Morning Call

Pausa do Fed é projetada em mais de 90%

Atualizado 14/06/2023 às 17:32:34

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[14/6/2023]

… Após o resultado em linha do CPI de maio, sai hoje a inflação ao produtor nos EUA (9h30), horas antes de o Fed anunciar sua decisão de política monetária (15h). O dado não deve mexer com as apostas em uma pausa no aperto do juro, que são projetadas agora em mais de 90% pela ferramenta da CME. A dúvida fica por conta de uma retomada dos aumentos em julho, que pode ganhar força ou ser esvaziada, a depender do gráfico de pontos e, principalmente, da entrevista de Powell (15h30). Ainda na agenda externa, a expectativa por indicadores da China, no final da noite, pode determinar cautela às commodities, que se recuperaram nesta 3ªF após os novos estímulos anunciados para impulsionar a economia. No Brasil, os dados do varejo em abril (9h) devem devolver os avanços de março.

… Apesar de ainda registrar crescimento, o varejo restrito deve arrefecer, com devolução do resultado positivo registrado em março (+0,8%) e condições de crédito mais desafiadoras. Pesquisa Broadcast aponta para uma leve expansão de 0,20% (mediana).

… Na comparação com igual mês de 2022, as vendas do segmento devem subir 0,8% (mediana), após avanço de 3,2% em março.

… Para o economista do Modal Rafael Rondinelli, é esperada certa moderação na atividade do comércio, de maneira geral, muito em função da inadimplência, que segue ainda preocupando nos indicadores de crédito, em função dos juros elevados.

… A inadimplência pode afetar mais os setores de vestuário e móveis/eletrodomésticos, que devem apresentar performance negativa. Em março, vestuário já registrou queda de 4,5% na margem e móveis/eletrodomésticos, crescimento de 0,3%.

… Também para o economista do Santander Gabriel Couto, que projeta queda de 0,5% para o varejo restrito, abril deve ter devolução natural após a surpresa positiva em março. Do mesmo modo, ele espera desempenho fraco de vestuário e móveis/eletrodomésticos.

… Para o varejo ampliado, a pesquisa indica recuo de 2% em abril na margem (mediana), após alta de 3,6% em março.

… O conceito ampliado, que inclui a venda de automóveis, pode registrar alguma reação em junho com o programa de descontos para os carros populares. Segundo a Fenabrave, o movimento nas revendedoras teve aumento superior a 200% na primeira semana.

… Nesta 3ªF, os ativos domésticos aproveitaram para uma realização, com o Ibovespa descansando no oitavo dia e a curva de juros resgatando uma parte dos prêmios que queimou nos últimos pregões, enquanto o câmbio se manteve estável (leia abaixo).

… Além da pressão registrada nos yields dos Treasuries, que se ajustaram a uma alta de 25pb no Fomc de julho e um período maior de juros elevados, o DI reagiu com desconforto à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos na CAE do Senado.

… O projeto passou na Comissão de Assuntos Econômicos por 14 votos a 3 e representa uma derrota para o governo, que tentou e não conseguiu adiar a votação em caráter terminativo. Ou seja, pode seguir direto para a Câmara, sem passar pelo plenário.

… A proposta de Efraim Filho (União Brasil) prorroga até 31/12/2027 a desoneração da folha de 17 setores. O relator ainda incluiu na proposta a redução, de 20% para 8%, da contribuição previdenciária de municípios com até 142,6 mil habitantes.

… A desoneração da folha, responsável por uma renúncia de R$ 11 bilhões, é um dos benefícios que o governo quer cortar.

… À noite, Haddad confirmou que ainda tentará sensibilizar o Parlamento a deixar a proposta de lado, neste momento, pedindo um voto de confiança para que o Congresso discuta esse tema no âmbito da reforma tributária, no segundo semestre.

… Sem antecipar detalhes, o ministro disse que a equipe econômica já trabalha numa alternativa à desoneração.

… À saída de uma reunião com o relator do arcabouço fiscal no Senado, Omar Aziz (PSD), Haddad disse que os dois acertaram que os possíveis ajustes no texto sejam feitos com “parcimônia”, de forma a respeitar o que foi aprovado pela Câmara.

… O que o governo não quer é que o projeto da âncora fiscal tenha de voltar à nova votação pelos deputados. “A equipe econômica prefere não atrasar a tramitação e fazer ajustes posteriores ao texto com um projeto de lei do Congresso”, disse Aziz.

