IPCA e medidas da Fazenda dividem atenção
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[10/06/25]
… Na agenda vazia de indicadores lá fora, o destaque é para o segundo dia de reuniões entre os EUA e a China, que acontece em Londres. Representantes dos dois países voltam a se sentar à mesa a partir das 6h da manhã (hora de Brasília). A expectativa é positiva nos mercados. Embora Trump tenha dito que a China “não é um país fácil”, revelou que as negociações estão “indo bem”. Aqui, é dia do IPCA de maio, que deve desacelerar para 0,34% (mediana do Broadcast), de 0,43% em abril, com uma desaceleração ainda mais importante da média dos núcleos, como consequência do recuo dos preços dos alimentos e da deflação das passagens aéreas. Em Brasília, a espera é pelos detalhes do novo IOF e das novas propostas da MP da Fazenda, que deverão ser levadas hoje por Haddad a Lula, de volta da França.
… O mercado teve uma reação em dois tempos às medidas anunciadas parcialmente após a reunião de domingo na residência oficial da Câmara. Primeiro, prevaleceu o mau humor, porque nenhuma medida estrutural foi assumida pelo ministro, Motta ou Alcolumbre.
… Depois, desconfiou que toda essa conversa de enfrentar os temas que fazem o Orçamento insustentável não passava de retórica. E no período da tarde, já tinha certeza de que foi um jogo jogado e que vai ser muito difícil ver um corte de gastos em ano pré-eleitoral.
… Então os ânimos se acalmaram, porque o que não tem remédio, remediado está, e os juros e o dólar caíram (abaixo).
… No Estadão, foi o recuo no IOF que reduziu a pressão do setor privado com a decisão de zerar a alíquota fixa do risco sacado e permitiu que Haddad ganhasse tempo com a MP para negociar com o Congresso as alternativas para ampliar a arrecadação.
… A MP terá prazo de 120 dias, enquanto o ministro tenta reforçar os argumentos para repor os R$ 20 bilhões perdidos no IOF. Ao final do prazo, alguns pontos devem deixar de vigorar, como, por exemplo, a tributação sobre as LCAs e LCIs, que deu tanta gritaria.
… Fora que essas medidas não entrarão em vigor de imediato, por questões de noventena. É, portanto, uma espécie de saída contábil. O ministro finge que está cumprindo o arcabouço e o Congresso finge que acredita. Daqui a quatro meses, arranjam-se outras soluções.
… Quanto às medidas estruturais, o relato obtido pelo jornal é que os parlamentares do PT e aliados foram os primeiros a se opor a cortes de gastos e medidas para limitar o crescimento dos gastos com saúde e educação e a desvinculação do salário-mínimo do INSS.
… Nas apurações de bastidores da mídia sobre a reunião de domingo, todo mundo saiu dizendo que essas medidas não vão acontecer.
… O próprio presidente da Câmara, Hugo Motta, disse isso em outras palavras em evento do Valor, Globo e CNN, nesta 2ªF.
… Segundo ele, o Congresso se comprometeu a avaliar as medidas da MP, mas não se comprometeu em aprová-las, admitindo que pode haver um “descasamento” com as propostas apresentadas pela Fazenda como alternativa para “recalibrar” o IOF.
… O presidente da Câmara disse ainda que os gastos com Fundeb e BPC foram “pouco tratados” na reunião de domingo, assim como as emendas parlamentares e os fundos de participação de Estados e municípios (FPE e FPM).
… Haddad revelou na reunião que os custos que o governo tem com o Fundeb estão caminhando para algo em torno de R$ 70 bilhões, e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) poderá representar um gasto maior do que o Bolsa Família, em dois ou três anos.
… As desonerações podem chegar a R$ 800 bilhões e cortar 10% dessa renúncia fiscal, como pediu Haddad, daria uma folga e tanto.
… O governo sabe que é necessário entrar nesse debate, disse Motta, “mas tem receio, porque se preocupa com a questão eleitoral, e os deputados que vão disputar a eleição no ano que vem também não querem assumir o ônus dessas medidas”.
… Para além das questões eleitorais, o presidente da Câmara descreveu o jogo de empurra que pode travar tudo.
… “O cara que tem um incentivo não quer deixar de ter. Quem está ali ganhando salário acima do teto não quer deixar de ganhar o salário acima do teto. O Parlamento não quer discutir corte de emendas. E o governo não quer ir contra a sua base eleitoral.”
… Resumindo, a agenda estrutural não foi destacada, porque não houve acordo sobre as medidas que todo mundo sabe quais são, que têm um diagnóstico praticamente unânime, um prognóstico consensual, mas que ninguém está disposto a enfrentar.
… A novidade é a postura dos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, que surpreenderam ao abrir o diálogo sobre temas intocáveis. Pode-se dar o benefício da dúvida se foi pura retórica. Mas o que eles queriam, derrubar o IOF, já levaram.
AS NOVAS MEDIDAS – A decisão de Haddad de taxar em 5% as LCAs e as LCIs, antecipadas já na saída da reunião de domingo, gerou forte repercussão negativa nos setores imobiliário e do agronegócio, nesta 2ªF.
… Para a Abecip, o fim da isenção das Letras de Crédito Imobiliárias vai encarecer os financiamentos habitacionais, já que o instrumento é uma das principais fontes de recursos para o setor, representando cerca de 17%, contra 27% do FGTS e 32% da poupança.
… Também a Frente Parlamentar da Agropecuária disse que “a gente simplesmente não pode aceitar” a taxação das Letras de Crédito do Agronegócio, porque elas são hoje a principal fonte de recursos livres direcionados à concessão de crédito rural.
… A tributação de título de renda fixa isentos é uma das propostas que deve estar na MP anunciada por Haddad, junto com o aumento de taxação sobre as bets, de 12% para 18%, e alíquotas mais elevadas para as Fintechs, igualando a CSLL às dos bancos.
… Haddad pensa também incluir na MP um projeto para a JCP que está na Câmara e ainda não foi votado. Para marcar posição.
MAIS AGENDA – Antes do IPCA (9h), duas prévias de inflação serão divulgadas hoje: a primeira quadrissemana de junho do IPC-Fipe (5h) e o primeiro decêndio do IGP-M (8h). Para o IPCA, a mediana das estimativas aponta para 0,34% em maio (de 0,43%).
… Às 10h, a ABCR divulga o fluxo em estradas pedagiadas no mês de maio.
