Fed deve continuar no escuro após fim do shutdown
… A Câmara dos Representantes aprovou, ontem à noite, o projeto que encerra 43 dias de shutdown nos Estados Unidos e o presidente Trump já assinou. A expectativa do mercado agora é pela publicação dos dados atrasados, que deixaram o Fed no escuro para decidir novos cortes de juros. No Brasil, os investidores ainda absorvem as declarações de Galípolo, que desautorizou a leitura mais dovish da ata do Copom, esfriando as apostas de queda da Selic em janeiro. Na agenda, novo recorte da pesquisa Quaest com cenários para a eleição presidencial abre o dia, seguido por vendas do varejo em setembro e teleconferência do BB (9h), que caiu 0,45% no after hours após o balanço.
FIM DO SHUTDOWN – A paralisação governamental mais longa da história dos Estados Unidos chegou ao fim, mas pode levar dias — e em alguns casos uma semana ou mais — para que as operações normais sejam retomadas, segundo a Bloomberg.
… Há atualização de folhas para pagamento de salários atrasados, desembolsos de subsídios, solicitações de empréstimos e muitas atividades que se acumularam em diversas agências federais, e que não serão resolvidas de uma hora para outra.
… As restrições de voos, por exemplo, só devem ser suspensas em uma semana, mas antes dos feriados do Dia de Ação de Graças.
… O apagão dos dados econômicos preocupa porque nenhuma nova estatística sobre preços e empregos foi coletada e, segundo a Casa Branca admitiu nesta quarta-feira, os relatórios de outubro “provavelmente nunca serão divulgados”.
… Economistas apontaram o CPI e o payroll como os indicadores com maior probabilidade de não serem conhecidos.
… O BLS, responsável por tomar decisões sobre o cronograma de seus relatórios, ainda não divulgou um calendário atualizado com os dados e as datas de publicação. É possível que a agência opte por consolidar os dados de dois meses em uma única publicação.
… “Disseram-me que algumas das pesquisas nunca foram concluídas, então talvez nunca saibamos o que aconteceu naquele mês”, disse Kevin Hassett, diretor econômico nacional da Casa Branca, à CNBC. “Vamos ficar um pouco no escuro por um tempo.”
… O risco é de que o Fed não receba os dados até a próxima reunião de política monetária, nos dias 9 e 10 de dezembro.
… No CME Group, as chances de um novo corte de 25pbs do juro no último Fomc do ano ainda são majoritárias, projetadas em 60%, contra 40% que apostam em manutenção das taxas no intervalo entre 3,75% e 4%.
… Além disso, o colegiado segue claramente dividido sobre as decisões de política monetária, o que confunde o mercado.
… Nesta quarta, enquanto Stephen Miran voltou a defender queda do juro, afirmando que a inflação está perto da meta, Raphael Bostic/Fed de Atlanta falou a favor da manutenção “até que haja evidências claras de que a inflação está se movendo em direção à meta de 2%”.
GALÍPOLO – No Brasil, não há divisão: o Copom está fechado no mesmo propósito de manter os juros elevados para levar a inflação à meta. Não em direção à meta, nem ao redor da meta, ou à banda superior da meta, mas ao centro da meta de 3%.
… Nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central usou as duas agendas públicas para corrigir a leitura dovish que o mercado fez da ata do Copom, e não podia ser mais direto: “Se você entendeu algum sinal na comunicação sobre o futuro, entendeu errado.”
… A ata, disse ele, reflete a leitura atual do colegiado, em uma postura “humilde e modesta perante a incerteza”.
… Galípolo disse que entende ser normal o debate sobre o que será e o que não será feito nos próximos passos do Banco Central e reforçou a atuação da instituição. “Esse é um BC que tem calcado a sua comunicação em fatos e dependência de dados.”
… Fez as afirmações na apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, em São Paulo, ao lado do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. Depois, repetiu tudo de novo no evento da Bradesco Asset.
… Para Galípolo, talvez o BC tenha o objetivo “mais claro de todos”, que é perseguir a meta de inflação. “Está bem claro porque estamos com juros em patamar restritivo”, admitindo o “desconforto” com a desancoragem das expectativas de inflação em todos os horizontes.
… Comentando sobre a incorporação do efeito da reforma do IR às projeções do BC, que levou boa parte do mercado a antecipar as apostas de corte da Selic para janeiro, enfatizou que o impacto é preliminar, como foi no caso dos precatórios e do crédito consignado privado.
… “Vamos continuar acompanhando para entender qual é o desdobramento e qual é o impacto efetivo de uma medida como essa.”
