Morning Call
Véspera de feriado quente tem RTI aqui e PIB nos EUA

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[28/03/24]
… Apareceu ontem à noite mais um Fed boy, o falcão Christopher Waller, para colocar em dúvida o ciclo de corte de juro nos EUA. Hoje, as apostas serão movimentadas pela leitura final do PIB/4Tri nos EUA (9h30), com o PCE trimestral embutido. Mas é amanhã, quando os mercados globais estarão fechados para a Semana Santa, que vem o melhor da agenda americana, com o PCE de fevereiro (9h30) e participação de Powell em evento (12h30). A expectativa pode desencadear posições defensivas nesta véspera do feriado, que fecha os Treasuries mais cedo (15h). Aqui, o mercado redobra o interesse pelo RTI (8h) e pela Pnad (9h), após a ata do Copom ter citado o mercado de trabalho e os salários fortes como fatores de pressão sobre a inflação de serviços.
… A elevação da renda, diante do salário mínimo maior, foi apontada pelo documento na última 3ªF como a grande vilã dos preços, justificando a decisão do BC de mudar o guidance para adotar maior flexibilidade.
… A percepção do Copom é de que o aumento do consumo provocado pela melhora salarial torna o processo de desinflação mais lento e que, por precaução, não dá para contratar desde já corte de 0,5pp da Selic em junho.
… O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, espera que o RTI apresente hoje alguma avaliação de como o BC vê a relação entre o mercado de trabalho aquecido e o comportamento da inflação de serviços.
… A expectativa é que o RTI também explore a dinâmica da atividade resiliente e hiato do produto, já que um parágrafo da ata observou que os rendimentos maiores não foram explicados pelos ganhos de produtividade.
… O Relatório de Inflação será comentado em coletiva de imprensa por Campos Neto e Diogo Guillen, às 11h.
… Ontem, os negócios domésticos passaram bem pelo teste do Caged (abaixo). Como o governo havia antecipado, o dado de emprego bombou em fevereiro, mas apontou desaceleração dos salários, o que aliviou.
… Hoje, a taxa de desemprego da Pnad relativa ao trimestre móvel encerrado em fevereiro ganha particular atenção e deve indicar um mercado de trabalho menos aquecido, diante da sazonalidade do período.
… Em pesquisa Broadcast, a mediana do mercado indica que o desemprego deve subir para 7,8%, contra 7,6% no trimestre móvel até janeiro, com a demissão de trabalhadores temporários contratados nas festas natalinas.
… Assim como no Caged, o protagonismo da Pnad fica com o resultado da massa de salários em circulação na economia, que cravou nível recorde de R$ 305,125 bi no trimestre encerrado em janeiro, alta anualizada de 6%.
… Durante aula na Unicamp, no fim da tarde de ontem, Galípolo disse que o consumo das famílias deve seguir resiliente, diante do fortalecimento de programas sociais (Bolsa Família) e política de reajuste do salário mínimo.
PERSE ENXUTO – O governo formalizou ontem, em projeto de lei, as suas propostas para a redução do programa emergencial ao setor de eventos (Perse) e para a desoneração da folha de salários dos municípios.
… A Fazenda propõe cortar de 30 para 12 as atividades econômicas beneficiadas pelo Perse, quer excluir quem fatura acima de R$ 78 milhões e criar uma “escada” para a redução gradual do benefício tributário até 2026.
… Fontes da Folha disseram que a deputada Renata Abreu (Podemos-SP) deverá ser designada relatora por Lira.
… O Executivo também protocolou a proposta para contemplar os municípios menores na desoneração da folha.
… O critério de acesso ao benefício é que a cidade tenha até 50 mil habitantes e receita corrente líquida per capita de até R$ 3.895. O projeto prevê alta gradual da contribuição que as prefeituras pagam ao INSS.
… A alíquota previdenciária começaria em 14% este ano, subiria para 16% no ano que vem e chegaria em 18% em 2026, na comparação com os 20% que vigoravam antes de o Congresso ter aprovado a desoneração.
… Haddad reforçou ontem que o governo pretende enviar no mês que vem ao Congresso a lei complementar de regulamentação da reforma tributária. “Vai surpreender os mais céticos em relação à economia brasileira.”
CORRENDO ATRÁS – Em momento de queda da popularidade, Lula decidiu prorrogar o Desenrola pela segunda vez, até 20 de maio, e prepara para depois da Páscoa um pacote de crédito para os pequenos negócios.
… Serão três pilares: nova linha voltada a MEIs, com taxas de juros abaixo da média do mercado; renegociação de dívidas do Pronampe; e condições especiais para companhias capitaneadas por mulheres.
… As propostas, segundo apurou o Estadão, serão tratadas em MP que está em fase de ajustes.
MAIS AGENDA – O CMN (15h) se reúne. Às 14h30, o Tesouro divulga o relatório da dívida pública de fevereiro e o BC informa o fluxo cambial. Os balanços da Azul e Gol saem antes da abertura e do IRB, após o fechamento.
