Guerra comercial esquenta, mas quem manda é o Fed

… A aposta de que o Fomc cortará o juro mais duas vezes neste ano prevalece sobre a tensão crescente entre Estados Unidos e China, embalando os negócios em Nova York e no Brasil. O diferencial das taxas amplia a atratividade do carry trade, com a sinalização firme do Copom de que não reduzirá a Selic tão cedo. Trump aperta a pressão contra Pequim antes do seu encontro com Xi Jinping, enquanto a diplomacia brasileira começa a negociar hoje o tarifaço em Washinton. Na agenda do dia, tem falas de mais Fed boys, de Lagarde, o IBC-Br de agosto e as preocupações fiscais, que continuam no radar, com grande expectativa pelas medidas de ajuste que Haddad levou a Lula.

O NOVO PACOTE – O ministro Fernando Haddad foi chamado ao Alvorada pelo presidente Lula no final da tarde para discutir as medidas em estudo pela equipe econômica para compensar a derrota da MP que trazia alternativas à alta do IOF.

… Sem a Medida Provisória, o governo ficou sem R$ 20 bilhões em receitas previstas para o ano que vem e R$ 15 bilhões em redução de gastos, representando um déficit de R$ 35 milhões para o Orçamento de 2026.

… Como mostrou o Estadão, medidas que já estavam na MP derrubada pela Câmara devem ser apresentadas em forma de projeto de lei, como o PL protocolado pela bancada do PT que aumenta a alíquota dos ganhos das bets de 12% para 24%.

… Atos de competência exclusiva do Executivo, como um novo aumento do IOF, estariam entre as propostas da Fazenda, assim como medidas de compensação tributária, a taxação das fintechs e as medidas de cortes de gastos públicos que constavam da MP 1.303.

… O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou, no entanto, que as discussões sobre alternativas à queda da Medida Provisória ainda estão num “plano bem preliminar” e que “tudo que tem saído na imprensa é pura especulação”.

… Durigan, porém, descartou medidas que envolveriam aumento de imposto de importação ou de exportação e a taxação das LCIs e LCAs.

… Segundo apurou o Valor, a equipe econômica não quer alterar a meta fiscal de 2026 e vê movimento político por trás de boato. Haddad deve insistir na estratégia de tentar recompor a receita perdida recuperando pontos mais consensuais.

… Pela manhã, o ministro discutiu as compensações à perda arrecadatória decorrente da derrubada da MP com o presidente do Senado, David Alcolumbre, que classificou a conversa como “muito boa”. No encontro, foi acertada a votação da LDO na próxima semana.

TCU ALIVIA – O ministro Benjamin Zymler acatou um recurso do governo Lula e suspendeu a decisão que determinou ao governo mirar o centro da meta fiscal, e não o limite inferior, na hora de contingenciar recursos do Orçamento.

… Segundo despacho assinado no início da noite, a decisão fica suspensa até a análise do recurso pelo plenário do TCU, ainda sem data marcada.

… Zymler esclareceu que uma eventual negativa no julgamento do mérito “não levará à responsabilização dos agentes públicos envolvidos, tendo em vista a complexidade da matéria e opiniões divergentes dentro do próprio Tribunal”.

… Essa era uma preocupação do Executivo, que via o risco de colocar Lula em situação semelhante à que levou ao impeachment de Dilma.

… Para o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, a decisão do ministro Benjamin Zymler dá “segurança jurídica” para o governo fazer o próximo relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, que sai até dia 22 de novembro.

… No fim de setembro, o TCU havia definido, em acórdão, que “a adoção do limite inferior do intervalo de tolerância, em substituição ao centro da meta de resultado primário, revela-se incompatível com o regime jurídico-fiscal vigente”.

OPOSIÇÃO APERTA – Antes de o recurso do governo ser acatado pelo TCU, a oposição no Senado articulava um destaque no Projeto de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para obrigar o governo a perseguir o centro da meta fiscal, apurou o Broadcast Político.

… A intenção é que a emenda sirva como um “remédio” caso o governo tente alterar o PLDO por causa das receitas frustradas da MP 1.303.

… O problema é que esse feitiço pode se virar contra os feiticeiros, já que cálculos do Planejamento apontaram que um contingenciamento de R$ 30 bilhões para perseguir o centro da meta resultaria em um corte de R$ 6,801 bilhões em emendas parlamentares.

EUA & BRASIL – O chanceler Mauro Vieira se reunirá hoje em Washington com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para negociar o tarifaço de 50% imposto pelo presidente Trump aos produtos brasileiros.

… O encontro foi confirmado por Lula, nesta quarta, em evento no Rio pelo Dia do Professor. O presidente brincou sobre a nova fase da relação com Trump, dizendo que “não pintou uma química entre eles”, que “pintou uma indústria petroquímica”.

… Além da revisão das tarifas, o Brasil também pedirá a revogação das punições a autoridades, como a cassação de vistos e a Lei Magnitsky.

… O jornalista Valdo Cruz (G1) apurou que um dos pontos que deve ser tratado no encontro entre Mauro Vieira e Marco Rubio é o pedido de Trump para que o governo brasileiro abandone a ideia da “moeda dos Brics” para substituir o dólar.

… Nesta quarta, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo se anteciparam à reunião de Mauro Vieira e visitaram Marco Rubio no Departamento de Estado dos Estados Unidos, segundo informação fornecida pela dupla a Caio Junqueira (CNN Brasil).

… Mas segundo Malu Gaspar (Globo), tanto aliados de Lula como de Bolsonaro avaliam que o diálogo aberto entre os presidentes Trump e Lula minou a influência de Eduardo sobre a Casa Branca, e que é bastante possível que as sanções comerciais sejam derrubadas.

… Rubio é um dos arquitetos das tarifas e das políticas contra o Brasil, é crítico do ministro Alexandre de Moraes, mas no comando da diplomacia dos Estados Unidos tem sido um auxiliar leal a Trump e, dificilmente, iria contra a orientação do chefe.

… No Valor, o governo quer usar o café como moeda de troca, após Trump ter se queixado do aumento dos preços ao consumidor americano.

TERRAS RARAS – No mesmo dia em que ocorre o primeiro encontro das diplomacias americana e brasileira, o presidente Lula vai participar da reunião inicial do Conselho Nacional de Política Mineral, que será instalado nesta quinta-feira (15h), no MME.

… O encontro de hoje começa a discutir as negociações envolvendo as terras raras e os minerais críticos com os Estados Unidos.

… A reunião será fechada, mas no final está prevista uma entrevista do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL – Sessão conjunta do Congresso para votar os vetos de Lula ao marco legal do Licenciamento Ambiental, prevista para hoje, deve ser adiada a pedido do governo, que pretende construir antes um acordo com a Frente Parlamentar da Agropecuária.