… Às 10h, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, abre o Tech 2025 da Febraban, que deve render muito noticiário, já que contará com a participação de vários banqueiros, entre os quais, Milton Maluhy Filho (Itaú), Marcelo Noronha (Bradesco) e Mario Leão (Santander).
… O evento, no Transamerica Expo Center, é aberto à imprensa e será transmitido por YouTube.
… Às 13h30, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, participa de audiência pública na Comissão Especial sobre Inteligência Artificial e, às 14h, o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, participa de audiência pública na Câmara.
… Às 16h, o secretário-executivo do BC, Rogerio Antonio Lucca, palestra sobre o Drex no Febraban Tech 2025.
LOS ANGELES – Em meio aos protestos violentos contra as políticas de imigração, Trump ordenou o envio para a cidade de 700 fuzileiros navais, em uma disputa de força particular com o governador da Califórnia, Gavin Newsom.
… A insistência do presidente norte-americano em assumir o comando da repressão às manifestações é vista como uma violação da Constituição pelo governo estadual, que entrou com processo contra Trump nesta 2ªF.
… “Esta é uma crise fabricada para permitir que ele [Trump] assuma o comando de uma milícia estadual”, disse o governador californiano, apontando o uso inconstitucional do poder executivo para usurpar a autoridade do estado.
JOGO DE CENA – Quando o mercado sacou que a MP da Fazenda não vai valer e que as medidas devem parar de vigorar ao fim da vigência de 120 dias, em outubro, dando tempo para Haddad negociar, o estresse baixou.
… O dólar caiu 0,14%, cotado a R$ 5,5619, depois de ter quase raspado em R$ 5,60 na máxima (R$ 5,5988).
… Junto com o câmbio, o DI aliviou prêmio de risco: Jan/26, a 14,850% (de 14,905% no pregão anterior); Jan/27, a 14,185% (de 14,290%); Jan/29, 13,635% (13,710%); Jan/31, 13,790% (13,830%); e Jan/33, 13,850% (13,870%).
… Ao Broadcast, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, observou que, à medida que sai de cena a ajuda do IOF no efeito desacelerador da economia, aumenta a necessidade de o Copom subir o juro.
… Galípolo tem insistido que as opções estão todas em aberto para a reunião de política monetária da semana que vem, mas o investidor tem notado inclinação mais hawkish em muitos de seus comentários recentes.
… Na prática, o recuo no IOF aumenta a pressão para a Selic continuar subindo e alcançar 15%.
… O Ibov reproduziu até o fechamento dos negócios o incômodo com a proposta alternativa da Fazenda ao IOF, mas à tarde se afastou bastante da mínima do dia (134.119), embora tenha fechado abaixo dos 136 mil pontos.
… O índice à vista fechou em queda de 0,30%, a 135.699,38 pontos. O recuo foi limitado pela alta moderada de 0,59% da Vale, que fechou na máxima do dia (R$ 53,29), em direção contrária ao minério de ferro (-0,71%).
… Temendo pelo impacto na rentabilidade, os bancos não gostaram da história da alíquota da CSLL. Mas as ações têm espaço de recuperação, agora que o investidor se deu conta que nada deve sair do papel.
… Itaú PN registrou desvalorização de 0,52% (R$ 36,39), Bradesco PN perdeu 0,75% (R$ 15,84) e Bradesco ON, -0,65% (R$ 13,69). Já Santander unit (+0,07%; R$ 28,75) e BB ON (+0,09%; R$ 21,73) ficaram estáveis.
… Petrobras PN caiu 1,55% (R$ 29,17) e ON recuou 1,05% (R$ 31,24), na contramão do petróleo. Confiante no progresso das negociações comerciais entre EUA e China, o Brent para agosto subiu 0,86%, a US$ 65,29.
CLIMA DE SUSPENSE – Em NY, as bolsas exibiram fôlego reduzido, à espera da rodada de conversas em Londres.
… O Dow Jones ficou estável, a 42.761,76 pontos, assim como o S&P 500 (+0,09%), a 6.005,88 pontos. O Nasdaq subiu pouco, só 0,31%, em 19.591,24 pontos. Os desdobramentos entre Washington e Pequim serão decisivos.
… Dia morno também nos Treasuries, enquanto as conversas com os chineses se estendem. O juro da Note de 2 anos caiu a 4,009%, contra 4,038% na véspera, e o rendimento do título de 10 anos recuou a 4,486%, de 4,505%.
… O investidor assume alguma cautela antes do anúncio da inflação do CPI de maio, amanhã, depois de o último payroll forte ter animado uma briga nas apostas para o Fed em setembro, entre estabilidade e queda do juro.
… De olho no que sairá da mesa de negociações comerciais, o índice DXY cedeu 0,25%, a 98,939 pontos. O iene subiu para 144,56/US$, o euro avançou 0,27%, para US$ 1,1428, e a libra ganhou 0,23%, cotada a US$ 1,3560.
EM TEMPO… Conselho de Administração da EQUATORIAL aprovou proposta de aumento de capital social da companhia em R$ 12,56 milhões; assim, capital social da empresa passará a ser de R$ 12,63 bi…
… Serão emitidas 700.253 novas ações ON, com o total de papéis chegando a 1.254.548.088 de ações ON; preço de emissão dos novos papéis foi definido em R$ 17,94.
TOTVS. Controlada Dimensa fechou contrato de R$ 260 milhões para a aquisição da totalidade da plataforma do setor de seguros Agger.
AGROGALAXY reduziu em 38,8% o prejuízo líquido ajustado no 1Tri de 2025, para R$ 153 milhões, contra R$ 250 milhões no mesmo período de 2024…
… O Ebitda ajustado permaneceu negativo em R$ 58,8 milhões, mas apresentou melhora comparado aos R$ 70 milhões negativos de um ano antes.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
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Fechado o acordo para rever o IOF
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[09/06/25]
… Um final de semana de protestos em Los Angeles, com manifestantes ateando fogo em veículos contra a política de imigração, é a nova crise de Trump, que ainda tem pela frente hoje a reunião entre representantes americanos e chineses, em Londres. Os interesses dos EUA sobre minerais raros e as restrições de Washington à venda de softwares chineses compõem uma pauta difícil, sem garantia de acordo. A China também abre o noticiário desta 2ªF com os dados da balança comercial em maio, que confirmou a desaceleração das exportações e a queda das importações, em meio ao impasse tarifário. Aqui, investidores repercutem as medidas apresentadas ontem à noite pela Fazenda aos líderes do Congresso, que devem agradar ao mercado financeiro, com revisão do decreto do IOF e previsão de propostas estruturais.
