Morning Call

Mudança das metas é recebida com pessimismo

Atualizado 16/04/2024 às 00:24:41

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[16/04/24]

Da Redação do Bom Dia Mercado

… Uma notícia boa, o PIB forte na China (+5,3% no 1Tri), e uma apreensão, a resposta que Israel dará ao Irã. Esse é o cenário de fundo no exterior que conduz os mercados globais, nesta 3ªF. Somem-se as apostas crescentes em um adiamento do corte de juros nos Estados Unidos, que mantêm as taxas elevadas e o dólar em alta, e isso resulta num movimento de reprecificação de ativos que atinge o Brasil. Na agenda em NY, são destaques hoje a produção industrial (10h15) e a participação de Powell em um debate (14h15). Antes da abertura, Morgan Stanley e BofA divulgam balanços. Aqui, além do peso do cenário internacional, a questão fiscal volta a assumir protagonismo e o topo das preocupações, depois que a Fazenda jogou a toalha e revisou as metas fiscais dos próximos anos no projeto da LDO/2025.

… A reação dos mercados foi pior do que o esperado e ficou a sensação de que cortes de despesas estão fora do script, que o governo não está disposto a sacrifícios, que o ajuste das contas públicas vai demorar mais e que o arcabouço provou sua fragilidade.

… As coisas já estavam malparadas desde a antecipação dos gastos em R$ 15,7 bilhões na semana passada. Agora, o arcabouço entrou no alvo das críticas dos economistas de modo quase definitivo. O pessimismo aumentou.

… A revisão da meta de 2025, de superávit de 0,50% do PIB para zero, confirmada horas antes por Haddad em entrevista à GloboNews, era apenas uma parte da história. O governo flexibilizou também as metas de 2026 e fixou metas modestas para 2027 e 2028.

… A Fazenda, que esperava atingir superávit de 1% do PIB em 2026, espera agora esse resultado apenas para 2028. Para 2026, a meta de superávit foi reduzida para 0,25% e para 2027, definida em 0,50%. Em todos os casos com uma banda de 0,25 ponto percentual.

… A projeção para a dívida bruta sairá de 76,6% do PIB neste ano para atingir o pico de 79,7% em 2027. Só depois disso ela se estabilizaria para começar a cair a partir de 2028. Na apresentação do arcabouço, em 2023, a Fazenda estimava dívida a 75% do PIB em 2026.

… Os números foram interpretados como um sinal verde para a política expansionista do governo Lula.

… Há preocupação especialmente com os gastos obrigatórios, das despesas previdenciárias e assistenciais, atreladas ao salário-mínimo, que foi projetado na LDO a R$ 1.502 em 2025 (+6,37%), R$ 1.582 em 2026, R$ 1.676 em 2027 e R$ 1.772 em 2028.

… Ao mesmo tempo, a revisão de gastos proposta pelo Planejamento é considerada tímida e corresponde a menos do que 1% da despesa dos programas que passarão por reavaliação, segundo o Estadão, a saber, aposentadorias e pensões do INSS e benefícios do Proagro.


… O mercado nunca acreditou nas metas projetadas por Haddad, mas o fato de ter o ministro lutando por elas era uma espécie de seguro, e o receio é de que isso se tenha perdido. As revisões terão impacto na credibilidade do arcabouço fiscal.

… Em NY, Campos Neto foi questionado sobre as mudanças e, embora tenha ressalvado que deve se abster de comentar a política fiscal, admitiu que, “se houver a percepção de que não existe âncora fiscal, isso torna o trabalho do BC mais difícil”.

… RCN comentou que o mercado sempre teve um número muito pior para o fiscal do que a meta adotada, mas “venho dizendo há muito tempo que a ideia não é mudar a meta, é garantir que você faça o máximo que puder em termos de esforço para atingir essa meta”.

… As incertezas remetem ao risco de o Copom diminuir o ritmo de cortes da Selic, já ameaçado pelas expectativas de adiamento da queda do juro nos Estados Unidos, que pressiona o dólar e a inflação. Maio está (ou estava) contratado. Mas o guidance não atinge junho.

… O fato é que o momento para resgatar o risco fiscal não poderia ser pior, agravado pelas tensões geopolíticas.

… Espera-se uma retaliação moderada de Israel ao Irã, mas sobre isso ninguém pode ter certeza até que aconteça. Menos ainda se pode supor que tipo de resposta o Irã poderá dar a uma investida dos israelenses. O conflito continua sob suspense.

… A boa notícia vem da China, que reportou hoje um PIB no 1Tri (+5,3%) acima do esperado (4,5%) e de sua meta de crescimento de 5%. Na margem, sobre o 4Tri, o PIB cresceu 1,6%. Já os dados mensais vieram abaixo do previsto pelos analistas do FactSet.

… As vendas no varejo chinês cresceram 3,1% em março (previsão: +4,5%) e a produção industrial subiu 4,5% (previsão: +5,5%).

