Trump recua em tarifas para techs
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[14/04/25]
… A semana é mais curta com a Sexta-Feira Santa, que fecha os mercados também na Europa e nos EUA. Aqui, o investidor emenda com o feriado da 2ªF, 21 de abril. A agenda doméstica é esvaziada, com destaque apenas para a proposta do Orçamento de 2026, que será enviada ao Congresso nesta 3ªF. Lá fora, o BCE anuncia decisão sobre juros (5ªF) e a China divulga o PIB, amanhã à noite. Em NY, a 4ªF é o dia mais importante, com vendas no varejo e uma fala de Powell, que concentrará as atenções em meio às idas e vindas de Donald Trump sobre as tarifas. Em Wall Street, Goldman Sachs divulga balanço antes da abertura e, na Argentina, o peso enfrenta sua prova de fogo.
… No fim da tarde de 6ªF, o ministro da Economia argentino, Luís Caputo, anunciou o fim do limite para que as pessoas físicas comprem dólares pela cotação oficial, que flutuará dentro da banda que tem como piso 1.000 pesos e como teto 1.400 pesos por US$ 1.
… As empresas também poderão transferir dividendos para o exterior sem limites no exercício 2025 com o novo sistema cambial.
… A banda do dólar oficial será reajustada à taxa de 1% ao mês e o relaxamento nos estritos controles cambiais da Argentina, que datam de 2019, era uma exigência para o governo obter um novo empréstimo de US$ 20 bilhões do FMI.
… Na primeira reação, os investidores comemoraram a eliminação da maior parte dos controles como um grande passo para o país voltar aos mercados internacionais de dívida. O ETF Global X MSCI Argentina subiu mais de 5% no pós-mercado.
… Ao anunciar a remoção dos controles cambiais, Caputo insistiu que “não se tratava de uma desvalorização”, mas há um consenso entre os analistas de que haverá uma desvalorização do peso, que pode cair em direção à cotação da taxa do câmbio paralelo.
… Na 6ªF, essa taxa era de 1.375 pesos por dólar, em comparação com a taxa oficial de 1.097 pesos. Alguns especialistas esperam uma desvalorização inicial em torno de 20% a 25%, e já levantam questionamentos sobre um choque da inflação no 2Tri.
… Ao Valor, uma fonte do mercado disse que, “se o efeito dos anúncios for uma corrida à segurança do dólar, os créditos do FMI ficarão longe de serem suficientes”. O FMI desembolsa nesta 2ªF uma parcela inicial de US$ 12 bilhões à Argentina.
… Nos EUA, Trump promete (mais) novidades para hoje, após ter surpreendido na 6ªF à noite com a decisão de suspender as tarifas para smartphones, PCs, servidores e outros produtos de tecnologia, a maioria deles montados na China.
… Na verdade, nem foi o presidente quem fez o anúncio, e, sim, a Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos que divulgou uma lista de produtos isentos da última rodada de tarifas sobre as importações do país.
… Entre os favorecidos estão Apple, Nvidia, Dell e HP, entre outras big techs, que vinham pressionando a Casa Branca, e que agora não terão mais que pagar 145% para os produtos chineses, mas apenas a primeira taxa de 20% aplicados contra o fentanil.
… As exceções abrangem um valor de US$ 385 bilhões em importações de 2024 – ou 12% do total – e incluem US$ 100 bilhões da China, ou 23% das importações em 2024. Para esses eletrônicos, a alíquota média do imposto passou de 45% para 5%.
… A maior isenção global é a categoria que inclui PCs e servidores, com US$ 140 bilhões em importações em 2024, 26% da China. A maior categoria isenta de produtos chineses é a de smartphones, com US$ 41 bilhões em importações em 2024, 81% do total.
… O recuo de Trump com as techs bateu em Xi Jinping, que não perdeu a chance de faturar.
… “Esse é um pequeno passo dos Estados Unidos para corrigir sua ação equivocada de ‘tarifas recíprocas’ unilaterais”, disse o Ministério do Comércio da China em um comunicado publicado em sua conta oficial do WeChat no domingo.
… A nota continua, instando os EUA a “darem um grande passo para abolir completamente a ação errônea e retornar ao caminho correto de resolver as diferenças por meio do diálogo igualitário baseado no respeito mútuo”.
… Coube ao secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, dar as explicações, afirmando que as novas tarifas de smartphones e computadores são “temporárias” e que “esses produtos serão incluídos no setor de semicondutores, em um ou dois meses”.
… Sem dar mais detalhes, afirmou que um aviso será publicado no registro federal ainda esta semana.
… Já Trump saiu falando grosso em sua plataforma de mídia social, dizendo que “NINGUÉM está fora de risco”, que está analisando os semicondutores e “TODA A CADEIA DE SUPRIMENTOS DE ELETRÔNICOS e não seremos reféns de nações hostis como a China”.
… No sábado, ele já havia dito a repórteres no Air Force One que “vamos ser muito específicos na 2ªF”.
OS PREÇOS VÃO SUBIR – O recuo para a importações das techs não alivia a pressão de outros preços do varejo americano, que já estão alertando para uma torrente de aumentos e para a falta de produtos já neste mês, segundo reportagem do Financial Times.
… De acordo com o centro de pesquisa de políticas Budget Lab, da Yale University, algumas lojas se preparam para reajustar seus preços nas próximas duas semanas, diante das tarifas de até 145% para a China, que elevarão seus custos.
… A expectativa é de que esse movimento agravará a inflação persistente que já obrigou muitos consumidores a limitarem seus gastos.
… As primeiras mudanças devem ser sentidas nos corredores de hortifrutigranjeiros dos mercados. Os EUA importam 59% das frutas frescas e 35% dos vegetais que os americanos consomem, de acordo com o Departamento de Agricultura.
… Os varejistas ampliaram seus estoques de roupas e brinquedos e é possível que o consumidor só sinta algum impacto nas prateleiras desses produtos na volta às aulas, no outono. Mas se o consumidor antecipar as compras isso pode levar a aumentos mais rápidos.
EM WALL STREET – Ainda no Financial Times, as tarifas de Trump estão atingindo a confiança dos investidores no ativos americanos pela primeira vez, buscando ações em outros mercados e deixando de acreditar nos títulos do Tesouro e no dólar.
… “Eles estão perdendo o brilho do domínio hegemônico global de que desfrutam há décadas. A confiança desapareceu, ou pelo menos enfraqueceu significativamente, e é difícil imaginar o que poderá trazê-la de volta enquanto Trump estiver na Casa Branca.”
