Morning Call

Payroll pode gerar alta volatilidade se surpreender

Atualizado 06/10/2023 às 00:04:53

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[6/10/2023]

… O IGP-DI de setembro abre a agenda às 8h, com a mediana das estimativas apontando aceleração para 0,26% (0,05% em agosto), mas o dia é do payroll nos EUA, o indicador mais importante da semana, especialmente depois que o relatório Jolts deu um susto na 3ªF, com abertura de 9,6 milhões de postos de trabalho, bem acima do esperado (8,9 milhões). Na sequência, a pesquisa ADP veio fraca e ontem os novos pedidos de auxílio-desemprego subiram menos que o consenso. Entre os dados divergentes, investidores assumiram cautela à espera do relatório do emprego, que sai às 9h30. O potencial de volatilidade é grande hoje, para o bem ou para o mal. Um resultado forte tende a causar nova onda de estresse, reforçando as apostas em mais alta do juro. Se o payroll desacelerar, aí vem um bom alívio.

… O payroll deverá indicar a criação de emprego abaixo de 200 mil pelo quarto mês seguido, confirmando que o mercado de trabalho está esfriando, mas ainda continua muito apertado. O consenso é de criação de 170 mil vagas, segundo o MarketWatch.

… Já na pesquisa Broadcast, o relatório mostrará a criação de 175 mil vagas de empregos, ainda menos do que foi agosto (187 mil vagas), com a taxa de desemprego recuando de 3,8% para 3,7% e crescimento de 0,3% do salário médio, acima do mês anterior (0,2%).

… No ano, o aumento do salário deve se manter em 4,3%, um percentual considerado muito alto para uma meta de 2%.

… Para o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, “qualquer número acima de 120 mil consegue manter o desemprego estável”.

… Autoridades do Fed estimam que economia não precisa mais do que 75 mil a 100 mil empregos por mês. Qualquer coisa além disso significa pressão para os salários, em ambiente de escassez de mão-de-obra, e dificuldade maior para controlar a inflação.

… A força do mercado de trabalho é um dos fatores decisivos para determinar os próximos passos da política monetária, junto com dados da atividade. Por isso, o payroll deve conduzir as expectativas para os juros e os movimentos dos pregões hoje.

… O primeiro impacto a ser observado é na curva longa dos Treasuries, que tem conduzido os negócios nas últimas semanas, quando o yield da Note-10 anos atingiu a máxima de 4,8%. Se subir mais, contrata queda das bolsas e escalada do dólar.

… Já se as taxas fecharem (recuarem), o alívio se refletirá na alta das ações, enquanto a moeda americana perde força.

… O que está em jogo é se o juro vai subir mais, em um ajuste adicional que não é descartado pelos Fed boys, mas ainda é desacreditado pela ampla maioria dos investidores em NY, ou se o ciclo de altas acabou no intervalo entre 5,25% e 5,50%.

… Na CME, as chances de estabilidade na taxa dos Fed Funds estavam em 78,4% para a reunião do Fomc de novembro, enquanto 21,6% projetavam alta de 25pbs. Já para dezembro, a aposta em alta de 25pbs era de 30,8% e de manutenção de 65,7%.

… No mínimo, o payroll de hoje ajudará a direcionar as apostas sobre o tempo que os juros ficarão restritivos nos EUA.

… Em artigo no Financial Times nesta 5ªF, Mohamed El-Erian destaca que o período “intenso” de alta da taxa dos Fed Funds, o avanço do preço do petróleo e o dólar forte estão afastando a ideia de um pouso suave na economia americana.

… Segundo ele, sua confiança no Fed está abalada. “Não adotou o suficiente para um mundo onde a demanda é insuficiente e a oferta, menos flexível. Quanto mais tempo demorar a ajustar-se, maior será o risco para o bem-estar econômico.”

… Nesta 5ªF, preparado para correr, o dólar fechou em R$ 5,16, puxando os juros futuros, enquanto o Ibovespa, com giro inexpressivo de R$ 17 bilhões, lutou para defender os 113 mil pontos. Também as bolsas em NY fecharam negativas (leia mais abaixo).

MAIS AGENDA – A mobilização dos servidores do BC adiou de ontem para hoje (9h) o relatório de poupança de setembro. Às 10h, serão divulgados os dados da Anfavea de produção e vendas de veículos no mês passado.

… O diretor de Regulação do BC, Otavio Ribeiro Damaso, faz palestra às 9h30 no Evento CERC Connect, promovido pela Central de Recebíveis. Já Campos Neto se reúne por videoconferência (15h) com dirigentes de instituições financeiras.

… Haddad tem reuniões com a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e com o CEO da Omega.

NOS EUA – À tarde, já sob o impacto do payroll, o diretor do Fed Christopher Waller discursa em evento (13h). A Baker Hughes divulga, às 14h, os poços de petróleo em operação e, às 17h, sai o crédito ao consumidor em agosto.

