Morning Call
Fazenda recua do aumento do IOF

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[23/05/25]
… Na véspera do feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, o mercado de títulos fecha mais cedo hoje, às 15h, em mais um pregão de agenda esvaziada no exterior, com as atenções voltadas para a quinta rodada de negociações nucleares entre americanos e iranianos. Em NY, vendas de moradias novas são o único destaque, além das falas de Fed boys repercutindo a aprovação do projeto tributário de Trump nas expectativas dos juros. No noticiário corporativo, assembleia de acionistas da JBS decide a dupla listagem das ações e Galípolo faz palestra às 14h, enquanto repercute o recuo da Fazenda sobre o aumento do IOF para remessas de fundos de investimentos ao exterior, anunciado poucas horas antes, na tarde dessa 5ªF, e que repercutiu muito mal no mercado e prometia estragos no câmbio.
… Pelas novas regras, que foram revogadas segundo nota da Fazenda no X (antigo Twitter), a medida uniformizava as alíquotas incidentes nessas operações em 3,5%, incluindo sobre remessas para fundos, que atualmente é zero.
… Na nota, o Ministério da Fazenda disse que a revogação ocorreu após “diálogo e avaliação técnica”.
… A medida foi mal-recebida pelo mercado porque diversos fundos diversificaram suas aplicações ao enviar recursos para o exterior. É um dinheiro de pessoas residentes no Brasil. É estratégia de vários fundos de investimento multimercado aplicar fora do País.
… Um aumento de imposto de zero para 3,5% em cada remessa seria um desincentivo para qualquer aplicação.
… De acordo com um técnico do governo ouvido pelo Globo, o decreto foi reavaliado “item a item”.
… O Palácio do Planalto chamou uma reunião às pressas na noite de ontem com os ministros Rui Costa, Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira, além de técnicos jurídicos e da equipe econômica. O ministro Fernando Haddad já tinha viajado para São Paulo.
… Quanto ao item relacionado ao IOF sobre remessas ao exterior por parte de pessoas físicas, será incluído no decreto o esclarecimento que, remessas destinadas a investimentos continuarão sujeitas à alíquota atualmente vigente de 1,1%, sem alterações.
… “É um ajuste na medida, feito com equilíbrio, ouvindo o País e corrigindo rumos sempre que necessário”, diz a nota postada às 23h31.
… No after hours em NY, os ADRs das ações brasileiras operaram com quedas expressivas, refletindo a decepção com o aumento do IOF.
… No fechamento, Itaú caía 3,33%; Bradesco, -2,71% (PN) e -2,83% (ON); Nu Holdings, -2,12%; XP, -2,73%; além de Petrobras, -1,10% (ON) e -0,63% (PN). O EWZ, principal fundo de índice (ETF) do País negociado nos EUA, perdeu 3,71% no pós-mercado.
… Levantamento feito pela equipe de estratégia da XP com 60 investidores institucionais indicou que o real teria forte desvalorização na abertura do mercado nesta 6ªF. A expectativa dos investidores institucionais é de que o dólar chegasse a R$ 5,85.
… A tributação de investimentos no exterior, revogada pelo governo, era a principal preocupação.
… O corte de R$ 31,3 bilhões, entre bloqueios (R$ 10,6 bi) e congelamentos (R$ 20,7 bi), anunciado pelo Relatório de Receitas e Despesas veio bem acima do esperado (R$ 10,0 bilhões na mediana).
… Quando a notícia vazou, antes do anúncio, colocou os juros e o dólar em rota firme de queda.
… Os ativos, no entanto, zeraram os ganhos e os negócios viraram de humor após a publicação da MP no DOU, que confirmou o aumento do IOF. O governo esperava arrecadar R$ 20,5 bilhões com as mudanças no IOF neste ano e R$ 41 bilhões em 2026.
… Dentre outras mudanças, o IOF passará a incidir sobre entidades abertas de previdência privada (VGBL) e entidades equiparadas a instituições financeiras, além de aumentar a base de cálculo e a alíquota reduzida do IOF nas operações de empréstimo.
… No câmbio, os ajustes no IOF ainda alcançam várias operações, como as ligadas a cartões de crédito e de débito internacional.
… Na entrevista no final da tarde, Haddad não entrou em detalhes sobre o IOF: “Não é nada de outro mundo. A verdade virá à tona”.
… À noite, o ministro foi ao X e, em outra declaração que surpreendeu, Haddad contradisse declarações de seus secretários, escrevendo que: “Sobre as medidas fiscais anunciadas, esclareço que nenhuma delas foi negociada com o Banco Central.”