… O Planalto quer evitar que os parlamentares derrubem os vetos presidenciais, o que poderia manchar a imagem do Brasil na COP30.

… Apelidado de “PL da Devastação” por ambientalistas, o texto foi aprovado em julho e um dos principais itens vetados pelo Executivo se refere a uma espécie de licença autodeclaratória, que não depende de aprovação de órgão ambiental para a execução de uma obra ou projeto.

É GUERRA – Depois de dizer mais cedo, nesta quarta-feira, que os Estados Unidos estão “em uma guerra comercial com a China”, Trump voltou ao tema em jantar na Casa Branca afirmando que usa as tarifas “como uma maneira de parar as guerras”.

… Na entrevista dada no Salão Oval, Trump havia defendido as tarifas como um instrumento essencial de política nacional. “As tarifas são uma ferramenta muito importante para nossa defesa, para a nossa segurança nacional”.

… As declarações surgem em meio à pressão exercida pelo seu governo sobre a China, que levou uma tarifa adicional de 100% a 150% sobre equipamentos marítimos e de logística chineses, publicadas no Federal Register, o Diário Oficial dos Estados Unidos.

… As novas sobretaxas estão previstas para entrar em vigor no dia 9 de novembro.

… O presidente Trump também anunciou que pretende “ir à Suprema Corte para acompanhar o caso das tarifas”, referindo-se ao processo que questiona judicialmente a legalidade das alíquotas impostas pelo seu governo.

… Além do presidente, seus assessores também mantêm a pressão sobre Pequim antes do encontro entre Trump e Xi, no fim do mês. Ontem, em discurso na reunião do FMI, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, pediu que o Banco Mundial pare de apoiar a China.

… Depois, em entrevista ao lado do representante comercial, Jamieson Greer, embora tenha dito que ainda espera pela reunião na Coreia do Sul, voltou a ameaçar: “Não queremos tensões, mas temos muitas medidas para usar contra Pequim, se for necessário.”

… O secretário do Tesouro ainda se queixou que “eles [os chineses] não são confiáveis e talvez tenhamos que separar nossas economias”. Greer seguiu o mesmo tom: “Esperamos que Pequim recue nas restrições sobre bens de terras raras e que as tarifas não sejam necessárias.”

SHUTDOWN – Uma juíza da Califórnia determinou a suspensão de demissões em massa durante a paralisação do governo americano, acatando o pedido de dois sindicatos para bloquear as dispensas em mais de 30 agências governamentais.

… Segundo ela, o governo Trump estaria se aproveitando da paralisação para executar sua agenda de enxugamento da máquina pública, o que torna as demissões ilegais. A magistrada também vê motivações “claramente políticas” por trás do corte de pessoal.

… Antes, a Casa Branca informou que Trump pode cortar mais de 10 mil empregos federais. “Queremos ser muito agressivos onde for possível, reduzindo a burocracia, não apenas o financiamento, agora temos essa oportunidade”, disse o diretor de orçamento, Russell Vought.

AGENDA LÁ FORA – Sem indicadores no shutdown, apesar da fila de Fed boys que falam nesta quinta, é de zero a chance de qualquer declaração abalar a expectativa amplamente majoritária no mercado de o juro americano cair este mês e também em dezembro.

… Em eventos diferentes, Christopher Waller, Michael Barr e Stephen Miran discursam às 10h. Já Michelle Bowman fala às 11h e Neel Kashkari (não vota) participa de discussão no início da noite, às 19h, já com Nova York fechada.

… Entre os dados privados, o índice NAHB de confiança das construtoras em outubro sai às 11h e os estoques de petróleo do DoE, às 13h.

… Na zona do euro, a balança comercial de agosto abre o dia, às 6h, e Christine Lagarde (BCE) discursa em painel às 13h.

AGENDA NO BRASIL – Mesmo com a Selic rodando alta, a atividade econômica segue aquecida. Às 9h, o IBC-Br deve reverter a queda de 0,53% em julho e registrar alta de 0,70% em agosto, segundo a mediana do Projeções Broadcast.

… O crescimento observado na indústria, varejo e serviços deve impulsionar o crescimento do “PIB do BC” na margem. As estimativas variam de recuo de 0,30% a alta de 1,10%. Na base anualizada, o dado deve crescer 0,65%.

… Pouco antes, às 8h, sai a prévia do IPC-S.

… Em Washington, o diretor de política monetária do BC, Nilton David, participa de evento do UBS BB às 9h15, um dia depois de confirmar a comunicação conservadora do Copom (abaixo).

VAMOS FALAR DE COISA BOA? – Enquanto Trump continua trocando chumbo com a China, os mercados globais elegem o Fed como prioridade e operam mais relaxados, já com o sinal verde recente de Powell para corte de juro.

… Não que os investidores estivessem dependendo da “bênção” dele para apostar forte em mais duas quedas da taxa este ano. Muito pelo contrário: já faz semanas que a precificação dovish caminha para a unanimidade.

… Mas a ênfase dada esta semana por Powell ao enfraquecimento do mercado de trabalho dá certeza praticamente absoluta de que o Fed não vai se arriscar a ser negligente com o emprego, enquanto monitora a dinâmica da inflação.

… Praticamente o mercado inteiro (97,8%), segundo a ferramenta do CME, aposta em nova flexibilização monetária na próxima reunião do Fed, e são também super amplas (94,9%) as chances de outro corte vir em dezembro.

… Dentro deste contexto, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes, caiu 0,25%, a 98,793 pontos, sustentando o euro (+0,32%; US$ 1,1641), a libra (+0,59%; US$ 1,3387) e iene (+0,39%; 151,28/US$).

… Colado ao movimento externo do câmbio, o real também subiu, ainda que pouco, levando o dólar à vista a cair de leve (-0,14%), cotado a R$ 5,4624. Carry trade atraente é o que não falta, com Fed dovish + Copom hawkish.

… O diretor do BC Nilton David defendeu, em evento em Washington, a Selic em patamar restritivo por mais tempo, diante do cenário de maior incerteza no ciclo da política monetária e desancoragem das expectativas inflacionárias.

… Também em Washington, o colega Paulo Picchetti disse que o BC não está contando com apreciação do real para diminuir a pressão da inflação. “Não é ruim ter alguma sorte no processo, mas isso não depende de nós.”

… Ele reforçou que a autoridade monetária não tem meta para taxa de câmbio e disse que vê a atividade econômica desacelerando conforme o esperando, diante da eficácia da Selic. “Estamos vendo a política monetária funcionar.”

… Muito afinados, os diretores do BC, junto com Galípolo, têm falado todos a mesma língua. A comunicação conservadora mantém a ponta curta do DI perto dos ajustes, sem esperança de um corte antecipado da Selic.

