Wall Street em modo aversão com techs
… Home Depot divulga resultados antes da abertura, em um ambiente de nervosismo em Nova York às vésperas do balanço da Nvidia, que pode sinalizar com seu guidance os riscos de uma bolha em IA. A virada nas apostas para o Fed de dezembro, com chances majoritárias de uma pausa nos cortes do juro, contribuiu para o mau humor, que contagiou os ativos domésticos – inclusive a curva de juros, que tinha motivos para cair. A expectativa agora é para o payroll de setembro, nesta quinta-feira, e para o PCE de outubro e o PIB/3Tri, dia 26, que podem mudar tudo de novo. Aqui, duas prévias da inflação de novembro, da Fipe e do IGP-M, são os únicos indicadores de hoje.
RUÍDOS À VISTA – É difícil saber como os dados de setembro, que serão divulgados com dois meses de atraso, serão recebidos pelo mercado e se, de fato, terão influência sobre a decisão dos membros do Fomc na reunião dos dias 9 e 10 de dezembro.
… A julgar pelos comentários da maioria dos Fed boys, que estão alinhados a Powell, o relatório do emprego não deve ser suficiente para suprimir o conservadorismo da política monetária. Mas, se vier feio como os anteriores, pode causar muito ruído.
… Na última reunião do Fomc, quando o mercado em peso contava com mais uma queda do juro em dezembro, Powell desestimulou as apostas em corte, corrigindo as expectativas que, aos poucos, foram se adequando à mensagem de cautela.
… No final da tarde em Nova York, as chances de manutenção do juro, entre 3,75% e 4%, eram de 57%, contra 43% de queda de 25 pontos-base.
… O ajuste não só derrubou as bolsas, ampliando a aversão com o receio de uma bolha das techs, mas também pressionou o dólar e deu o start para a correção do câmbio e dos juros no Brasil, em dia de nova queda das expectativas inflacionárias e da atividade.
… No boletim Focus, a estimativa para o IPCA de 2025 recuou de 4,55% para 4,46%, ficando pela primeira vez abaixo do teto da meta do Banco Central, que é de 4,50%. Os consensos para 2026 (4,20%), 2027 (3,80%) e 2028 (3,50%) foram mantidos.
… Já o IBC-Br mostrou uma queda de 0,24% na atividade econômica em setembro contra agosto, pior que o esperado (-0,10%).
… Os dois dados, no entanto, embora reforcem os sinais de que o momento de cortar a Selic está próximo, não fizeram preço na curva de juros, diante da tensão do mercado externo. A agenda nos Estados Unidos pesou e prevaleceu como driver desta segunda-feira (abaixo).
RISCO DE CORREÇÃO – Reportagem na Bloomberg ouviu analistas que temem que a recente queda no mercado de ações dos Estados Unidos possa se transformar em uma correção completa, citando indicadores técnicos “preocupantes”.
… O índice S&P 500 fechou nesta segunda-feira abaixo de sua média móvel de 50 dias pela primeira vez em 139 sessões e acendeu o alerta.
… Alguns estrategistas têm previsões de um declínio de 5% a 10% para o S&P 500 e de 8% para o Nasdaq.
… A queda no S&P 500 ampliou o declínio desde seu último recorde em 28 de outubro para 3,2%, a pior desvalorização desde a máxima histórica entre fevereiro e abril. O índice rompeu a segunda maior sequência acima da linha de tendência.
… “Há muitos danos acontecendo sob a superfície do mercado”, disse Dan Russo (Potomac Fund), afirmando que uma quebra abaixo da média móvel de 50 dias será ainda mais preocupante se coincidir com uma queda sustentada e mais ações atingindo novas mínimas.
… Também o índice Nasdaq estaria apresentando alguns sinais “preocupantes”, segundo John Roque (22V Research), com mais empresas dos 3.300 componentes do índice sendo negociadas em mínimas de 52 semanas do que em máximas, um sinal de fraqueza do mercado.