O BC NÃO GOSTOU – Na entrevista mais cedo, todos os seus secretários sinalizaram um entendimento com o BC.
… Dario Durigan afirmou que o ajuste no IOF será importante para atingir o equilíbrio fiscal. “A gente adotou esse ajuste no IOF em coordenação e em harmonia com o que a gente tem visto na política monetária.”
… Também o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, sugeriu uma coordenação com o BC para as mudanças no IOF, dizendo que as medidas vão apoiar o fim das altas da Selic e colaborar para a redução dos juros em um horizonte “não tão distante”.
… Na opinião dele, as mudanças no IOF vão ajudar a harmonizar as políticas monetária e fiscal em duas frentes: pelo seu impacto positivo na arrecadação, e pela desaceleração do crédito, “colaborando com o trabalho do Banco Central”.
… Ainda o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, disse que as medidas garantem a harmonização da política fiscal com a política monetária, colaborando com os esforços do BC na convergência da inflação às metas estabelecidas pelo CMN.
… Se a intenção foi agradar o BC, o tiro saiu pela culatra. Segundo a Folha, Galípolo foi pego de surpresa pelas alterações no IOF. No Valor, Haddad apresentou a Galípolo a proposta de aumento do IOF em reunião tensa na 3ªF, já que Galípolo não concordava com o plano.
… No Globo, nota do jornalista Lauro Jardim já antecipava à noite que os técnicos da equipe econômica avaliavam a péssima repercussão das mudanças do IOF, podendo revogar algumas das medidas anunciadas nesta 5ªF à tarde, e que entram em vigor hoje, 23/5.
RECEITAS SUPERESTIMADAS – Em uma boa limpeza do Orçamento, a equipe econômica anunciou redução de R$ 81,5 bilhões de receitas extraordinárias previstas e que não se confirmaram. Esses cortes fazem parte do pacote de R$ 168,5 bilhões no PLOA de 2025.
… Voto de qualidade do CARF: Governo previa arrecadação de R$ 28 bilhões com essa proposta e zerou a previsão.
… Transações tributárias da Receita: O governo previa arrecadação de R$ 31 bilhões e reduziu a previsão para R$ 5 bilhões.
… Controle de benefícios tributários: Governo previa arrecadação de R$ 20 bilhões com a Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidades de Natureza Tributária (DIRB) e zerou a previsão.
… Aumento da CSLL: O governo previa um aumento da CSLL como compensação relacionada à desoneração, que geraria R$ 7,5 bilhões, e zerou a proposta, que não foi aprovada pelo Congresso.
… Outorga das ferrovias: O governo previa uma arrecadação de cerca de R$ 8 bilhões em outorgas das ferrovias e zerou a previsão.
… A meta de resultado primário do Governo Central de 2025 é de resultado neutro, de 0% do PIB, conforme definido no arcabouço fiscal, que prevê uma banda de tolerância de 0,25pp. O Orçamento foi aprovado pelo Congresso com um déficit de R$ 15 bilhões.
AS NOVAS PROJEÇÕES – A projeção da equipe econômica para as receitas primárias totais da União neste ano oscilou de R$ 2,930 trilhões para R$ 2,899 trilhões. Já a estimativa para a receita líquida passou de R$ 2,360 trilhões para R$ 2,318 trilhões.
… Do lado das despesas primárias, a previsão de gasto total em 2025 subiu de R$ 2,390 trilhões para R$ 2,415 trilhões. Com as revisões do Relatório, o volume de gastos obrigatórios passou de R$ 2,169 trilhões para R$ 2,205 trilhões.
… As despesas discricionárias variaram de R$ 221,1 bilhões para R$ 210,6 bilhões neste ano.
… O governo decidiu pela abertura do crédito adicional de R$ 12,4 bilhões que foi incorporado no limite de gastos do Orçamento/2025. Essa possibilidade existe por causa da variação da inflação estimada ao enviar a peça e a realizada em 2024.
… Os ministérios da Fazenda e do Planejamento atualizaram mais indicadores da grade de parâmetros macroeconômicos utilizados nos cálculos da execução orçamentária de 2025 no primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do ano.
… A equipe econômica aumentou a estimativa para a Selic do ano de 11,67% para 14,28%, uma alta de 2,62pp frente à LOA, e a projeção para o câmbio médio deste ano, que passou de R$ 5,70 para R$ 5,81.