… Segundo a reportagem, o mercado de ações americano carrega risco político pela primeira vez. Os títulos da dívida dos EUA não agem mais como se fossem verdadeiramente isentos de risco. O dólar não está se comportando como um ímã durante períodos de estresse.
… O FT encerra com uma sombria conclusão: “Aconteça o que acontecer, os mercados americanos carregarão uma cicatriz duradoura”.
AGENDA – É bem fraca a pauta dos indicadores no Brasil, prevendo apenas o IGP-10 de abril amanhã (3ªF), além dos dados semanais do fluxo cambial (4ªF) e, hoje, a pesquisa Focus hoje (8h25) e os números semanais da balança comercial (15h).
… Os diretores do BC Diogo Guillen e Nilton David têm reunião trimestral com economistas do mercado (9h30).
… Em Brasília, os feriados da Páscoa e de Tiradentes esvazia o Congresso, com os parlamentares em suas bases eleitorais. Na Câmara, as sessões plenárias serão virtuais, mas sem votações de impacto. No Senado, não haverá sessões de plenário.
… Está confirmado, no entanto, o encaminhamento ao Legislativo da proposta do governo para o Orçamento de 2026 amanhã (15), que deve prever o retorno do superávit primário no ano que vem, com uma meta de 0,25% (ante 0% deste ano).
… Também não há previsão de julgamentos em plenário no Supremo Tribunal Federal.
… O presidente Lula viaja hoje para o Rio de Janeiro, onde participa da inauguração do novo Campus da Universidade Federal Fluminense, em Campos dos Goytacazes. Amanhã estará em Paracambi e em Rezende (RJ), para uma agenda com a montadora Nissan.
LÁ FORA – A reunião do BCE (5ªF) ocorre em meio a um cenário de grandes incertezas com a política tarifária de Trump. Em meio à tensão comercial, diversos dirigentes da instituição mostraram sinais divergentes em seus pronunciamentos públicos.
… Parte deles defende uma nova queda dos juros, enquanto outros são favoráveis a uma pausa no ciclo de flexibilização monetária.
… Nos EUA, os investidores esperam a fala de Powell (4ªF), como uma oportunidade para ajustarem suas apostas aos juros americanos. O mercado está sendo avisado que não há pressa e o mais apropriado é esperar até que o cenário das tarifas fique mais claro.
… Além de Powell, vários Fed boys têm falas previstas nesta semana, a começar de quatro dirigentes hoje: Tom Barkin/Richmond (13h), Christopher Waller (14h), Patrick Harker/Philadelphia (19h) e Raphael Bostic/Atlanta (20h40).
… Entre os indicadores, os destaques são os dados da atividade econômica, sobretudo as vendas no varejo de março (4ªF), uma vez que a confiança e o sentimento do consumidor americano têm renovado mínimas. No mesmo dia, sai a produção industrial nos EUA.
… Na China (3ªF à noite), os dados de atividade de março, com a produção industrial e as vendas no varejo, além do PIB do 1Tri deste ano serão acompanhados com muita expectativa, diante da piora nas perspectivas de crescimento com o início da guerra comercial.
… Ainda hoje (8h), sai o relatório mensal da Opep e as expectativas de inflação ao consumidor do Fed/NY de março (12h).
EUA VS IRÃ – Os dois países concordaram em prosseguir as negociações sobre o programa nuclear de Teerã, após a primeira reunião de alto nível sobre o tema em muitos anos, ocorrida no sábado, sob mediação do governo de Omã.
… Segundo escreveu no X o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, que liderou a delegação iraniana, as partes concordaram em se reunir novamente esta semana. Os Estados Unidos foram representados por Steve Witkoff, negociador preferido de Trump.
OLHO POR OLHO – As bolsas em Wall Street viveram uma gangorra na 6ªF até o início da tarde, quando sinais de que Donald Trump voltaria atrás com a China em algum grau – o que foi confirmado horas depois – animaram os investidores.
…Pela manhã, Xi Jinping tinha anunciado tarifas de 125% sobre produtos dos EUA em retaliação aos 145% do presidente americano.
… Segundo a Casa Branca, Trump estaria “otimista” com a possibilidade de a China buscar um acordo com os EUA.
… Quando saiu a entrevista de Susan Collins (Fed/Boston) ao Financial Times, dizendo que o BC dos Estados Unidos estaria “preparado para estabilizar o mercado”, se necessário, as ações firmaram alta de vez.
… Se as condições se tornarem desordenadas, o Fed “estará absolutamente preparado” para ajudar a estabilizar os mercados financeiros, disse Collins. Por enquanto, observou que os mercados continuam funcionando bem, sem preocupações gerais com liquidez.
… O Nasdaq liderou os ganhos, com +2,06% (16.724,46). O S&P 500 subiu 1,81% (5,363,36) e o Dow Jones avançou 1,56% (40.212,71). Na semana, o Dow Jones subiu 4,95%, o S&P 500 ganhou 5,7% e o Nasdaq avançou 7,29%.
… Collins trouxe uma mensagem de tranquilidade, mas alertou sobre o risco de desaceleração econômica e inflação com as tarifas.
… Por isso, a cautela fez os yields dos Treasuries, no centro da preocupação sobre a atratividade e a segurança dos ativos americanos, fecharem em alta. O da note de 2 anos foi a 3,975% (de 3,883%) e o retorno do título de 30 anos subiu a 4,870% (4,864%).
… Na semana, o rendimento da note de 10 anos, que chegou a ficar acima de 4,5% na sessão, teve a maior alta em duas décadas, com a liquidação dos papéis que se mostra incessante. Na 6ªF, o juro de 10 anos fechou em 4,484% (de 4,436%).
… “Os mercados continuam carregados de preocupação”, disse Mark Hackett, da Nationwide. “Ainda se busca estabilidade em meio às tensões comerciais e incertezas quanto aos lucros das empresas. Os ganhos nas ações não são um ponto de virada”, afirmou.
… Quanto aos lucros do 1Tri, BlackRock, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley apresentaram bons balanços, com resultados acima do esperado, mas variações de “incertezas”, “desconhecidos” e “turbulência” surgiram em seus comunicados.
… Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, disse esperar “uma confusão” nos títulos do Tesouro que leve a uma intervenção do Fed.