… Para ele, se não estava óbvio na primeira semana de novembro, deveria estar agora: “uma correção está ocorrendo”.
… Na opinião de Dan Wantrobski (Janney Montgomery Scott), a quebra da sequência histórica do S&P 500 acima de sua média móvel de 50 dias sinaliza que mais turbulências podem estar a caminho. Ele também concorda que uma correção já está acontecendo.
… E torce: “É melhor que o S&P 500 sofra uma correção leve agora, caso contrário, ela será mais severa no início do próximo ano.”
BIG TECHS – A recente fraqueza do mercado de ações foi sustentada pelas ações de tecnologia de alto desempenho, que impulsionaram alta de 38% no S&P 500 desde sua mínima em abril até sua máxima em outubro. Seu avanço, porém, estagnou.
… As sete maiores empresas de tecnologia, responsáveis por praticamente todo o ganho do mercado neste ano caíram quase 4,5% neste mês.
… O mercado de inteligência artificial passou da euforia para sinais de ceticismo, à medida que os investidores analisam os enormes volumes de empréstimos necessários para financiar seu desenvolvimento.
… Roque (22V) considera a Meta, a dona do Facebook, como o “indicador desta correção”, pois começou a cair antes de seus concorrentes e já está 24% abaixo de seu pico em agosto. Ontem, a ação perdeu 1,2%.
… A Nvidia será a última das grandes empresas de tecnologia a divulgar seus resultados, amanhã, em meio à apreensão com as altas avaliações da empresa de inteligência artificial, embora a expectativa seja de que a fabricante de chips supere as expectativas outra vez.
… Mais do que os lucros, porém, os investidores devem reagir ao guidance da Nvidia.
AGENDA FRACA – A prévia do IPC-Fipe abre o dia (5h) e será seguida da parcial do IGP-M, às 8h.
LEI ANTIFACÇÃO – Deve ser votada hoje no Plenário da Câmara, após Hugo Motta defender o projeto relatado pelo deputado Guilherme Derrite como “a resposta mais dura da história do Parlamento no enfrentamento do crime organizado”. O texto está na quinta versão.
… Mas todos os ajustes não foram suficientes para um acordo com o governo, que deve perder o protagonismo da segurança pública.
… Após se reunir na noite de ontem com Motta, a ministra Gleisi Hoffmann disse os governistas tentarão influenciar o máximo possível.
… “Nós viemos trazer nossas preocupações sobre o texto, como a questão do tipo penal facção criminosa, do perdimento extraordinário, dos fundos federais da polícia, e Motta me disse que conversou muito com o relator e teve avanços em muitos pontos.”
LULA – Nesta segunda, o presidente convocou uma reunião com ministros para discutir a segurança pública, apurou o Valor. O encontro ocorre em meio à crescente pressão para que o governo se envolva mais ativamente no debate sobre o tema.
… A megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro no início do mês deu espaço à oposição para avançar, após a pesquisa Genial/Quaest mostrar que a aprovação do governo interrompeu a tendência de alta.
… O percentual dos que desaprovam o governo chegou a 50% (49% em outubro). Já a aprovação passou de 48% para 47%.
BANCO MASTER – Causou surpresa no mercado o anúncio no fim da tarde da venda de parte do banco ao Grupo Fictor, em conjunto com investidores árabes, com aporte imediato de R$ 3 bi para reforçar a estrutura de capital.
… É a segunda tentativa em menos de 8 meses do Master de mudar de dono, após o BC ter barrado em março a venda de parte dos ativos ao Banco de Brasília (BRB). No Estadão, o BC deve seguir criterioso e pode negar de novo.
… Terá 360 dias para analisar a operação, prazo que começará a contar a partir da entrega de todos os documentos.
LÁ FORA – Em meio à inclinação hawkish para o Fed, Michael Barr tem evento às 12h30 e Thomas Barkin, às 11h.