… Era quase meia-noite quando o ministro Haddad, rodeado pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, David Alcolumbre, e líderes de partidos da base aliada começou a entrevista aos jornalistas que esperavam o fim da reunião de mais de quatro horas.
… O decreto do IOF será recalibrado, com uma redução “significativa” das alíquotas inicialmente propostas. Não houve a antecipação dos detalhes, mas, questionado sobre o risco sacado, Haddad admitiu que será um dos itens mais alterados na revisão.
… O segundo ponto de consenso: o governo editará uma Medida Provisória para disciplinar a arrecadação e corrigir distorções de crédito, títulos e temas afins, que deixarão de ser isentos, mas com uma alíquota “bastante incentivada”, de 5%.
… Haddad explicou que a isenção desses títulos está causando distorções, “inclusive para o Tesouro Nacional”. Entre esses papéis estão as Letras de Crédito Agrícola e Letras de Crédito Imobiliário, cuja tributação ajudará a fechar as contas de 2025.
… O ministro confirmou, ainda, que a MP incluirá a taxação das Bets, conforme proposta feita pelos parlamentares.
… O terceiro ponto acertado na reunião diz respeito aos gastos tributários, para o enfrentamento do crescente volume das isenções fiscais, que podem chegar a R$ 800 bilhões, segundo cálculos da equipe econômica. Haddad quer cortar em, pelo menos, 10%.
… Finalmente, o quarto ponto atinge os gastos primários, ou discricionários (obrigatórios). Haddad disse que, nesse quesito, devem entrar alguns projetos que já tramitam ou tramitaram no Congresso, como a aposentadoria dos militares e os supersalários dos servidores.
… Em sua fala, Motta informou que apresentará a reforma administrativa no início de julho, mas todos eles concordaram que, antes, deve ser apurada a viabilidade política de cada matéria. Uma nova reunião será marcada para discutir essa questão em específico.
… As medidas devem ser apresentadas ao presidente Lula na volta de sua viagem, já na 3ªF pela manhã, quando deverão ser decididos os textos do novo decreto do IOF e da Medida Provisória – ambos para ajudar no cumprimento do déficit primário zero deste ano.
… Em suma, quatro pontos foram acertados: 1) recalibragem do IOF, 2) MP, 3) gastos tributários, e 4) gastos primários.
… Na sequência de Haddad, falou Hugo Motta, demonstrando grande alinhamento com a Fazenda e com David Alcolumbre. Disse que essa foi uma “reunião histórica que inaugurou o debate das isenções fiscais, que estão em níveis insuportavelmente altos”.
… Segundo o presidente da Câmara, o Congresso vai atacar os cortes infraconstitucionais, mais fáceis de serem aprovados.
… Também Alcolumbre falou, encerrando a entrevista, quando afirmou que estão “todos juntos” para buscar uma solução estrutural para as contas públicas do Brasil. “O Congresso não se furtará de debater todos os temas, mesmo os mais espinhosos.”
NO GUARUJÁ – Já no sábado, em evento do Grupo Esfera no Guarujá, o presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou que a decisão do governo de, mais uma vez, anunciar aumento de impostos, “empurrou” o País para uma agenda que tem que ser discutida.
… Segundo ele, a situação atual pela qual o Brasil passa preocupa a todos. “Esse é um sentimento que deve ser, com certeza, se não a unanimidade, mas de uma grande maioria nessa plateia que tem uma importância significativa para o nosso País.”
… Convidando a todos para assumir um pouco da responsabilidade na construção dessa agenda, defendeu que “se tivermos a capacidade de encarar a realidade nua e crua, vamos perceber que não temos mais tempo para adiar, porque o que está em jogo é nosso futuro”.
… Ao contrário da expectativa geral no Fórum, Hugo Motta não antecipou as medidas que esperava receber de Haddad no domingo, mas insistiu em decisões “estruturantes”. Aos jornalistas, disse que “chegou a hora de [o Congresso] tomar decisões importantes”.
… Políticos e banqueiros presentes também foram unânimes em defender que o País deve encaminhar uma agenda fiscal focada em cortes de gastos. “Se não for por bem, terá de ser por mal”, advertiu Isaac Sidney (Febraban), em tom de confronto.
… Ainda o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, disse ser preciso coragem para enfrentar o engessamento do Orçamento e cobrou o debate das medidas estruturantes para a estabilidade do endividamento público.
GALÍPOLO HAWKISH – Também presente ao fórum da Esfera, no Guarujá (SP), o presidente do BC voltou a assumir tom mais conservador. Agora tudo o que ele diz é interpretado pelo mercado sob o viés hawkish, de que o Copom vai defender Selic de 15% ou mais.
… Evitando guidance, ele repetiu que a comunicação do BC tem se pautado por “flexibilidade e cautela”.
… Flexibilidade, segundo Galípolo, significa que as opções do Copom para a reunião da semana que vem (dias 17 e 18) estão todas em aberto. Já cautela, disse, denota o ambiente de elevada incerteza no mundo e no Brasil.
… O comentário de que o BC “já fez um grande esforço” do ponto de vista de colocar a política monetária num “patamar que é, com alguma segurança, contracionista” poderia até ser lido como sinal de que o ciclo acabou.
… “Neste ambiente (de elevada incerteza), não é esperado que se façam movimentos bruscos”. Poderia estar se referindo a uma nova alta da Selic, ou apenas descartando o meio ponto, mantendo o 0,25pp no páreo.
… Em outra pista de conservadorismo, Galípolo disse que o BC está “muito insatisfeito” com a inflação fora da meta (3%) e reiterou o compromisso de perseguir o target obstinadamente, fazendo o “que tiver que ser feito”.
… O jogo ainda está sendo jogado e o Copom, como todo mundo, ainda tem que ver como é que a polêmica do IOF vai ser endereçada por aqui e se, lá fora, Trump vai parar de fabricar crises e desistir da guerra comercial.
… Mas, se Galípolo quisesse realmente corrigir a aposta hawk assumida pelo mercado, estaria pegando bem mais leve nos comentários.
… O BTG Pactual saiu do painel no Guarujá com a convicção de que o discurso do presidente do BC não é compatível com uma pausa no processo de aperto monetário e que o juro vai subir 0,25pp este mês.