… Ontem, ainda a alta de 0,9% nas vendas do varejo em agosto, acima da mediana de 0,7%, impediu que os juros futuros de curto prazo acompanhassem o alívio dos mais longos, que olharam para o Fed e esqueceram da China.

… A recuperação do varejo, após quatro quedas consecutivas, reforça a tese de Selic estável por mais tempo.

… O DI para Jan/29 caiu a 13,305% (de 13,353% na véspera); o Jan/31 recuou a 13,540% (de 13,629%); e Jan/33, 13,660% (de 13,785%). Já o Jan/26 encerrou a 14,895% (de 14,892%) e o Jan/27 subiu a 14,030% (de 13,990%).  

EM CÓRNER – O fator desinflacionário de um potencial reajuste dos combustíveis ainda não fez preço no DI, mas o rumor continua correndo no mercado, com a trajetória de queda do petróleo fechando o cerco para a Petrobras.

… Cálculos da Abicom indicam defasagem de 9% entre os preços internos contra os praticados no exterior. O Itaú BBA aponta que a diferença é ainda maior, com os valores aqui 13% acima da paridade de importação (PPI).

… Os contratos futuros de petróleo tiveram ontem mais uma sessão negativa, precificando o excesso de oferta, ao passo que as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China impõem ameaça extra para a demanda.

… O Brent para dezembro caiu 0,77%, a US$ 61,91, e não falta tanto para furar o patamar dos US$ 60. Até aqui, a Petrobras reafirma que mantém a estratégia de não trazer volatilidade do petróleo ao mercado interno.

… Só não se sabe até quando poderá resistir, se o petróleo continuar em rota de queda. De olho nas especulações de que a gasolina pode ficar mais barata, as ações da Petrobras caíram: ON, -1,40%, a R$ 31,74; e PN -0,90%, a R$ 29,75.

… A queda dos papéis não comprometeu o Ibovespa, que reconquistou o patamar de 142 mil pontos, em alta de 0,65%, aos 142.603,66 pontos, com giro forte, de R$ 28,6 bi, turbinado pelo vencimento de opções sobre o índice.

… Além de a bolsa ter ignorado os altos e baixos na relação entre os Estados Unidos e a China, também foi sustentada pelas blue chips do setor financeiro e pela Vale, que contrariou a queda de 1,46% do minério de ferro.

… A ação subiu 1,86% e, após tentativas recentes, finalmente superou a marca dos R$ 60, retomando os melhores níveis desde janeiro do ano passado. Fechou cotada a R$ 60,86, diante da perspectiva de dividendos extraordinários.

… Semana passada, analistas expressaram ao Broadcast as chances cada vez mais distantes de a Vale pagar dividendos extras, por conta da recompra recentemente anunciada das debêntures pela companhia.

… Ontem, no entanto, a esperança de pagamento foi resgatada pelo BTG Pactual, na esteira do otimismo com o relatório de produção e vendas no terceiro trimestre, que será divulgado pela Vale na próxima terça-feira.

… Bradesco PN subiu 1,17%, a R$ 17,36; Bradesco ON ganhou 1,30%, a R$ 14,79; Itaú PN fechou a sessão estável, a R$ 37,45; e Santander avançou 1,75% (R$ 27,93). Já BB ON (-1,84%; R$ 20,32) sentiu o ruído do socorro aos Correios.

COADJUVANTE – Parte do fôlego das bolsas em Wall Street foi roubado à tarde, quando Bessent pediu para o Banco Mundial para não ajudar mais a China. Mas a nova provocação acabou sendo deixada em segundo plano.

… Cansado desta crise cheia de idas e vindas, o investidor preferiu desviar o foco para fatores mais positivos.

… De acordo com a UBS Wealth Management, a postura bullish em Nova York foi  impulsionada pelos investimentos em inteligência artificial, o crescimento sustentável nos lucros corporativos e os próximos cortes nos juros pelo Fed.

… Entre os bancos que reportaram balanços ontem, Bank of America registrou um rali de 4,37% e Morgan Stanley também emplacou alta expressiva, de 4,71%, depois de os resultados trimestrais terem superado o consenso.

… O S&P 500 ganhou 0,40%, aos 6.671,06 pontos, e o Nasdaq registrou valorização de 0,66%, encerrando o pregão aos 22.670,08 pontos. O índice Dow Jones ficou praticamente estável (-0,04%), aos 46.253,31 pontos.

… Nem mesmo os Treasuries, que servem de hedge, acusaram a retórica agressiva entre os governos de Washington e Pequim. O juro da Note de 2 anos subiu a 3,500%, de 3,476% na véspera, e o de 10 anos foi a 4,037%, de 4,023%.

COMPANHIAS ABERTAS – Tribunal de Justiça do Rio rejeitou recurso do MP fluminense que visava a suspender os efeitos da medida cautelar que protege os ativos da AMBIPAR e de seu controlador, Tércio Borlenghi Junior. (Valor)

KLABIN fechou contrato de financiamento de US$ 150 milhões na modalidade “Term Loan” (empréstimo a prazo institucional); financiamento tem amortizações no quinto, sexto e sétimo anos.

TIM informou que antecipará para 21 de outubro o pagamento da terceira parcela dos dividendos complementares, no valor de R$ 684 milhões, o equivalente a R$ 0,2826 por ação…

… Pagamento estava inicialmente previsto para ser realizado até dia 23 de outubro; as duas primeiras parcelas já foram pagas em 22 de abril e 23 de julho.

ENEVA. Geração de energia bruta da companhia somou 4.053 gigawatt-hora (GWh) no terceiro trimestre, estável na comparação anual.

MARFRIG. JPMorgan elevou a participação na empresa de 4,76% para 5,03%.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

AVISO – Bom Dia Mercado é exclusivo para assinantes e não pode ser redistribuído.

Pressão dos EUA sobre a China traz volatilidade

… Mais dois bancos divulgam balanços hoje em Nova York antes da abertura dos mercados, o BofA e o Morgan Stanley, após os resultados acima do esperado do JPMorgan, Goldman Sachs, Wells Fargo e Citi. Na agenda econômica, o Fed divulga o Livro Bege, que servirá como parâmetro para o Fomc do dia 29. O discurso de Powell não alterou as expectativas do mercado por mais cortes de juro neste ano. O que voltou a pegar foi o vaivém das declarações de Trump sobre a China. Aqui, são destaques dados do varejo e palestras de diretores do BC em Washington, enquanto o governo adia a votação da LDO em busca de medidas para compensar a derrubada da MP do IOF.

ESTRATÉGIA DE RISCO – Não só Trump, mas também autoridades da Casa Branca estão lançando sinais de força em cima de Pequim, alternando falas otimistas com comentários que sugerem a escalada da guerra comercial – o que induz os mercados à volatilidade.