… Entre os dados, saem nos Estados Unidos o relatório semanal ADP de emprego no setor privado, às 10h15, além das encomendas à indústria em agosto e confiança das construtoras de novembro, ambas ao meio-dia.
… O Chile (8h30) e a Colômbia (13h) divulgam os resultados do PIB do terceiro trimestre.
FAIXA DE GAZA – O Conselho de Segurança da ONU aprovou na noite de ontem o plano de Trump que autoriza uma força internacional de paz e a administração provisória da região por um comitê de estrangeiros.
… Na Folha, a resolução legitima o plano de paz da Casa Branca e consolida a ideia de retirada gradual de Israel. Mas gerou críticas de opositores, que enxergam no plano um potencial caminho para transformar Gaza em protetorado.
IMPORTOU O ESTRESSE – Sofrendo por antecipação, antes do payroll e do balanço da Nvidia, o mercado externo elevou a guarda e a onda bateu por aqui: o Ibovespa perdeu os 157 mil pontos, o dólar superou R$ 5,30 e o DI saltou.
… Os sinais de esfriamento do IBC-Br e a esperança de que o IPCA termine o ano dentro da meta poderiam ter servido de motores para as apostas de que o Copom, em algum momento, vai ser sensibilizado a amolecer a Selic.
… Mas, como se viu, os juros futuros ignoraram os fatores de alívio e incorporaram o risk-off de Nova York.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2027 marcou 13,665%, na máxima do dia (de 13,614% no ajuste anterior); Jan/29 disparou a 12,920% (de 12,826% na véspera); Jan/31, a 13,240% (13,167%); e Jan/33, a 13,435% (13,379%).
… A pressão aumentou ontem, à medida que o câmbio foi atingido mais fortemente pelo que vinha de fora.
… O dólar, que vinha se mantendo comportado e abaixo de R$ 5,30 por quatro pregões seguidos, quebrou a sequência de alívio e fechou em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,3314, depois das mínimas recentes desde o Plano Real.
… Nesta reta final do ano, a pressão sazonal da saída de dólares para o exterior já pode estar facilitando uma correção na moeda americana. Mas, em primeiro plano, ontem foi o exterior que redobrou a cautela por aqui.
… A percepção de que o Fed pode não cortar juros em dezembro ganhou corpo e sustentou alta de 0,29% do índice DXY, a 99,588 pontos. O euro caiu 0,32%, a US$ 1,1591, e a libra esterlina perdeu 0,19%, cotada a US$ 1,3156.
… O iene recuou para 155,23 por dólar, enfraquecido pela primeira contração do PIB japonês em seis trimestres, que praticamente anula (ou pelo menos esvazia) as expectativas de um aperto monetário pelo BoJ ainda este ano.
… No Fed, o número 2 na hierarquia, Philip Jefferson, reconheceu que o shutdown já deixou marcas na atividade econômica e que o progresso rumo à meta de inflação de 2% parece ter “estagnado”. Ou seja, veio hawkish.
… Já Christopher Waller bancou seu perfil dovish, disse que não está preocupado com um efeito duradouro do tarifaço sobre a inflação e defendeu um corte adicional do juro para aliviar um mercado de trabalho mais fraco.
… Segundo ele, o Fed não está “voando às cegas” por causa do shutdown e é improvável que o payroll de setembro ou quaisquer outros indicadores nas próximas semanas “mudem minha opinião de que outro corte é necessário”.
… A divergência pública reforça a sensação de incerteza antes da agenda importante que vem por aí.
A PERGUNTA INCÔMODA – Teria o mercado exagerado no otimismo com cortes rápidos dos juros pelo Fed e o frenesi da IA? Ainda não dá para saber, mas o que se sabe é que o mundo girou bastante nestas últimas semanas.
… A conversa da bolha no setor de tecnologia e a virada nas apostas para manutenção do juro em dezembro têm deixado o mercado de sobreaviso e servido de gatilho para uma realização de lucros mais ampla em ativos de risco.