… Amanhã (3ªF), o presidente do BC, Gabriel Galípolo, faz discurso na Febraban Tech, em São Paulo.
SERÁ QUE VAI? – Reportagem no Washington Post, no fim de semana, coloca em dúvida o fim do impasse entre EUA e a China, prevendo novo acirramento das tensões comerciais pela disputa do controle sobre as chamadas terras raras.
… A China produz mais de 70% desse grupo de elementos químicos, que são difíceis de extrair e possuem enorme importância no setor de tecnologia. O país é responsável pelo processamento de 90% dos produtos no mundo inteiro. Não vai querer abrir mão desse monopólio.
… Já o Wall Street Journal informa que o controle dos minerais raros deve ser o principal tema das negociações desta 2ªF, em Londres.
… Trump deve pressionar Pequim a acelerar as exportações de terras raras e ímãs, como foi acordado em Genebra, enquanto os chineses pedirão o fim das restrições impostas por Washington à venda de motores a jato, softwares e outros produtos tecnológicos.
… No sábado, o Ministério do Comércio da China, em gesto de boa vontade, anunciou a aprovação de licenças de exportação a produtos ligados a minerais raros, citando demanda crescente nos setores de robótica e veículos de nova geração.
TRUMP & MUSK – Alarmado, o Partido Republicano alerta que o rompimento entre os dois ex-aliados ameaça desviar a atenção da agenda do Congresso e inviabilizar o “grande e belo” pacote orçamentário do presidente.
… Bombeiros de plantão tentam salvar o pacote, que ainda precisa ser votado no Senado. Apesar da preocupação de que o bate-boca público respingue no cenário político, Musk faz gestos de reconciliação.
CONFLITOS EM LOS ANGELES – Em resposta aos protestos contra a deportação nos EUA, Trump mandou 2 mil soldados para as ruas e deixou os Marines em alerta, inflamando ainda mais o clima de tensão nas ruas.
CHINA HOJE – Anunciou aumento do superávit comercial de US$ 96,1 bilhões em abril para US$ 103,22 bilhões em maio, com a desaceleração das exportações, que cresceram 4,8% (de 8,1% no mês anterior), e queda de 3,4% das importações (de -0,2%).
… Pouco antes, no final da noite de domingo, foi anunciada também a inflação do CPI de maio na China, que recuou 0,1% na base anualizada, e a inflação do PPI, que aprofundou a queda anual de 2,7% para 3,3%.
… Ainda na Ásia, o Japão divulgou a leitura final do PIB/1Tri, que registrou estabilidade em relação ao trimestre anterior, após ter subido 0,6% nos três últimos meses de 2024 em relação aos três meses anteriores.
MAIS AGENDA – Entre os indicadores da semana, destaque para a inflação em vários países, inclusive no Brasil, com o IPCA de maio, nesta 3ªF (amanhã), com expectativa de desaceleração, em função do recuo dos preços dos alimentos e deflação de passagens aéreas.
… Pesquisa Broadcast apurou que o índice deve arrefecer de 0,43% em abril para 0,34% (mediana), entre 0,26% e 0,43%. Para 12 meses, a mediana indica taxa de 5,40% em maio, desacelerando em relação aos 5,53% de abril.
… Nos EUA, a inflação ao consumidor de maio sai na 4ªF e o índice de preços ao produtor, na 5ªF, ambos com expectativas de aceleração sobre abril, quando o CPI cheio ficou em 2,3% e o núcleo, em 0,2% na base mensal e em 2,8% no acumulado em 12 meses.
… Na 6ªF, sai a preliminar de junho da Confiança do Consumidor de Michigan, com as expectativas de inflação para um ano e cinco anos.
… Nesta semana, não haverá discursos das autoridades do Fed, que estão em período de silêncio para a reunião do Fomc do dia 18.
… Ainda no Brasil, são importantes as vendas no varejo (5ªF) e o volume de serviços (6ªF) – os dois de abril. A estimativa do UBS é de recuo de 0,6% na base mensal para as vendas no varejo e de alta de 0,2% para os serviços.
HOJE – O mercado confere mais uma pesquisa Focus (8h25), com a atualização do IPCA, Selic, PIB e câmbio, enquanto nos Estados Unidos saem estoques e vendas no atacado (11h) referentes ao mês de abril.
… Ainda nesta 2ªF, mais uma Agenda Brasil promovida pelo Valor, Globo e CBN discute Reforma Administrativa, Ajuste Fiscal, Orçamento da União, Medidas Fiscais e Parafiscais, Renúncias e Isenções Fiscais, Benefícios, Custo e Efetividade.
… Estão confirmados o presidente da Câmara, Hugo Motta, o economista-chefe da ARX, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, economista-chefe da SulAmérica, Natalie Victal, e o Ministro do TCU, Bruno Dantas.
… A transmissão ao vivo será realizada pelas redes sociais e pelo YouTube do jornal O Globo.
DORMIU VENDIDO – Escolhendo correr o risco de ficar a descoberto antes da reunião deste domingo do IOF, o dólar saiu para o final de semana em queda e renovou a menor cotação em oito meses, na faixa de R$ 5,56.
… O investidor resolveu apostar em um desfecho positivo para a disputa travada entre o governo e o Congresso.
… Além disso, o alívio no câmbio respondeu às esperanças na nova rodada de negociações entre os EUA e a China marcada para hoje em Londres. Ainda a reprecificação das apostas para aperto adicional da Selic fortalece o real.
… O dólar à vista fechou em baixa de 0,26%, a R$ 5,5698, descolado da alta externa, depois de a surpresa com os dados fortes do mercado de trabalho nos EUA (payroll) ter esvaziado as preocupações com uma recessão.
… Prova de como o ambiente de negócios e a percepção de risco melhorou nos últimos dias, a moeda americana recuou 2,62% na semana passada na comparação com o real, acumulando perda de quase 10% (-9,88%) no ano.
… À espera da solução para o IOF e para a guerra comercial de Trump, os juros futuros compraram a expectativa de que poderá dar tudo certo e devolveram na 6ªF parte dos prêmios acumulados ao longo dos pregões recentes.
… A exceção foi a ponta curta da curva, que ficou praticamente estável, com investidores consolidando a aposta de que vem aí a nova alta de 0,25pp na Selic, se o mercado estiver decifrando certo a comunicação de Galípolo.