… Galípolo foi questionado na coletiva sobre as críticas de Haddad, para quem já existe espaço para cortar a Selic. Antes de responder, elogiou o “amigo” e “pessoa querida”, emendando que “todo mundo pode brigar com o BC, mas o BC não pode brigar com os dados”.
VENDAS NO VAREJO – Em mais um dado para compor o cenário dos juros, serão divulgadas hoje (9h) as vendas do varejo em setembro, que devem subir 0,3% na margem (conceito restrito), após alta de 0,2% em agosto, segundo a mediana em pesquisa Broadcast.
… O crescimento, mais uma vez, deve ser impulsionado pelo desempenho positivo dos supermercados.
… Já o varejo ampliado tem estimativa de alta de 0,1% em setembro, desacelerando sobre agosto (0,9%), mas ainda sustentado pelas vendas de veículos. Também hoje, às 13h, a Anfavea divulgará os dados da produção e vendas de veículos em outubro.
SERVIÇOS – Nesta quarta, a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE apontou crescimento de 0,6% entre agosto e setembro, pouco acima da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de expansão de 0,4%.
… O dado indicou resiliência dos serviços, mas não muda a percepção de que a atividade deve perder fôlego no terceiro trimestre, período para o qual grande número de analistas espera crescimento quase nulo do PIB na margem.
MAIS AGENDA – O novo recorte da Genial/Quaest (7h) para a corrida eleitoral de 2026 vem um dia depois de a pesquisa apontar que a avaliação do governo Lula, que oscilava positivamente desde julho, parou de melhorar.
… A desaprovação subiu para 50%, contra 49% no levantamento anterior, e a aprovação caiu um ponto, para 47%. Para a Quaest, a pauta da segurança pública foi responsável pela quebra na tendência positiva para o governo.
… O IBGE divulga às 9h o levantamento da produção agrícola em outubro. À tarde (14h30), o Banco Central solta a pesquisa trimestral de condições de crédito em setembro.
BANCO DO BRASIL – Divulgado ontem à noite, o lucro líquido ajustado de R$ 3,785 bilhões no terceiro trimestre registrou forte queda de 60,2% na comparação anual, reflexo do avanço das provisões para perdas e aumento da inadimplência no agronegócio.
… Apesar do cenário adverso, o resultado veio em linha com as previsões do mercado financeiro no Broadcast.
… O banco, que no início do ano projetava lucro de até R$ 41 bilhões para o ano, já reduziu a estimativa à metade. No segundo trimestre, havia ajustado a previsão para R$ 25 bilhões e ontem reduziu de novo, para R$ 21 bilhões.
… Também piorou a estimativa das provisões em 2025, para R$ 61 bilhões (R$ 20 bilhões acima do originalmente esperado). O resultado trimestral será comentado pelo BB em teleconferência aos acionistas às 9h.
MAIS BALANÇOS – Antes da abertura do mercado, tem o Banco Inter. Após o fechamento dos negócios, saem JBS, Nubank, 3Tentos, Bradespar, Cemig, CPFL Energia, Cyrela, Eztec, IRB Re, JHSF, Light, Localiza, Qualicorp e Yduqs.
… Confira no Companhias Abertas mais balanços divulgados ontem à noite.
TARIFAÇO NA PAUTA – A Casa Branca confirmou para hoje (19h) novo encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio. Os dois já tiveram uma rápida conversa ontem na cúpula do G7, no Canadá.
… A expectativa é de que eles possam tratar do pedido brasileiro para um congelamento de 90 dias nas tarifas impostas aos produtos brasileiros.
BESSENT – Em declaração nesta quarta-feira, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, anunciou que “veremos notícias substanciais sobre tarifas nos próximos dias, com alívio para o café e outros itens, incluindo bananas e outras frutas”.
RECADO A LULA – Na Coluna do Estadão, a aprovação pelo Senado da recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet, com apenas 45 votos favoráveis (26 contra), foi um recado para o presidente: “Se Jorge Messias for indicado à vaga do STF, ele não passa”.
… A rejeição a Gonet estava concentrada entre bolsonaristas inconformados com o julgamento dos condenados pela trama golpista. Já o nome de Messias afeta governistas e oposicionistas, em razão do que chamam de “trauma Dino”. O Senado quer Rodrigo Pacheco no STF.
ANTIFACÇÃO – Ainda na Política, segue rendendo em Brasília o projeto contra o crime organizado. O relator, deputado Guilherme Derrite (PP), apresentou um quarto texto e atendeu a mais uma demanda do governo Lula, mas a votação ficou para a próxima terça-feira.