… Outro dirigente do Federal Reserve a falar no dia, Neel Kashkari (de Minneapolis), lembrou que, se os Estados Unidos não fizerem novos acordos comerciais, “vai levar tempo para o mercado financeiro e a inflação se acalmarem”.
… As tarifas já estão mexendo com os ânimos dos consumidores americanos, conforme mostrou a pesquisa da Universidade de Michigan. A preliminar de abril confirmou que a expectativa de inflação para o longo prazo disparou de 5,0% para 6,7%, maior nível desde 1981.
… Para o curto prazo, a expectativa de inflação também subiu, de 4,1% para 4,4%.
… A confiança do consumidor levou um tombo, de 57 em março, para 50,8 em abril, abaixo dos 54,6 esperados. “Os números mostrados por Michigan acendem mais sinais de alerta sobre os gastos do consumidor nas próximas semanas”, disse Carl B. Weinberg (HFE).
… Assim como o mercado de Treasuries, o câmbio não embarcou na animação que tomou conta das bolsas na 6ªF. O dólar continuou caindo em escala global, contra pares e emergentes, diante do temor de recessão provocado pela política tarifária de Trump.
… O índice DXY recuou 0,99%, a 99,871 pontos, com o euro em forte alta de 1,36%, a US$ 1,1348 e a libra esterlina avançando 0,80%, para US$ 1,3074. O iene japonês subiu 0,69%, a 143,525/US$. Contra o real, o dólar caiu 0,47%, a R$ 5,8708.
… Por aqui, os juros foram na contramão dos Treasuries com a ajuda do câmbio apreciado e do IPCA de março (+0,56%), quase em linha com o esperado (+0,54%), depois de um resultado muito forte em fevereiro (+1,31%).
… Por outro lado, o IBC-Br desacelerou de 0,92% em janeiro para 0,40% em fevereiro, mas bem acima do esperado (0,20%) mostrando que a atividade continuava robusta no início do ano.
… Apesar dos indicadores de atividade, o movimento de revisões para baixo na Selic continua. Na 6ªF foi a vez de o JPMorgan dizer que espera apenas mais um aumento de 50pb na taxa básica de juros, para 14,75%.
… O banco espera que a Selic feche 2025 em 13,75%, contra 15,25% antes. Para o fim de 2026, cortou a taxa de 12,50% para 9,75%. As projeções do IPCA foram mantidas em 5,5% e 3,2% em 2025 e 2026, quando a desaceleração da economia deve ficar mais evidente.
… O DI para janeiro de 2026 caiu a 14,725% (de 14,805% na véspera); o Jan/27 cedeu a 14,310% (de 14,520%); o Jan/29, a 14,225% (de 14,470%); o Jan/31, a 14,500% (de 14,790%); e o Jan/33, a 14,590% (de 14,900%).
… Como NY, o Ibovespa, teve um dia volátil, com o índice fechando em alta de 1,05%, aos 127.683,40 pontos, puxado por suas blue chips de commodities. Vale registrou +1,67% (R$ 53,66), seguindo a alta do minério de ferro em Dalian (+0,71%).
… Petrobras ON, +1,98% (R$ 33,92) e PN, +1,99% (R$ 31,85), acompanharam o Brent/jun (+2,26%), que subiu a US$ 64,76, na ICE.
… Bancos também avançaram: Bradesco PN (+1,37%; R$ 12,62), Santander (+1,02%; R$ 26,62), Banco do Brasil (+0,87%; R$ 27,80), Bradesco ON (+0,81%; R$ 11,18) e Itaú Unibanco (+0,51%; R$ 31,81).
… Vamos liderou as altas, com +12,73% (R$ 4,87), seguida por SLC Agrícola, 6,01% (R$ 20,12). Na outra ponta, IRB (-6,65%; R$ 44,63); Natura, com -1,16% (R$ 9,37), e CPFL Energia, com -1,15% (R$ 37,71), tiveram as maiores perdas.
EM TEMPO… Conselho de Administração da PETROBRAS elegeu Ricardo Wagner de Araujo para o cargo de Diretor Executivo de Governança e Conformidade (DGC).
TELEFÔNICA informou a alteração sobre o valor de JCP a ser pago por ação anunciado pela companhia em 1º de abril; o recálculo se deve ao programa de recompra de papéis realizado pela empresa…
… Valor líquido recalculado é de R$ 0,1259 por ação ON; inicialmente, valor informado era de R$ 0,1258 por papel.
EZTEC. Lançamentos cresceram 32% no 1TRI, na comparação anual, para R$ 616 milhões.
CARREFOUR. Venda bruta consolidada cresceu 3,6% no 1Tri25, a R$ 28,8 bilhões, sobre 1Tri24. Vendas mesmas lojas subiram 6,9% no Atacadão, e 2,6% nas unidades de varejo…
… No Sam’s Club, as vendas mesmas lojas caíram 3,8%, segundo a prévia operacional divulgada ontem.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
Agenda cheia encerra a semana
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[11/04/25]
… Em meio ao estresse dos mercados em Wall Street, JP Morgan, Wells Fargo e Morgan Stanley abrem a temporada de balanços, antes da abertura. O ânimo dos investidores com a trégua das tarifas não durou 24 horas e os sinais da guerra comercial que Trump mantém com a China voltaram com tudo, refletindo os riscos de inflação e recessão global, que parecem não ter solução a curto prazo. Na agenda tem Lagarde, PPI nos EUA, sentimento do consumidor americano e Fed boys alertando para as incertezas do cenário. No Brasil, são destaques: o IPCA de março e o IBC-Br de fevereiro (ambos às 9h), além de uma entrevista ao vivo de Fernando Haddad à BandNews (8h50).
… Com o mercado novamente negativo, o presidente Trump tentou injetar ânimo nos investidores, repetindo que quer um acordo com a China e restabelecer as relações bilaterais. “Xi Jinping tem sido meu amigo por muitos anos e espero conversar com ele”.
… O presidente chegou a dizer que “autoridades chinesas” já teriam entrado em contato com o governo americano, mas que não poderia revelar quem. “Só posso dizer que estou esperançoso”. Não conseguiu reverter o pessimismo.
… Enquanto isso, as projeções continuam a ser feitas considerando as piores variáveis.
… Para a Capital Economics, a tarifa de 145% imposta pelos Estados Unidos à China pode reduzir o PIB global em até 1% nos próximos dois anos, caso não haja avanços em acordos comerciais. A China seria a mais prejudicada, com retração de 1,2% do PIB.