… O DI para janeiro de 2026 marcou 14,905% (de 14,910% no fechamento anterior). Já o Jan/27 caiu a 14,290% (de 14,365%); Jan/29, a 13,710% (de 13,790%); Jan/31, a 13,830% (de 13,930%); e Jan/33, 13,870% (13,970%).
… Os juros futuros contrariaram o salto das taxas dos Treasuries provocado pelo payroll melhor que o consenso.
A VOZ DA EXPERIÊNCIA – Se Powell já estava sem pressa de cortar o juro, ganhou mais tempo na 6ªF com a força do relatório de emprego nos EUA – um argumento de alto calibre para reforçar a tese de que o Fed pode ir devagar.
… Temendo pelo pior, por causa dos indicadores fracos do mercado de trabalho americano divulgados 48h antes do payroll (ADP e auxílio-desemprego), o mercado acabou surpreendido por um dado favorável.
… A criação de 139 mil vagas em maio superou a estimativa de 125 mil e o salário por hora cresceu 0,42%, também acima do esperado (+0,30%), contando uma história que NY queria ouvir sobre a saúde da economia.
… Sem querer perder a pose para Powell, mesmo com o indicador positivo, Trump foi às redes sociais cobrar de novo o Fed: “a Europa teve 10 cortes de juros, nós não tivemos nenhum. Vamos para 1pp inteiro”, escreveu.
… Mas, no mercado, depois do payroll, as apostas de que os juros possam ser mantidos em setembro cresceram, de 25,7% para 39,2%, embora a chance de corte ainda continue majoritária (diminuiu de 54,3% para 51,8%).
… Resistente, o dado de emprego acionou uma disparada nas taxas dos Treasuries. A da Note-10 anos voltou a rodar acima do patamar de 4,50%, em 4,505%, de 4,395% na véspera. A de 2 anos saltou a 4,038%, de 3,929%.
NÃO QUER PERDER A MAJESTADE – Somando-se ao sinal de que o mercado de trabalho americano segue aquecido, a aproximação entre os EUA e a China ajudou a recuperar parte do terreno perdido pelo dólar.
… Termômetro do fôlego da moeda norte-americana, o índice DXY subiu 0,45%, para 99,190 pontos. Caíram o iene japonês (144,82/US$), o euro (-0,44%, para US$ 1,1401) e a libra esterlina (-0,34%, a US$ 1,3529).
… Embalado pelo payroll forte e pela torcida para Pequim e Washington se entenderem, o S&P 500 resgatou os 6 mil pontos. Sem guerra comercial, o perigo de a economia descambar para o pior cenário diminui bastante.
… O S&P 500 avançou 1,31%, a 6.000,36 pontos; o Dow Jones subiu 1,05%, a 42.762,87 pontos; e o Nasdaq teve alta de 1,20%, a 19.529,95 pontos. Tesla (+3,82%) corrigiu uma pequena parte do tombo de 14% da véspera.
… Depois da troca de ofensas públicas com Trump, Elon Musk sinaliza que pretende baixar a temperatura.
… Alheio ao otimismo nas bolsas em NY e ao alívio do dólar, o Ibovespa não conseguiu relaxar na 6ªF, porque está tendo que lidar com a frustração de que o ciclo de aperto monetário pode não ter terminado ainda.
… Na ponta negativa do índice à vista, alguns papéis mais diretamente ligados ao consumo registraram perdas expressivas, como foi o caso de Magazine Luiza (-5,57%), Lojas Renner (-4,67%), Assaí (-2,94%) e Vivara (-2,42%).
… De qualquer maneira, o tom de cautela do Ibov (-0,10%, aos 136.102,10 pontos) foi limitado pela reação das ações da Petrobras, depois da instabilidade recente com as mudanças cogitadas no setor para compensar o IOF.
… Petrobras ON subiu 1,19% (R$ 31,57) e Petrobras PN ganhou 0,92% (R$ 29,63), alinhadas ao petróleo, que subiu com o payroll e já estava fechado quando saiu a boa notícia de que os EUA e China vão se reunir hoje.
… O contrato do Brent para agosto avançou 1,73%, para US$ 66,47, e acumulou um rali semanal de 6,15%.
… O minério subiu 0,86% na 6ªF, sem empolgar a Vale (+0,13%, a R$ 52,98). Entre os bancos, BB caiu 2,38% (R$ 21,71); e Santander, -0,73% (R$ 28,73). Bradesco ficou estável (ON, -0,07%, a R$ 13,78; e PN, -0,06%, R$ 15,96).
… A exceção no setor financeiro foram os papéis do Itaú, que fecharam em leve alta de 0,25%, a R$ 36,58.
JBS – Na despedida, as ações da JBS avançaram 1,93% (R$ 39,03). Hoje, passam a ser negociadas na B3 por meio dos Brazilian Depositary Receipts (BDRs), sob o código JBSS32 – um avanço significativo na estratégia de dupla listagem da companhia.
… Para cada duas ações ordinárias da JBS, os acionistas receberão um BDR, que corresponderá a uma Class A Share. Para os detentores de ADRs da JBS S.A., a relação de troca será de 1:1, ou seja, cada ADR será convertido em uma Class A Share.
… A negociação das ações da JBS na Bolsa de Nova York terá início na próxima 5ªF, dia 12 de junho.
… “Com a dupla listagem, buscamos uma estrutura que reflita a nossa presença global e as nossas operações internacionais diversificadas, além de facilitar a implementação da nossa estratégia de crescimento e agregação de valor”, disse o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti.
… Segundo ele, a medida deve destravar ainda mais valor da JBS, com maior acesso a investidores e juros mais competitivos, para ampliar a capacidade de financiar o crescimento a um menor custo, acelerando a estratégia de diversificação.
EM TEMPO… GOL comunicou que concluiu com “êxito” sua reestruturação financeira e de suas controladas, nos termos do Chapter 11 do U.S. Bankruptcy Code, encerrando o procedimento judicial nos EUA…
… De acordo com a companhia, a partir de 12 de junho, as ações de emissão da empresa passarão a ser negociadas na B3 com novo fator de cotação (R$ por 1.000 ações) e novo lote padrão de negociação (1.000 ações)…
… Além disso, serão adotados novos códigos de negociação: GOLL53 para ações ON e GOLL54 para ações PN…
… Companhia também comunicou que o conselho determinou que o aumento de capital da empresa será de R$ 12.029.337.733,91, por meio da emissão de 8.193.921.300.487 de ações ON e de 968.821.806.468 de ações PN…
… Capital social passará de R$ 4.202.543.932,30 para R$ 4.203.543.932,30, dividido em 9.165.945.383.790 de ações (8.196.784.982.987 ON e 969.160.400.803 PN)…
… Abra Group passa a ser titular direta ou indiretamente de 80% das ações ON e PN.