… Logo cedo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou a China de tentar enfraquecer a economia global com as restrições à exportação de minerais críticos. “Isso mostra quão fraca está a economia chinesa; e eles querem puxar todo mundo para baixo”, no Financial Times.

… Já no início da tarde, uma entrevista de Jamieson Greer, representante comercial dos Estados Unidos, à CNBC renovou as expetativas sobre um acordo com a China, ao confirmar o encontro entre Trump e Xi, revelando que um “horário está marcado”.

… Embora ele tenha dito que “as tarifas de 100% podem chegar em breve” (1 de novembro) e que “temos controles de exportação que podemos impor se necessário”, mostrou-se confiante. “Acho que conseguiremos resolver isso com a China. Trump é um grande negociador”.

… Segundo Greer, “os chineses perceberam que exageraram nas medidas sobre terras raras, que são desproporcionais e surgiram do nada”.

… Ao lado do presidente argentino Javier Milei, recebido na Casa Branca, Trump voltou a repetir que “tudo ficará bem” com a China. “Tenho um ótimo relacionamento com o presidente Xi, mas às vezes ele é posto à prova porque a China gosta de tirar vantagem de nós.”

… Mas, perto do final do pregão, Trump foi à sua rede social com novas ameaças à China, afirmando que o país comete um “ato de hostilidade” ao não comprar “intencionalmente” a soja dos Estados Unidos e causar dificuldades aos produtores americanos.

… Como retaliação, o presidente disse que está considerando encerrar negócios com a China envolvendo o óleo de cozinha e “outros elementos de comércio”. “Podemos facilmente produzir óleo de cozinha, não precisamos comprá-lo dos chineses”.

… E antes que o dia terminasse, foi a vez do diretor do Conselho Econômico dos Estados Unidos, Kevin Hassett, acusar a China de tentar intimidar o governo americano ao retomar controles de exportação sobre bens de terras raras, na semana passada.

… “Foi um clássico movimento de intimidação. Nem sequer atendiam ligações do nosso time perguntando: O que aconteceu? Não estava tudo certo para Trump e Xi se encontrarem?”, disse ele, em entrevista à Fox News, ontem à noite.

… Hassett disse ainda que o governo americano tem muitos “trunfos”, que “a China não tirará vantagem de nós” e que “Trump conseguirá um bom acordo”. O encontro de Trump e Xi está previsto para acontecer na Coreia do Sul durante a cúpula da Apec, com início no dia 27.

BRASIL CITADO – Pouco antes da reunião com Milei, Trump disse aos jornalistas que teve uma “boa conversa” com o presidente Lula, mas enfatizou que os Brics realizaram um “ataque ao dólar” e, por isso, ameaçou tarifas contra os países do grupo.

TAXAÇÃO BBB – Aqui, investidores acompanharam a participação do ministro Fernando Haddad em audiência pública na CAE do Senado, onde ele se queixou da derrubada da MP do IOF e disse que avalia a possibilidade da “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários).

… Diante do impasse orçamentário, o governo pediu um novo adiamento da votação do Projeto Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026.

… Hoje, Haddad reúne-se (8h30) com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para tratar das receitas frustradas pela queda da MP 1.303, de possíveis alterações no texto da LDO e do apoio a eventuais medidas que estão sendo preparadas como alternativas de arrecadação.

… Entre essas medidas estaria a taxação dos bancos/fintechs, bets e dos super-ricos, além da revisão dos benefícios tributários. O governo tenta encontrar uma saída para compensar os mais de R$ 20 bilhões previstos na MP derrotada para 2026.

… Haddad disse que vai levar a Alcolumbre uma lista dos “cenários” para receita e despesa na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Perguntado pelos jornalistas sobre a possibilidade de mudar as metas fiscais, o ministro foi vago: “Cada cenário tem uma consequência”.

… O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, disse que a LDO deve ficar para a próxima semana, diante do buraco fiscal causado pela derrubada da MP do IOF. “Nós temos um rombo de R$ 35 bilhões e temos que conversar com o Congresso para encontrar os recursos.”

… Randolfe negou que o governo tenha desistido de fazer cortes, afirmando que as opções ainda estão sendo avaliadas.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL – Mesmo sem a votação da LDO na comissão, David Alcolumbre manteve a sessão conjunta do Congresso desta quinta-feira, quando serão analisados os vetos do presidente Lula ao marco legal do Licenciamento Ambiental.

DEFESA AO TCU – Em outra frente de pressão sobre o orçamento, o governo apresentou ontem aos ministros do Tribunal de Contas da União os argumentos em defesa do cumprimento das metas fiscais pelo piso, prática condenada pela Corte.

… Segundo apurou o Valor, participaram da reunião virtual o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, e o secretário da Casa Civil, Bruno Moretti, além do presidente do TCU, Vital do Rêgo, e o ministro Benjamin Zymler, relator do caso.

SOCORRO AOS CORREIOS – Governo busca empréstimo de R$ 20 bilhões do Banco do Brasil, da Caixa e de instituições privadas para os Correios, em operação que deve ter garantias da União e estar condicionada a medidas para sanear a gestão da estatal.

… Segundo apurou a Folha, a empresa precisa de R$ 10 bilhões em 2025 e mais R$ 10 bilhões em 2026, que serão usados para capital de giro e também para custear medidas de ajuste (demissões voluntárias, mudanças no plano de saúde e renegociação de passivos atrasados).

… Fontes ouvidas pela reportagem dizem que ainda não está fechada a participação de cada banco na operação, que também atrai o apetite de instituições privadas. BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, que já são credores dos Correios, participam das conversas.

… Desde 2022, os Correios vêm apresentando prejuízos, mas o resultado negativo vem piorando semestre a semestre. No segundo trimestre, o prejuízo chegou a R$ 2,64 bilhões, quase cinco vezes mais em relação ao rombo de R$ 553 milhões do mesmo período de 2024.

… No balanço, a empresa referiu-se à “taxa das blusinhas” como um dos principais motivos das perdas, com “a retração significativa do segmento internacional, em razão de alterações regulatórias nas compras de importados, que provocaram a queda do volume de postagens”.

MAIS AGENDA – O IBGE divulga às 9h as vendas do varejo ampliado de agosto, que devem desacelerar o ritmo de alta para 0,7% (mediana Broadcast), contra 1,3% em julho. As estimativas vão de queda de 0,6% a avanço de 1,5%.

… Já as vendas no varejo restrito devem interromper quatro recuos seguidos na margem e crescer 0,2%, após baixa de 0,3% em julho. As estimativas dos analistas para esta leitura vão de queda de 0,2% a crescimento de 1,1%.

… À tarde (14h30), o BC divulga os dados semanais do fluxo cambial.