… No novo relatório, Derrite incluiu a previsão de recursos para a Polícia Federal no caso de bens apreendidos em operação contra organizações criminosas. Antes, ele destinava esses recursos exclusivamente para os Fundos de Segurança Pública dos Estados.
AGENDA LÁ FORA – Depois do tombo de quase 4% do petróleo ontem, o mercado confere o relatório mensal da AIE, às 6h, e os estoques do DoE, às 14h. Entre os Fed boys, falam hoje Beth Hammack (14h) e Alberto Musalem (14h15).
… A Disney divulga balanço trimestral antes da abertura dos negócios, com previsão de lucro de US$ 1,05 por ação.
… Tem produção industrial de setembro na zona do euro (7h) e Reino Unido (4h), onde sai ainda o PIB do terceiro trimestre (4h). O Peru decide juro às 20h e a China solta a produção industrial e vendas no varejo em outubro às 23h.
BOI NA LINHA – O esclarecimento de Galípolo de que o BC não enviou sinais de queda da Selic em sua comunicação pode obrigar o mercado a fazer uma releitura da ata do Copom, mas não chegou a abalar os nervos dos juros futuros.
… O recuo firme das taxas dos Treasuries acabou descolando a curva doméstica de qualquer estresse maior. Seja como for, o freio de arrumação de Galípolo limitou a queda dos juros curtos, que fecharam perto dos ajustes.
… O vencimento de juro para janeiro de 2027 caiu a 13,640% (contra 13,666% no pregão anterior); Jan/29 recuou para 12,810% (de 12,846% na véspera); Jan/31, a 13,150% (de 13,175%); e Jan/33, a 13,350% (de 13,370%).
… Lá fora, os rendimentos dos Treasuries voltaram em queda do feriado do Dia dos Veteranos, apesar da divisão interna no Fed sobre um corte de juro em dezembro. Além de Bostic, Susan Collins está hesitante em relaxar.
… Segundo ela, na ausência de evidências de uma deterioração notável do mercado de trabalho, a barra está “relativamente alta” para novo corte e parece apropriado manter as taxas de juros inalteradas por “algum tempo”.
… Já na lista dos cinco finalistas para suceder Powell, o conselheiro econômico de Trump Kevin Hassett defendeu um corte mais agressivo dos juros, de 50 pontos, e disse que aceitaria a nomeação para a presidência do Fed.
… O juro da Note de 2 anos recuou para 3,562% (de 3,590% na segunda-feira) e o de 10 anos, a 4,066%, de 4,115%.
… No câmbio, o iene caiu à mínima em nove meses e levou a ministra de Finanças japonesa a fazer uma intervenção verbal, lembrando da importância de as moedas operarem de maneira estável, refletindo fundamentos econômicos.
… O mercado vem esfriando as expectativas de um aumento das taxas de juros pelo BoJ em breve.
… O índice DXY fechou praticamente estável (+0,05%, a 99,495 pontos), assim como o euro, que subiu apenas 0,03%, a US$ 1,1589, enquanto a libra esterlina registrou leve desvalorização de 0,15% e terminou cotada a US$ 1,3129.
… O Nasdaq (-0,26%, a 23.406,46 pontos) seguiu penalizado pelo setor de tecnologia e a rotação de carteiras com saída das techs beneficiou o Dow Jones (+0,68%), que renovou seu recorde de fechamento, aos 48.254,82 pontos.
… Apesar da expectativa pelo fim do shutdown, o S&P 500 fechou estável (+0,06%), a 6.850,92 pontos.
NÃO É FAKE NEWS – Parece mentira, mas o Ibov não bateu recorde ontem. Mal dá para chamar de queda o ajuste marginal de -0,07% da bolsa, a 157.632,90 pontos, com giro de R$ 38 bi, em dia de game de opções sobre o índice.
… Seja como for, a sequência histórica de ganhos foi interrompida, o que não quer dizer que o gás tenha acabado.
… Ao longo do pregão, o Ibovespa chegou a engatar recuo firme de 0,75%, mas reagiu na reta final e quase virou. Ficou a um triz, como se viu, de alcançar a 16ª alta consecutiva e estabelecer nova máxima de todos os tempos.
… O fato de ter absorvido as perdas tão rápido indica que logo a bolsa pode estar pronta para outra, mesmo com Galípolo dizendo que o mercado entendeu tudo errado sobre as chances de um corte antecipado da taxa Selic.
… O maior vilão do Ibovespa nesta quarta-feira foi o petróleo, numa derrocada de quase 4%, que levou os papéis da Petrobras a caíram forte, após sete sessões seguidas de alta: ON -2,99%, a R$ 34,35; e PN -2,56%, a R$ 32,35.