… Ricardo Constantino e Paul Stewart Aronzon renunciaram aos postos no Conselho de Administração; Manuel José Irarrázaval Aldunate foi nomeado membro do Conselho; Antonio Kandir assumiu a vice-presidência do colegiado.
PETRORECÔNCAVO teve produção média de 27,4 mil boed em maio, queda de 1,7% em relação a abril, segundo dados operacionais.
VALE. O CEO, Gustavo Pimenta, disse em evento da Esfera que a guerra tarifária gera incertezas nos negócios da mineradora, sobretudo pelo impacto nas cotações das commodities de um arrefecimento da economia global…
… Ele frisou, no entanto, que está otimista em relação ao potencial da companhia de liderar a produção de minerais críticos na transição energética e na revolução tecnológica.
AURA MINERALS. Mineradora canadense de ouro e cobre, com operações no Brasil e papéis na B3, anunciou pedido de registro para fazer uma possível oferta de ações nos EUA para listagem na Nasdaq.
OI vai submeter propostas ao conselho com o objetivo de enquadrar a cotação de suas ações ON em patamar igual ou superior a R$ 1 por papel, conforme determinado pela B3; reenquadramento deve ocorrer até 19 de novembro.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
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Payroll define juro nos EUA
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[06/06/25]
… O investidor deve decidir hoje se sairá para o fim de semana comprado ou vendido nas medidas fiscais para substituir o IOF, que devem ser apresentadas no domingo pela Fazenda aos líderes do Congresso. O mercado está mais cético do que otimista. Mas há espaço tanto para decepções maiores como para uma reação positiva, se vier pelo menos uma boa proposta estrutural. Na agenda da 6ªF, o IGP-DI traz forte deflação, enquanto diretores do BC reúnem-se com economistas para discutir as apostas em nova alta da Selic. Nos EUA, entre os afagos de Trump a Xi Jinping e ataques a Musk, o payroll de maio (9h30) deve ser decisivo para definir as próximas decisões para o juro. A estimativa já é de desaceleração na criação de empregos, mas um resultado pior pode reforçar as expectativas de corte em julho.
… Na ferramenta do CME FedWatch, a precificação para o Fomc do dia 18 aponta de forma praticamente unânime para a estabilidade da taxa no intervalo entre 4,25% e 4,5%, mas para julho (30) as chances de uma queda de 25pbs estavam em 31,6% no final do dia.
… Os indicadores mais fracos da atividade e do mercado de trabalho, em especial, da pesquisa ADP nesta semana, deram o start para que fosse recuperada a esperança de uma ação antecipada do Fed, embora os dirigentes não tenham abandonado o discurso de cautela.
… Nesta 5ªF, Jeffrey Schmid disse estar desconfortável com o possível efeito inflacionário das tarifas. Patrick Harker, que o processo lento de desinflação já é motivo para manter a política monetária estável. E Adriana Kugler, que continua apoiando a manutenção da taxa.
… Mas o mercado acredita que essa mensagem poderá mudar com uma forte deterioração do emprego.
… Para o relatório de hoje, os analistas esperam que a economia tenha criado 125 mil vagas em maio, segundo pesquisa do Broadcast. As projeções captadas com 26 casas oscilam de 95 mil a 181 mil, representando um recuo frente a abril (+177 mil).
… A mediana para o salário médio é de avanço para 0,30% (de 0,17%), enquanto a taxa de desemprego deve se manter em 4,3%.
… É consenso no mercado que a desaceleração do emprego seja resultado do congelamento das contratações pelo governo federal e seus esforços para reduzir o quadro do funcionalismo. O mercado de trabalho ainda tem sido mantido pelo setor privado.
… Além da pesquisa da ADP, que derrubou a geração de vagas para apenas 37 mil, ante previsão de +130 mil, também os dados semanais dos pedidos iniciais do auxílio-desemprego tem aumentado, sinalizando que as demissões estão ocorrendo em ritmo mais rápido.
… O payroll, portanto, tem grande potencial de mexer com as expectativas e os negócios.
IGP-DI – A mediana das estimativas do mercado indica recuo de 0,69% para o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de maio, após alta de 0,30% na leitura de abril. As previsões variam de -0,90% a -0,41%. O dado será divulgado às 8h.
… A deflação é explicada pelo recuo dos preços agropecuários e retração intensa dos produtos industriais, mas não será relevante para as novas apostas surgidas nessa última semana na curva de juros, que voltou a projetar uma Selic de 15% (leia abaixo).
O MERCADO E O BC – Hoje, em reuniões de diretores do BC (Nilton David, Paulo Picchetti e Izabela Correa) com economistas do mercado, a expectativa é de que as preocupações com o emprego e a atividade fortes sejam avaliadas para justificar um ajuste adicional.
… Além disso, a piora da percepção fiscal em meio ao imbróglio do IOF deve ser tema garantido.
… O mercado não só reagiu mal ao aumento do IOF – tanto que conseguiu o recuo sobre investimentos no exterior horas depois – como também se surpreendeu com os confrontos abertos que se sucederam entre a Fazenda e o Congresso.
… No afã de defender as medidas, o ministro Haddad assumiu uma retórica que acabou ampliando a gravidade das finanças públicas.
… As pressões dos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, David Alcolumbre, por propostas estruturais em substituição ao IOF conseguiram arrancar algum entusiasmo inicial, que logo deu lugar a desconfianças e ao ceticismo.
S&P GLOBAL – Nesta 5ªF, após manter o rating BB do Brasil e a perspectiva estável da nota, a agência de classificação de risco avaliou que ações para ampliar a resiliência das contas públicas não devem ocorrer no Brasil antes das eleições de 2026.
… “Embora os setores público e privado estejam debatendo ativamente o Orçamento (…), à medida que o Brasil se aproxima das eleições de 2026, não esperamos a aprovação de políticas que fortaleçam significativamente o perfil fiscal do País.”
… A S&P lembra que, na Constituição brasileira, é necessário amplo consenso do espectro político para aprovar mudanças significativas e arrisca-se a prever que, “com o tempo, não antes das eleições presidenciais, haverá iniciativas para combater o fraco perfil fiscal”.
