E agora, Copom?

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[19/06/24]

… O feriado de Juneteenth deixa os mercados fechados hoje em NY, reservando o dia inteiro para o suspense do Copom, que ganhou uma importância maior depois que o presidente Lula entrou no jogo com novos ataques a Campos Neto, pressionando pela continuidade da redução do juro. Até então, os investidores estavam convencidos de que o Comitê encerraria o ciclo de quedas com a Selic a 10,5% aa, em uma decisão unânime, que corrigiria o mal-entendido do “racha” de maio e sinalizaria para um futuro comprometido com a meta de inflação. Agora, ninguém sabe o que vai acontecer. Ao acusar RCN de ter “lado político”, Lula deixou claro que não aceitará uma “traição” dos seus indicados, entre os quais estão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, cotados para assumir o Banco Central a partir de janeiro.

… Em maio, Galípolo, Picchetti, Aílton de Aquino e Rodrigo Teixeira votaram pelo meio ponto, e coube a Campos Neto desempatar a favor do time da casa (0,25pp). O respeito ao guidance foi o motivo alegado pelos quatro nomeados por Lula para negar dissidências.

… Dessa vez não tem guidance e ficou mais difícil justificar um corte adicional, diante da deterioração das expectativas inflacionárias e dos riscos fiscais, que se acentuaram nas últimas semanas. A turma do novo BC está entre a cruz e a caldeirinha.

… O placar de 5 a 4 poderá se repetir e com repercussões ainda mais fortes, porque um novo racha será inevitavelmente atribuído a Lula. Uma outra possibilidade seria alguém do time de RCN pular para o barco dos novos diretores, o que também pesaria no mercado.

… Se em maio tanto fazia um corte de 0,50pp ou de 0,25pp, em junho as coisas estão diferentes e piores, a começar pela desancoragem das expectativas, cuja trajetória se intensificou, com a mediana para o IPCA/2025 subindo de 3,64% para 3,80%.

… Também a mediana da inflação para 2026 aumentou de 3,50% para 3,60%, após ter ficado estável por 46 semanas.

… Outros fatores destacados pela Warren Investimentos referem-se ao comportamento do prêmio de risco e da taxa de câmbio.

… O real continuou a se depreciar, apesar da queda dos yields das Treasuries e da estabilidade do índice DXY. Embora, em parte, isso possa ser explicado pelo menor apetite para mercados emergentes (caso do México), fatores domésticos também pesaram.

… O acirramento dos temores do mercado quanto ao quadro fiscal somou-se a uma possível fragilização do ministro Haddad e às dúvidas sobre a condução da política monetária a partir de 2025 para também explicar a alta do CDS de 5 anos do Brasil, a quase 160 pbs.

… Para a Warren, uma decisão unânime pela manutenção da taxa Selic no atual patamar é essencial para que o Copom reconquiste a sua credibilidade, abrindo espaço para uma reancoragem das expectativas de inflação, ainda que parcial.

… Também na opinião de Ricardo Tadeu Martins, economista-chefe da Planner, qualquer decisão diferente de 9 a 0 no Copom de hoje estará errada. “A unanimidade é fundamental para reativar a coerência interna e gerar credibilidade.”

… Além disso, diz ele, seria um caminho para “reancorar as expectativas, expurgar os excessos nas projeções da pesquisa Focus e, ainda, minimizar as dúvidas sobre leniência inflacionária”. No fim do ano, o governo terá sete cadeiras no Copom.

… Pesquisa da XP com 33 casas, realizada antes da entrevista de Lula, aponta que quase a totalidade dos gestores de multimercados (94%) acredita que o Banco Central deve manter a Selic em 10,5%, projetando o fim do ciclo de queda.

… Na visão das gestoras, os recentes aumentos nas projeções do IPCA em 2025 e 2026, além da piora na percepção do risco fiscal e ruídos vindos de Brasília, com os embates entre o governo e o Congresso, são fatores que devem demandar cautela.

… Levantamento do Broadcast, finalizado no dia 11, também mostrou amplo consenso do mercado (20 de 29 casas) sobre uma decisão unânime por Selic estável em 10,5% neste Copom (86%).

… Mas a entrevista de Lula deu espaço para os juros futuros ensaiarem uma zebra, com algumas fichas colocadas em um corte de 0,25pp da Selic, enquanto o dólar voltava a subir acima dos R$ 5,43, refletindo o momento de tensão na véspera do Copom (leia abaixo).

LULA – O presidente foi extremamente incisivo nos ataques a Campos Neto, afirmando que ele está atrapalhando o crescimento do País e tem “lado político”, referindo-se ao jantar oferecido por Tarcísio. “Cadê a autonomia desse rapaz que foi a uma festa em São Paulo?”

… No mercado, a presença de Campos Neto no jantar oferecido por Tarcísio também foi criticada, inclusive pelas declarações veiculadas pela Folha que ele não desmentiu, quando teria afirmado que topa ser o ministro da Fazenda do governador.

… Mas a entrevista de Lula também incomodou, embora a torcida seja para que não influencie…

… Para Luis Otávio Leal (G5 Partners), “foi ruim, mas não deve influenciar o Copom; vão tentar uma unanimidade”.

… Sérgio Vale (MB) ainda acha que a decisão do Copom deve ser consenso, mas admite que a entrevista de Lula abriu a possibilidade de divergência. “Não estranharia se os escolhidos pelo governo optassem por -0,25 pp, mas vai ser difícil justificar.”

… Sérgio Goldenstein (Warren) disse que “seria uma mega tiro no pé o Copom se sujeitar a pressões políticas num momento de aumento da desconfiança acerca da condução da política a partir de 2025 e de desancoragem das expectativas”.

… Eduardo Velho (JF Trust) concorda: “A entrevista é ruim para manter um viés de estresse, mas sobretudo de desconfiança com a gestão dos juros; a decisão unânime pode reforçar o viés independente”.

… Alexandre Schwartsman (AC Pastore & Associados): “Acho que fica mais delicada a situação de um cara como o Galípolo, que imagino que esteja se encaminhando para votar com o consenso”.

AGENDA – Lula e Haddad participam à tarde (15h30) da cerimônia de posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, no Rio. Pela manhã, Lula se reúne com a equipe econômica (Haddad, Tebet e Dweck).