… Em Washington, o diretor de política monetária do BC, Nilton David, faz palestra às 12h, em evento promovido pelo Goldman Sachs. Já Paulo Picchetti participa de painel em seminário do JPMorgan, às 15h45.

… Em reuniões paralelas ao evento anual do FMI, David disse ontem que o atual ciclo de política monetária demanda “firmeza, serenidade e perseverança” e que as expectativas de inflação do mercado continuam desancoradas.

LÁ FORA – Antes do Livro Bege (15h), dois diretores do Fed falam: Stephen Miran (13h30) e Christopher Waller (14h). Mas como Powell já falou ontem e o mercado está fechado com um corte este mês, os discursos perdem status.

… Entre os poucos indicadores poupados pelo shutdown, sai às 9h30 o índice de atividade industrial Empire State de outubro, medido pelo Fed de Nova York. Na zona do euro, a produção industrial de agosto será conhecida às 6h.

CHINA HOJE – A inflação ao consumidor (CPI) teve queda anualizada de 0,3% em setembro, contra previsão de -0,2%. Já o índice de preços ao produtor (PPI) recuou 2,3%, em linha com o esperado pelos analistas do mercado.

FORA DA CASINHA – Os sinais trocados sobre a relação comercial entre os Estados Unidos e a China, ora de alívio, ora de provocação, continuaram trazendo volatilidade ontem aos negócios globais e, por aqui, não foi diferente.

… Pela manhã, quando predominava o clima de hostilidade, o dólar à vista chegou a encostar na faixa de R$ 5,52 na máxima do dia, cotado a R$ 5,5196. Depois, desanuviou com a leitura dovish dos comentários de Powell.

… Mas na reta final do pregão zerou o alívio e virou com a escalada da retórica de Trump contra Pequim. Fechou em leve alta de 0,14%, a R$ 5,4700. A boa notícia é que terminou bem mais perto da mínima (R$ 5,4582) que da máxima.

… Estas reviravoltas têm sido recorrentes no governo imprevisível de Trump. Apesar de tudo, no Broadcast, o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ainda vê o dólar furando o piso de R$ 5,40 se depender do Fed.

… Powell reconheceu ontem o impacto do tarifaço sobre a inflação, mas voltou a insistir na fraqueza do mercado de trabalho, reforçando a convicção dovish do mercado de que um corte de juro está garantido daqui a duas semanas.

… “Os riscos negativos para o emprego parecem ter aumentado”, afirmou o presidente do Fed, destacando que o BC americano precisa calibrar sua política com cautela para não deixar “o trabalho contra a inflação inacabado”.

… A interpretação que se faz de seus comentário é de que um corte está no jeito, mas não deve ser agressivo.

… Michelle Bowman também discursou e defendeu pelo menos mais duas reduções nos juros até o fim do ano.

… No final da tarde, ainda a presidente do Fed de Boston, Susan Collins, não nadou contra a maré. Disse que o  caminho não está predeterminado, mas considerou apropriada outra flexibilização monetária de 25 pontos-base.

… Segundo ela, a inflação segue acima da meta do Fed, mas avançou menos do que o esperado no início do ano, enquanto paralelamente aumentaram os riscos de deterioração do mercado de trabalho norte-americano.

… Reforçada a aposta já ampla de mais um corte de juro, o índice DXY do dólar caiu 0,22%, a 99,047 pontos.

… O euro subiu 0,27%, a US$ 1,1611, e o iene avançou 0,34%, a 151,68/US$. Já a libra recuou 0,12%, a US$ 1,3325, porque a taxa de desemprego no Reino Unido aumentou a chance de o BC inglês relaxar o juro em novembro.

JUNTO E MISTURADO – Na volta do feriado de Columbus Day, as taxas dos Treasuries caíram. Não foi fácil dissociar o quanto da queda esteve ligada à aposta do Fed dovish ou à demanda defensiva por causa das tensões comerciais.

… Nos menores níveis em quase um mês, o juro da Note-2 anos caiu a 3,476% (contra 3,525% no pregão da última sexta-feira) e o de 10 anos recuou para 4,023% (de 4,056%). O yield do T-Bond de 30 anos foi a 4,621%, de 4,637%.

… A alta de 0,73% do ouro para a nova máxima histórica de US$ 4.163,40 por onça-troy revela que o investidor tem preferido manter posições seguras, diante da crise renovada entre Pequim e Washington, que vivem se estranhando.  

… O embate protecionista inibiu, mas não impediu queda nesta terça dos juros futuros domésticos, que se apegaram à baixa dos rendimentos dos Treasuries e resistiram à virada de alta do dólar observada perto do fechamento.

… O contrato de DI para Jan/26 terminou em 14,892% (de 14,894% na véspera); Jan/27 caiu a 13,995% (de 14,005% na véspera); Jan/29, a 13,360% (de 13,391%); Jan/31, a 13,630% (de 13,665%); e Jan/33, a 13,785% (de 13,815%).

… Entre os indicadores do dia, o setor de serviços exibiu resiliência em agosto. Apesar do crescimento de apenas 0,1% em relação a julho, superou a mediana (estabilidade) e alcançou novo patamar recorde na série histórica.

ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FOGO? – Circularam especulações no mercado sobre a chance de reajuste nos combustíveis, após a forte queda do petróleo no mercado internacional com o acordo de cessar-fogo entre Israel e a Palestina.

… Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem dos preços da gasolina no Brasil contra o preço de paridade de importação (PPI) aumentou para 9% e o litro pode ser reduzido em R$ 0,24.

… Investidores suspeitam que vem queda por aí, embora a Petrobras não dê sinalizações neste sentido.  

… Questionada ontem por jornalistas se a estatal pretende reduzir o preço da gasolina, Magda Chambriard, reafirmou que a empresa mantém a estratégia de não trazer volatilidade do petróleo para o mercado interno.

… A Petrobras está sem reajustar os valores da gasolina há 134 dias e do diesel, há 162 dias.

… A pressão cresce, depois de o petróleo Brent ter caído mais 1,47% ontem, para US$ 62,39, diante do fogo cruzado de Trump com a China e do temor de excesso de oferta global, reforçado ontem pelas estimativas da AIE.

… Segundo a Agência, o mercado mundial da commodity enfrentará excedente ainda maior em 2026, de até 4 milhões de barris por dia, conforme a Opep+ e seus rivais elevem a produção, apesar do consumo desaquecido.

MELOU – Bem que o Ibovespa tentou brigar ontem pelos 142 mil pontos, mas as turbulências na relação entre os Estados Unidos e a China inviabilizaram o plano, e teve ainda o fiscal no radar para comprometer o ritmo da bolsa.

… Não repercutiu bem a notícia sobre possível socorro aos Correios e preocupa ainda a conta do IOF que não fecha.