QUE RUFEM OS TAMBORES – Bateu alguma ansiedade antes do payroll e o Ibovespa não conseguiu subir e nem o dólar conseguiu cair, ainda que as variações na bolsa e no câmbio tenham sido moderadamente cautelosas.

… A estabilidade da Vale (+0,05%; R$ 65,90), a virada de Petrobras PN (+0,34%; R$ 32,73) e o otimismo dos bancos pelo segundo dia consecutivo não foram suficientes para evitar a terceira queda do Ibov nos quatro pregões do mês.

… O índice à vista fechou em leve queda de 0,28% e brigou pelos 113 mil pontos no fechamento (113.284,08).

… Ponto alto da semana, o relatório de emprego nos EUA tem potencial para definir tendência nos negócios globais e para calibrar as apostas sobre o pico do ciclo do Fed, que tem deixado a sua marca nos preços do petróleo.

… A perspectiva de queda na demanda desencadeada pelo risco de juros mais altos por mais tempo nos EUA tem compensado a restrição na oferta da commodity. Ao invés de buscar US$ 100, o Brent está abaixo de US$ 85.

… Mesmo depois de ter afundado mais de 5% na 4ªF, o contrato do barril para dezembro estendeu ontem o movimento de baixa (-2,02%), para US$ 84,07. Nem o enfraquecimento do dólar lá fora evitou a nova onda de venda.

… Ao Broadcast, a analista Livia Gallarati, da Energy Aspects (EA), avalia que o tombo recente do petróleo reflete mais fluxo financeiro que fundamentos. A liquidação dos Treasuries induziu um movimento vendedor da commodity.

… Essa instabilidade, diz, parece ter dado ímpeto adicional à montagem de cobertura com opções de venda (put), que aposta na queda do preço, enquanto os detentores de opções de compra (call) correram para fechar posições.

… O analista Edward Moya (Oanda) alerta que a fraqueza nas cotações do petróleo pode incentivar maiores cortes de produção pela Opep+, que “fará o que for preciso” para o preço não voltar às mínimas do ano, perto de US$ 70.

… Apesar da nova queda firme do barril, Petrobras ON caiu pouco ontem (-0,39%), negociada a R$ 35,48.

… Na esperança de que os Juros sobre Capital Próprio (JCP) não sejam extintos, os bancos ampliaram as altas: Itaú, +1,58% (R$ 27,64); Santander, +2,38%; Bradesco ON, +0,24% (R$ 12,63), e PN, +0,42% (R$ 14,44); e BB (+0,3%).

… Ativos do setor de telecom também figuraram no ranking positivo, após o acordo sobre o preço dos ativos móveis da Oi ter sido finalizado na Justiça. Tim ON ganhou 1,74% (R$ 15,18) e Telefônica Vivo avançou 1,15% (R$ 44,72).

… Já a pior baixa do pregão foi de Hapvida ON  que cedeu 4,81%, a R$ 4,16. O movimento foi influenciado por relatório do Citi apontando que a empresa reportou queda de 42,7 mil no total de beneficiários em agosto.

MUITA ESPUMA – Num curto espaço de tempo, a curva a termo limpou as apostas em corte maior da Selic (0,75pp) e desistiu de precificar juro terminal de um dígito (abaixo de 9% entre agosto e setembro), para projetar 10,50%.

… A correção parece ter pouco ou nada a ver com o recado explícito do Copom no comunicado de manutenção do ritmo de queda em meio ponto nas “próximas reuniões” – ontem mesmo, Galípolo defendeu esta mesma dose.

… É do exterior que vem a reprecificação mais conservadora. Com as taxas dos Treasuries rodando nas máximas em 16 anos e pressionando o dólar por aqui acima de R$ 5,15, o BC tem menor espaço para ousar nos cortes.

… Nem mesmo o petróleo, que embarcou em canal de realização de lucro, antes de buscar os US$ 100, tem entrado como fator de viés deflacionário, porque vem ajudando a depreciar o real e trazer maior pressão ao dólar à vista.

… De qualquer maneira, profissionais consultados pelo Broadcast ainda estão reticentes em cravar se o movimento de mudança das expectativas da Selic no fim do ciclo é para valer ou se é efeito de ordens recentes de stop loss.

… Este debate se as oscilações têm sido mais especulativas do que baseadas em fundamentos deve começar a ser melhor esclarecido hoje com o impacto do payroll, que pode indicar se o dólar vai se consolidar no range mais alto.

… A moeda americana fechou ontem em +0,31%, a R$ 5,1692. A falta de acordo político para avançar na pauta econômica na Câmara também gerou busca por hedge, com a votação adiada da taxação das offshores e super-ricos.

… Durante evento de comércio exterior promovido ontem no Rio, o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, classificou o câmbio atual, em torno de R$ 5,00 e R$ 5,10, com “bom, adequado e competitivo” para o País.

… No mercado futuro, o contrato do dólar para novembro registrou leve valorização de 0,19%, cotado a R$ 5,1830.