… Os efeitos indiretos também atingiriam Canadá e México, que seriam afetados pela desaceleração da economia americana. UE, Índia e Japão sofreriam impactos mais contidos, enquanto o Reino Unido praticamente escaparia ileso.
… O economista-chefe do banco BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirma que a falta de acordo entre os EUA e a China afeta os preços de commodities e prejudica países da América Latina, como o Brasil, que são grandes exportadores de produtos básicos.
… Segundo ele, além da instabilidade e possível queda no preço das commodities, as incertezas ainda devem dificultar investimentos de empresas no Brasil, uma vez que elas vão buscar moedas mais fortes. “O cenário é delicado.”
… Em entrevista à CNN no final da tarde, o conselheiro econômico da Casa Branca, Peter Navarro, também tentou acalmar os mercados, dizendo que Índia, Austrália e Reino Unido já estão em negociação com os EUA. “Os acordos vão acontecer o mais rápido possível.”
… Hoje, o ministro de Política Econômica e Fiscal do Japão, Ryosei Akazawa, disse que deseja visitar os EUA “o mais rápido possível” para abrir negociações sobre as tarifas aplicadas pela Casa Branca, que, segundo ele, são “uma crise nacional”.
UNIÃO EUROPEIA – A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ontem que a UE buscará um acordo “completamente equilibrado”, mas alertou estar pronta para expandir dramaticamente a guerra comercial se essas negociações falharem.
… “Estamos desenvolvendo medidas retaliatórias. Há uma ampla gama de contramedidas em estudo e podemos incluir um imposto sobre as receitas de publicidade digital que afetaria grupos de tecnologia como Meta, Google e Facebook.”
… Pouco antes, Trump disse que a União Europeia foi “esperta” ao recuar em retaliações aos EUA. “Viram o que fizemos com a China e resolveram recuar”, disse o presidente, em referência ao aumento das tarifas aos produtos chineses, atualizadas para 145%.
… Trump informou que lidará com a UE como bloco ao negociar as tarifas, descartando acordos individuais com os países membros.
… Enquanto isso, a China fica soltando notícias sobre a aproximação com a Europa (pra cutucar a onça).
… Hoje, o South China Morning Post informa que os líderes da União Europeia estão planejando viajar para Pequim para uma cúpula com o presidente chinês, Xi Jinping, no final de julho.
HADDAD – O ministro deve ser questionado hoje na entrevista à BandNews sobre a crise tarifária nos EUA, mas ele tem tido todo cuidado para tratar do tema, porque o governo brasileiro ainda espera negociar um acordo para os 10% e os 25% do aço e do alumínio.
… Haddad reconhece que há “muita insegurança” sobre o que está acontecendo porque não há uma diretriz clara [de Trump], afirmando que, por ora, não é possível fazer uma avaliação criteriosa. “Vamos aguardar o posicionamento final para saber como proceder.”
… Aos jornalistas nesta 5ªF, Haddad negou estudo na Fazenda ou na Casa Civil para ampliar a tarifa social da energia elétrica, como havia dito o ministro Alexandre Silveira (MME) pouco antes, antecipando que o número de beneficiados aumentaria em 50%.
… Também descartou que haja previsão de alterar a meta de resultado primário para o ano que vem, de um superávit de 0,25% do PIB. A meta estará prevista no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, que será divulgado na próxima 3ªF (15).
… Haddad admitiu ainda que pode haver uma audiência de conciliação entre governo e Senado no STF sobre a política de desoneração da folha, já que as medidas aprovadas pelo Congresso não foram suficientes para compensar a perda de arrecadação com o benefício.
… O relator da matéria, ministro Cristiano Zanin, acionou o Senado a se manifestar, após ter sido informado pela AGU do risco de prejuízo de R$ 20,23 bilhões para os cofres públicos neste ano, com a prorrogação da renúncia fiscal.
… O governo quer garantir no STF a compensação da perda de receita com a desoneração da folha, seja por meio da revisão do benefício, de um aperto maior na regra para reoneração gradual ou até mesmo exigindo que o Congresso apresente as soluções.
… Essa é uma das preocupações da equipe econômica nos próximos meses.
IPCA – A inflação deve arrefecer para 0,54% em março, após alta de 1,31% em fevereiro. As projeções variam de 0,46% a 0,59%. O IPCA em 12 meses deve subir para 5,46%, de 5,06% até fevereiro. O dado será divulgado pelo IBGE às 9h.
… A saída do efeito rebote do bônus de Itaipu na tarifa de energia elétrica, somada ao alívio no preço de combustíveis, deve contribuir para a desaceleração da alta do IPCA em março, de acordo com economistas consultados pelo Projeções Broadcast.
… De outro lado, o mercado prevê aceleração no grupo Alimentação, como alta de alimentos in natura, como tubérculos, carnes e ovos.
… Também a média dos núcleos deve desacelerar de 0,60% para 0,45% em março, com recuo nos preços livres (0,68% para 0,63%), preços administrados (3,16% a 0,27%), bens industriais (0,40% a 0,24%), serviços (0,82% a 0,59%) e serviços subjacentes (0,69% a 0,63%).
… Já a expectativa para a alimentação no domicílio é de alta do núcleo do IPCA (de 0,79% para 1,30%).
… Ainda que os números da inflação agradem, a recente depreciação do câmbio – com as incertezas causadas pelas tensões das tarifas de Trump – surgem como obstáculo para as expectativas de que o BC possa encurtar o ciclo de alta da Selic.
IBC-BR – A mediana do mercado indica expansão de 0,30% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central de fevereiro, após alta de 0,89% em janeiro. A produção agropecuária e o resultado acima do esperado dos serviços prestados devem impulsionar o IBC-Br.
… Os dados serão divulgados pelo Banco Central às 9h, tendo como novidade as aberturas setoriais do indicador.
… Nesta 5ªF, a Pesquisa Mensal de Serviços mostrou alta de 0,8% em fevereiro ante janeiro, superando o teto das estimativas (0,4%).
MASTER – Gabriel Galípolo reúne-se (9h) com o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, na sede do BC em Brasília.
NOS EUA – O Índice de Preços ao Produtor (PPI) de março nos EUA tem estimativa de alta de 0,3% para o núcleo na margem, após -0,1% em fevereiro, subindo para 3,5% na comparação anual (de 3,4% em fevereiro). O dado será divulgado às 9h30.
… Nesta 5ªF, o índice de preços ao consumidor (CPI), com alta de 0,1% do núcleo em março, veio abaixo da mediana (0,3%).