… O índice à vista fechou praticamente estável, com leve baixa de 0,07%, aos 141.682,99 pontos e giro de R$ 19,6 bi.

… Em demonstração de força e de olho nos R$ 60, Vale resistiu à queda firme de 2% do minério e fechou no zero a zero, cotada a R$ 59,75. Petrobras seguiu o petróleo e monitorou os rumores sobre o reajuste da gasolina.

… O papel PN registrou desvalorização de 0,69%, para R$ 30,02. Já o ON oscilou quase nada (-0,06%), a R$ 32,19.

… Destaque entre os bancos, Bradesco faturou a decisão do Goldman Sachs de elevar a recomendação do banco de venda para neutro. A ação PN emplacou alta de 1,42%, para R$ 17,16, e ON ganhou 1,04%, cotada a R$ 14,60.

… Já o Santander, rebaixado para venda, por riscos operacionais, caiu 1,05% (R$ 27,45). Itaú subiu 0,43% (R$ 37,45).

… Em Nova York, os comentários de Powell sinalizando para novos cortes dos juros chegaram a causar algum alívio nos negócios, mas as tensões comerciais entre Estados Unidos e China impediram ganhos mais firmes.

… As bolsas em Wall Street encerraram sem direção única, com alta do Dow Jones (+0,44%, aos 46.270,46 pontos) e falta de fôlego do S&P 500 (-0,15%, para 6.644,31 pontos) e do Nasdaq (-0,76%, aos 22.521,70 pontos).

COMPANHIAS ABERTAS – PETROBRAS recebeu parecer técnico do Ibama solicitando novos detalhamentos sobre plano de emergência e proteção da fauna no processo de licenciamento ambiental da bacia da Foz do Amazonas.

TELEFÔNICA aprovou a distribuição de R$ 380 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1185 por ação, com pagamento até 30 de abril de 2026; ex em 28 de outubro.

HAPVIDA. O conselho de administração aprovou um programa de recompra de até 20 milhões de ações.

TAESA informou que fará hoje o pagamento de juros remuneratórios aos detentores das debêntures da 12ª emissão, em três séries, emitidas em 15 de abril de 2022…

… O valor total será de R$ 40,9 milhões, sendo R$ 20,2 milhões da primeira série, R$ 9,9 milhões da segunda série e R$ 10,7 milhões da terceira série.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

AVISO – Bom Dia Mercado é exclusivo para assinantes e não pode ser redistribuído.

Powell, China e fiscal dividem a cena

… Vai ser difícil Powell ir contra o mercado hoje, com as chances de um corte de 25pbs no juro projetadas em quase 100% no CME Group para o Fomc do dia 29. O presidente do Fed discursa às 13h20 sobre política monetária e perspectivas econômicas. Outro destaque em Nova York é a estreia da temporada de balanços do 3Tri, com JPMorgan, Wells Fargo e Goldman Sachs antes da abertura e o Citi após o fechamento. Aqui, os serviços devem vir estáveis em agosto, enquanto Haddad participa de audiência no Senado para defender o projeto de isenção do IR. No balanço de riscos, o impasse tarifário com a China ainda causa apreensão, assim como o shutdown e as incertezas fiscais no Brasil.

GUERRA COMERCIAL – Os mercados começaram a semana corrigindo os excessos da última sexta, quando Trump causou pânico com as novas investidas contra Pequim, com uma tarifa adicional de 100% e ameaça de impor controle de exportações aos produtos chineses.

… Mas, já no domingo, o presidente dos Estados Unidos mudou a conversa e os investidores se convenceram de que se tratava de mais uma das suas estratégias de bater forte para aumentar o poder de negociação. E correram atrás dos prejuízos.

… Logo cedo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, confirmou o tom conciliatório de Trump, dizendo em entrevista à Fox News que o canal de diálogo com a China está aberto, que as conversas foram retomadas e estarão em andamento nesta semana.

… Bessent disse que haverá “reuniões de nível” das equipes em Washington, às margens da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, e mais, que os presidentes Trump e Xi Jinping ainda pretendem se encontrar no final do mês na Coreia do Sul.

… O secretário teve, porém, a preocupação de mostrar força, após a China exibir resistência, afirmando que os Estados Unidos estão dispostos a fazer o que for preciso, “porque temos mais cartas na manga, seja em software, em minerais ou serviços financeiros”.

… “Temos muitas contramedidas de força bruta que podemos implementar e estou confiante de que podemos seguir em frente.”

… Comentário do Goldman Sachs sinalizou que, apesar de o clima ter distendido, a questão comercial ainda preocupa: “Veremos se as tarifas serão implementadas, com impactos severos à economia, ou se serão apenas para ganhar vantagem nas negociações.”

… Também a UBS Wealth Management avalia com cuidado o novo capítulo na guerra tarifária entre Estados Unidos e China, afirmando que “o rumo dos mercados no curto prazo dependerá fortemente de como essa escalada de tensões vai evoluir”.

SHUTDOWN – Em paralelo, a crise orçamentária do governo norte-americano começa a preocupar mais do que parecia no início, com o tempo de paralisação se estendendo sem perspectiva de um acordo entre a Casa Branca e os senadores democratas.

… Nesta segunda-feira, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, disse que este poderá ser o shutdown mais longo da história.

… Os Estados Unidos completam hoje 14 dias parados, sem a divulgação de dados econômicos, sem o pagamento de salários aos funcionários públicos federais, com demissões e até ameaças de provocar cancelamentos de voos e o fechamento de instituições culturais.

… Em 2019, o governo ficou 35 dias em shutdown, quando Trump exigia fundos para construir o muro na fronteira com o México.

… O Senado americano, fechado nesta segunda-feira por causa do feriado do Dia de Colombo, retoma os trabalhos hoje.

NOVAS MEDIDAS – Aqui, está marcada para amanhã, quarta-feira, a reunião do presidente Lula com os seus ministros para discutir alternativas de receita após a derrota da MP do IOF pela Câmara, na semana passada, que atingiu o Orçamento de 2026.

… Lula embarcou ontem à noite de volta da Itália e já tinha avisado que resolveria essa questão assim que retornasse da viagem.

… O mercado espera na defensiva o que poderá vir nesse novo pacote e teme por medidas que acabem complicando ainda mais a situação fiscal.

… Entre as especulações que se cogitam está a opção pela volta do IOF, que gerou toda a polêmica lá atrás.

… O presidente Lula já antecipou que uma das iniciativas deverá ter as fintechs como alvo, assim como as bets estão na mira.

… Ao Broadcast, Eduardo Velho (sócio e economista-chefe da JF Trust) disse que as opções na mesa são muitas, como mudança da meta fiscal, corte de emendas parlamentares e/ou em ministérios não prioritários, antecipação de leilões do pré-sal e mais dividendos do BNDES.