… À noite (20h), o ministro da Fazenda participa de evento do jornal O Globo para receber o prêmio “Faz Diferença”.

… Pacheco pretende apresentar hoje a Haddad um projeto para compensar a desoneração a folha, depois de ter devolvido a MP do PIS/Cofins. A ideia é refinanciar multas aplicadas a empresas por agências reguladoras.

… A FGV divulga às 8h a segunda prévia do IGP-M de junho. O BC solta o fluxo cambial semanal às 14h30.

LÁ FORA – Com NY fechada para o feriado, sai o índice NAHB de confiança das construtoras em junho (11h). No Reino Unido, será divulgada a inflação ao consumidor (CPI) de maio, às 3h. À noite (22h15), a China decide juro.

JOGO DE PROVOCAÇÕES – Preocupa a dinâmica que se retroalimenta: governo de um lado, demorando para se enquadrar no rigor fiscal, e mercado de outro, subindo o estresse para provocar a guinada na pauta de gastos.

… Este parece ser um jogo de perde-perde para o País, trazendo só prejuízos à recuperação da economia doméstica.

… Ontem, o risco de última hora de o Copom ceder à pressão política e decidir por um novo corte da Selic voltou a puxar o dólar, que cravou a terceira alta consecutiva, operando novamente na faixa de R$ 5,43.

… Embora a alta tenha sido moderada, de 0,23%, a R$ 5,4342, os prognósticos para o câmbio que circulam no mercado dão a medida da guerra particular travada no momento entre os investidores e o governo federal.

… O ex-BC Fabio Kanczuk (ASA Asset) disse que o dólar terá de bater em R$ 6 para Lula assumir a agenda de controle de gastos. Também para Daniel Mathias (O3 Capital), as coisas terão que piorar para o governo mudar de rumo.

… No Broadcast, o analista Victor Arduin (da Hedgepoint) lembra que o dólar vem numa escalada, estava em torno de R$ 5,15, agora acima de R$ 5,40, e se o governo não trouxer confiança, o mercado pode discutir dólar a R$ 5,60.

… Economistas do BTG dizem que só uma significativa melhora do cenário fiscal doméstico teria a capacidade de devolver à moeda para perto de R$ 5. Mas a equipe ainda projeta câmbio abaixo do atual no fim do ano, a R$ 5,20.

… Diante da pressão de Lula no Copom, que coloca Galípolo em saia justa, parte dos traders resolveu jogar as fichas na aposta de corte de juro, menos por convicção e mais por oportunidade de ganho, no caso de dar uma surpresa.

… O DI Jan25 caiu a 10,655% (de 10,690% na véspera); Jan26 ficou praticamente estável, a 11,275% (de 11,285%); Jan27 subiu a 11,620% (de 11,590%); Jan29 cravou 12,000% (de 11,945%); e Jan31 avançou a 12,140% (de 12,070%).

BATEU, MAS VOLTOU – No embalo das ações da Petrobras e da CSN, que foram as estrelas do dia, o Ibovespa resgatou os 120 mil pontos (120.108,98) no melhor momento do dia, mas não segurou a marca até o fim do pregão.

… Desacelerou a alta para 0,41% no fechamento, aos 119.630,44 pontos, na rotina de giros baixos (R$ 18,3 bilhões).

… Os bancos roubaram parte do fôlego da bolsa. Bradesco PN caiu 1,98%, a R$ 12,38; Bradesco ON perdeu 1,17%, a R$ 10,98; e BB ON, -1,40%, a R$ 26,08. Itaú ficou estável (-0,06%; R$ 31,88) e Santander subiu 0,44%, a R$ 27,59.  

… Os papéis da Petrobras registraram otimismo redobrado com o acordo com a Receita para encerrar litígios com o Carf e a valorização do petróleo. O Brent/agosto subiu 1,28%, cotado na máxima em um mês, a US$ 85,33.

… Petrobras ON disparou 3,36% e fechou na máxima do dia, a R$ 37,88, enquanto PN saltou 3,13% (R$ 35,90).

… A maior valorização do pregão foi de CSN ON, que protagonizou uma arrancada de 9,07%, para R$ 12,99, depois de o STJ ter acolhido recurso da empresa em disputa bilionária com o Grupo Ternium. Vale subiu 0,46%, a R$ 60,66.

… Os frigoríficos também se destacaram positivamente, sob influência da decisão da China de abrir uma investigação antidumping sobre importações de carne suína da União Europeia, que favorece a BRF (+5,50%, a R$ 19,19).

… O otimismo contaminou o setor: JBS, +3,84% (R$ 28,90); Minerva, +3,11% (R$ 6,29); e Marfrig, +3,02% (R$ 10,56).

UM É POUCO – O fôlego (+0,1%) menor do que o esperado (+0,3%) das vendas no varejo dos EUA em maio voltou a colocar na conta a possibilidade de o juro cair em setembro e de o Fed dar mais de um corte este ano.

… Louco para consolidar a aposta dovish, o mercado descontou a nova rodada de comentários cautelosos dos Fed boys e já se deu por satisfeito só de os dirigentes não terem descartado a chance de desaperto à frente.

… Adriana Kugler defendeu que uma redução de juros até o fim do ano é “factível”, embora tenha advertido que o timing e intensidade do relaxamento dependem dos indicadores e observado que a inflação segue muito elevada.

… Alberto Musalem sinalizou que podem ser necessários “meses ou trimestres” para o Fed ganhar confiança para reduzir as taxas e cogitou até mesmo um aperto monetário se a desinflação estagnar antes de buscar a meta de 2%.

… Também Thomas Barkin considerou o risco de o juro subir se houver um superaquecimento da economia.

… Susan Collins, reconheceu o avanço do processo desinflacionário durante os dois últimos meses, mas afirmou que o Fed não pode reagir exageradamente a duas leituras positivas, mantendo a paciência apesar da tendência baixista.

… John Williams enfatizou que depende de mais dados econômicos para apoiar um corte dos juros.

… O que todo mundo no Fed está dizendo é que a abordagem mais adequada no momento exige paciência. Mas o mercado aproveitou a brecha ontem das vendas no varejo mais fracas para antecipar o ciclo de flexibilização.