… Às 11h, é importante a preliminar de abril do Índice de Sentimento do Consumidor medido pela Universidade de Michigan, que deverá recuar para 54,0 (57,0 em março). Junto, saem as expectativas de inflação para 1 ano e para 5 anos.
FED BOYS – Mais dois dirigentes do Fed falam hoje Alberto Musalem/St. Louis (11h) e John Williams/NY (12h).
… Na Polônia, a presidente do BCE, Christine Lagarde, participa de coletiva de imprensa do Eurogrupo à primeira hora (6h45).
… Nesta 5ªF, Austan Goolsbee (Chicago) disse que a incerteza pode frear os investimentos. “Há muita ansiedade nas empresas que visito. Temem que a inflação volte a sair do controle, como em 2021.” Disse ainda que a barra para mexer nos juros está “bastante alta”.
… Jeffrey Schmid (Kansas City) disse que está “preocupado que qualquer novo aumento nos preços possa subir ainda mais as expectativas de inflação”, e ressaltou que a política atual e o ambiente econômico tornaram-se “consideravelmente mais complicados”.
… Susan Collins (Boston), que as tarifas, “grandes e abrangentes”, podem elevar o núcleo do PCE para “bem acima de 3% este ano”.
BALANÇOS EM NY – Pesos pesados de Wall Street puxam a fila da temporada de balanços, que estreia daqui a pouco, antes da abertura dos mercados. Além de JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley, também a BlackRock divulga resultados.
… A FactSet estima que o setor financeiro registre a quinta maior taxa de crescimento anual dos lucros entre todos os 11 setores do S&P 500 no 1Tri, com 2,3%. A exceção deve ser o mercado de seguros, que deve reportar queda de 15% nos lucros do 1Tri.
… Muitas seguradoras americanas devem reportar perdas no período por conta dos incêndios florestais em Los Angeles, no início do ano. Os prejuízos foram estimados entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões por casas como Evercore ISI e a corretora britânica Aon.
… Reportagem da correspondente da AE em NY, Aline Bronzati, revela que analistas adotaram cautela nas projeções para os lucros devido aos receios com o impacto das tarifas, definindo um corte de 4,2% para o período sobre as estimativas anteriores.
… O grupo conhecido como Sete Magníficas sofreu cortes ainda maiores nas projeções para os lucros, de cerca de 10%, diante dos receios tarifários. Apple, Alphabet (dona do Google), Nvidia, Microsoft, Amazon e Tesla já caíram em bloco nesta 5ªF (abaixo).
NÃO COLOU – Em seu esforço para tranquilizar os mercados, Trump também sugeriu ontem à tarde que a pausa das tarifas recíprocas poderia ser maior que 90 dias. Mas as bolsas em Wall Street não tomaram nota e continuaram caindo.
… A pausa nas retaliações anunciada pela UE também não contribuiu para amenizar o clima.
… A senha para as ações entrarem em nova liquidação, depois da alta histórica da véspera, foi o esclarecimento da Casa Branca de que as tarifas aplicadas à China não somavam 125%, mas sim 145%. Tinham esquecido dos primeiros 20%.
… Liderando as perdas das Sete Magníficas, a ação da Tesla caiu 7,3%. Mas todas sofreram quedas expressivas: a Meta devolveu 6,7%, a Nvidia, -5,9%; Amazon, -5,2%; Apple, -4,3%; Alphabet, -3,53%; e Microsoft, -2,3%.
… O S&P 500 fechou em queda de 3,46% (5.268,05 pontos). Nasdaq, -4,31% (16.387,31). E Dow Jones, -2,50% (39.593,66).
… A deflação do CPI, que seria excelente notícia, foi ofuscada pelo vaivém das tarifas. Mesmo porque, o futuro já começou.
… Analistas não acreditam que a leitura benigna da inflação, antes do anúncio das tarifas recíprocas, seja sustentada nos meses à frente diante da guerra comercial com a China, e mesmo com as relações instáveis com outros países.
… A deflação, então, sugeriu uma diminuição na demanda com o medo de recessão provocada pelo aumento das tarifas de importação.
… Apesar do dado, no fim da tarde o FedWatchTool, da CME, mostrava aposta majoritária (71%) na manutenção dos juros na reunião do Fed em maio. Para todo o ano, as apostas se dividiam entre corte total de 100pbs (33,2%) e de 75pbs (30,7%).
… Investidores seguiram se desfazendo de Treasuries, com consequente alta dos rendimentos. Os juros dos títulos tiveram um momento de alívio após a divulgação do CPI, mas foi só. Depois, apenas o yield da note de 2 anos caiu a 3,845% (de 3,921%).
… O rendimento da note de 10 anos subiu a 4,412% (de 4,352% na véspera) e do título de 30 anos subiu a 4,921% (de 4,891%). Um leilão de bonds de 30 anos teve boa demanda, mas sem conseguir reduzir o juro do papel.
… A liquidação dos títulos do Tesouro americano teria sido o gatilho para o recuo de Trump, à medida que estariam colocando em risco a confiança no governo dos Estados Unidos. Cerca de US$ 8,5 trilhões desses papéis estão nas mãos de países estrangeiros.
… Japão (US$ 1 trilhão), China (US$ 760 bilhões) e Reino Unido (US$ 740 bilhões) são os maiores detentores.
… Também o dólar foi mal. O mercado global voltou a dar preferência a moedas como o iene e o franco suíço. O índice DXY caiu 1,97%, a 100,867 pontos. O euro disparou 2,07%, para US$ 1,1175, e a libra subiu 1,05%, a US$ 1,2948. O iene avançou 1,96%, a 144,529/US$.
… Entre as moedas emergentes, o dólar levou a melhor e o real continuou com um dos piores desempenhos diários entre seus pares. No mercado à vista a moeda americana subiu 0,88%, a R$ 5,8988. Na máxima, chegou a R$ 5,95.
… Os juros tiveram alta firme nos vencimentos médios e longos, com o mercado avesso ao risco e sob pressão do câmbio.
… O DI Jan/26 ficou estável em 14,805%; o Jan/27 subiu a 14,520% (de 14,475% na véspera); o Jan/29, foi para 14,470% (de 14,350%); o Jan/31, para 14,790% (de 14,600%) e o Jan/33, avançou a 14,900% (de 14,700%).