NOS EUA – A previsão para a leitura final do PIB/4Tri é de alta de 3,3% na margem e de 3,1% na comparação anual. Mais do que o ritmo da atividade, porém, é o fôlego da inflação que está no centro do debate do Fed.
… Diretor do BC americano, Christopher Waller confirmou ontem à noite seu DNA hawkish. Ele disse não ver urgência para começar a cortar juros e quer pelo menos mais dois meses de dados para avaliar se a hora chegou.
… Waller avaliou que os índices de preços CPI e PCE de janeiro “decepcionantes” sugerem que o progresso desinflacionário desacelerou ou parou, o que só poderá confirmar depois de novas leituras, disse ele.
… Antes mesmo dos próximos indicadores, Waller acha apropriado empurrar o primeiro corte de juro para frente (NY aposta em junho) ou reduzir a dimensão do ciclo (o gráfico de pontos projeta queda total de 75pb).
… Na última 6ªF, o Fed boy Raphael Bostic mudou sua expectativa de duas reduções no juro para só uma.
… Além do PIB, tem para conferir hoje na agenda o índice de sentimento do consumidor em março, medido pela Universidade de Michigan, com as expectativas de inflação em 1 ano e 5 anos. O dado será divulgado às 11h.
… O auxílio-desemprego (9h30) tem previsão de alta de 5 mil pedidos, a 215 mil. Saem ainda o PMI/ISM de Chicago em março (10h45), vendas pendentes de imóveis em fevereiro (11h) e os dados da Baker Hughes (14h).
E O SALÁRIO, Ó – Apesar do alerta da ata do Copom sobre as pressões salariais, o salto no Caged dos empregos com carteira assinada em fevereiro (306,1 mil), bem acima do esperado (232,5 mil), acabou não assustando.
… O impacto foi relativizado pela desaceleração dos salários médios no mês, que ajudou a esvaziar o potencial inflacionário dos dados do mercado de trabalho e permitiu que a curva do DI se mantivesse acomodada.
… Os juros futuros fecharam em alta discreta. Também o alívio nas taxas dos Treasuries não botou pressão aqui.
… O governo calcula que o Brasil possa ultrapassar a criação de 2 milhões de empregos formais este ano.
… Animado, Haddad disse que o País inicia um novo ciclo de crescimento e reafirmou que a Fazenda pode revisar para cima ainda neste semestre a projeção para o PIB do ano, de 2,2% para 2,5% ou mais.
… Mas, como se viu, o otimismo não disparou prêmio de risco no DI, que se concentrou nos salários limitados.
… O juro do Jan25 ficou em 9,915% (de 9,924%). O DI Jan26 subiu a 9,900% (de 9,882%). O Jan27, a 10,155% (de 10,124%); o Jan29, a 10,655% (de 10,607%); o Jan31, a 10,890% (de 10,854%); e o Jan33, a 10,990% (de 10,945%).
… Tampouco o dólar se abalou. Já em ritmo de feriado, à espera do PCE e declarações de Powell, a moeda fechou perto da estabilidade (-0,07%), em R$ 4,9793, depois de oscilar apenas dois centavos entra a mínima e a máxima.
… A movimentação típica pela briga de formação da ptax de março e a rolagem de contratos futuros, se já não foi antecipada, pode ser eventualmente influenciada hoje pelo PIB nos EUA.
EMBELEZAMENTO DE CARTEIRAS – Caso tivessem seguido à risca o comportamento das commodities, Vale e Petrobras teriam caído ontem com a afundada do minério de ferro (-3,53%) e a leve queda do Brent (-0,26%).
… Mas o que se viu foi o contrário, com altas firmes dos dois papéis, na oscilação que está com todo o jeito de ter respondido a movimentos técnicos relacionados à virada de mês e de trimestre nos mercados globais.
… Estrategista disse ao Broadcast que, com tombo acumulado de quase 6% em março, Vale partiu para a tentativa de se proteger no nível próximo a R$ 60. A ação da mineradora fechou cotada a R$ 60,60 (+0,92%).
… Petrobras, que já derreteu 10% este mês com toda a polêmica dos dividendos, também teria tentado se defender de um mergulho ainda maior. ON subiu 1,22% ontem (R$ 37,36) e PN ganhou 0,80% (R$ 36,55).
… O destaque negativo do dia foi Eletrobras (ON -1,32%; e PNB -0,32%), prejudicada por declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
… Ele voltou a dizer que o governo vai publicar uma Medida Provisória para securitizar os recursos devidos pela empresa à conta de desenvolvimento energético (CDE).
… Primeiro, Silveira disse que colocaria o texto “no sistema” nesta 5ªF, mas depois o MME esclareceu que a medida ainda vai passar pela Casa Civil.
… Foi a segunda vez que o ministro mencionou essa intenção, o que pode soar como ingerência política.
… Vitor Miziara (Performa Ideias) disse ao Broadcast que o governo interfere na gestão de caixa/dívida da empresa por MP, “já que não tem mais o poder de controle”.
… Já Vicente Koki (da Mirae Asset) observou que os recursos do fundo que o governo pretende securitizar não são mais da Eletrobras. Por isso, em tese, a notícia sobre a MP não deveria afetar a ação.