… Os juros dos Treasuries caíram, no movimento acentuado pela demanda acima da média observada no leilão de títulos de 20 anos. A taxa da Note-2 anos caiu a 4,707% (de 4,763% na 2ªF) e a de 10 anos, a 4,215% (de 4,273%).

… Com o mercado voltando a acreditar na chance de dois cortes de juros pelo Fed neste ano, o dólar não subiu. Fechou estável contra o euro (+0,06%, a US$ 1,0741), a libra (+0,04%, a US$ 1,2708) e o iene (-0,07%, a 157,85/US$).

… Na Europa, o investidor tenta se recuperar dos receios de um “Frexit” e da dissolução da zona do euro com a crise política atual. No Japão, o iene não reagiu à sinalização do BoJ de possível aumento de juros na reunião de julho.

… No fechamento, o índice DXY, que mede a força do dólar, operava na estabilidade (-0,06%), a 105,256 pontos.

… Em Wall Street, as bolsas nem têm que fazer força para renovarem os seus recordes históricos, estabelecidos por mais um dia pelo S&P 500 (+0,25%, aos 5.487,03 pontos) e pelo Nasdaq (+0,03%, aos 17.862,23 pontos).

… A melhores marcas de todos os tempos são patrocinadas pelas gigantes de tecnologia, no boom da inteligência artificial. A Nvidia (+3,51%) ultrapassou ontem a Microsoft e se tornou a empresa mais valiosa do mundo.

… O índice Dow Jones registrou leva valorização de 0,15% e encerrou o pregão aos 38.834,86 pontos.

EM TEMPO… PETROBRAS assinou protocolo de intenções com o governo estadual do Rio de Janeiro para estudos conjuntos de implantação de projeto piloto de energia eólica offshore.

ELETROBRAS. Aneel deu aval para a incorporação de Furnas pela companhia, que ocorrerá em data a ser definida pelo Conselho de Administração.

ENERGISA. Aneel aprovou redução média de 1,76% para tarifas da Minas Rio…

… Cade aprovou a compra da Infra Gás pela empresa, negócio anunciado em meados de maio por R$ 890 milhões.

CEMIG aprovou a distribuição de R$ 429,7 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1502 por ação, com pagamento em 2 parcelas (30/6/25 e 30/12/25); ex em 24/6/24.

SABESP conseguiu autorização de seus credores para a troca de controle da companhia, um dos passos necessários para a privatização, segundo o presidente da empresa, André Salcedo. (Valor)

RAÍZEN aprovou a 2ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,05 bilhão.

EMBRAER está negociando venda de jatos E2 para Gol e Latam e não descarta produzir modelos maiores no futuro.

HYPERA aprovou a distribuição de R$ 61,7 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0976 por ação, com pagamento até o final do exercício social de 2025; ex em 24/6.

AREZZO E GRUPO SOMA. Acionistas de ambas as empresas aprovaram a combinação de negócios em AGE; após a incorporação, a Arezzo passará a se chamar Azzas 2154 e o Grupo Soma será extinto.

ZAMP assinou contrato com a Starbucks Corporation para operar a marca Starbucks no Brasil.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.



Petrobras fecha acordo para pagar R$ 19,8 bilhões à Receita

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[18/06/24]

… Seis Fed boys têm falas previstas para hoje nos EUA, enquanto dados fortes da atividade voltaram a enfraquecer as expectativas de dois cortes do juro neste ano, com crescimento das apostas em uma única queda de 25pbs. Na agenda dos indicadores americanos, são importantes as vendas no varejo (9h30) e a produção industrial (10h15). Aqui, o Copom inicia a reunião que poderá encerrar o ciclo de queda da Selic em 10,5%, segundo opinião majoritária do mercado. Nesta 2ªF, Lula abriu as discussões sobre uma revisão dos gastos, em encontro com os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, mas os investidores devem esperar por medidas concretas antes de recuperar a confiança na política fiscal. Ontem à noite, a Petrobras fechou acordo com a Receita para pagar R$ 19,8 bilhões em débitos tributários.

… A decisão ocorre justamente quando o governo se esforça para arrumar renda extra para reduzir o déficit das contas públicas, em meio às dificuldades para aprovar medidas no Congresso, mas é um excelente negócio para a companhia.

… O valor da transação considera desconto de 65% concedido à Petrobras, encerrando discussões administrativas e judiciais referentes ao período de 2008 a 2013, que somam R$ 44,7 bilhões. A adesão foi aprovada pelo Conselho por dez votos favoráveis.

… O pagamento será da seguinte forma: R$ 6,66 bilhões com depósitos judiciais já realizados nos processos e R$ 1,29 bilhão com créditos de prejuízos fiscais de subsidiárias. Os R$ 11,85 bilhões serão divididos em uma entrada de R$ 3,57 bilhões e seis parcelas mensais.

… O impacto após os efeitos tributários será de R$ 11,87 bilhões no lucro líquido do 2Tri, segundo a Petrobras.

… Analistas do mercado ouvidos pelo jornalista Lauro Jardim (Globo) ponderam, no entanto, que os descontos oferecidos pelo Carf para quitar a dívida podem reduzir o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas no curto prazo.

… A chance de impactos nos dividendos extraordinários no segundo trimestre desagrada os investidores, avalia Flávio Conde, da Levante Investimentos. Para ele, apesar de o pagamento da dívida ser algo esperado, o apressamento gera insatisfações.

… Já para Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, a má impressão pelo efeito nos dividendos pode se dissipar com a eliminação das disputas, que vêm se arrastando há bastante tempo. “A empresa se livra de obrigações futuras.”

… Para Frederico Nobre, líder da área de análise de ações na Warren, o acordo “saiu barato” para a Petrobras. “A companhia vai ter uma saída de caixa relativamente baixa, com benefício de usar crédito de prejuízo fiscal.”

REVISÃO DOS GASTOS – Após a reunião com o presidente Lula, a equipe econômica avalia projetar uma agenda de revisão de gastos por “dois corredores”, um de curto prazo, com medidas de efeito imediato, e outro com ações mais estruturantes, de longo prazo.