… Com as tensões crescendo entre Estados Unidos e China, as commodities foram novamente penalizadas, o que é ruim para o Ibovespa, que tem cerca de 35% de seu peso relacionado a empresas de matérias-primas.
… O índice fechou em baixa de 1,13%, aos 126.354,75 pontos, com giro de R$ 25,9 bilhões. Petroleiras levaram a pior, puxadas pela baixa de 3,28% no contrato do Brent com vencimento em junho, que fechou a US$ 63,33 o barril na Ice londrina.
… Petrobras ON (-6,49%; R$ 33,26) e PN (-6,22%; R$ 31,23), foram seguidas por Prio (-8,13%; R$ 32,89), Brava Energia (-6,82%; R$ 16,40) e Petrorecôncavo (-6,30%; R$ 13,38). Vale teve alta de 1,79% (R$ 52,78), seguindo o minério de ferro em Dalian (-3,06%).
… A mineradora também foi favorecida após o BofA elevar a recomendação e aumentar o preço-alvo das ADRs de US$ 11 para US$ 11,5.
… Bancos caíram em bloco: Santander (-1,50%), BB (-0,68%), Itaú (-0,41%), Bradesco PN (-0,16%) e ON (-0,09%).
… Entre as poucas altas do dia, LWSA subiu 4,58%; Magazine Luiza, +4,50%; e Hapvida; +2,78%.
EM TEMPO… ELETROBRAS defendeu eleição de chapa indicada pela administração em carta a acionistas; adoção ou não de voto múltiplo é irrelevante para indicações da União ao CA…
… Processo de indicação e sucessão, liderado por Vicente Falconi, com envolvimento do Comitê de Pessoas, foi criterioso e cuidadosamente estruturado…
… Companhia fez mapeamento para composição da matriz de competência do CA, que apontou necessidade de renovação controlada do colegiado…
… Indicação de Pedro Batista foi solicitada por cinco acionistas; CA considerou desempenho e avaliações de cada conselheiro para reconduções; nome de Ferreira foi indicado por quatro acionistas e incorporado em proposta da Administração.
NEOENERGIA. Energia injetada aumentou 3,6% no 1TRI, na comparação anual, para 22.903 GWh.
CYRELA. Lançamentos chegaram a R$ 3,4 bilhões no 1TRI, valor 183% acima do atingido no mesmo intervalo de 2024.
SANTANDER aprovou distribuição de R$ 1,5 bilhão em JCP, o equivalente a R$ 0,1913 por ação ON, R$ 0,2105 por ação PN e R$ 0,4019 por unit, com pagamento em 8/5; ex em 18/4.
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Recuo forçado
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[10/04/25]
…. Foram cinco pregões de quedas históricas nos mercados em NY – e em todo o mundo – antes que Trump jogasse a toalha para não ir a nocaute em sua luta obsessiva pelas tarifas. Nesta 4ªF, após mais uma retaliação da China, que revidou os 104%, elevando sua taxa aos produtos americanos para 84%, veio finalmente a trégua na guerra comercial. Ao mesmo tempo em que voltou a aumentar as tarifas para os chineses, agora em 125%, Trump derrubou as tarifas recíprocas aos demais países para 10%, por um período de 90 dias, causando euforia nos investidores globais. No fim da tarde, em entrevista no Salão Oval, mandou vários recados de conciliação a Xi Jinping, dizendo que espera dele um telefonema e que tem “certeza de que chegarão a um acordo muito bom para os dois países.
… Derramando-se em elogios, Trump disse que Xi é “uma das pessoas mais inteligentes do mundo”, que tem com ele “excelente relação”, que “não o culpa” pelo déficit dos EUA, e sim aos seus antecessores na Casa Branca, e que o acordo do TikTok “ainda está na mesa”.
… Mas não vai ser tão fácil dobrar Xi, que nesta 4ªF anunciou que China e UE discutirão cooperação no setor automotivo, em especial, de veículos elétricos. O anúncio foi feito pelo Ministério do Comércio chinês. Resta saber se ainda será confirmado pelos europeus.
… O resumo da ópera: Trump acreditou que conseguiria implementar ao seu modo sua política tarifária, não conseguiu e teve que recuar, pressionado por uma crise que o deixou isolado e começava a ameaçar o próprio império americano sob sua liderança.
… No X, Mohamed El-Erian (Allianz) escreveu que foi o mercado de títulos do Tesouro dos Estados Unidos que convenceu Trump a recuar no tarifaço, e “quão perto ele chegou da linha que separa a volatilidade selvagem dos preços do mau funcionamento”.
… Os Treasuries estavam sob pressão desde o Liberation Day e economistas vinham alertando para a falta de liquidez do mercado, o que parecia sinalizar falta de confiança no governo dos EUA e nos ativos que são considerados os mais seguros do mundo.
… Especulações de que a China estaria vendendo seus títulos americanos, em retaliação às tarifas de Trump, aumentavam a tensão.
… É verdade que as incertezas ainda devem permanecer, mas têm uma chance de se acomodarem à medida que os EUA negociem agora acordos mais razoáveis e que a China volte ao cenário econômico mundial. A pausa de 90 dias dirá o que vem pela frente.
… Entre as primeiras reações, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, elogiou a decisão de Trump de pausar as tarifas e disse que iniciará, imediatamente, negociações sobre uma nova relação econômica e de segurança com os Estados Unidos.
… “A pausa nas tarifas recíprocas anunciada pelo presidente Trump é um alívio bem-vindo para a economia global”, disse ele, que havia anunciado uma taxa de 25% para todos os carros americanos que entrassem no Canadá.
… O membro do Conselho do BCE Francois Villeroy de Galhau disse que a trégua é “o início de um retorno à razão econômica e um pouco de realismo, após um período de grande imprevisibilidade que joga contra a confiança nos EUA”.
… Já o presidente do Fed/Minneapolis, Neel Kashkari, primeiro Fed boy a falar após a decisão de Trump de suspender as tarifas, disse que, “se a pausa continuar, o impacto sobre a inflação será reduzido”. No entanto, alertou que a barra para cortes de juro continua alta.
… Hoje, mais quatro dirigentes do Fed têm falas públicas que serão acompanhadas com atenção pelo mercado: Lorie Logan/Dallas (10h30), Jeffrey Schmid/Kansas (11h), Michelle Bowman no Senado (11h), Austan Goolsbee/NY (13h) e Patrick Harker/Filadélfia (13h30).