… “A securitização, então, seria a antecipação desses recursos para gerar tarifas mais baratas para os consumidores, o que é positivo”, disse.
… Mas ele ponderou que há muitos ruídos em relação à empresa, como o processo judicial envolvendo o limite de votos da União, que têm penalizado a ação.
… De volta ao Ibov, ainda embalados pela expectativa de Selic alta por mais tempo, os bancos ajudaram a puxar o índice, que subiu 0,65%, em 127.690,62 pontos, mas com um giro novamente fraco, de R$ 20,1 bilhões.
… Bradesco PN registrou valorização de 1,56% (R$ 14,36). O papel ON subiu 1,43% (R$ 12,81). Santander unit, +0,96% (R$ 28,40); Itaú Unibanco, +0,55% R$ 34,58); e Banco do Brasil, +0,07% (R$ 55,97).
… Animadas com o mercado de trabalho, as varejistas foram bem. Lojas Renner (+5,42%; R$ 16,34) liderou as altas. Casas Bahia devolveu as perdas da véspera, a +4,67% (R$ 6,28).
… Magazine Luiza subiu 2,81% (R$ 1,83), Assaí teve alta de 2,63% (R$ 14,83) e Carrefour, +2,44% (R$ 13,85).
… No lado oposto, CVC caiu 6,48% (R$ 3,03), seguida de Petz (-4,89%, a R$ 4,47) e Vamos (-4,40%, a R$ 8,26).
DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ – O rebalanceamento de carteiras em fim de trimestre continuou a ditar os rumos das bolsas em NY, só que desta vez induzindo os índices para cima.
… O S&P 500 (+0,86%) fechou num novo recorde histórico (5.248,49 pontos). Chamou atenção ontem que todos os 11 setores do índice tenham registrado ganhos, incluindo os que têm ficado para trás no rali recente.
… O Dow Jones teve alta de 1,22% (39.760,08) e o Nasdaq avançou 0,51% (16.399,52).
… Em baixa, os retornos dos Treasuries ajudaram a impulsionar as ações, mesmo com investidores temendo o discurso de Christopher Waller, depois do fechamento do mercado.
… A expectativa era de que o falcão do Fed fizesse um discurso duro, o que de fato aconteceu.
… Um bem-sucedido leilão de US$ 43 bilhões em notes de 7 anos ajudou a tirar força dos yields e a note de 10 anos terminou abaixo da marca de 4,20%, a 4,187%, contra 4,232% no pregão da véspera.
… O juro da note de 2 anos recuou a 4,568% (de 4,593%) e o do T-bond de 30 anos caiu a 4,348% (4,393%).
… No mercado de câmbio, o destaque foi o iene, que terminou em alta de 0,13%, a 151,35/US$. Pela manhã, a moeda atingiu o menor nível contra o dólar (151,026 ienes) desde julho de 1990.
… O recuo provocou uma reunião de emergência entre o BoJ e o Ministério de Finanças do Japão, que sugeriram uma intervenção no mercado.
… Depois de o ministro das Finanças, Shunichi Suzuki, dizer que o governo tomaria “medidas decisivas” para defender o câmbio, a moeda se recuperou.
… Ele repetiu 2022, quando também falou em “medidas decisivas” antes de intervir no mercado para conter a fraqueza do iene.
… No mais, o índice DXY teve outro dia morno, com o dólar tendendo à estabilidade (+0,05%), em 104,348 pontos, assim como seus principais pares. O euro caiu 0,06%, a US$ 1,0827, e a libra esterlina subiu 0,05%, a US$ 1,2636.
EM TEMPO… VALE comprou participação de 45% da Cemig na Aliança Energia, passando a deter 100% do capital da empresa após a conclusão da operação; mineradora pagará R$ 2,7 bilhões pela aquisição da participação.
MARFRIG registrou lucro líquido de R$ 12 milhões no 4TRI e reverteu prejuízo de R$ 628 milhões de um ano antes; Ebitda somou R$ 2,938 bilhões, alta de 32,1% na comparação anual.
JBS. Barclays manteve recomendação equal weight (equivalente a neutra) para a ação da companhia, com preço-alvo de R$ 23; para o banco, resultados do 4TRI da companhia vieram dentro do esperado.
ELETROBRAS aprovou a quinta emissão de debêntures, no valor de R$ 3,5 bilhões.
CASAS BAHIA. JPMorgan atingiu participação de 5,86% do total de ações ON da companhia.
RUMO registrou lucro líquido de R$ 1 milhão no 4TRI, valor 99,6% menor do que o reportado no mesmo trimestre de 2022; Ebitda somou R$ 1,2 bilhão, recuo de 12,1% na comparação anual.
ENGIE BRASIL. Transportadora Associada de Gás (TAG), no qual a empresa possui participação acionária, e Origem Energia firmaram acordo não-vinculante de US$ 200 milhões para projeto de estocagem de gás.
OI levará à próxima Assembleia Geral Extraordinária (AGE), marcada para 29 de abril, proposta de grupamento da totalidade das ações ordinárias e preferenciais de emissão da companhia na proporção 10 para 1.
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