… A primeira ação não dependeria do Congresso. A segunda, sim, e incluiria uma ou mais propostas de emenda à constituição (PEC), que teriam como alvo a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), prevista para terminar no fim do ano.

… A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pelo Estadão.

… O mecanismo da DRU foi criado em 1994, quando recebeu o nome de Fundo Social de Emergência (FSE). Desde então, vem sendo prorrogado como solução “tampão” ao engessamento do Orçamento público.

… Por meio da DRU, o governo pode usar livremente 30% de todos os tributos federais vinculados a fundos ou despesas.

… Uma das possibilidades seria uma autorização pela Constituição para remanejar 30% das despesas mínimas com saúde e educação para outras áreas. Os pisos seriam tecnicamente mantidos, mas com uma flexibilidade que hoje não existe.

… Os gastos mínimos com saúde e educação vão deixar outras áreas do governo sem dinheiro em 2028 se não foram alterados.

… Economistas ponderam, porém, que a mera prorrogação da DRU com a manutenção dos pisos – da forma como é hoje – não seria uma medida de redução de gastos, apenas um remendo para ajudar a desengessar o Orçamento federal.

… O timing de apresentação dessa PEC ao Congresso dependerá de decisão de Lula, que resiste a medidas de maior impacto fiscal, como a desvinculação de benefícios assistenciais e previdenciários ao salário mínimo e a mudança nos pisos da saúde e educação.

… Outro tema que dependeria do Congresso e poderá entrar nessa seara de ampla revisão de gastos é a previdência dos militares, cujas despesas totalizaram R$ 58,8 bilhões no ano passado, contra uma arrecadação de R$ 9,1 bilhões do regime de aposentadoria.

… Já as medidas de curto prazo serviriam para dar uma resposta mais rápida aos agentes financeiros e tentar reduzir a instabilidade fiscal e incluiriam um contingenciamento mais expressivo de gastos no próximo relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para julho.

… Além disso, o governo pretende aperfeiçoar os cadastros de benefícios assistenciais e previdenciários, cujos desembolsos têm crescido bem acima da média história. É o caso do BPC, do seguro-desemprego e do abono salarial, vinculados ao salário mínimo.

… Ainda no Estadão, a equipe econômica defende a revisão de gastos com esses benefícios, argumentando que vão exigir um aumento de R$ 82,5 bilhões em despesas no Orçamento da União até 2028, em comparação com as estimativas de 2024.

MAIS AGENDA – A prévia do IPC-Fipe sai cedinho (5h). Lula concede entrevista para a rádio CNB, às 8h.

LÁ FORA – Nos EUA, a bateria de falas públicas dos dirigentes do Fed inclui: Thomas Barkin (11h), Susan Collins (12h40), Adriana Kugler e Lorie Logan (14h), Alberto Musalem (14h20) e Austan Goolsbee (15h).

… Na zona do euro, tem a leitura final de maio da inflação ao consumidor (CPI), às 6h. No mesmo horário, sai na Alemanha o índice ZEW de expectativas econômicas em junho. O BC do Chile decide juro no fim da tarde (18h).

JAPÃO HOJE – O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, não descartou um aumento do juro na reunião de política monetária de julho, a depender do comportamento da inflação e do ritmo da atividade econômica.

… Disse ainda que, provavelmente, o BoJ reduzirá as compras de títulos do Tesouro em um valor “considerável”.

NÃO PAGA PARA VER – O mercado quer comprovar na prática se é para valer a disposição do governo em rever gastos públicos e, por isso, não tem se deixado seduzir com facilidade pelas promessas de maior equilíbrio fiscal.

… Os ativos domésticos se afastaram até o fechamento dos picos de estresse intraday, mas o dólar voltou a fechar acima de R$ 5,40, o DI resgatou prêmio e o Ibov não saiu da faixa dos 119 mil pontos pelo quarto pregão seguido.

… Diante da fuga de capital de risco, que responde ao efeito combinado da chance de juros altos nos EUA por mais tempo e da preocupação com o quadro fiscal doméstico, o dólar testou R$ 5,4305 na máxima, antes de desacelerar.

… Ainda fechou em alta firme de 0,74%, cotado a R$ 5,4219, para provar que a pressão continua. Operadores relataram nova saída de investidores estrangeiros, especialmente da bolsa, o que colaborou para acentuar a tensão.

… Para provar que é a crise interna e não só o exterior que está justificando a cautela no câmbio, o real apresentou nesta 2ªF o pior desempenho entre as moedas de mercados emergentes e de países exportadores de commodities.

… A curva do DI interrompeu o alívio frágil dos dois pregões anteriores e voltou a engatar alta, diante da fragilidade das contas públicas, nova rodada de piora nas projeções de inflação na Focus e a chance de só um corte do Fed.

… Os juros futuros até moderaram o ímpeto de alta à tarde, mas não tem dado para esconder a insegurança.

… O Focus confirmou mais uma puxada na mediana do IPCA/24, de 3,90% para 3,96%, cada vez mais perto de 4%. A estimativa para a inflação do ano que vem bateu 3,80% (de 3,78%), também longe do alvo central de 3%.

… Diante da desancoragem das expectativas, os economistas ouvidos pelo BC elevaram a projeção da Selic deste ano de 10,25% para 10,50% (nível atual da taxa básica), sinalizando que o juro não deve cair mais em 2024.

… Profissionais de mercado têm endossado a importância de um placar unânime do Copom amanhã, com Selic estável, para recuperar a credibilidade do BC, afetada pelo racha na reunião de política monetária de maio.

… A reação turbulenta à dissidência pressiona os diretores do Copom a negociarem unidade desta vez.

… O DI Jan25 subiu a 10,690% (de 10,660% na 6ªF); Jan26, a 11,285% (de 11,205%); Jan27, a 11,590% (de 11,500%); Jan29, a 11,945% (de 11,885%), após ter superado 12% na máxima; e Jan31, 12,070% (de 12,030%).

YANKEES, GO HOME – O Ibovespa roda nas mínimas do ano e não tem sido convidado para a festa de recordes das bolsas em NY, diante das dúvidas se o governo Lula vai embarcar nas medidas de maior impacto fiscal.