CONTINGENCIAMENTO – No Estadão/hoje, o governo tenta evitar um corte de, pelo menos, R$ 40 bilhões em despesas para cumprir a meta do arcabouço fiscal, conforme a jornalista Adriana Fernandes apurou com fontes da equipe econômica.

… Duas alternativas estão na mesa: mudar a LDO e vincular esses gastos a dois créditos suplementares previstos para 2024 ou negociar um ajuste no texto do novo marco fiscal que ainda está em tramitação no Senado – o que parece menos provável.

PREVIDÊNCIA PRIVADA – Também ontem à noite, a Câmara aprovou (318 x 31), sem alterações, projeto da Fazenda que permite o uso dos recursos da previdência privada como garantia para a obtenção de empréstimos. Segue agora para o Senado.

MCMV – Já o Senado aprovou a MP do Minha Casa, Minha Vida, que segue para sanção presidencial, com custo de R$ 10 bilhões, bancado pelo Orçamento da União. O programa atenderá famílias com renda bruta mensal de até R$ 8.000 nas cidades.

… O Conselho Curador do FGTS deverá aprovar na próxima semana o aumento do subsídio para os beneficiários do MCMV, de R$ 47,5 mil para R$ 55 mil, e um teto maior do valor do imóvel, de R$ 264 mil para R$ 350 mil (O Globo).

… A notícia tem potencial para puxar as ações do setor de construção no pregão desta 4ªF. É ficar de olho.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Encontro entre secretários da Fazenda dos Estados para formar consensos foi inconclusivo e travou no Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) e no modelo de transição dos impostos. Nova reunião (virtual) foi agendada para 5ªF, 15.

META CONTÍNUA – Em entrevista à Piauí, perguntado sobre metas de inflação, o nº 2 da Fazenda, Gabriel Galípolo, praticamente confirmou a manutenção da meta em 3%, dizendo que Haddad “já foi bem vocal sobre o que pensa do sistema”.

… Ele afirmou também que a definição ocorrerá na reunião do CMN deste mês, marcada para o dia 29, como o mercado já espera.

MAIS AGENDA – Além dos números do varejo, o mercado receberá hoje os dados do fluxo cambial na semana de 5/6 a 9/6 (14h30).

… Nos EUA, o consenso para o PPI é de recuo de 0,1% do índice cheio em maio, após +0,2% em abril, com o acumulado na base anual desacelerando de 2,3% para 1,5%. Para o núcleo, a projeção é de alta de 0,2%, na mesma proporção de abril.

… Nesta 3ªF, o CPI subiu 0,1% em maio, sobre abril, com a inflação na base anual desacelerando de 4,9% para 4% (previsão de 4,1%). O núcleo, que exclui alimentos e energia, avançou 0,4% na margem e desacelerou de 5,5% para 5,3%, em linha com o esperado.

… Às 11h30, saem os dados dos estoques de petróleo da DoE na semana até 9/6 (previsão de queda de 300 mil barris). Mais cedo, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulga relatório mensal do petróleo (5h), na França.

… Na zona do euro, a produção industrial deve registrar crescimento zero em abril, após queda de 1,4% em março (6h).

CHINA – A produção industrial em maio (23h) deve registrar expansão de 3,3%, abaixo de abril (5,6%), enquanto as vendas no varejo têm estimativa de crescimento de 13,7% (base anual), também em menor proporção do que subiu em abril (18,4%).

… Nesta 3ªF, horas após o PBoC chinês reduzir os juros na taxa de empréstimos de sete dias, anunciou injeção de 2 bilhões de yuans no mercado, por meio do acordo de compra reversa, e também cortes nas taxas da Linha de Crédito Permanente (SLF).

… Segundo a Pantheon, estas ações indicam que a China deverá aprovar um pacote amplo de estímulos fiscais e monetários em breve para sustentar o crescimento. Para a próxima 3ªF, 20, é esperada a queda das taxas de referência de empréstimos.

GAP DE QUEDA – No day after do alívio das estimativas de inflação de mais longo prazo no Focus, que há semanas resistiam a cair, economistas observaram ao Broadcast que tem mais baixa contratada para a próxima pesquisa.

… A percepção de que, na reunião do final do mês, o CMN optará por manter inalterada em 3% a meta de inflação deixa o mercado cada vez mais seguro para continuar derrubando as expectativas para o IPCA nas próximas semanas.