… Em uma análise que praticamente enterra as chances de o País recuperar o investment grade no governo Lula, a S&P Global avalia que, para o rating do Brasil aumentar, serão necessárias políticas que elevem os superávits primários e reduzam a rigidez orçamentária.
… A agência, contudo, diz que esse não é o seu cenário-base e alerta que a nota brasileira pode ser reduzida nos próximos dois anos se a implementação de políticas não conseguir conter a pressão sobre os gastos e levar a um aumento mais rápido da dívida.
SAÚDE E EDUCAÇÃO – Uma das medidas cogitadas nos bastidores para substituir o IOF, a revisão dos pisos constitucionais de saúde e da educação, “não é pauta” para a atual gestão, disse a ministra da Gestão, Esther Dweck, nesta 5ªF.
… Segundo ela, essa proposta não teria impacto fiscal relevante no curto prazo e, por isso, não há interesse do governo.
… A ministra fez o comentário em conversa com jornalistas após sua participação em evento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), em Brasília. Esther Dweck também descartou uma discussão sobre a reforma administrativa.
CAPTAÇÕES – Apesar da imprevisibilidade de Trump, a Coluna do Broadcast apurou queas emissões do Brasil no exterior no acumulado do ano já somam US$ 15,5 bilhões, volume superior ao de US$ 11,8 bi em igual período/24.
… Em entrevista à Bloomberg, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que o Brasil deve fazer novas captações este ano, após a emissão desta semana de US$ 2,75 bilhões de títulos em dólar com vencimento para 2030 e 2035.
… Ele antecipou que o País avalia emitir “panda bonds” (denominadas em yuan), como estratégia para diversificar o perfil da dívida e, ao mesmo tempo, dar uma referência para empresas que querem fazer operações semelhantes.
DE FÉRIAS – O Diário Oficial da União publicou o período de férias de Haddad, antecipado para a semana de 16 a 22 de junho.
… Hoje, o ministro da Fazenda participa (10h30), em São Paulo, do Congresso Brasileiro de Direito Tributário do Instituto Internacional de Direito Público e Empresarial (IDEPE). Este é o único compromisso que consta na agenda oficial do ministro.
… Às 16h30, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, falará sobre política econômica no Fórum Esfera, no Guarujá.
MAIS AGENDA – O resultado final do PIB/1Tri na Zona do Euro abre o dia dos mercados na Europa (6h). Na segunda preliminar, a economia cresceu 0,3%, abaixo da previsão de +0,4%.
… O crescimento foi sustentado pela demanda mais forte, queda da inflação, empréstimos menores e pelo otimismo após a decisão da Alemanha de flexibilizar as restrições fiscais.
… Às 7h30, o BC da Rússia anuncia decisão de política monetária; juro deve ser mantido em 21%.
… Nos EUA, a vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, discursa em evento (11h).
… Às 14h, a Baker Hughes divulga poços e plataformas de petróleo em operação; às 16h, saem os dados do crédito ao consumidor em abril.
NÃO TEM APOSTA DE GRAÇA – Em uma dessas reviravoltas inesperadas de última hora, virou minoritária a chance de pausa no ciclo de alta da Selic no Copom deste mês, que até semana passada era dada como praticamente certa.
… Recolocando no radar a precificação de Selic a 15%, o placar das apostas está agora em 72% para um aperto de 0,25pp, contra 28% de juro estável, segundo cálculos ao Broadcast do economista-chefe do Bmg, Flávio Serrano.
… O conservadorismo prospera a tal ponto, que surgiram ainda na curva a termo apostas de que o BC possa nem parar em junho, eventualmente cogitando uma elevação extra da taxa básica também na reunião de julho.
… Com o emprego bombando em abril, pelo que se confirmou nos resultados do Caged e da Pnad Contínua, Galípolo questionou, em evento na última 2ªF, se a taxa de juros já estaria em patamar suficientemente contracionista.
… O comentário deu início à recalibragem das apostas para a Selic, que têm ainda um outro fator em jogo:
… “Se a medida do IOF for revertida, uma nova alta de 0,25 ponto [da Selic] volta a ganhar probabilidade, em meio à atividade econômica forte e expectativas inflacionárias desancoradas”, comentou a XP Investimentos em relatório.
… A corretora elevou a projeção de crescimento do PIB deste ano (de 2,3% para 2,5%) e do ano que vem (de 1,5% para 1,7%), citando o mercado de trabalho doméstico aquecido e a resiliência nas concessões de crédito.
… Ainda segundo a XP, a liberação de saldos do FGTS, a ampliação do Minha Casa Minha Vida e o novo modelo de crédito consignado para trabalhadores do setor privado ainda não apareceram integralmente no ritmo do PIB.
… Diante do fôlego acelerado da economia, com o pleno emprego mantendo a renda elevada, o BV puxou fortemente a sua estimativa para o PIB de 2025 (de 1,7% para 2,3%) e de 2026 (de 0,5% para 1,5%).
… Na visão do banco, com novos estímulos fiscais e parafiscais sendo anunciados pelo governo e a provável ampliação dos programas de transferência de recursos, o quadro segue positivo para a atividade econômica.
… Do lado da inflação, o mercado vem promovendo uma onda de revisões em baixa para o ano: ontem, a XP baixou a previsão para o IPCA de 5,7% para 5,5% e o C6 Bank, de 5,5% para 5,3%. Mas seguem longe do teto da meta (4,5%).
… A desconfiança de que a Selic não vai parar em 14,75% disparou o DI: Jan/26, 14,910% (de 14,830% na véspera); Jan/27, 14,365% (de 14,210%); Jan/29, 13,790% (de 13,600%); e Jan/31, 13,930% (máxima do dia), contra 13,720%.
PORTA DE ENTRADA – Do ponto de vista do fluxo estrangeiro, a perspectiva de que o Copom siga em frente com o ciclo de aperto é promissora e ajudou a colocar o dólar ontem abaixo de R$ 5,60, o que não ocorria desde outubro.
… Outros gatilhos de queda vieram da fraqueza global da moeda americana, diante do telefonema entre Trump e Xi Jinping, que esfria a guerra de tarifas, e da pressão do mercado por corte de juro pelo Fed com os indicadores fracos.
… Aqui, o dólar fechou em queda de 1,08%, a R$ 5,5845. Lá fora, o índice DXY cedeu 0,5%, a 98,741 pontos. O destaque do dia ficou com o euro (+0,21%), a US$ 1,1440, com Lagarde (BCE) telegrafando o fim dos cortes de juros.
