Resumo semanal: 27/10 a 31/10
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
O Banco do Japão (BoJ) manteve a taxa de juros em 0,5% ao ano, conforme esperado, apesar de dois votos dissidentes a favor de um aumento. As projeções para inflação e crescimento seguem praticamente inalteradas, e a instituição mantém aberta a possibilidade de elevação gradual caso os cenários se confirmem. O presidente Kazuo Ueda adotou tom cauteloso, citando incertezas quanto às perspectivas para a economia americana e negociações salariais domésticas. Contudo, sinalizou maior confiança do Comitê para uma alta, sustentada pelo bom desempenho econômico e pela inflação núcleo acima de 3% ao ano.
Na China, a reunião entre Xi Jinping e o presidente americano indicou menor tensão comercial, com acordos para redução gradual de tarifas e flexibilização temporária de sanções. Destacou-se a queda da tarifa sobre carne suína chinesa (de 42% para 18%) e sobre aço e alumínio americano (de 20% para 10%), além de recompra de títulos dos EUA por bancos estatais chineses. O Comitê Central do Partido Comunista apresentou o Plano Quinquenal (2026–2030), priorizando inovação tecnológica, energia limpa, pesquisa médica e inteligência artificial. No setor industrial, o lucro subiu 3,2% de janeiro a setembro, impulsionado por alta tecnologia e políticas de incentivo, enquanto a atividade geral ficou estável em outubro, com PMI composto em 50 pontos.
Europa
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as taxas de juros estáveis, como amplamente esperado pelo mercado. A taxa de depósito, principal mecanismo de transmissão de política monetária, permanece em 2%. Em comunicado, o BCE reforçou que a inflação deve permanecer próxima de 2% e que a trajetória continuará sob controle nos próximos anos. A presidente Christine Lagarde destacou que a economia segue resiliente, apesar das incertezas globais, especialmente relacionadas a comércio e geopolitica. O PIB da zona do euro superou expectativas no 3º trimestre, com alta de 0,3% em relação ao anterior, impulsionado por ajustes estatísticos e pela recuperação parcial de alguns países.
O mercado de trabalho manteve robustez, com taxa de desemprego estável em 6,3%, sinalizando força em diversos setores. Já o índice de confiança da economia avançou em outubro, mas segue abaixo dos padrões pré-pandemia, indicando cautela entre empresas e consumidores. A inflação ao consumidor veio em linha com projeções, registrando alta anual de 2,9%, sinalizando tendência de convergência à meta de 2% do BCE. Em dois meses consecutivos, as pressões de preços desaceleraram, puxadas por energia e alimentação. Apesar desse cenário, o BCE manteve postura vigilante diante do contexto geopolítico e da guerra entre Rússia e Ucrânia, que continua gerando impactos comerciais e riscos inflacionários no bloco.
Oriente Médio
Na última semana, a economia do Oriente Médio mostrou sinais de estabilização, sustentada pelo vigor do setor petrolífero e pelos avanços na diversificação econômica. A Arábia Saudita registrou crescimento de 5% do PIB no 3º trimestre de 2025, impulsionado pela retomada da produção de petróleo e estímulos às áreas de energia renovável e tecnologia. O barril de Brent manteve-se próximo a US$ 85, refletindo equilíbrio entre oferta controlada pela OPEP e demanda global relativamente estável, influenciada por ajustes de consumo na Ásia e Europa. Países do Golfo também ampliaram investimentos em setores não petrolíferos — como tecnologia, manufatura e serviços financeiros — juntamente com projetos de infraestrutura tecnológica e energia limpa. O investimento estrangeiro direto na região avançou cerca de 8% no trimestre, fortalecendo a trajetória de crescimento sustentável e a meta de atingir 30% da matriz energética com fontes renováveis até 2030.
No campo geopolítico, apesar de sinais de trégua em parte da Península Arábica, o cenário segue tensionado em Gaza, onde ataques israelenses se prolongaram pelo quarto dia consecutivo, testando o cessar-fogo mediado pelos EUA. O acordo, firmado há três semanas, enfrenta desafios sobretudo nas questões de desarmamento do Hamas e prazos de retirada das tropas israelenses. Confrontos recentes resultaram na morte de mais de 104 palestinos e renovaram a troca de corpos e prisioneiros, envolvendo milhares de detidos e dezenas de reféns. Desde o início da guerra, em 2023, mais de 68.000 palestinos perderam a vida, enquanto o ataque inicial do Hamas matou 1.200 israelenses e gerou 251 sequestros. Embora as negociações permitam fluxos de ajuda e libertações parciais, a instabilidade persistente e os atrasos no cumprimento do acordo reforçam a fragilidade da paz e o impacto profundo do conflito na reconstrução e segurança da região.
Estados Unidos
O Federal Reserve reduziu a taxa de juros em 25 pontos-base, para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano, em decisão marcada por divergências internas. Houve votação dividida entre um corte maior de 50 pb e a manutenção dos níveis anteriores. A comunicação oficial indicou cautela, ressaltando que um corte adicional em dezembro está “longe de ser algo já definido”, diante da inflação acima da meta e do mercado de trabalho ainda aquecido. O Fed sinalizou que os próximos ajustes serão moderados, buscando equilibrar expectativas inflacionárias persistentes e os impactos já observados na atividade econômica. No setor imobiliário, as vendas de casas permanecem estáveis, enquanto a concessão de hipotecas continua em retração, com taxas elevadas mantendo construções e vendas abaixo do nível pré-pandemia.
No campo fiscal, os Estados Unidos enfrentam um shutdown desde 1º de outubro, resultado do impasse entre democratas e republicanos sobre a aprovação do orçamento. Sem acordo, diversas agências federais estão com atividades paralisadas, ampliando os riscos para a economia doméstica. As negociações internacionais também seguem desafiadoras, com a recente reunião entre Janet Yellen e He Lifeng mantendo o tom construtivo, mas sem avanços concretos nas relações comerciais EUA-China. Além disso, persiste a preocupação com a dívida pública, os custos elevados de financiamento habitacional e o cenário inflacionário persistente, fatores que influenciam diretamente a política monetária e o posicionamento americano nas negociações globais.
Brasil
Em outubro, a inflação medida pelo IGP-M recuou 0,36%, queda superior à mediana das projeções de mercado (-0,22%). No acumulado de 12 meses, o índice apresentou alta de 0,9%, abaixo dos 2,8% registrados no mês anterior. Esse resultado foi influenciado pela contração de 1,4% no IPA agrícola e pela queda de 0,2% no núcleo do IPA industrial, que exclui alimentos e combustíveis. Em termos anuais, o IPA agrícola variou -1%, enquanto o núcleo industrial avançou 2,4%. A desaceleração reflete a acomodação dos preços no atacado, embora a inflação ao consumidor ainda seja pressionada por fatores domésticos.
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego, medida pela PNAD Contínua, manteve o patamar mínimo histórico de 5,6% no trimestre encerrado em setembro, ou 5,7% com ajuste sazonal. Projeções indicam que o índice ajustado deve encerrar 2024 próximo de 5,5% e manter-se nesse nível em 2025. Apesar de sustentar a atividade econômica, essa conjuntura pressiona a inflação de serviços e dificulta seu controle. No campo fiscal, o setor público consolidado registrou déficit nominal de R$ 102,2 bilhões em setembro, composto por déficit primário de R$ 17,5 bilhões e juros nominais de R$ 84,7 bilhões. A dívida líquida atingiu 64,8% do PIB, maior patamar desde o início da série histórica em dezembro de 2001.