AGENDA – Os dados da produção industrial nos EUA (10h15) podem subir 0,4% em março, após +0,1% em fevereiro. Antes, a balança comercial de fevereiro na zona do euro e o índice ZEW de expectativas econômicas na Alemanha em abril abrem o dia.

… A Reunião da Primavera do FMI e do Banco Mundial movimenta o noticiário. Haddad e Campos Neto representam o Brasil.

… Às 13h50, Kristalina Georgivea abre o evento em Washington. Às 14h, o presidente do BCE, Andrew Bailey, dá entrevista no Fundo Monetário Internacional. O debate de Jerome Powell com o presidente do BC do Canadá terá início 14h15.

… Aqui, a FGV divulga o IGP-10 de abril, que deve recuar 0,19% (-0,17% em março) e a 2ª prévia do IPC-S às 8h. Às 8h25, sai a Focus.

SEM TRÉGUA – Na marcha dos investidores por ativos seguros ontem, o dólar teve um rali global, com os juros americanos nas alturas e a tensão geopolítica. Por aqui não foi diferente, mas o risco fiscal forneceu um ingrediente a mais na cautela doméstica.

… A confirmação da piora da meta de primário para 2025, de +0,5% do PIB para zero, se juntou à aversão ao risco e levou o dólar para o nível mais alto desde 27 de março de 2023, a R$ 5,1852 (+1,25%) no fechamento do mercado à vista.

… Na máxima do dia, a moeda tocou em R$ 5,21. No mês, já acumula alta de 3,39%. Em abril, entre os emergentes, o real é a moeda que mais desvaloriza ante o dólar. O mercado de juros sofreu o mesmo baque e as taxas dispararam.

… O arcabouço já tinha tido um revés na semana passada com a autorização para o governo antecipar R$ 15 bilhões em gastos. Embora já houvesse a expectativa de uma piora na meta, o fato consumado não deixou de adicionar muito prêmio de risco aos DIs.

… O juro para Jan25 subiu a 10,160% (de 10,066%) e o Jan26, a 10,440% (10,214%). O Jan27 avançou a 10,805% (10,530%); o Jan29, a 11,350% (11,079%), o Jan31, a 11,610% (11,344%) e o Jan33 subiu a 11,700% (11,440%).

… No Ibovespa, nem a alta dos pesos-pesados Vale e Petrobras conseguiu tirar o índice do vermelho, que fechou em baixa de 0,49%, aos 125.333,89 pontos. O giro de R$ 27,2 bilhões ficou acima dos R$ 23,7 bilhões na média diária de março.

… Empresas sensíveis à alta do dólar e dos juros futuros ficaram entre as principais baixas do dia.

… CVC liderou as perdas, com -9,38% (R$ 2,03) liderou as perdas do Ibovespa, acompanhada por Magazine Luiza, -7,83% (R$ 1,53) e Vamos, -6,42% (R$ 7,58). Frigoríficos ficaram no lado oposto e subiram firmes.

… BRF disparou 10,15% (R$ 17,90) após o JPMorgan elevar a recomendação do papel de neutra para compra, com preço-alvo a R$ 20. E o Goldman Sachs alterou a indicação para a companhia de venda para neutra, com preço-alvo de R$ 15,60.

… Na esteira da concorrente, Marfrig subiu 4,82% (R$ 10,43) e JBS a avançou 4,21% (R$ 23,03).

… Entre os bancos, o dia foi de perdas: Itaú caiu 1,69% (R$ 31,91), Bradesco PN, -1,48% (R$ 14,00) e BB, -0,93% (R$ 56,46).

… Vale subiu 0,58% (R$ 61,99) apoiada na nova alta (+2,18%) do minério de ferro em Dalian, a sexta consecutiva.

… Petrobras ON (+1,46%, a R$ 40,89) e PN (+0,95%, a R$ 39,31) ignoraram a queda do petróleo (Brent -0,39%) e aceleraram os ganhos no fim da sessão com a notícia de que a Justiça liberou Sergio Rezende para voltar a ocupar seu posto no Conselho de Administração.

… Investidores aguardam a reunião do Conselho da Petrobras na 6ªF, 19, que deverá decidir sobre os dividendos extraordinários.

JUROS E GUERRA – O mercado até teve um início tranquilo com a percepção de que a crise Israel-Irã estaria sob controle. Bolsas abriram em alta e dólar e Treasuries, comportados. Mas as vendas fortes do varejo nos EUA deram o ponto de inflexão.

… Mais um dado a mostrar a força da economia dos EUA, em março o varejo americano cresceu 0,7% sobre fevereiro, de uma expectativa de +0,4%. E o dado de fevereiro sobre janeiro ainda foi revisado para cima, de +0,6% para +0,9%.

… À tarde, o clima geopolítico azedou depois de o chefe das Forças Armadas de Israel, Herzi Halevi, prometer resposta ao Irã contra os ataques de sábado. Não aliviou a tese de que Israel vai devolver a agressão de forma a não perder o apoio internacional.