… “O mercado está na berlinda aguardando essa resposta do governo na quarta-feira e, até lá, os movimentos deverão ser cautelosos.”

… Já para a consultoria BuysideBrazil, o ministro Fernando Haddad deve preparar um pacote que inclui cortes seletivos e medidas baseadas em decretos para fazer frente ao rombo estimado em R$ 46 bilhões até 2026, após a derrota da MP 1.303 no Congresso.

CORTANDO NA CARNE [DELES] – Depois que a Câmara estimou em até R$ 2 bilhões o limite para corte de emendas, no pacote de novas medidas que a Fazenda prepara para compensar a perda de arrecadação com a MP 1.303, o governo teria mandado R$ 7,1 bilhões.

… E, segundo apurou a Folha, o congelamento pode ser maior e incluir um corte adicional de R$ 4,5 bilhões se o Congresso barrar a redução dos benefícios tributários – que a equipe econômica ainda tentará emplacar.

PASSANDO A FACA – Em resposta à derrota da MP que continha alternativas ao IOF, o presidente orientou a ministra Gleisi Hoffmann a “passar a faca” nos aliados do Centrão, especialmente, nos indicados de Ciro Nogueira (PP) e Gilberto Kassab (PSD).

… Foi o líder da Câmara, José Guimarães (PT), quem contou que Lula mandou passar a faca. Gleisi evitou usar o termo “retaliação”, mas admitiu que o governo está aproveitando para arrumar a sua base. “Vamos dar as indicações para aqueles que votam com o governo.”

… No Estadão, o governo começou a “dar o troco no Centrão e a remontar sua aliança para a disputa eleitoral de 2026”.

… “Estamos tirando dos cargos os indicados por deputados que votaram contra a Medida Provisória 1303 (que era a alternativa ao aumento do IOF) porque precisamos reorganizar nossa base; quem votou contra optou por sair do governo”, disse Gleisi ao jornal.

… Até agora, perderam os cargos vários indicados do PP, União Brasil, PSD, MDB e do PL para postos de comando em bancos e estatais como Caixa Econômica Federal, Correios, Iphan, além de superintendências regionais no Ministério da Agricultura e no Dnit.

… Indicado pelo deputado Arthur Lira (PP), o presidente da Caixa, Carlos Vieira, foi poupado. Lira se ausentou na votação da MP 1.303.

A PRERROGATIVA É MINHA – Lula mostrou que não quer ser pressionado a indicar uma mulher para a vaga de Luiz Roberto Barroso no STF. “Eu não sei se mulher ou homem, não sei se preto ou branco, quero uma pessoa gabaritada para ser ministro.”

… Depois veio o desabafo: “As pessoas acham que podem decidir pelo governo. Indicar ministro do STF é uma tarefa eminentemente do presidente da República”, disse o presidente em entrevista coletiva na Itália, onde participou de reunião da ONU sobre Alimentação.

POWELL E MAIS QUATRO FED BOYS – Sem indicadores econômicos nos Estados Unidos, o dia é de Jerome Powell (13h20) e de Michelle Bowman (9h45), Christopher Waller (16h25) e Susan Collins (16h30) – todos eles com voto no comitê do Fomc.

… Na Zona do Euro, o dia começa com o relatório de petróleo da AIE, à primeira hora, e segue com o índice de expectativas econômicas ZEW, da Alemanha (6h). Às 14h, o presidente do BoE, Andrew Bailey, participa de painel na reunião anual do IIF.

… A China divulga no final da noite (22h30) os índices de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) de setembro.

BALANÇOS – Investidores em Nova York se prepararam para mais uma temporada de resultados corporativos. A expectativa é de desaceleração nos lucros, mas em ritmo menos intenso do que o cogitado há alguns meses. Mais uma vez, a Inteligência Artificial é a grande aposta.

… Os ganhos das techs são sempre espetaculares, em meio aos receios de uma bolha que nunca estoura. Nesta segunda, a Bloom Energy foi destaque em Wall Street, saltando 26,5% após um acordo de US$ 5 bilhões da Brookfield para fábricas de IA.

… Confira as projeções de lucro por ação da FactSet dos grandes bancos norte-americanos que divulgam balanços hoje: JPMorgan (US$ 4,85), Wells Fargo (US$ 1,55), Goldman Sachs (US$ 11,0) e, no final da tarde, Citigroup (US$ 1,73).

NA B3 – A temporada do 3Tri no Brasil começa na próxima semana, com Weg (dia 22) e Usiminas (24), mas esquenta na semana seguinte, com Bradesco e Santander (dia 29), Vale (30) e Gerdau (31). Itaú divulgará no dia 5/11 e Petrobras no dia 7/11.

SERVIÇOS NO BRASIL – Após de seis altas seguidas, o volume de serviços medido pelo IBGE em agosto deve vir estável na mediana do Broadcast. O dado sai às 9h e o intervalo das projeções varia de queda de 0,6% a alta de 0,3%.

… Se confirmada, a perda de fôlego do indicador pode sinalizar menor pressão para a inflação do setor de serviços, que vem sendo um importante foco de atenção do Copom para manter a política monetária conservadora.

… Ainda às 9h, o IBGE divulga o levantamento sistemático da produção agrícola em setembro.

… Haddad vai às 10h na sessão de debate na CAE do Senado sobre o projeto de reforma do IR.

… Já Galípolo está em Washington para a reunião anual do FMI e do Banco Mundial. O diretor de política monetária do BC, Nilton David, também foi e tem audiência com investidores organizada pelo HSBC, às 15h30.

BRIGA DE CACHORRO GRANDE – Após o sell-off de sexta-feira, os negócios globais resolveram comprar ontem a chance de desfecho positivo à crise tarifária, mesmo porque o mercado sabe do alto poder de negociação da China.

… De natureza volátil, Trump não demorou nem 48 horas para ensaiar um recuo na queda de braço comercial.

… Os comentários em tom conciliatório da Casa Branca no final de semana, de que “tudo ficará bem” com Pequim e de que ainda pode haver um encontro com Xi Jinping este mês, baixaram a temperatura entre os investidores.

… O Ibovespa se reaproximou dos 142 mil pontos e o dólar se afastou da faixa de R$ 5,50, embora ainda continue distante do nível de R$ 5,37 observado no pregão de quinta-feira, um dia antes do susto com a ameaça protecionista.

… Como observou o Valor, depois de ter sofrido a pior desvalorização entre as 33 moedas mais líquidas na sexta-feira, o real se destacou ontem e registrou a segunda maior valorização, perdendo apenas para o peso argentino.

