 103,807.

… Em meio à cautela, as blue chips do Ibovespa recuaram, na contramão de suas respectivas commodities. Petrobras ON caiu 0,51% (R$ 40,82) e PN, -0,27% (R$ 37,20). Vale caiu 0,45% (R$ 56,93). Já os bancos sustentaram o sinal positivo.

… Santander teve elevação de 1,69%, a R$ 27,15. Bradesco PN avançou 0,24% (R$ 12,47), Banco do Brasil (+0,07%) e Itaú (+0,03%) fecharam estáveis. A exceção foi Bradesco ON, com baixa de 0,36%, a R$ 11,18.

… CSN (-5,71%) liderou as perdas, seguida de Brava Energia (-2,78%), CSM Mineração (-2,45%) e Metalúrgica Gerdau (-1,84%).

… O Grupo Pão de Açúcar disparou 15,84%, com expectativa por mudanças em seu conselho de administração. Magazine Luiza subiu 7,08% (R$ 11,19) e Vamos ganhou 7,00% (R$ 4,74) e também foram destaques.

AGENDA – Indicadores mais fracos no Brasil, nesta 5ªF, com o PMI Composto e de Serviços de março da S&P Global (10h), que em fevereiro registrou 51,2 pontos, e os emplacamentos de veículos da Fenabrave em março (11h).

… O presidente Lula e ministros participam no Palácio do Planalto do evento ‘O Brasil dando a Volta por Cima’, sobre entregas do governo nos dois primeiros anos de mandato (10h).

… No Estadão, a última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou mais uma queda vertiginosa na aprovação de Lula, surpreendeu e preocupou o Planalto. Assessores começam a desconfiar que o problema não é só de comunicação.

… Às 11h, o Tesouro faz leilão de LTN para 1º/10/25, 1º/4/27, 1º/1/29 e 1º/1/32 e de NTN-F para 1º/1/31 e 1º/1/35.

… Lá fora, divulgam índices PMI Composto e de Serviços a Alemanha, Zona do Euro e Reino Unido. Ainda na Zona do Euro, sairá hoje (8h30) a ata da última reunião de política monetária.

… Nos EUA, os novos pedidos de auxílio-desemprego têm previsão de manter a média da semana anterior (+224 mil), com o total somando 1,866 milhão. Os dados serão divulgados às 9h30.

… Também às 9h30, sai a balança comercial americana de fevereiro, com previsão de déficit de US$ 121,4 bilhões.

… São importantes o PMI de serviços da S&P Global (10h45) e PMI de serviços do ISM (11h) – ambos de março.

… Dois Fed boys têm falas previstas: Philip Jefferson (13h30) e Lisa Cook (15h30) – os primeiros após o anúncio das tarifas.

EM TEMPO… Para o Santander, EMBRAER é a empresa brasileira mais exposta às tarifas dos EUA; TUPY e WEG são segunda e terceira brasileiras mais expostas, segundo o banco.

EMBRAER entregou 30 aeronaves no 1TRI, alta de 20% em relação ao mesmo trimestre de 2024.

CEMIG. Cemig Distribuição anunciou 13ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,5 bilhão.

CLEARSALE. AGE aprovou cancelamento de listagem na B3.

BTG PACTUAL. Em resposta à CVM, o banco informa que nunca fez proposta para aquisição de ativos ou participação no capital social do Banco Master. Divulgado ontem à noite.

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BDM Morning Call: Chegou o dia

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[02/04/25]

… O presidente Trump deve anunciar as tarifas recíprocas no evento Make America Wealthy Again, previsto para as 17h (de BSB), informou a Casa Branca. Faltando poucas horas para o show do Liberation Day, ainda não se sabe o que virá. Várias opções estão na mesa, entre as quais, tarifas distintas para cada parceiro comercial dos EUA, uma alíquota universal de 20% a todos os países e uma sobretaxa menos elevada para um subgrupo de países. Sob forte expectativa e apreensão, os mercados se mantêm na defensiva. Na agenda dos indicadores, destaque para mais um dado do emprego americano antes do payroll (6ªF), pesquisa ADP, com a criação de vagas no setor privado em março, e os números da produção industrial no Brasil em fevereiro.

… Ao que tudo indica, o presidente Trump planeja um espetáculo midiático; a porta-voz do governo, Karoline Leavitt, disse no breafing aos jornalistas que o dia 2 de abril será “uma das datas mais marcantes da história moderna”.