… Houve ontem uma nova rodada de vendas em tecnologia, que derrubou as bolsas americanas em torno de 1%.
… O Dow Jones fechou em queda de 1,18%, aos 46.590,24 pontos; o S&P 500 recuou 0,91%, para 6.672,41 pontos; e o Nasdaq caiu 0,84%, aos 22.708,07 pontos. Em compasso de espera pelo seu balanço, a Nvidia perdeu 1,83%.
… Ainda foram mal a Salesforce (-2,72%), Oracle (-1,34%), Intel (-2,28%), IBM (-2,79%) e Micron Technology (-1,9%). A exceção foi a Alphabet (+3,1%), que renovou máxima histórica, contagiada pela entrada da Berkshire Hathaway.
… O apelo por ativos defensivos sustentou os Treasuries e derrubou as taxas da Note de 2 anos, a 3,607%, contra 3,610% antes do final de semana, e o rendimento da Note de 10 anos, a 4,134%, de 4,147% no pregão anterior.
… Por aqui, o Ibovespa bem que tentou driblar o barulho externo, mas foi acentuando a piora, até que entregou os 157 mil pontos. Fechou em queda de 0,47%, aos 156.992,93 pontos, com volume financeiro de R$ 26,8 bilhões.
… Apesar do ajuste, o índice à vista ainda acumula alta próxima de 5% no mês e de mais de 30% no ano. O Morgan Stanley projeta o Ibov a 200 mil pontos no fim do ano que vem e mantém recomendação overweight para as ações.
… Entre as blue chips, destaque para a queda dos bancos: Itaú -0,74% (R$ 40,30), Bradesco PN -0,77% (R$ 19,32), BTG Pactual -0,77% (R$ 52,98) e Santander -0,86% (R$ 33,49). BB foi exceção, com leve alta de 0,27% (R$ 22,50).
… Em meio à turbulência externa, Vale ON perdeu fôlego na reta final e fechou estável (-0,08%), a R$ 65,22. Também no zero a zero, Petrobras ON (+0,06%) encerrou a R$ 34,95. Já PN subiu 0,55%, a R$ 32,88, apesar do petróleo.
… A empresa anunciou novas descobertas de óleo no pós-sal da Bacia de Campos (bloco Tartaruga Verde), que estão sendo consideradas um sucesso exploratório, segundo fontes do Broadcast, e deverão ter a produção acelerada.
… Lá fora, o petróleo Brent caiu pouco (-0,29%), a US$ 64,20, depois de o porto russo atacado por drones da Ucrânia
semana passada ter retomado o carregamento da commodity, reduzindo o temor inicial de corte no fornecimento.
COMPANHIAS ABERTAS – SABESP oficializou liquidação de uma debênture corporativa no montante de R$ 5 bilhões, na maior emissão da sua história. Com essa captação, a empresa ultrapassa R$ 18 bilhões movimentados no ano…
… A operação, que visa otimizar dívidas, contou com a coordenação do Itaú BBA, BTG Pactual e XP Investimentos.
XP registrou lucro líquido ajustado de R$ 1,33 bilhão no terceiro trimestre, alta anual de 12%. Receita bruta somou R$ 4,9 bilhões, avanço de 9% em relação ao mesmo período de 2024.
AZZAS aprovou a distribuição de R$ 180 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,8921 por ação ordinária, com pagamento em 1º de dezembro; ex em 24 de novembro.
COPEL anunciou que, em assembleia especial, acionistas preferencialistas aprovaram a conversão obrigatória de todas as ações preferenciais da empresa. Assim, a companhia avança para a migração ao Novo Mercado da B3.
ISA ENERGIA iniciou operação comercial do Bloco 1 do projeto Piraquê, com antecipação de 22 meses em relação ao prazo estabelecido pela Aneel.
OI. Pimco reduziu participação na companhia de 36,54% para 29,97% do capital social, passando a deter 98.489.904 de ações ordinárias da empresa.
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