… As novas medidas, ou o recuo forçado, desencadearam um movimento de forte procura por ativos de risco nos mercados que estavam abertos, reproduzido na abertura dos pregões asiáticos e da Europa. A trégua reduziu os temores de recessão global (abaixo).
ALÍVIO E PÉ ATRÁS – Em NY, o Goldman Sachs disse que não vê mais os EUA em recessão como o seu cenário base. Para o Santander, a pausa torna o cenário para empresas e consumidores americanos “apenas dramático”. Antes era “calamitoso”.
… Analistas do ING estão mais céticos. Acreditam que, entre anúncios e pausas, Trump deve reintroduzir as tarifas recíprocas em breve. O banco holandês diz que “seria uma surpresa se o anúncio desta 4ªF fosse realmente o retorno do bom senso”.
… A incógnita ainda continua sendo a China, que ficou de fora da trégua de Washington.
… Para a Wedbush, especializada em tecnologia, “danos reais já foram causados à economia, mas a China continua o principal obstáculo a ser resolvido, e isso afetará significativamente a indústria de tecnologia e os consumidores americanos no dia a dia”.
… A Capital Economics destacou que, se os últimos aumentos nas tarifas à China (125%) não forem revertidos, podem reduzir à metade as exportações do país para os EUA, com corte entre 1% e 1,5% do seu PIB. O que seria muito negativo para os emergentes (e o Brasil).
… Já para a consultoria Pantheon, a tarifa de 125% dos Estados Unidos sobre a China “é tão gigantesca e desalinhada com a taxa de 10% aplicada a outros países que o comércio bilateral parece destinado a cair vertiginosamente”.
CPI – De volta à rotina dos indicadores, NY acompanha hoje a inflação ao consumidor nos EUA (CPI), que deve subir 0,10% em março, ante 0,20% em fevereiro, e desacelerar a alta em 12 meses para 2,6% (de 2,8% de fevereiro). O dado será divulgado às 9h30.
… Já o núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, deve subir 0,27% no mês, na mediana de 25 projeções coletadas pela Broadcast. A projeção para a taxa anualizada é de 3%, ante avanço de 3,1% na base anual de fevereiro.
… Analistas acreditam que algum efeito das tarifas (ou da expectativa) já deve aparecer no núcleo de preços de bens não relacionados a transporte. Os preços da gasolina e das commodities energéticas devem recuar, com a queda recente do petróleo.
… No mesmo horário, saem os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA, que devem subir em 223 mil (219 mil na semana passada).
CHINA HOJE – Divulgados nesta 3ªF os dados de inflação em março: CPI recuou 0,1% na base anual, em linha com as estimativas, e o PPI caiu 2,5% na comparação com março de 2024, mais que a previsão (-2,3%).
… Em nota divulgada pelo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, a China prometeu hoje acelerar as negociações com a UE sobre várias questões, enquanto busca laços com parceiros comerciais diante da escalada das tensões com os EUA.
… Na véspera, 3ªF (8), Wentao fez uma videoconferência com o Comissário Europeu para Comércio, Maros Sefcovic, quando concordaram em conduzir negociações sobre preços de veículos elétricos e cooperação em investimentos na indústria automotiva.
… O governo chinês informa que o diálogo ocorreu em paralelo à conversa do premiê Li Qiang com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que levou a preocupação de excesso de oferta de produtos chineses baratos para o bloco europeu.
SERVIÇOS – Após três quedas consecutivas, o volume de serviços prestados (9h) deve registrar estabilidade em fevereiro. A perspectiva de recuo ou estabilidade no período é o cenário base da maioria das casas (12 de 22) consultadas pelo Projeções Broadcast.
HADDAD – Ministro participa nesta 5ªF (9h) da Reunião Extraordinária do Conselho de Administração de Itaipu. Por videoconferência.
LULA – Bem no dia da trégua, o presidente resolveu endurecer a mensagem contra as tarifas de Trump, dizendo aos jornalistas que cobrem sua visita a Honduras que “ou nós vamos para a OMC brigar, onde é o direito da gente brigar, ou a gente vai dar reciprocidade”.
… Segundo Lula, “é o mínimo que se espera de um país, que tenha dignidade e soberania”. Explicou, porém, que antes o Brasil vai “utilizar todas as palavras de negociação que o dicionário permitir”. Mas criticou Trump: “Cada dia ele fala uma coisa.”
… Com a decisão de Trump de adotar tarifa mínima de 10% a todos os países (à exceção da China), o Brasil perde a vantagem comparativa que teria para ganhar novos mercados na exportação de commodities agrícolas.
#FAIL – O passo atrás do presidente Trump gerou uma euforia poucas vezes vista na história dos mercados. A alta do S&P 500 foi a terceira maior do período pós-Segunda Guerra nos Estados Unidos, como anotou a CNBC.
… Em forte queda desde o início da 4ªF, os mercados em Wall Street reagiram de forma imediata à anunciada pausa de 90 dias nas tarifas, com o S&P 500 disparando 9,52% (5.456,90 pontos), enquanto o Nasdaq saltou 12,16% (17.124,97 pontos).
… Foi o melhor dia do S&P 500 desde 2008, um rali que adicionou US$ 4,3 trilhões ao valor de mercado do índice, segundo o Financial Times. E foi o maior ganho do Nasdaq desde 2001. O Dow Jones subiu 7,87% (40.608,45 pontos).
… O chamado Dia da Libertação de Trump durou apenas uma semana. Exatos sete dias após o anúncio das tarifas recíprocas, o presidente americano voltou atrás e deu uma pausa de 90 dias na cobrança das alíquotas dos países que não retaliaram os EUA.
… Nos últimos dias, o presidente americano enfrentou fogo amigo de apoiadores de primeira hora como o megainvestidor Bill Ackman e Elon Musk, que criticaram duramente a política tarifária desenhada pelo conselheiro Peter Navarro.
… Quanto à China, além de ter ficado de fora da pausa, Trump aumentou as taxas sobre seus produtos para 125%, o que ainda prejudica empresas como a Apple e a Tesla, que têm fortes relações com o mercado e a cadeia de suprimentos chinesa.
… A despeito disso, as ações das big techs dispararam, puxadas pela Tesla (+22,69%), Nvidia (+18,72%), Apple (+15,19%), Meta (+15,76%), Amazon (+11,98%), Microsoft (+10,13%) e Alphabet (+9,68%).