… Ela também antecipou que as tarifas recíprocas e sobre automóveis entrarão em vigor amanhã, no dia 3 abril.

… “O presidente já fez a sua cabeça sobre as tarifas, mas está sempre aberto para receber ligações”, disse Leavitt, afirmando que alguns poucos países foram convocados para conversar. Mais um sinal de que haverá (ou já está havendo) negociações.

… Israel, por exemplo, se antecipou, anunciando a eliminação de todas as tarifas sobre importações de bens dos Estados Unidos, nesta 3ªF. A decisão foi comunicada pelo gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

… Também autoridades do Reino Unido já conversaram com os EUA e o primeiro-ministro Keir Starmer, que tem boa relação com Trump, prometeu uma abordagem “calma e pragmática”, sem “reação precipitada” ao que for anunciado.

… Já o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, confirmou que implantará medidas retaliatórias contra os EUA se houver novas sanções e tarifas. Disse que suas ações “terão impacto mínimo para os canadenses e máximo para os americanos”.

… O Swissquote Bank espera hoje um anúncio “exagerado, exaustivo, barulhento e nervoso, para provocar temor e concessões”.

… Para o banco suíço, tarifas mais “razoáveis” do que se teme podem trazer alívio aos mercados. Mas medidas “irracionais”, como as tarifas de 200% ameaçadas contra bebidas alcoólicas europeias, aprofundariam a turbulência global.

… Reportagem do Washington Post relatou no início do dia que assessores de Trump elaboraram uma proposta que impõe tarifas de 20% à maioria das importações. A equipe pretende usar trilhões de dólares em novas receitas para cortar impostos.

… Já no fim da tarde, a Dow Jones apurou que uma nova opção estaria sendo preparada para o presidente na véspera do anúncio: uma tarifa geral sobre um subconjunto de nações que provavelmente não seria tão alta quanto a opção universal de 20%.

… Segundo essas fontes, ainda não está claro qual opção Trump escolherá e pessoas familiarizadas com o planejamento enfatizam que as discussões continuam, apesar de o presidente ter dito na noite de 2ªF que já havia “definido” um plano.

… Não só os países, mas as empresas que podem ser atingidas esperam pelas tarifas e podem reagir.

… Na Bloomberg, a Mercedes-Benz está considerando retirar seus carros mais baratos dos EUA porque as tarifas de automóveis provavelmente tornariam suas vendas inviáveis, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

… A montadora não tomou uma decisão final e ainda pode mudar de curso dependendo de como as taxas forem implementadas.

O RISCO PARA O BRASIL – Em relatório, o BTG avaliou que o Brasil será afetado se Trump aplicar tarifas generalizadas a setores específicos da economia, mas pode se livrar se a taxação incluir apenas países que têm grandes déficits com os EUA.

… A tarifa média ponderada pelo volume de importações do Brasil é cerca de 5,8%, contra cerca de 1,3% dos EUA. Já em relação às barreiras não tarifárias, o País tem um índice de BNT de 86%, acima dos EUA (77%) e da média internacional (72%).

… Em um cenário de tarifa média similar que o Brasil impõe aos EUA (5,8%), o BTG estima uma perda de cerca de US$ 3 bilhões na balança comercial, podendo ultrapassar US$ 10 bilhões em 2026, no caso de tarifa linear de 25%.

… As barreiras sanitárias e fitossanitárias do Brasil equivalem a tarifas médias de 20% a 40%, dependendo do setor. O risco, diz o BTG, é a imposição de tarifas muito acima da média tarifária brasileira (5,8%) para compensar barreiras regulatórias.

… Se o Brasil for obrigado a reduzir barreiras não tarifárias, setores intensivos em uso de insumos básicos e aqueles relacionados ao vestuário, maquinário e produtos semimanufaturados seriam os mais pressionados e potencialmente prejudicados.

ETANOL NA MIRA – O relatório do USTR sobre barreiras comerciais divulgado nesta semana pelo governo do presidente Trump reforçou a relevância que o etanol tem e terá nas negociações comerciais com o Brasil.

… Embora o relatório repita as reclamações americanas dos últimos anos, o temor agora é de que sirva de pretexto para elevação unilateral de tarifas, disse ao Broadcast o sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados, Welber Barral.

… A tarifa aplicada sobre o etanol norte-americano é a reclamação mais clara dos EUA, da qual o Brasil não deve ter escapatória se quiser negociar com o governo Trump para reverter um eventual um tarifaço agressivo.