… No começo da noite o Irã ameaçou responder “em alguns segundos” qualquer retaliação de Israel contra os ataques de sábado. Se a investida de Israel ocorrer dentro do território iraniano, prometem que “haverá uma resposta muito mais violenta”.

… A força do varejo americano reforçando a falta de pressa do Fed em cortar juros se somou ao temor geopolítico e o investidor bateu em retirada. As apostas nos futuros dos Fed Funds convergiram para o primeiro corte do juro somente em setembro.

… Em Wall Street, as techs foram especialmente afetadas e o Nasdaq liderou as quedas, em -1,79%, aos 15.885,02 pontos.

… Pressionado pelo mesmo setor, o S&P 500 perdeu a linha dos 5.100 pontos, com recuo de 1,20%, aos 5.061,82 pontos. O Dow Jones caiu 0,65% (37.735,24). O setor financeiro teve um bom desempenho graças a um lucro surpreendente do Goldman Sachs (+2,94%).

… Nos Treasuries, os números do consumo incentivaram nova alta nos retornos. O juro da note de 2 anos avançou a 4,922% (de 4,904%). O da note de 10 anos subiu a 4,619% (4,5282%) e o do T-bond de 30 anos avançou a 4,734% (4,6284%).

… A cautela geopolítica misturada com a economia forte nos EUA (e juros elevados por mais tempo) apoiou mais uma alta do índice dólar (DXY), de 0,16%, a 106,208 pontos. O iene caiu 0,64%, a 154,22/US$ e a libra ficou estável (-0,03%), a US$ 1,2447.

… O euro cedeu 0,14%, a US$ 1,0628. Outra leva de dirigentes do BCE continuou a sugerir que um corte de juro pode vir em junho. Gediminas Simkus (Lituânia) ainda disse que a taxa básica do bloco pode cair mais de três vezes este ano.

EM TEMPO… Vendas líquidas da MRV atingiram R$ 2,1 bilhões no 1Tri, uma alta de 18,4% ante o 1Tri/2023, com volume recorde para o período, refletindo a série de incentivos do governo destinados ao Minha Casa Minha Vida (MCMV)…

… A companhia manteve a política de subir o preço dos imóveis, elevando o tíquete médio em 13,7%, para R$ 248 mil por apartamento…

… Os lançamentos da MRV deram um salto de 150% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a R$ 1,6 bilhão.

MULTIPLAN. Vendeu mais um terreno adjacente ao RibeirãoShopping com 11.217 metros quadrados, que abrigará um projeto multiuso com VGV estimado em R$ 500 milhões, a ser desenvolvido por um empreendedor local.

DIRECIONAL. Diretor de Relações com Investidores, Paulo Henrique Martins de Souza, assumiu cumulativamente a função de diretor financeiro, em substituição a Henrique Assunção Paim, que renunciou ao cargo nesta 2ªF.

EMAE. Três grupos estão habilitados para o leilão na B3: Matrix Energy, o grupo francês EDF e o Fundo Phoenix, administrado pela Trustee DTVM, que tem entre seus cotistas o empresário Nelson Tanure. Auren e Âmbar Energia estão fora…

… O leilão ocorrerá na próxima 6ªF, 19, com o preço mínimo de R$ 52,85 por cada uma das 14,7 milhões de ações do Estado de SP. Sem ágio, o valor de referência da privatização é de R$ 779,815 milhões.

OI. Conselho da Anatel aprovou nesta 2ªF o termo firmado com a empresa sobre os rumos da concessão de telefonia fixa, que prevê a mudança imediata para o regime de autorização em troca de investimentos na expansão da cobertura de serviços.

PETROBRAS. Anuncia estudos para investimentos com o objetivo de descarbonizar a refinaria Lubnor, em Fortaleza.

VALE. Disse que tomará medidas judiciais cabíveis para reverter a decisão do Tribunal de Justiça do Pará que suspendeu a liminar que autorizava a liminar que autorizava o funcionamento da Mina de Sossego.

LIGHT. Grupo de credores que detém R$ 3 bilhões de títulos (bondholders) deve ser o fiel da balança na assembleia marcada para 25/4…

… Segundo a Coluna do Broadcast, esse grupo ainda estuda se aceitará ou não os termos do acordo preliminar da 5ªF passada. Em recuperação judicial, a Light tem dívidas de R$ 11 bilhões, sendo que a Sesa concentra a maior parte dos débitos.

CASAS BAHIA. Sociedades controladas pelo JP Morgan elevaram sua participação no grupo para 5,10% das ações ordinárias do grupo.

MERCADO LIVRE. Anunciou nesta 2ªF a criação de mais de 6,5 mil empregos e o aporte de mais de R$ 23 bilhões no Brasil, em reunião do CEO da empresa no Brasil, Fernando Yunes, com o presidente Lula.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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