… O estopim negativo para o petróleo veio de mensal da Opep+, que indicou um excedente de oferta no ano que vem, enquanto a demanda deve permanecer a mesma. O barril do Brent para janeiro afundou 3,75%, a US$ 62,71.
… Também os desempenhos ruins do Itaú (-2,28%, a R$ 40,28) e do BB (-2,85%; R$ 22,80), que antecipou a queda no lucro do terceiro trimestre, confirmada ontem à noite, foram decisivos para a bolsa frear os recordes históricos.
… Bradesco ON subiu 0,24% (R$ 16,59); PN caiu 0,26% (R$ 19,44); e Santander ficou estável (-0,03%), a R$ 33,40.
… Já a Vale (+1,11%; R$ 65,76), que tem o maior peso individual na carteira teórica do Ibovespa, seguiu à risca a alta de 1,20% do minério de ferro e foi determinante para a bolsa absorver a correção e praticamente zerar as perdas.
… As ações da CVC lideraram as perdas e derretem 8,33% (R$ 1,87), após analistas apontarem preocupações com a geração de caixa da empresa. Taesa ficou no topo do ranking de altas, com +5,77% (R$ 44,89), após o balanço.
… Além de o tombo do petróleo ter dado o start para a bolsa parar de subir, também deu argumento para uma correção no câmbio. Mas o dólar à vista ainda se preservou abaixo do patamar psicológico dos R$ 5,30.
… No fechamento, a moeda americana subia 0,38%, a R$ 5,293, devolvendo só parcialmente a queda de 2,33% nas últimas cinco sessões. O efeito Galípolo jogou a favor do carry trade, com o corte do juro em janeiro posto à prova.
… No Valor, começam a circular relatos sobre o fluxo sazonal de saída de dólares. Mas o impacto até aqui tem sido moderado e não se descarta que o diferencial de juro entre o Brasil e os Estados Unidos amenize a pressão.
COMPANHIAS ABERTAS – MRV&CO registrou lucro líquido ajustado e consolidado de R$ 111,1 milhões no terceiro trimestre, 6,5 vezes mais que o lucro de R$ 17,3 milhões no mesmo período de 2024.
DIRECIONAL registrou lucro líquido de R$ 229,7 milhões no terceiro trimestre, crescimento de 43,1% na base anualizada. Ebitda subiu 49,2%, para R$ 303,4 milhões, e Ebitda ajustado somou R$ 301,7 milhões, alta de 36,2%.
ALLOS teve lucro líquido de R$ 108,9 milhões no terceiro trimestre de 2025, aumento de 17,4% contra o mesmo período de 2024. O Ebitda ajustado somou R$ 485,5 milhões, avanço de 6,6%…
… A receita líquida totalizou R$ 663 milhões, uma expansão de 5,2%.
AMERICANAS teve lucro de R$ 367 milhões no terceiro trimestre, queda de 96,4% na comparação anual. Ebitda aumentou 97%, para R$ 534 milhões, e receita líquida caiu 1,0%, para R$ 2,690 bilhões.
PAGBANK teve lucro recorrente de R$ 571 milhões no terceiro trimestre, estável no comparativo anual; receita somou R$ 3,4 bilhões, alta 14,4% ante o mesmo trimestre do ano passado.
RAÍZEN informou que a Moody’s manteve o rating AAA.br, mas mudou a perspectiva de estável para negativa.
ULTRAPAR teve lucro de R$ 772 milhões no terceiro trimestre, alta anual de 11%; Ebitda ajustado somou R$ 1,946 bilhão no período, crescimento de 27%.
AUREN saiu de lucro proforma de R$ 197,2 milhões no terceiro trimestre de 2024 para prejuízo de R$ 403,7 milhões no terceiro trimestre deste ano…
… Ebitda ajustado caiu 10,4% na comparação anual, para R$ 772,7 milhões.
POSITIVO teve lucro líquido de R$ 1,1 milhão no terceiro trimestre, queda de 36,5% na comparação anual; Ebitda subiu 1,5%, para R$ 68,1 milhões.
RANDONCORP teve lucro líquido de R$ 23,149 milhões no terceiro trimestre, queda de 81% na comparação anual; Ebitda ajustado subiu 1%, para R$ 479,784 milhões.
SIMPAR registrou prejuízo atribuído aos controladores de R$ 246,2 milhões no terceiro trimestre, revertendo lucro de R$ 10,8 milhões apurado um ano antes. Ebitda ajustado somou R$ 3,1 bilhões, alta anual de 14,2%.
TELEFÔNICA concluiu a aquisição da totalidade das ações da FiBrasil detidas pelo Grupo La Caisse, por R$ 858 mi.
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