… O setor privado espera que o governo brasileiro não suba demasiadamente o tom se o País for atingido diretamente, avaliando que o País precisará ter frieza para reagir, antes analisando os impactos e depois partindo para a negociação com os EUA.

… É consenso que estudar uma alternativa para o pleito antigo dos americanos para a redução do imposto de importação sobre o etanol dos EUA é uma necessidade, se o Brasil quiser permanecer à mesa com os americanos.

… O Brasil cobra 18% sobre o produto americano, enquanto a tarifa cobrada para o etanol brasileiro que entra nos EUA é de 2,5%.

… O relatório do USTR também cita “tarifas relativamente altas do Brasil sobre importações de automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, máquinas industriais, aço e têxteis e vestuário.

ALCKMIN – O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que o Brasil deve aguardar o anúncio de Trump sobre o plano tarifário para decidir qual será a linha de ação do governo.

… Classificou como “importante” o relacionamento com os EUA, “para onde exportamos mais produtos de valor agregado”. Mais uma vez, Alckmin disse que a disposição do Brasil é estar aberto ao diálogo e fortalecer o comércio exterior.

… O vice-presidente louvou a iniciativa do Senado de aprovar o PL da Reciprocidade, mas voltou a destacar que o caminho diante da política tarifária do governo norte-americano é o de buscar negociação e a complementariedade econômica.

… Ao Valor, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, foi na mesma linha, afirmando que o Brasil prefere o caminho da negociação para evitar ser atingido pelo “tarifaço” que o presidente Trump anunciará hoje.

… Segundo ele, caso as conversas fracassem, o governo brasileiro adotará medidas de retaliação, mas sem dar um “tiro no pé”.

… O próprio presidente Lula mudou a conversa nas últimas semanas, poupando as críticas e passando a defender o diálogo.

TARIFAS, JUROS E RECESSÃO – O mercado em NY ampliou as suas apostas de queda dos juros americanos e já espera um corte de 100pbs neste ano, embora a redução de 75pbs ainda seja vista como a mais provável no CME Group, com 33%.

… O temor de uma recessão nos Estados Unidos, como resultado das tarifas de Trump, justificam as novas expectativas (abaixo).

… Para Thomas Barkin (Fed/Richmond), a política comercial da Casa Branca deve apresentar desafios para a inflação e o mercado de trabalho. Segundo ele, o mercado de títulos, cada vez, sinaliza riscos de recessão.

… “Estamos todos na neblina”, disse Barkin, admitindo que as incertezas dificultam a perspectiva da política monetária.

… À noite, Austan Goolsbee (Fed/Chicago) afirmou à Fox News que a confiança está “quase se desintegrando”, que a incerteza está associada ao medo da inflação. “Há temores de que as tarifas aumentem além das importações e afetem outros custos.”

… Para a Capital Economics, a queda no PMI/ISM industrial dos EUA em março, nesta 3ªF, mostra que a estagflação está no ar. A consultoria apontou o salto no índice de preços pagos como uma preocupação com as tarifas.

… Os três principais subíndices do PMI tiveram quedas significativas em março, incluindo produção (48,3) e emprego (44,7).

… Também o ING alertou em nota o risco que as perspectivas de retaliação estrangeira significarão para as cadeias de oferta. O banco observa que, além do PMI/ISM, o relatório de Jolts veio mais fraco que o esperado.

… Já a Pantheon Macro avalia que, apesar do enfraquecimento na demanda por mão de obra, o nível ainda não é consistente com uma recessão. Mas não descarta que um declínio maior “provavelmente” ocorrerá mais adiante.

MAIS AGENDA – A produção industrial (9h), indicador mais importante no Brasil, tem estimativa de um crescimento de 0,20% em fevereiro, após a estabilidade registrada em janeiro, segundo a mediana apurada em pesquisa Broadcast.

… Economistas atribuem a leve expansão a uma correção estatística, que se segue aos recuos dos últimos três meses de 2024.

… Logo cedinho, o IPC-Fipe de março deve avançar a 0,63%, acelerando sobre o resultado de fevereiro (0,51%), com a pressão dos grupos de Alimentação (com alta do tomate, batata, aves e ovos) e Habitação (reajuste de energia elétrica).

… Às 8h, a FGV divulga o IPC-S das Capitais de março; na 3ª quadrissemana, o índice desacelerou em todas as sete cidades.

… Às 14h, saem as vendas de máquinas e equipamentos da Abimaq em fevereiro e, às 14h30, o fluxo cambial semanal.