… No fechamento, o dólar à vista foi negociado em queda de 0,75%, cotado a R$ 5,4617. Mas a desconfiança de que o governo Lula ficará cada vez mais desapegado do rigor fiscal, de olho em 2026, surge como desafio para o câmbio.

… Esta apreensão com o desequilíbrio das contas públicas ficou mais nítida na curva do DI, que não se dobrou ao alívio do dólar e travou perto da estabilidade, apesar de Trump ter pegado bem mais leve com a China.

… Sem a referência dos Treasuries, fechados para o Columbus Day, o DI Jan/26 encerrou a 14,894% (de 14,893%); Jan/27, 14,030% (13,995%); Jan/29, 13,401% (13,411%); Jan/31, 13,670% (13,684%); e Jan/33, 13,815% (13,810%).

… No boletim Focus, por mais uma semana (a quarta consecutiva), não houve melhora na mediana das estimativas para a inflação no horizonte relevante da política monetária: a aposta para o IPCA em 2027 permaneceu em 3,90%.

… Em entrevista ao SBT News, Gleisi criticou Galípolo ontem pela “escalada” da Selic, mas disse que o governo não tem força para mudar juro, porque o BC “é autônomo e não podemos ter interferência no que eles fazem”.

… Cobrou, porém, que o setor produtivo pressione a autoridade monetária por uma queda da taxa básica de juros.

ENGOLIU O CHORO – Reaberto o canal de diálogo entre os Estados Unidos e a China, as bolsas americanas se recuperaram parcialmente do tombo da última sexta-feira e deram espaço de reação também para o Ibovespa.

… No melhor momento do dia, o índice à vista da bolsa doméstica resgatou os 142 mil pontos, aos 142.303 pontos. Embora tenha desacelerado até o fechamento, ainda operou embalado, em alta de 0,78%, aos 141.783 pontos.

… Com o meio-feriado em NY, o volume negociado na bolsa não deu para nada e foi inferior a R$ 15 bilhões.

… Depois de Trump ter baixado a bola quanto à taxação de 100% sobre a China, o minério engatou alta firme de 1,13% e Vale seguiu o otimismo à risca: subiu 1,49%, para R$ 59,75, voltando a flertar com a marca de R$ 60,00.

… Esta cotação de fechamento foi atingida pela última vez em janeiro de 2024 e vem sendo cortejada de novo.

… Na cola do petróleo, Petrobras PN registou valorização de 0,97%, a R$ 30,23, e ON subiu 0,94%, para R$ 32,21.

… O barril, que já teme pela oferta saturada e viu nas tensões renovadas de Washington com Pequim um fator de risco ao consumo, deu ontem uma relaxada, com o contrato do Brent para dezembro subindo 0,94%, a US$ 63,32.

… Mas só recobrou parte do terreno perdido na sexta-feira, quando levou um tombo de quase 4% com Trump. A libertação dos reféns israelenses e o cessar-fogo em Gaza também não foram capazes de imprimir alta maior ontem.

… O tom mais brando assumido pela Casa Branca garantiu alta em bloco aos bancos. BB ON despontou, com avanço de 1,31% (R$ 20,88). Itaú subiu 0,40% (R$ 37,29); Bradesco PN, +0,42% (R$ 16,92); e Santander, +0,14% (R$ 27,74).

… Lá fora, chamou atenção o salto de 3,3% do ouro, para US$ 4.133,00 por onça-troy, no movimento que historicamente revela o apelo por posições defensivas. É sinal de que a guerra tarifária ainda pode render confusão.

… Mas a busca por proteção ficou concentrada no metal, até mesmo porque os Treasuries estavam fechados.

MANSINHO – Acomodado o surto de Trump contra a China, o investidor ficou à vontade para comprar risco em Wall Street: Dow Jones, +1,29% (46.067,65 pontos); S&P 500, +1,56% (6.654,69 pontos); e Nasdaq, +2,21% (22.694,61).

… No câmbio, diante da reviravolta positiva, o índice DXY subiu 0,29% e resgatou os 99 pontos (99,269), com o euro em queda de 0,44%, a US$ 1,1568; a libra em baixa de 0,21%, a US$ 1,3332; e o iene caindo para 152,31/US$.

… Sem voto no Fed este ano, Anna Paulson demonstrou ontem que está fechada com as amplas apostas dovish do mercado e considerou apropriado um afrouxamento monetário acumulado de 50 pontos-base até dezembro.  

… A dirigente disse que os riscos no mercado de trabalho norte-americano estão aumentando e que suspeita que a taxa de equilíbrio para o payroll (não divulgado por causa do shutdown) seja inferior a 75 mil vagas por mês.

… Sobre a inflação, afirmou que o cenário base é de pressão das tarifas, mas sem efeito duradouro nos preços.

COMPANHIAS ABERTAS – GOL comunicou que vai propor aos acionistas uma reorganização societária que pode culminar com o fechamento do capital da companhia no Brasil e a saída da empresa do nível 2 de governança da B3…

… Conselho de Administração da companhia propôs que a empresa operacional Gol Linhas Aéreas Inteligentes e a Gol Investment Brasil sejam incorporadas pela empresa fechada Gol Linhas Aéreas SA…

… Assembleia de acionistas foi convocada para 4 de novembro.

EMBRAER informou a mudança nos códigos de suas ações na B3 (EMBJ3 em substituição a EMBR3) e ADRs na Bolsa de Nova York (EMBJ em substituição a ERJ) a partir de 3 de novembro.

BTG PACTUAL comunicou, por meio de fato relevante, a proposta de incorporação das ações do Banco Pan até o fim do ano. Após a conclusão, o Pan se tornará uma subsidiária integral indireta do BTG Pactual…

… Os acionistas do Pan receberão 0,2128 por unit na incorporação, com prêmio de 30% em relação ao preço de mercado da ação na data do anúncio.

BRASKEM convocou assembleia geral extraordinária para 13 de novembro para tratar, dentre outros temas, da

substituição de um membro efetivo do conselho de administração da companhia.

ELETROBRAS. Tribunal Regional Federal da 2ª Região livrou a União de pagar indenização de R$ 16 bilhões ao fundo Eagle Equity Funds, que alegava diferenças de remuneração em debêntures da companhia.

ISA ENERGIA. O conselho de administração aprovou a 20ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em duas séries, no valor de R$ 2 bilhões.

ALPARGATAS. JPMorgan atingiu participação de 5,06% das ações preferenciais da companhia, passando a deter, de forma agregada, 17.368.772 de papéis do tipo…

… Conforme dados mais recentes do formulário de referência, banco não detinha participação relevante anterior.

PDG REALTY. Os acionistas aprovaram em AGE o grupamento da totalidade das ações ordinárias da companhia na proporção de 200 papéis para formar uma nova ação.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

AVISO – Bom Dia Mercado é exclusivo para assinantes e não pode ser redistribuído.