… Dizem que há espaço para as projeções inflacionárias de 2025 (hoje em 3,9%) e de 2026 (3,88%) caírem até 3,5% nas próximas edições da Focus. Também a mediana para 2023 (5,42%) tem potencial para novos ajustes em queda.

… Isso porque, o mercado ainda está esperando inflação de 0,2% para junho, mas comenta-se que o IPCA pode vir zerado este mês ou até mesmo registrar deflação, sob o efeito, entre outras coisas, dos combustíveis mais baratos.

… Diante da menor percepção de risco para os preços, a escalada da curva do DI ontem, de ponta a ponta, não assustou. Os traders continuam convencidos de que o Copom sinalizará na semana que vem um corte para agosto.

… O Itaú, que antes só projetava recuo da Selic para outubro, ontem antecipou a sua previsão para setembro.

… O BTG Pactual manteve ontem a projeção de queda da Selic para 12,50% em 2023, com cortes a partir de setembro, mas reduziu a estimativa para a taxa básica de juro ao final de 2024 de 10,75% para 10,50%.

… O banco elevou a estimativa do PIB em 2023 de 1,2% para 1,9%, enquanto o Itaú passou de 1,4% para 2,3%.

… A curva do DI operou sintonizada ontem à alta dos juros dos Treasuries e ao ruído fiscal da derrota política do governo na CAE do Senado, que aprovou projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamentos.

… Os contratos curtos e intermediários, que vinham resistindo em queda nos últimos pregões, acabaram embutindo prêmio, acelerando para as máximas na reta final, enquanto os longos ampliaram a pressão já observada na véspera.

… O jan/24 subiu a 13,075% (de 12,983%); jan/25, 11,190% (de 11,032%); jan/26, 10,650% (de 10,429%); e jan/27, 10,745% (de 10,497%). Os longos fecharam nas máximas: jan/29, 11,130% (10,849%); e jan/31, 11,380% (11,106%).

… Já o dólar ignorou a correção nos juros futuros e na bolsa e conseguiu fechar estável (-0,08%, a R$ 4,8624), mais uma vez apoiado pelo fluxo, que vem sendo identificado tanto pela conta comercial como pela via financeira.

… A notícia de corte de juro pela China e especulações de que Pequim anunciará estímulos ao setor imobiliário sustentaram a alta das commodities, deram força às moedas de países produtores e impediram o real de cair.

… No câmbio futuro, o contrato da moeda norte-americana para julho estabilizou em R$ 4,8810 (-0,02%).

DESENCANTOU – O corte dos juros de curto prazo na China embalou as commodities, mas pouco contagiou o Ibov, que acabou olhando para o ajuste em alta no DI para entrar em bom ponto de venda, após sete altas seguidas.

… Não parece ser, porém, o fim do rali da bolsa. O que se diz é que a queda moderada observada ontem está longe de representar tendência e deve se tratar apenas de um movimento natural e técnico, de um pausa para respirar.

… No fechamento, o índice à vista caía 0,51% e operava abaixo dos 117 mil pontos (116.742,71), com giro de R$ 27,9 bi. Análise gráfica do Itaú BBA aponta o nível dos 121,6 mil pontos como resistência de curto prazo para o Ibovespa.

… O otimismo com a bolsa doméstica tem se manifestado cada vez mais fortemente no mercado financeiro.

… Em pesquisa conduzida pelo BofA com 33 gestores de fundos latino-americanos, saltou de 27% em maio para 69% em junho a proporção dos entrevistados que projetam o Ibovespa acima dos 120 mil pontos no fim do ano.

… A presença marcante dos investidores estrangeiros têm sido decisiva para impulsionar o índice à vista.

… Na última 6ªF, a entrada de k externo na B3 (R$ 1,825 bi) foi a maior em um único pregão no ano, segundo cálculo de Alexandre Cabral, professor da Anbima e FIA. No acumulado de junho, o saldo está positivo em R$ 2,887 bilhões.

… Os papéis de setores mais sensíveis aos juros foram derrubados ontem pela pressão na curva do DI, embora a perspectiva de corte da Selic em agosto continue alimentando a esperança de retomada no consumo doméstico.

… Caíram CVC (ON, -6,90%), Méliuz (ON, -5,13%) e MRV (ON, -4,64%). As varejistas também recuaram em bloco:  Lojas Renner (-5,78%), Magazine Luiza (-5,05%) e Via (-0,78%). Assaí realizou parte do salto da véspera e caiu 3,79%.