… O índice à vista da bolsa doméstica chegou a operar ontem abaixo dos 119 mil pontos no piso intraday (118.685) e fechou em queda de 0,44%, aos 119.137,86 pontos, com volume financeiro de apenas R$ 17,3 bi.

… Apesar de os papéis dos principais bancos terem se destacado no campo positivo, não salvaram o dia, porque mais de 80% dos ativos que compõem a carteira teórica fecharam no vermelho. De 86 ações, só 16 subiram.

… Entre as oito maiores quedas, sete responderam diretamente à pressão fiscal observada no DI: Rede D´Or (-5,16%), LWSA (-4,29%), Magalu (-3,93%), Yduqs (-3,92%), Carrefour (-3,89%), Assaí (-3,43%) e Vamos (-3,42%).

… Vale teve queda moderada de 0,40% (R$ 60,38), em mais um dia de perdas do minério (-1,63%). Apesar dos dados fracos de atividade na China, o petróleo subiu, de olho na demanda nas férias de verão no Hemisfério Norte.

… O barril do Brent/agosto avançou 1,97%, a US$ 84,25. Aqui, Petrobras PN ganhou 0,37% (R$ 34,81) e ON ficou estável (+0,05%; R$ 36,65), à espera do desfecho do acordo bilionário fechado à noite pela companhia no Carf.

… Na liderança do ranking do Ibovespa, Itaú avançou 2,44% (R$ 31,90), após o Morgan Stanley ter elevado a recomendação para os ADRs do banco de equal-weight (equivalente a neutro) para overweight (compra).

… Ainda entre as ações do setor financeiro, Santander ganhou 1,44%, a R$ 27,47; Bradesco PN avançou 1,09%, para R$ 12,97; e Bradesco ON registrou valorização de 0,35% (R$ 11,42). Já BB ficou estável, a R$ 26,45.

VALE TUDO – O Fed continua em aberto. Segue majoritária na plataforma do CME a aposta de dois relaxamentos do juro este ano (41,1%), mas cresceu ontem para 31,1% (de 23,5% anteriormente) a chance de um corte único.

… A probabilidade de o BC norte-americano ser mais econômico no ciclo de redução voltou a aumentar nesta 2ªF com um indicador de atividade forte nos EUA e o comentário do presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker.

… Ele considerou “apropriado” só um corte do juro até o fim do ano, embora não tenha descartado nada, nem dois cortes e tampouco nenhum, ponderando que as decisões de política monetária dependerão da evolução dos dados.

… Ontem, a atividade industrial Empire State subiu de -15,6 em maio para -6,0 em junho, vindo mais fortalecida do que a estimativa de -8,4, o que recuperou parte da precificação de que juro possa cair menos nos EUA.

… Na reação, os retornos dos Treasuries interromperam quatro pregões seguidos de queda. O yield da Note de 2 anos subiu para 4,763% (de 4,692% no pregão anterior) e o de 10 anos avançou a 4,273% (de 4,207% na 6ªF).

… Mas o repique nas taxas e a aposta no Fed menos dovish não sabotaram novos recordes nas bolsas em NY.

… Além de o S&P 500 (+0,77%) ter renovado o pico histórico (5.473,23 pontos), o Nasdaq (+0,95%) bateu máxima de fechamento (17.857,02 pontos) pelo sexto dia consecutivo e flerta com a marca inédita de 18 mil pontos.

… Os resultados das empresas ligadas à inteligência artificial têm garantido a onda otimista, que dá impulso aos índices de ações em Wall Street. O Dow Jones encerrou a sessão com valorização de 0,49%, aos 38.778,10 pontos.

… No câmbio, o dólar subiu pontualmente com Harker e o indicador mais forte do que o esperado da atividade industrial nos EUA, mas inverteu, porque o euro (+0,27%, a US$ 1,0733) e a libra (+0,14%, a US$ 1,2704) reagiram.

… As moedas europeias reconquistaram parte do terreno perdido no pregão anterior, quando bateu forte a ansiedade com a turbulência política na França, onde pesquisas eleitorais indicam o favoritismo da extrema-direita.

… O índice DXY, que mede a força do dólar, perdeu 0,22%, a 105,320 pontos. O iene caiu 0,18%, a 157,72/US$.

EM TEMPO… VALE reiterou que escolha de novo presidente segue estatuto e que cronograma está mantido.

3R PETROLEUM. AGE marcada para ontem que ia aprovar o protocolo e justificação de incorporação da Maha Energy (Holding) Brasil e a incorporação das ações da Enauta pela companhia não foi instalada por falta de quórum.

LOJAS MARISA adiou novamente balanço do 1TRI, que previsto para ontem; empresa não marcou nova data.

SÃO MARTINHO informou que o lucro líquido do 4Tri da safra 2023/24 subiu mais de 4 vezes em relação a um ano antes, a R$ 627,3 milhões. A companhia pagará R$ 150 milhões em JCP, a R$ 0,44 por ação; ex em 21/06.

OI informou que a Justiça dos EUA autorizou etapas necessárias para o plano de recuperação judicial.

ITAÚSA aprovou a distribuição de R$ 1,7 bi em JCP, o equivalente a R$ 0,1646 por ação, com pagamento em 30/8…

… Desse montante, R$ 977 mi (R$ 0,0946 por ação) serão distribuídos aos acionistas de base acionária de 20/6 e R$ 723 mi (R$ 0,07 por ação) aos de base acionária de 21/3.

CEMIG vai pagar em 28 de junho a primeira parcela de seus proventos sobre o exercício de 2023; empresa pagará R$ 661,2 milhões (R$ 0,3005 por ação) em JCP, com base na posição acionária de 21/12/23…

… Com base na posição acionária de 25/9/23, ainda serão pagos R$ 208,9 milhões (R$ 0,0949 por ação) em JCP…

… Companhia também distribuirá R$ 213,3 milhões (R$ 0,0969 por ação) em JCP, considerando a base acionária de 23/6/23, e mais R$ 212,1 milhões (R$ 0,0963 por ação), de acordo com a base acionária de 27/3/23…

… Além disso, a Cemig pagará R$ 266,5 milhões (R$ 0,1211 por ação) em dividendos, aprovados em abril, considerando a data base de 29/4/24; no total, a empresa distribuirá R$ 1,56 bilhão em proventos.