BC – Faz evento o dia todo para celebrar 60 anos, com as presenças de Gabriel Galípolo, diretores, do presidente Lula (14h30), do ministro Haddad (de volta de Paris) e de ex-presidentes da autarquia, que participam de painéis.

LÁ FORA – Mais um indicador de emprego, com a pesquisa ADP de março (9h15), será divulgado nos Estados Unidos com a criação de vagas no setor privado, com o consenso de +122,5 mil, bem acima dos 77 mil de fevereiro.

… Às 11h, saem os pedidos de encomendas à indústria americana, que podem crescer 0,5% em fevereiro (+1,7% em janeiro).

… Às 11h30, o DoE informa os estoques semanais de petróleo nos Estados Unidos, com previsão de queda de 700 mil barris.

… Às 17h30, a diretora do Fed Adriana Kugler discursa sobre expectativas de inflação e política monetária.

… À noite, Japão (21h30) e China (22h45) divulgam os índices PMI do setor de serviços em março.

TIKTOK – No mesmo dia das tarifas, a CBS informa que Trump considerará uma proposta final para o TikTok nesta 4ªF. O governo finaliza planos para investidores que podem incluir a Blackstone e Oracle, além de uma longa lista de outros investidores.

… Trump estabeleceu um prazo até sábado, 5 de abril, para que a empresa controladora chinesa do TikTok, a ByteDance, venda a sua participação no aplicativo ou, potencialmente, enfrente uma proibição no mercado americano.

CLIMÃO – Na véspera do dia D das tarifas, dados fracos de indústria e emprego nos Estados Unidos reforçaram a percepção dos mercados de que a política comercial de Trump pode prejudicar a economia americana.

… Como tem acontecido nas últimas semanas, o clima de cautela só aumentou entre os investidores.

… Inicialmente, os números derrubaram as bolsas em NY, que, no fim do dia, conseguiram se recuperar diante da leitura de que o Fed poderá ter mais motivos para cortar juro este ano, o que beneficia os ativos de risco.

… Os rendimentos dos Treasuries caíram, com os traders aumentando suas apostas na flexibilização da política monetária.

…  No monitoramento da CME Group, cresceu a expectativa para um corte total de 100 pontos-base em 2025, de 16% para 26%, embora a chance de 75 pontos-base ainda seja majoritária (33,7%).

… Enquanto isso, Ibovespa, real e DIs continuaram a se beneficiar do fluxo estrangeiro, na esteira da rotação global de ativos. Os juros voltaram a se distanciar de 15% e o dólar voltou a valer menos de R$ 5,70.

… O dado mais preocupante nos EUA ontem foi a queda do PMI industrial medido pelo ISM, que passou a mostrar contração do setor, com leitura de 49 em março, de 50,3 em fevereiro e abaixo da projeção, de 49,5.

… Segundo a Pantheon, o PMI teria caído mais não fosse um aumento de 3,5 pontos no subíndice de estoques, que pode indicar um movimento de antecipação do setor industrial americano ao anúncio das tarifas.

… No mercado de trabalho, o relatório Jolts informou que o número de vagas em aberto nos Estados Unidos somou 7,56 milhões em fevereiro, abaixo das 7,76 milhões em janeiro, e aquém do consenso de 7,63 milhões.

… É quase um milhão de vagas a menos que em fevereiro/24, quando havia 8,445 milhões postos à espera de candidatos.

… Divulgados os dados, o S&P 500 chegou a cair mais de 1%, mas recuperou-se à tarde para fechar com alta de 0,38% (5.633,07).

… Com retomada das techs depois de um recuo forte na véspera, o Nasdaq subiu 0,87% (17.449,89 pontos), enquanto o índice Dow Jones terminou o dia estável (-0,03%), aos 41.989,96 pontos.

… Nos Treasuries, o rendimento note de 2 anos caiu para 3,871% (de 3,886%, na sessão anterior); o da note de 10 anos cedeu a 4,166% (de 4,206%) e o do T-bond de 30 anos recuou a 4,528% (4,575%).

… Na contagem regressiva para o anúncio das tarifas dos EUA, o dólar frente aos pares não saiu do lugar. O índice DXY (+0,05%), aos 104,260 pontos, passou o dia perto da estabilidade, oscilando entre pequenas baixas e altas.

… O euro caiu 0,29%, a US$ 1,0789, e a libra esterlina ficou estável (-0,07%), em US$ 1,2915. O iene subiu 0,20%, a 149,635/US$.