… Mesmo perdendo força ao longo da sessão, Vale conseguiu fechar com um dígito de alta (+1,06%, a R$ 67,83), animada pelo primeiro movimento do BC chinês para dar um choque de estímulo na economia pós-covid.

… Petrobras chamou alguma correção (ON, -0,28%, a R$ 32,30; e PN, -0,55%, a R$ 28,86), descolando do petróleo, que anulou quase de forma integral o tombo da véspera, com o Brent para agosto saltando 3,41%, a US$ 74,29.

… A escalada respondeu ao corte dos juros de curto prazo pela China, uma das maiores consumidoras da commodity do mundo. Além disso, a pausa no juro pelo Fed sinalizada pelo CPI reforçou o apetite do investidor por risco.

… Acompanhando a recuperação do petróleo, Prio teve a maior valorização do dia no Ibovespa, avançando 3,62%.

… Embraer (+2,08%) ocupou a 2ª posição no ranking positivo, após o Citi elevar o preço-alvo do ADR a US$ 16,50.

… As blue chips do setor financeiro, que no pregão da véspera já haviam precificado antecipadamente a derrota no STF da ação que discute a incidência de PIS e Cofins sobre receitas financeiras, testaram uma reação firme.

… Santander unit subiu 1,61% (R$ 30,30), Itaú registrou +1,13% (R$ 27,81) e Bradesco PN, +0,12% (R$ 16,74).

“HAWKISH SKIP” – A expressão, que indica movimento de pausa do Fed agora e sinalização de aperto à frente, vem sendo precificada por NY, diante da força do mercado de trabalho e da inflação de serviços, que teima em não cair.

… A chance de o Fomc retomar o ciclo de aperto monetário em julho, depois de “pular” junho, já era majoritária (59,9%) antes do CPI, mas acelerou para 63,1% ontem na ferramenta de monitoramento do CME Group.

… Já a aposta de manutenção do juro hoje é quase unânime e chegou a 98,8% depois do indicador de inflação. Na contramão da maioria do mercado, o Citi ainda projeta nova dose de alta de 25 pb pelo Fed nesta 4ªF.

… Mas a avaliação geral de que o comitê de Powell fará uma parada estratégica hoje animou as bolsas em NY: Dow Jones, +0,43%, aos 34.212,12 pontos; S&P 500, +0,69%, aos 4.369,01 pontos; e Nasdaq, +0,83% (13.573,32 pontos).

… Já as taxas dos Treasuries, ao invés de precificarem a pausa esperada para hoje, focaram na volta do ciclo de aperto em julho e subiram. O yield da Note-2 anos cravou a máxima em três meses, a 4,691%, de 4,572% na véspera.

… O rendimento do título do Tesouro americano de 10 anos avançou para 3,829%, contra 3,735% no pregão anterior.

… O dólar refletiu o CPI comportado e o DXY caiu 0,30%, a 103,338 pontos. A libra (+0,77%, a US$ 1,2611) foi pressionada pelo comentário do presidente do BoE, Andrew Bailey, de que a inflação está demorando para cair.

… O euro registrou valorização de 0,32%, cotado a US$ 1,0795, e o iene avançou 0,45%, para 140,23/US$.

EM TEMPO… Petrobras informou que não há qualquer decisão da diretoria-executiva ou do Conselho de Administração da estatal em relação ao processo de desinvestimento ou aumento de participação na BRASKEM.

3R PETROLEUM registrou produção média diária de 27.618 boe em maio, queda mensal de 18,9%.

VALE encerrou a oferta de aquisição de bonds no valor de US$ 1,041 bilhão, com vencimento em 2026.

PORTO divulgou fato relevante referente à decisão do STF sobre incidência de PIS/Cofins, no âmbito do processo judicial proposto pela controlada AXA Seguros Brasil, atualmente denominada como Azul Companhia de Seguro…

… Porto afirmou ter provisão integral (R$ 786 milhões) depositada judicialmente do passivo tributário em caso de perda do processo.

VAMOS LOCAÇÃO fará a 7ª emissão de debêntures, no valor de R$ 250 milhões, em série única.

ALIANSCE SONAE. Squadra Investimentos reduziu participação na companhia de 5,41% para 4,78%, passando a deter 27,4 milhões de ações ON.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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