AEGEA confirmou captação de US$ 300 milhões na reabertura de bonds sustentáveis 2031.

COGNA informou que fará a amortização antecipada facultativa de 98% do valor nominal unitário e da remuneração das debêntures da 1ª emissão da Somos Sistemas de Ensino; liquidação será em 28/6.

IGUATEMI. Oceana Investimentos elevou participação na companhia de 8,709% para 10,47% das ações PN e de 2,438% para 2,93% das ações ON.

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Revisão de gastos entra na pauta em semana de Copom

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[17/06/24]

… Divulgados de madrugada, indicadores da China antecedem a reunião do PBoC, que decidirá sobre juros nesta 4ªF à noite, horas após o Copom, que é o grande suspense da agenda. A aposta majoritária é de manutenção da taxa Selic em 10,5%, com placar unânime, o que evitaria uma nova crise de credibilidade do BC. Além da deterioração das expectativas de inflação, o momento de tensão com o risco fiscal contribui para o conservadorismo do mercado. Neste sentido, a semana será decisiva com as esperadas medidas de revisão dos gastos públicos que Haddad deve levar a Lula para fechar o Orçamento de 2025. Ainda lá fora, o BoE decide sobre a taxa no Reino Unido na 5ªF e nos Estados Unidos são destaques os números de maio das vendas no varejo e da produção industrial.

… Em entrevista a jornalistas na Itália, antes de voltar ao Brasil, o presidente Lula voltou a defender o ministro da Fazenda, alvo de fritura nos últimos dias, afirmando no fim de semana que “Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República”.

… Lula confirmou que os dois conversarão para discutir as propostas que Haddad vai levar, e que, se houver gastos desnecessários, serão cortados. Mas, desde já, disse: “Eu vou falar em alto e bom som: a gente não vai fazer ajuste [fiscal] em cima dos pobres.”

… O presidente criticou a ideia de mexer nos pisos da saúde e da educação, afirmando que isso é feito há 500 anos no Brasil. “Haddad é o meu ministro para inverter prioridades e incluir os pobres no Orçamento. Há 500 anos os pobres estão fora do Orçamento.”

… Lula identificou uma campanha na mídia e em alguns setores para fragilizar Haddad, em meio a dificuldades no Congresso de emplacar ações que melhorem a arrecadação do governo, como o fim das desonerações que diminuem as contribuições previdenciárias.

… Segundo ele, os que “ficam criticando os gastos do governo” são os mesmos que foram para o Senado pressionar pela desoneração. O presidente voltou a desafiar parlamentares e empresários a apresentarem uma alternativa para cobrir esses custos.

… A Receita calcula perda de R$ 25,8 bilhões na arrecadação deste ano com a prorrogação do benefício fiscal às empresas e municípios.

… O governo contava com o fim da desoneração para reduzir o déficit, mas a proposta foi barrada pelo Congresso, assim como a Medida Provisória que foi apresentada como alternativa para restringir o uso de créditos tributários, alterando as regras do PIS/Cofins.

… “Eu disse para o Haddad: não é mais problema do governo, o problema agora é deles. Agora os empresários que se reúnam, discutam e apresentem para o ministro da Fazenda uma proposta de compensação [para a prorrogação da desoneração da folha].”

… Lula se queixou que o País está cada vez mais “refém de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa, observando que a questão do déficit fiscal sempre tem muito mais destaque no noticiário do que os juros de 10,25% com uma inflação abaixo de 4%”.

… Em novo ataque a Campos Neto, disse que aqueles que “foram na festa para o presidente do Banco Central em São Paulo [o jantar que governador Tarcísio de Freitas ofereceu a RCN] devem estar ganhando dinheiro com a taxa de juros”.

… Dizendo que trabalha por uma ascensão social dos pobres, previu que a economia vai crescer mais do que todas as previsões, e que o seu governo vai continuar investindo em saúde e educação, “porque precisamos dar ao povo o respeito que ele merece”.

… O fiscal é a pauta principal que movimenta o mercado financeiro, que está sob o sentimento de aversão a risco, justamente quando os ventos no exterior melhoram, devido às incertezas no cumprimento das regras do novo arcabouço fiscal.

… À espera das medidas prometidas por Haddad e Simone Tebet, na semana passada, o risco é de que as propostas não sejam suficientes e acabem decepcionando e desencadeando nova onda de desconfianças e perdas para os ativos domésticos.

MAIS UMA – Enquanto Haddad enfrenta o desgaste político de ver a devolução da MP dos créditos do PIS/Cofins, Pacheco avisa que deve se antecipar ao Ministério da Fazenda e apresentar nesta semana um projeto de lei para a renegociação da dívida dos Estados.

… Como escreveu na Folha a jornalista Adriana Fernandes, a se confirmar, será um atropelo sem precedentes para o ministro, com chances de contaminar ainda mais o ambiente de incerteza com os rumos das contas públicas.

… O projeto “alternativo” de Pacheco estava na gaveta desde o ano passado, quando o presidente do Senado colocou a renegociação da dívida de Minas Gerais nos acordos para aprovação de medidas de arrecadação da equipe econômica e a reforma tributária.

… Haddad prometeu, em março, que enviaria “nas próximas semanas” o projeto, após reunião com o governador Tarcísio (São Paulo), o Estado que tem a dívida mais alta, mas boa situação financeira. Quer usar a renegociação para abrir espaço para mais investimentos.

… A agenda, que era urgente em março, entrou em banho-maria, e a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul, depois da tragédia das inundações, reforçou a justificativa para empurrar a apresentação do projeto, desagradando a Pacheco.

… O projeto de Pacheco cria o programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados junto à União e prevê o uso de créditos que o Estado de Minas tem junto ao setor privado para o abatimento de dívidas, além de permitir o desconto da dívida.

MAIS AGENDA – Nos reflexos do IPCA alto de maio, divulgado semana passada, o Focus (hoje, 8h25) deve trazer nova rodada para cima nas projeções de inflação, mais próximas de 4%, e da Selic, na direção de 10,50%.

… Antes, às 8h, saem a prévia do IPC-S e o IGP-10, que deve desacelerar para 0,77% em junho (mediana do Broadcast), depois de ter subido 1,08% em maio. Amanhã, sai a segunda parcial do mês do IPC-Fipe.