… Por aqui, o dólar à vista fechou em baixa de 0,40%, a R$ 5,6824, acompanhando outras moedas emergentes, beneficiadas pela busca de ativos mais rentáveis pelo investidor estrangeiro.

… Na B3, os juros futuros engataram novo dia de queda, novamente influenciados pelo exterior e turbinados pela queda do dólar ante o real. A forte demanda pelos leilões de LTF e NTN-B, mesmo com risco maior, ajudou a tirar prêmio da curva.

… No fechamento, o juro do Jan/26 caía a 15,005% (de 15,015% na sessão anterior); o Jan/27 cedia a 14,855% (de 14,930%); o Jan/29, a 14,595% (de 14,175%); o Jan/31, a 14,720% (de 14,860%); e o Jan/33, a 14,740% (de 14,870%).

… O Ibovespa terminou a primeira sessão de abril em alta (+0,68%; 131.147,29 pontos), apoiado na valorização de ações ligadas a commodities, mas o índice perdeu força ao longo do dia, quando chegou perto dos 132 mil pontos, na máxima.

… Seguindo a alta de 1,86% no minério de ferro em Dalian, Vale subiu 0,86% (R$ 57,19). A ação também foi influenciada pelo anúncio de acordo da mineradora com a GIP para estabelecer uma joint-venture na Aliança Geração de Energia.

… Petrobras ON registrou +0,51% (R$ 41,03) e PN, +0,38% (R$ 37,30), a despeito da queda de 0,37% no Brent/junho (US$ 74,49).

… Bancos foram em direções distintas. Banco do Brasil (+0,50%; R$ 28,33), Bradesco ON (+0,54%; R$ 11,23) e Itaú Unibanco (+0,03%; R$ 31,40) ficaram no azul. Bradesco PN caiu 0,16%, a R$ 12,46, e Santander cedeu 0,07%, a R$ 26,70.

… Destaques de alta foram Assaí, +5,57% (R$ 7,96); Telefônica, +4,96% (R$ 52,30) e Localiza, +4,50% (R$ 35,10). Na outra ponta ficaram Natura (-7,91%; R$ 9,20), Braskem (-3,45%; R$ 10,62) e Azul (-2,74%; R$ 3,20).

EM TEMPO… BANCO MASTER registrou lucro líquido de R$ 1 bilhão em 2024, ante R$ 532 milhões em 2023; patrimônio líquido encerrou 2024 em R$ 4,7 bilhões, alta de 104%…

… Banco tem R$ 7,6 bilhões para honrar em CDBs com vencimento até junho; até o fim do ano, o Master tem compromissos que somam R$ 12,4 bilhões para honrar em CDBs.

JBS concluiu a aquisição de 50% das ações com direito a voto da Mantiqueira.

PETROBRAS vai se reunir com a categoria dos petroleiros nesta 4ªF para discutir regras de teletrabalho e bônus, segundo a FUP.

BRF. Conselho de Administração aprovou por unanimidade nomeação do advogado Heraldo Geres para o cargo de vice-presidente do Jurídico Brasil, Tributário, Gente e Compliance.

TELEFÔNICA aprovou distribuição de R$ 204 milhões em JCP, R$ 0,1258/ação, com pagamento até 30/4/26; ex em 12/4/25.

GPA recebeu cartas dos acionistas Casino Guichard Perrachon e Ronaldo Iabrudi dos Santos Pereira manifestando apoio ao pedido de convocação de AGE e às propostas do fundo de investimento Saint German, do empresário Nelson Tanure…

… A gestora Trustee DTVM, responsável pelo Saint German, solicitou no último domingo (30) a convocação de AGE para destituir o atual Conselho de Administração e eleger uma nova composição para o órgão.

CASAS BAHIA informou que Michael Klein atingiu posição equivalente a 10,42% em ações de emissão da companhia.

AEGEA cotou bancos para buscar IPO a partir do fim do ano, segundo fontes do Broadcast

… Empresa buscará levantar ao menos R$ 8 bilhões na oferta; recursos deverão ser usados para fazer frente a investimentos.

NEOENERGIA PERNAMBUCO fará a 16ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, com garantia adicional fidejussória, em série única e no valor de R$ 700 milhões.

UNIDAS anunciou a segunda emissão de notas comerciais escriturais, em série única, no montante de R$ 200 milhões. Serão 200 mil notas comerciais, com valor unitário de R$ 1.000 e vencimento em 28 de março de 2028.

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