… Ainda o DI fechou em alta moderada: jan/24, 12,246% (de 12,238% na 4ªF); jan/25, 11,00% (de 10,972%); jan/26, 10,885% (de 10,848%); jan/27, 11,140% (de 11,087%); jan/29, 11,630% (de 11,571%); e jan/31, 11,910% (11,850%).

PIQUE NO LUGAR – Sem estresse, mas sem alívio – foi esse o retrato dos juros dos Treasuries na véspera do payroll, quando continuaram flertando com as máximas recordes, apesar de não terem retomado a escalada recente.

… Os pedidos de auxílio-desemprego (207 mil) abaixo do esperado (213 mil) nos EUA indicaram que o mercado de trabalho continua aquecido e que o Fed pode continuar com o dedo do gatilho para um aperto adicional do juro.

… O dado limitou, mas não impediu uma queda dos rendimentos da Note-10 anos, que voltaram à faixa de 4,70%, depois de terem batido quase 4,80% esta semana. No fechamento, o yield caía a 4,709%, de 4,728% na véspera.

… O retorno da Note-2 anos, que chegou a 5,15% nos últimos dias, recuou para 5,016%, contra 5,062% na 4ªF.

… À Bloomberg, o gestor de um fundo do JPMorgan disse que a taxa da Note-10 anos pode chegar a 6%, nível visto pela última vez em 2000. “Muitos não conseguem entender que a economia dos EUA é mais forte do que pensam.”

… Segundo ele, a economia americana pode lidar melhor do que se imagina com juros dos Treasuries mais altos.

… Na avaliação do economista-chefe para os EUA do Citi, Andrew Hollenhorst, apesar do rápido aumento dos rendimentos dos Treasuries e seu possível impacto negativo sobre a economia, o Fed não deve parar de subir o juro.

… Para o Fed inverter a mão, afirmou ele, em relatório enviado a clientes, seriam necessárias provas da ocorrência de problemas de liquidez, tensões mais amplas nos mercados financeiros e/ou um abrandamento da atividade real.

… O número mais fraco de abertura de vagas de emprego do relatório da véspera da ADP (89 mil) não alterou a expectativa do Citi de que o payroll revele 240 mil novos postos em setembro e taxa de desemprego de 3,6%.

… Apesar da expectativa pelo relatório, que poderia ter gerado demanda defensiva, o dólar entrou em realização de lucro, mas bancos como o ING e BBH dizem que ainda há espaço para uma “reprecificação hawkish” na moeda.

… Não há razão, dizem, para acreditar que a tendência de alta da moeda americana terminou (especialmente se o payroll vier forte hoje). Mas ontem o iene (148,45/US$) ganhou 0,36% e também as divisas europeias avançaram.

… O euro subiu 0,41% (US$ 1,0552) e a libra, +0,44% (US$ 1,2194) apesar dos comentários dovish de dois membros do BCE. Villeroy de Galhau não vê motivo para mais aumentos de juros. Para Peter Kazimir, o ciclo chegou ao fim.

… Em clima de cautela, as bolsas em NY operaram engessadas. O índice Dow Jones fechou estável (-0,03%), aos 33.119,57 pontos, o S&P 500 recuou 0,13%, para 4.258,19 pontos, e o Nasdaq perdeu 0,12%, em 13.219,83 pontos.

… Ontem, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, não quis adiantar como votará na próxima reunião, mas disse que o BC monitora os Treasuries e que não recuará em sua intenção de atingir a meta de 2% na inflação.

EM TEMPO… Goldman Sachs atingiu participação de 5,53% do capital social da 3R PETROLEUM, por meio de derivativos de liquidação financeira, equivalentes a 13.266.122 de ações ON…

… Adicionalmente, o banco possui instrumentos derivativos de liquidação física equivalentes a 10.167.000 de ações ON, correspondentes a 4,24% do capital social.

RAÍZEN iniciou as operações da nova planta de etanol de segunda geração (E2G) no Parque de Bioenergia Bonfim, na cidade de Guariba (SP)…

… Segundo a companhia, a planta, com investimento total de R$ 1,2 bilhão, tem nível de comercialização contratado de 80% sobre sua capacidade nominal de produção de 82 mil metros cúbicos.

UNIPAR aprovou a 8ª emissão de debêntures, no valor de R$ 750 milhões.

EMBRAER concluiu a transação entre a subsidiária EAH e a Nidec Motor Corporation (NMC) referente à criação da joint venture Nidec Aerospace…

… Entre as atividades da JV, estão o desenvolvimento e a fabricação de sistemas elétricos de propulsão para uso aeronáutico, incluindo para veículos de decolagem e pouso vertical (eVTOL) e aeronaves de asa fixa.

HYPERA aprovou a 16ª emissão de debêntures, no valor de R$ 750 milhões.

UNIDAS aprovou a 13ª emissão de debêntures, no valor de R$ 500 milhões.

ALLOS informou que Sierra Brazil 1 indicou que não haverá transferência de ações para Entidades Otto.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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