… Apesar de Trump ter mudado de ideia temporariamente quanto às tarifas, analistas dizem que as incertezas vão persistir, ainda mais porque não se sabe como vai se desenrolar a relação entre os Estados Unidos e a China.
… O espectro da perda de confiança em ativos americanos ainda ronda o mercado, o que pode ser visto na alta dos juros dos Treasuries, que se manteve mesmo com o alívio nos ativos de risco, com investidores vendendo títulos americanos em busca de liquidez.
… Outros mercados considerados refúgios seguros alternativos aos EUA ganharam força, como os títulos da Alemanha.
… O juro do T-bond de 30 anos chegou a marcar 5%, enquanto o da note de 10 anos subiu a 4,5% nos picos de estresse. Ontem, o yield de 10 anos avançou a 4,333% (de 4,301%) e de 30 anos, a 4,8913% (de 4,774%). O juro da note de 2 anos subiu a 3,891% (de 3,729%).
… Na ata do Fed divulgada ontem, uma fotografia do cenário de 20 dias atrás, os dirigentes mostraram preocupação com o impacto das tarifas. Eles mencionaram a política comercial de Trump 18 vezes no documento, contra uma vez na ata de janeiro.
… Vários dos dirigentes do Fed observaram que os aumentos de tarifas anunciados ou planejados até ali eram maiores e mais abrangentes do que o esperado. E muita coisa aconteceu desde então, incluindo o tal Dia da Libertação.
… No câmbio, o índice dólar DXY ficou estável (-0,05%), a 102,900 pontos, depois de muita volatilidade. Primeiro, a moeda caiu forte com investidores saindo de ativos americanos. Depois da pausa de Trump, houve uma corrida para o dólar.
… O iene caiu 0,75%, a 147,411/US$; o franco suíço cedeu 1,17%, a 0,8583 franco por dólar; o euro ficou praticamente estável (-0,07%), a US$ 1,0948; e a libra subiu 0,33%, a US$ 1,2813. Aqui, o dólar chegou a R$ 6,09 na máxima do dia.
… Desabou 2,87% com a pausa das tarifas, para R$, 5,8473 no fechamento.
… Em abril, a moeda americana ainda ganha 2,49% contra o real, o que dá a medida da cautela que ainda existe quanto a ativos de risco. O Banco Central informou ontem que o Brasil registrou em março uma saída líquida de US$ 8,3 bilhões.
… O valor superou a sangria do período da pandemia e marcou o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1982.
… O fluxo cambial negativo foi puxado pela fuga de US$ 12,8 bilhões pela via financeira. Pelo canal comercial, foram registradas entradas de US$ 4,5 bilhões. No ano, o saldo é negativo em US$ 15,8 bilhões.
… Na B3, os juros subiram, mas como os Treasuries, ficaram longe das máximas quando o nervosismo baixou. As vendas do varejo (+0,5%) mais fracas que o esperado (+0,8%) em fevereiro ficaram em segundo plano. Trump era a manchete do dia, mais uma vez.
… No fechamento, o juro do contrato de DI para Jan/26 subia a 14,805% (de 14,765%); o Jan/27 avançava a 14,475% (14,390%); Jan29, a 14,350% (de 14,325%); Jan/31, a 14,600% (de 14,590%); e Jan/33, a 14,700% (de 14,710%).
… Acompanhando NY, o Ibovespa subiu 3,12%, aos 127.795,93 pontos, e de novo com um giro fora do comum, de R$ 40,6 bilhões.
… Todas as ações do índice subiram. Os chamados papéis cíclicos foram os mais beneficiados, como o Grupo Pão de Açúcar, que subiu 18,89% (R$ 3,65). Cogna avançou 11,94% (R$ 2,25) e Magazine Luiza, +11,28% (R$ 9,77).
… Blue chips de commodities se recuperaram de parte do tombo da véspera. Petrobras seguiu a recuperação do petróleo, com o Brent para junho a US$ 65,48 (+4,23%). Petrobras ON, +3,13% (R$ 35,57) e PN, +4,06% (R$ 33,30).
… Vale subiu 5,39%, a R$ 51,85, apesar de o minério ter recuado 3,48% em Dalian.
… Bradesco PN, com +3,74%, a R$ 12,47, puxou as altas entre os principais bancos. Bradesco ON subiu 3,26% (R$ 11,10), Santander valorizou 2,49% (R$ 26,75), Itaú ganhou 1,83% (R$ 31,78) e Banco do Brasil teve elevação de 0,43% (R$ 27,75).
EM TEMPO… SABESP informou que a Câmara de Conciliação de Precatórios da Procuradoria Geral do Município de São Paulo aprovou as duas últimas propostas de acordos para liquidação dos créditos de precatórios, que totalizam R$ 2,48 bilhões.
AZUL. Foram subscritas 1.200.000.063 de novas ações ordinárias e 152.924 novas preferenciais, totalizando R$ 72.688.161,78, no âmbito do seu aumento de capital, aprovado em fevereiro, ao preço de R$ 0,06 (ON) e de R$ 4,50 (PN) por nova ação…
… O início da negociação das novas ações na B3 se dará a partir de hoje 10.
ELETROBRAS esclareceu ontem que dois dos candidatos recomendados pela administração para eleição ao Conselho de Administração pela AGO, no próximo dia 29, Carlos Marcio Ferreira e Pedro Batista de Lima Filho, foram igualmente indicados por acionistas da companhia.
CCR informou que o tráfego total de veículos nas concessões rodoviárias que administra subiu 2,1% em março de 2025 ante o mesmo mês de 2024. No acumulado do ano, houve alta de 1%…
… Nas concessões de mobilidade urbana, houve queda de 0,8% no movimento de março ante igual mês em 2024, com destaque para VLT Carioca (+27,7%) e ViaQuatro (+1,8%). Nos aeroportos, o fluxo foi 4,9% maior na base de comparação anual.
CURY ampliou lançamentos e vendas, refletindo as condições favoráveis para os negócios dentro do programa Minha Casa Minha Vida. A companhia lançou 14 empreendimentos no 1Tri25: 9 em São Paulo e 5 no Rio de Janeiro, totalizando 9,1 mil apartamentos…
… Juntos, representam um valor geral de vendas (VGV) de R$ 2,666 bilhões, aumento de 77,8% sobre o mesmo intervalo de 2024.
ZAMP. Conselho de administração aprovou o encerramento do programa de American Depositary Receipts (ADRs) da companhia. A data efetiva do encerramento do Contrato de Depósito será 12 de maio de 2025.
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