LÁ FORA – Antes do feriado do Juneteenth, que fecha as bolsas de NY na 4ªF, o investidor tem para conferir amanhã as vendas no varejo e a produção industrial dos EUA em maio. Hoje, sai o Empire State industrial de junho (9h30).

… Ainda nesta 2ªF, os Fed boys John Williams (13h) e Patrick Harker (14h) participam de eventos públicos.

… Na 6ªF, o PMI/S&P Global composto de junho sai nos EUA, Alemanha e zona do euro, onde amanhã tem CPI.

… Os BCs do Chile e da Austrália divulgam as suas decisões de política monetária amanhã.

CHINA HOJE – A produção industrial teve alta anualizada de 5,6% em maio, abaixo da previsão de 6%. As vendas no varejo subiram 3,7% na mesma base de comparação, pouco menos do que a estimativa de 3,8%.

… Ainda ontem à noite, o BC chinês manteve o juro da linha de empréstimos de médio prazo (MLF) de 1 ano em 2,5%, sinalizando que a principal taxa (LPR) não deve sofrer alterações na reunião de política monetária de 4ªF.

O BENEFÍCIO DA DÚVIDA – O mercado doméstico voltou a responder, na 6ªF, com alguma tranquilidade à sinalização de que o governo entendeu o recado de que tem que transmitir uma mensagem de revisão de gastos.

… Além do apoio manifestado por Lula a Fernando Haddad, também foi importante o apoio público dos bancos a Haddad, manifestado pelo presidente da Febraban, após reunião dos principais banqueiros com o ministro da Fazenda.

… O investidor, que vinha cobrando maior ênfase do governo no compromisso com o controle das contas públicas, depôs as armas e baixou o estresse da semana, quando o DI escalou e o dólar chegou a cruzar R$ 5,40. 

… Junto com o alívio, a nova rodada de quedas nos retornos dos Treasuries e uma atividade mais fraca mostrada pelo IBC-Br abriram espaço para a curva dos juros futuros devolver prêmio.

… Jan26 caiu a 11,205% (de 11,248% na véspera); Jan27, 11,500% (de 11,606%); Jan29, a 11,885% (de 12,039%); e Jan31, a 12,030% (de 12,216%). O Jan25 ficou perto do ajuste (10,660%, de 10,667%) por causa do Copom.

… O “PIB do BC” veio praticamente estável (+0,01%) em abril contra março, abaixo do que se esperava (+0,4%), mas, nem de longe, resgatou alguma esperança de que o Banco Central possa continuar cortando a Selic esta semana.

… Depois do racha da última reunião de política monetária, o mercado está fechado para a aposta de que o Copom vai interromper o ciclo de relaxamento, diante dos desafios fiscais e expectativas de inflação.

… Apesar do ritmo frustrante do IBC-Br, o mercado manteve em 0,5% a mediana para o PIB/2Tri (Broadcast).

… A impressão de que o governo se convence de que não pode ficando bancando o discurso de que a só a arrecadação dará conta do ajuste fiscal autorizou uma melhora pontual de humor no câmbio pela manhã.

… À tarde, porém, a onda de alta do dólar no exterior, diante da expectativa de juro alto por mais tempo nos EUA, tirou a moeda americana da mínima por aqui, abaixo de R$ 5,35 (R$ 5,345), e impôs leve alta de 0,25%.

… Apesar do repique, foi positivo o dólar ter fechado em marca inferior a R$ 5,40, cotado a R$ 5,3821. Na semana passada, porém, ainda acumulou alta de 1,08%, sob o risco fiscal doméstico e as incertezas sobre o Fed.

NÃO DECOLA – Parado no lugar, o Ibov (+0,08%, aos 119.662,38 pontos) ainda não conseguiu reconquistar os 120 mil pontos, apesar dos esforços para conter os ruídos sobre a credibilidade de Haddad e da agenda fiscal.

… A falta de apetite do investidor estrangeiro assusta: em um único dia, na última 4ªF, os gingos retiraram mais de R$ 3 bilhões da B3 (R$ 3,085 bilhões), elevando a fuga em junho para R$ 7,225 bilhões.

… Apesar de 6ªF ter sido dia de vencimento de opções sobre ações no Ibov, o volume financeiro não empolgou (R$ 17,7 bilhões) e ficou até mesmo abaixo das médias diárias recentes, que já têm sido pouco expressivas.

… Além de o k externo estar batendo em retirada, ainda na 6ªF, o desempenho negativo das ações da Petrobras impediu qualquer melhora mais firme da bolsa, com incertezas sobre as indicações para a nova diretoria da estatal.

… Para a diretoria Financeira (CFO), que trata dos dividendos, foi convidado Fernando Melgarejo, diretor da Previ. Sylvia dos Anjos foi indicada para Exploração e Produção e Renata Baruzzi, para Engenharia, Tecnologia e Inovação.

… Economistas dizem ainda ser cedo para avaliar os nomes, mas concordam que as mudanças geram insegurança, em meio à súbita demissão de Prates, que trouxe de volta à tona as evidências de ingerência política.

… Segundo fontes consultadas pelo Broadcast, os três nomes indicados à diretoria da Petrobras não devem enfrentar dificuldades e podem ser aprovados em reunião ordinária do conselho marcada para o fim do mês (dia 28).

… Petrobras PN se destacou entre as maiores perdas do Ibovespa, caindo 2,20%, a R$ 34,68. Petrobras ON cedeu 1,05%, a R$ 36,63. Os papéis tiveram performance muito pior à do petróleo Brent para agosto: -0,16%, a US$ 82,62.

… Contrariando a alta de quase 2% do minério, Vale recuou 0,35% (R$ 60,62); CSN Mineração, -2,2%, e Gerdau PN, -1,9%. Apesar das perdas das blue chips das commodities, as ações do Bradesco neutralizaram o impacto negativo.

… ON subiu 0,89% (R$ 11,38) e PN ganhou 1,02% (R$ 12,83). Santander teve alta moderada de 0,30% (R$ 27,08), Itaú fechou em leve queda de 0,10% (R$ 31,14) e BB ON, -0,38% (R$ 26,45). Pior recuo do dia, Embraer (-5,35%) realizou.

