Análise

Risco geopolítico amplia fatores de alta para o petróleo

Atualizado 09/04/2024 às 11:22:34

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▪️ Em reunião na semana passada, a OPEP+ decidiu manter seu corte de produção voluntário adicional de 2,2 milhões de barris diários. No entanto, o compliance foi um dos destaques do último encontro, pois alguns países estão produzindo acima de suas cotas.

▪️ Em mais uma semana de ganhos para os principais índices de referência do petróleo, é impossível não reconhecer o sucesso da estratégia adotada pelos países exportadores de petróleo.

▪️ Ademais, as tensões geopolíticas estão aumentando ainda mais os prêmios do complexo energético. Os conflitos na Europa e no Oriente Médio sofreram escaladas recentemente, o que também tem contribuído para a valorização do petróleo.

▪️ Entretanto, alguns riscos de baixa podem afetar o mercado nas próximas semanas. Os preços atuais do petróleo bruto estão pressionando a inflação nos EUA e na Europa, podendo provocar uma reação dos bancos centrais das principais economias do mundo.

A situação dos ativos do complexo energético, especialmente o petróleo e seus derivados, está significativamente diferente do início do ano. Embora as revisões de alta do PIB global e o mercado de petróleo mais apertado tenham impulsionado o sentimento de alta, as recentes tensões geopolíticas estão adicionando um prêmio extra ao preço do petróleo. O novo relatório de Energia da hEDGEpoint Global Markets aborda essas e outras discussões sobre o complexo energético.

“Ainda na esteira dos fundamentos de alta, a recente reunião da OPEP+ estendeu o corte voluntário adicional de produção de 2,2 milhões de bpd pelos países membros, pelo menos até 1º de junho, quando será realizada uma nova reunião. Entretanto, alguns riscos de baixa para o mercado podem se materializar nas próximas semanas. Um desses fatores pode ser reflexo de uma possível redução do ritmo de importações de petróleo na China em favor de suas reservas, evitando assim os altos preços atuais. Outro risco é que os bancos centrais possam manter as taxas de juros altas por mais tempo para controlar os preços, que estão fortemente pressionados pelos altos custos dos combustíveis”, diz Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint.

“Portanto, vamos discutir os riscos de alta e de baixa que provavelmente moldarão o preço do petróleo e de seus derivados nas próximas semanas”, continua.

Nada muda no jogo da OPEP+ em relação ao petróleo

“Depois que os principais índices de referência do petróleo fecharam a semana em novas máximas, com o Brent a US$ 91,17 (+4,22%) e o WTI a US$ 86,91 (+4,5%), qual é o espaço para uma maior valorização do petróleo? Diversos riscos podem abrir um cenário mais altista ou baixista para o complexo energético. Analisando o cenário mais baixista, alguns riscos razoáveis estão associados à OPEP+. De acordo com dados da Platts, a produção média da organização foi de cerca de 34,5 milhões de barris por dia, 170.000 acima das cotas do grupo”, pontua o analista.

E prossegue: “Países como Iraque, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Cazaquistão foram os principais contribuintes para que essa produção excedesse as cotas. Um plano de compensação está sendo discutido para os próximos meses, mas com os preços nos níveis atuais, pode ser difícil para as nações dispensarem a receita da exportação de petróleo e gás. Além disso, os dados comerciais da China e da Índia, o primeiro e o terceiro maiores importadores de petróleo do mundo, podem injetar uma volatilidade de baixa no mercado. A Índia já expressou seu desconforto com a recente escalada de preços por meio do secretário do petróleo do país, Pankaj Jain, sugerindo que as empresas podem tomar uma “decisão apropriada” para proteger sua economia”.

A China, com suas reservas estratégicas de petróleo, também poderá reduzir seu ritmo de importação para evitar o valor do petróleo mais alto dessas semanas. Além disso, o aumento dos custos de combustível elevará a inflação, o que pode levar a taxas de juros mais altas por um longo período nos EUA. Essa combinação teria um impacto significativo de baixa nos preços do petróleo bruto.

“No cenário de alta, as perspectivas econômicas melhoraram nos últimos dois meses. As revisões para cima das previsões do PIB feitas pelo FMI para 3,2% (+0,2) e pela OPEP para 2,8% (+0,1%) sugerem uma trajetória de crescimento mais altista para este ano”, diz.

Além disso, a Europa está evitando uma recessão, o que proporciona um impulso adicional para a atividade industrial e o aumento da demanda de energia. Ademais, as tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Europa Oriental aumentaram os prêmios das commodities de energia. Esses fatores contribuíram para o recente aumento nos preços do petróleo.

Segundo Victor, “em relação aos conflitos geopolíticos, especialmente no Oriente Médio, a situação continua altamente volátil depois dos ataques israelenses a um consulado iraniano em Damasco escalarem o conflito. Enquanto isso, na Europa, o Kremlin anunciou que a Rússia e a OTAN estão em confronto direto na Ucrânia. Os ataques de drones ucranianos à infraestrutura energética russa afetaram cerca de 14% da capacidade de refino do país. Além de impactar os preços dos produtos refinados, especialmente o diesel, espera-se que as exportações de petróleo da Rússia aumentem. No entanto, o país reiterou que manterá sua produção dentro das cotas estabelecidas pela OPEP+”.

Portanto, os riscos geopolíticos proporcionarão algum espaço para uma maior valorização dos principais índices de referência do petróleo. Entretanto, isso pode mudar na próxima reunião do Fed no final do mês, já que os preços do petróleo estão tendo um impacto significativo sobre a inflação, podendo gerar uma resposta das autoridades monetárias do país.

“Várias vezes observamos ceticismo em relação à força que a OPEP+ teria para defender os preços do petróleo. No entanto, com as cotações acumulando altas de 17% em 2024, não há dúvidas sobre o sucesso da estratégia do grupo e de seus aliados em restringir a produção para alcançar um mercado de energético mais apertado, ampliando, portanto, suas receitas”, destaca.

Além disso, os riscos geopolíticos estão ampliando os prêmios para o petróleo e seus derivados, que já se beneficiavam de um ambiente macroeconômico mais favorável devido às revisões do PIB global e à recuperação da produção nos EUA e na China.

“Entretanto, os bancos centrais dos EUA e da Europa ainda estão lutando contra a inflação. Os altos preços do petróleo podem forçá-los a manter suas taxas de juros mais altas por um período mais longo, o que pode levar a uma volatilidade de baixa nos mercados de energia no futuro”, pondera.

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