… Em coletiva de imprensa, ela mencionou várias vezes que, com a redução de 25pb promovida ontem (completando oito quedas consecutivas), as taxas estão bem posicionadas para lidar com o ambiente incerto.
… Apesar da cautela com as negociações comerciais entre EUA e Europa, com data marcada para daqui a praticamente um mês (dia 9/7), o BCE já parece se sentir à vontade para uma pausa na próxima reunião, em 24/7.
… Nestes tempos em que a dominância do dólar tem sido colocada em xeque, Lagarde reconheceu a chance de fortalecer a moeda europeia para assumir o posto de reserva global de valor. “Mas não será simples nem garantido.”
… A libra esterlina registrou valorização de 0,17% ontem, para US$ 1,3574, e o iene fechou negociado a 143,74/US$.
… Ao contrário do BCE, que já finaliza o seu ciclo de alívio dos juros, o Fed se prepara para começar a relaxar. A última rodada de indicadores fracos eleva o sentimento no investidor de que os EUA estão desacelerando para valer.
… Um dia depois da pesquisa fraca da ADP, veio mais um sinalizador de que a saúde do mercado de trabalho americano não vai bem. Os pedidos de auxílio-desemprego subiram 8 mil, a 247 mil, superando o consenso (235 mil).
… Num primeiro momento, o dado derrubou os juros dos Treasuries, que depois conseguiram reverter a queda, quando o governo americano confirmou que Trump conversou durante 1h30 com Xi Jinping pelo telefone.
… A taxa da Note de 2 anos subiu a 3,929%, de 3,871% na véspera, e a de 10 anos avançou para 4,395%, de 4,360%.
… O apelo defensivo pelos títulos do Tesouro americano diminuiu depois do “excelente” diálogo com o presidente chinês, segundo Trump, alimentando nos mercados globais a perspectiva de normalização das relações comerciais.
… O presidente dos EUA informou que três integrantes do alto escalão – Bessent (Tesouro), Lutnick (Comércio) e o embaixador Greer – terão uma reunião agendada “em breve” com representantes de Pequim em local a ser definido.
VIRA-CASACA – No mesmo dia em que estreitou os laços com os chineses na longa conversa telefônica, Trump também ganhou os holofotes ontem ao protagonizar um bate-boca público com o seu ex-fiel aliado Elon Musk.
… O dono da Tesla foi ao X para criticar a “abominação repugnante” do plano orçamentário de Trump e conclamar o Senado a barrar o texto. Trump revidou, dizendo que a maneira mais fácil de economizar é cortar subsídios a Musk.
… A briga descambou, com Musk insinuando ligação de Trump com o escândalo sexual de Jeffrey Epstein.
… Atingida em cheio pela treta entre os dois, as ações da Tesla afundaram 14,27% e pesaram no Nasdaq (-0,83%, a 19.298,45 pontos). Já o Dow Jones (-0,25%; 42.319,74 pontos) e S&P 500 (-0,53%; 5.939,31 pontos) caíram menos.
… Enquanto o fim do romance entre Trump e Musk levava NY a operar na defensiva, por aqui, o Ibov (-0,56%) perdia os 137 mil pontos (136.236,37). Não caiu bem para a bolsa a consolidação das apostas de que a Selic pode ir a 15%.
… Além disso, segundo o Valor, causaram desconforto nos papéis do setor financeiro as discussões em andamento no BC sobre a chance de aumento no futuro próximo do Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCP).
… Isso significa que os bancos poderão ser obrigados a reservar mais capital para lidar com eventuais contrações no mercado de crédito, como uma forma de suavizar os efeitos das flutuações na economia doméstica.
… As ações do Bradesco figuraram no ranking das maiores perdas do Ibovespa: PN registrou -2,92% (R$ 15,97) e ON, -2,75% (R$ 13,79). Itaú caiu 1,22%, a R$ 36,49; BB ON cedeu 0,49%, a R$ 22,24; e Santander, -0,31% (R$ 28,94).
… Petrobras também continuou operando sem fôlego, influenciada pelas medidas em estudo pelo governo para compensar as mudanças do IOF. O papel ON recuou 0,54%, para R$ 31,20, e PN fechou estável (+0,03%, a R$ 29,36).
… Uma das propostas envolve a mudança do cálculo do Preço de Referência do Petróleo (PRP). A equipe econômica estuda ainda o repasse de valores que estão na reserva de lucros da Petrobras, BB e BNDES, em forma de dividendos.
… Incomodado, o investidor desprezou a notícia da estatal sobre o interesse em blocos exploratórios na Costa do Marfim e ignorou também a alta do petróleo (Brent para agosto, +0,74%, a US$ 65,34) com o telefonema de Trump.
… Vale subiu 0,27%, a R$ 52,91, em dia de leve queda do minério de ferro no mercado chinês (-0,14%).
… A maior valorização do dia foi da Suzano, com +6,31%, a R$ 52,90, após a companhia anunciar que fechou acordo para compra de 51% dos negócios internacionais de papéis de higiene (tissue) da Kimberly-Clark por US$ 1,73 bilhão.
EM TEMPO… CASAS BAHIA informou que está em “discussões avançadas” com alguns credores, detentores de debêntures, para antecipar o prazo de conversão de R$ 1,5 bilhão da dívida em ações ordinárias…
… A companhia afirmou que os detentores de 99,99% das debêntures da 2ª série em circulação pretendem permitir a conversão já a partir deste mês.
BB captou US$ 100 milhões em operação chamada “Climate-Smart Agriculture”, com prazo de dois anos, para financiar agricultura sustentável, contratada junto ao banco francês Natixis CIB.
PETRORECÔNCAVO adquiriu 50% de participação na UPGN Guamaré, no Rio Grande do Norte, da Brava Energia, por US$ 65 milhões.
BRASKEM esclareceu que Projeto Transforma Rio, iniciativa para ampliar a capacidade produtiva de sua central petroquímica no RJ em 220 mil t de eteno/ano, ainda depende de assinatura de contrato com a Petrobras.
RUMO rescindiu acordo vinculante firmado para venda de sua participação de 50% no capital social do Terminal XXXIX de Santos…
… Segundo a empresa, decisão ocorreu após não cumprimento de determinadas condições precedentes até data-limite estabelecida contratualmente…
… Com a desistência da operação, companhia manterá sua participação de 50% no T-XXXIX.
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