… A previsão para a alta da massa salarial nominal passou de 9,49% para 12,05%.
…. Já a estimativa para o preço médio do barril de petróleo no mercado internacional caiu de US$ 72,87 para US$ 65,09.
… Nesta semana, a equipe econômica divulgou a nova projeção para o crescimento da economia neste ano, que foi de 2,45% para 2,38%, ajustando em alta a projeção oficial para a inflação medida pelo IPCA, que passou de 4,9% para 5,0% – acima do teto da meta.
… Já a estimativa para o INPC – utilizado para a correção do salário-mínimo – passou de 4,80% para 4,90%.
GRIPE AVIÁRIA – Há 12 investigações de suspeita, conforme atualização mais recente da pasta da Agricultura. Duas delas envolvem plantas comerciais, localizadas nos municípios de Aguiarnópolis (TO) e Ipumirim (SC).
… Porém, laudo oficial divulgado pelo governo do Estado de Santa Catarina descartou o caso de Ipumirim.
MAIS AGENDA – A prévia do IPC-S de maio abre o dia (8h). O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Paulo Picchetti, faz palestra depois de Galípolo, às 16h30, em seminário da FGV IBRE.
… Nos EUA, as vendas de moradias novas em abril saem às 11h. Os dados de petróleo da Baker Hughes vêm às 14h. Entre os Fed boys, falam Alberto Musalem e Jeffrey Schmid (9h30), além de Lisa Cook (13h).
NA FORÇA DO ÓDIO – Anunciadas após o fechamento, as mudanças do IOF provocaram picos de estresse nos negócios futuros. Os investidores negociaram loucamente no pregão estendido, temendo pelos impactos.
… A percepção foi de que o aumento do IOF poderia antecipar a fuga de capital do País, justo quando a bolsa doméstica vinha faturando alto com o fluxo da rotação de portfólios depois da guerra comercial de Trump.
… O câmbio futuro acusou a pressão. O dólar/jun acelerou o fôlego de alta, chegou a operar na faixa de R$ 5,78 nas máximas e fechou com ganho firme de 1,87%, a R$ 5,7635. Hoje promete devolver com o recuo da Fazenda.
… Mergulhando às mínimas, o Ibovespa futuro tocou na região dos 135 mil pontos, derretendo quase 3%, antes de reduzir parte do pessimismo. No fechamento, porém, ainda afundava 1,93%, para os 136.375 pontos.
… Os contratos futuros dos juros, que ainda estavam nos últimos minutos do pregão regular no momento da entrevista coletiva do IOF, também registraram instabilidade e terminaram o dia embutindo prêmios de risco.
… Mais cedo, a curva aliviou 20pb com a melhora dos Treasuries e quando vazou a notícia de que o governo apresentaria contenção de R$ 31 bi nos gastos, mais que o triplo do estimado pelos economistas (R$ 10 bi).
… Porém, durante a entrevista coletiva sobre o relatório bimestral, ficou claro que o valor visa atender o piso da meta, que não mira no centro, e que o governo federal subestimou as despesas e superestimou as receitas.
… Logo na sequência, a informação do ministro Renan Filho (Transportes) de que o presidente Lula assinaria o aumento do IOF elevou o desconforto no DI, que como se viu, voltou a piorar perto do fechamento.
… O DI para janeiro de 2026 terminou subindo para 14,770% (de 14,750% no fechamento anterior); Jan/27, a 14,05% (de 14,02%); e Jan/29, a 13,720% (de 13,665%). Jan/31 (13,890%) e Jan/33 (13,960%) ficaram estáveis.
… No câmbio, o dólar passou o dia na gangorra, em meio ao noticiário fiscal. Operou abaixo dos R$ 5,60 na mínima do dia (R$ 5,5961), quando circularam as informações em off de como viria o relatório bimestral.
… Ao longo do pregão, o entusiasmo com o bloqueio elevado de despesas se dispersou e o mercado passou a olhar o copo “meio vazio”. O suspense com o que o IOF reservaria mais tarde ajudou na virada do humor.
… O dólar à vista fechou em +0,33%, a R$ 5,6610, para mais tarde saltar nas negociações do câmbio futuro.
#TMJ – Também o Ibov não foi poupado de uma piora automática com a surpresa do IOF, combinada às dúvidas sobre o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. O índice à vista inverteu o sinal para queda à tarde.