… As primeiras colocações do ranking positivo foram de Vamos (+5,94%), CVC (+4,15%) e MRV (+3,63%).

DOIS OU UM? – A pergunta que vale um milhão de dólares em NY – se o Fed vai cortar o juro este ano uma ou duas vezes – continua sem resposta. Powell disse, na semana passada, que tanto uma chance quanto a outra são “plausíveis”.

… No domingo, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que a previsão do mercado financeiro de que a autoridade de política monetária reduzirá os juros uma vez em 2024 é “razoável”.

… Segundo ele, o início do relaxamento monetário deve ocorrer “provavelmente mais para o fim do ano”, já que os EUA têm de esperar mais evidências de que a inflação está convergindo de volta para 2%”.

… Na 6ªF, o Fed boy Austan Goolsbee recomendou esperar os próximos indicadores para projetar o relaxamento monetário, enquanto Loretta Mester veio mais hawkish, comentando que a inflação só deve voltar à meta em 2026.

… As falas fizeram preço no câmbio, puxando o dólar, que foi atingido ainda pelo aprofundamento da crise política na França, com o favoritismo da extrema-direita nas pesquisas sobre as eleições legislativas do fim do mês.

… O enfraquecimento de Macron estimulou um movimento de fuga para ativos de segurança, do dólar aos Treasuries, e provocou uma liquidação de ativos de risco na Europa, com ecos nos EUA e no mundo.

… A ansiedade aumentou após uma coligação de partidos de esquerda apresentar manifesto para desmantelar a maior parte dos sete anos de reformas econômicas de Macron e entrar em rota de colisão com a UE na política fiscal.

… “Embora, normalmente, o que acontece em Paris fique em Paris (ou pelo menos na Europa), o episódio atual assumiu caráter mais preocupante aos mercados globais do que o esperado”, observou o BMO Capital Markets.

… Para Matt Malley, da Miller Tabak + Co., embora a situação esteja longe de evoluir para uma crise de dívida soberana, os níveis muito altos das dívidas e orçamentos inchados na Europa levantam preocupações.

… Desde que Macron chamou eleições antecipadas, os juros dos bonds franceses de 10 anos atingiram recordes e a bolsa de Paris perdeu 6% e cerca de US$ 210 bi em capitalização de mercado (o equivalente à economia da Grécia).

… Integrantes do BCE dizem estar tranquilos e ainda não consideram a necessidade de recorrer a ferramentas de crise. Mas o euro caiu 0,35%, a US$ 1,0700, com o índice DXY (+0,63%) na máxima em cinco semanas (105,550 pts).

… A libra recuou 0,60%, a US$ 1,2689. O iene caiu 0,26%, a 157,426/US$, apesar do anúncio do BoJ de que reduzirá o ritmo das compras dos bônus locais (JGB) na reunião do mês que vem. O mercado se ressentiu de maiores detalhes.

… Em NY, os retornos dos títulos americanos de longo prazo chegaram a tocar nos menores níveis desde março. O juro da note de 2 anos caiu a 4,692% (de 4,694%), depois de ter rodado no nível de 4,90% durante a semana.

… O da T-note de 10 anos recuou a 4,207% (de 4,238%) e o do T-bond de 30 anos cedeu a 4,341% (de 4,395%).

… Apesar da Europa mais conturbada, do discurso de Mester e da queda inesperada da confiança do consumidor (Michigan) para 65,6 em junho, contra previsão de 73, não dá para dizer que as bolsas em NY tenham ido mal.

… O Dow Jones caiu 0,15% (38.589,49 pontos) e o S&P 500 ficou estável (-0,04%), aos 5.431,66 pontos, enquanto o Nasdaq fechou em alta discreta de 0,12%, a 17.688,88 pontos, suficiente para marcar o quinto recorde seguido.

… Foi ajudado pelo salto de 14,5% nas ações da Adobe, que apresentou balanço do 2Tri fiscal e perspectivas favoráveis, diante da crescente demanda pela inteligência artificial.

EM TEMPO… Governo recorreu para bloquear R$ 80 bilhões da VALE, BHP e Samarco em caso de Mariana (MG)…

… Lula ainda não desistiu de emplacar um nome para ocupar a presidência da Vale, depois da indicação frustrada de Mantega ao cargo. Mas operação não deve deslanchar, segundo Lauro Jardim/O Globo.

PETROBRAS. O presidente do Conselho de Administração, Pietro Mendes, informou que o colegiado se reúne hoje, mas não quis antecipar a pauta.

BB iniciará escolha de substituto de Fernando Melgarejo após diretor da Previ ter sido indicado para a Petrobras.

SABESP. O conselho de administração aprovou a nova política de dividendos, que podem chegar a 100% do lucro.

TIM aprovou a distribuição de R$ 300 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1240 por ação, com pagamento até 23/7; ex a partir de 24/6.

TELEFÔNICA aprovou a distribuição de R$ 175 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1060 por ação, com pagamento até 30/4/25; ex em 27/6.

COGNA. O conselho de administração da Cogna aprovou a abertura de um programa de recompra de até 44.216.191 ações ordinárias de emissão da companhia, que corresponde a até 2,357% das ações em circulação.

EZTEC informou que BlackRock atingiu participação acionária de 5,18% na companhia. Segundo o último formulário de referência, de 31/5, gestora não detinha participação relevante na empresa.

VAMOS informou que a FMR LLC atingiu o total de 55.336.195 ações ordinárias, passando a deter 5,01% do total desta classe de ações emitidas pela empresa.

ZAMP. Ariel Grunkraut deixará cargo de diretor-presidente no dia 28/6; companhia não informou o substituto.

DASA. Citi tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 5. A empresa Ímpar, fruto da combinação das operações de hospitais e oncologia de Dasa e Amil, deve se beneficiar com sinergias naturais de escala, diz o banco.

AUREN/AES. A Superintendência Geral do Cade aprovou, sem restrições, proposta de combinação de negócios.

ASA INVESTMENTS. Fabio Kanczuk assume como novo diretor. Jeferson Bittencourt chefiará a área econômica. Marcio Fontes deixou a gestora. Em seu lugar, como chefe da área de multimercados, assume Filippe Santa Fé.

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