… Fechou em baixa de 0,44%, aos 137.272,59 pontos, com volume de R$ 24,7 bilhões. Entre as blue chips das commodities, Petrobras ON (-1,33%, a R$ 33,43) e PN (-1,32%, a R$ 31,33) acompanharam a queda do petróleo.
… Mesmo com o mercado da commodity já saturado de oferta, como revelam os estoques, corre o rumor de que a Opep+ planeja um terceiro aumento consecutivo da produção, desta vez de 411 mil bpd, em julho.
… O barril do Brent para vencimento em julho registrou recuo de 0,72%, a US$ 64,44 por barril, na ICE londrina.
… Em relatório, o Goldman Sachs observa que o petróleo caiu US$ 20 desde meados de janeiro, refletindo a oferta maior da Opep e as expectativas de demanda mais fraca com o risco de desaquecimento econômico.
… Vale ON (-0,75%, a R$ 54,23) terminou no vermelho, apesar da leve alta de 0,14% do minério de ferro.
… Entre os grandes bancos, apenas Bradesco PN (+0,26%, a R$ 15,45) marcou ganho discreto, enquanto seus pares caíram: Itaú PN (-0,69%, a R$ 37,27); BB ON (-0,83%, a R$ 25,05); e Santander Unit (-0,80%, a R$ 29,68).
FED É VIDA – Comentário do dirigente do BC americano Christopher Waller de que o juro nos EUA pode cair no 2º semestre, se as tarifas estabilizarem perto 10%, salvaram NY do estresse com o projeto tributário de Trump.
… Na reviravolta positiva do sentimento do investidor provocada pelo Fed, os juros dos Treasuries saíram das máximas registradas antes com a aprovação pela Câmara do plano de corte de impostos, que vai ao Senado.
… O rendimento do T-Bond de 30 anos fechou em queda, a 5,052%, contra 5,083% na véspera, depois de ter cravado 5,15% mais cedo, no auge da tensão com os déficits fiscais e a sustentabilidade da dívida pública.
… O juro da Note de 2 anos voltou para baixo de 4%, caindo a 3,992%, de 4,007% no dia anterior. A taxa do papel de 10 anos recuou para 4,540%, depois de ter fechado em 4,586% no pregão de 4ªF.
… Apesar da guinada dos yields dos Treasuries, as bolsas em NY vacilaram na reta final dos negócios. A esperança de relaxamento monetário divide a cena com o risco fiscal, agravado pelo downgrade da Moody´s.
… O Dow Jones fechou estável, aos 41.859,09 pontos; o S&P 500 também anulou os ganhos registrados durante o pregão e voltou ao zero a zero (-0,04%), a 5.842,01 pontos; e o Nasdaq limitou a alta a 0,28% (18.925,73).
… Em teoria, uma potencial queda seria esperada para o dólar ontem, seja por causa da aposta no Fed dovish ou porque o orçamento de Trump venceu as resistências e passou (raspando) na Câmara, elevando o risco fiscal.
… Mas a moeda americana parou de cair após três quedas seguidas e testou uma reação, com o índice DXY subindo 0,40%, a 99,96 pontos. O euro recuou 0,43%, a US$ 1,1287, e a libra avançou de leve, a US$ 1,3428.
EM TEMPO… VALE fará oferta pública de R$ 6 bilhões em debêntures simples, divididas em 3 séries, com prazos de 7, 10 e 12 anos.
PETROBRAS recebeu autorização da ANP para iniciar operação de nova plataforma no Campo de Mero…
… A estatal e a UNIGEL celebraram um acordo no Tribunal de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional para dar fim à disputa sobre fábricas de fertilizantes. Plantas na Bahia e em Sergipe voltam a ser da Petrobras.
SABESP. O UBS BB rebaixou a recomendação, de compra para neutra, mas elevou o preço-alvo de R$ 118 para R$ 136, o que representa um potencial de alta de 17,3% contra o valor de fechamento das ações nesta 5ªF.
RAÍZEN informou que o Norges Bank passou a administrar 67.957.785 ações preferenciais de emissão da companhia. O montante corresponde a 5,001% do total.
MOTIVA. A ANTT determinou a manutenção da companhia no controle da concessionária de rodovias MSVia, que “tem um impacto mínimo” na alavancagem da ex-CCR, segundo o CEO da companhia, Miguel Setas.
BANCO PAN. Leonardo Ricci Scutti renunciou ao cargo de diretor de RI; diretor-presidente, André Luiz Calabro, acumulará função.
PATRIA adquiriu cerca de R$ 2,5 bilhões em fundos imobiliários da Genial.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
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