Morning Call
BCE volta a cortar juro hoje

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[05/06/25]
… Com a inflação abaixo da meta de 2% na Zona do Euro, o BCE deve cortar o juro hoje (9h15) em mais 25pbs, de 2,25% para 2%, segundo avaliação unânime do mercado. Lagarde concede entrevista às 9h45. Nos EUA, o susto com a forte queda na geração de empregos no setor privado, associado à retração no setor de serviços, aumentou as apostas em corte do juro nesse mês, elevando as expectativas para o payroll amanhã. Os dados fracos da economia americana, explicados pelas incertezas com as tarifas de Trump, e os riscos com a elevada dívida do país mantêm os investidores na defensiva em NY. Aqui, sai o resultado da balança comercial de maio (15h), mas os negócios são conduzidos pelas dúvidas sobre as medidas fiscais que a equipe econômica prepara como alternativa ao aumento do IOF.
… A reação inicial mais otimista, quando o mercado viu com alívio a reaproximação do governo com o Congresso e se surpreendeu com a retórica de reformas estruturantes, não durou muito. Já nesta 4ªF, estava todo mundo um pouco mais cético.
… Com a popularidade afundando a cada pesquisa, vai ser muito difícil o presidente Lula dar o aval para medidas que possam piorar a sua aprovação. Já a disposição dos parlamentares para enfrentar grupos lobistas poderosos ainda terá que se provar.
… Uma coisa é o discurso de Hugo Motta para derrubar o IOF, outra coisa é o que ele vai conseguir de concreto com os líderes.
… No meio da tarde, o BDM Online divulgou as propostas sobre a mesa apuradas pelo jornalista Thomas Traumann (Veja), divididas em duas frentes: as medidas de curto prazo, que visam fechar as contas deste ano, e as medidas estruturais.
… Para atingir a meta de déficit zero em 2025, a Fazenda conta com o leilão de excedente de petróleo, alíquotas mais altas sobre apostas em Bets, taxação sobre operações com criptomoedas e a votação da reforma dos militares e da lei dos supersalários.
… O governo manteria a maior parte das cobranças de IOF neste ano, com promessa de redução apenas depois da aprovação das medidas no Congresso. O primeiro recuo seria o imposto sobre o risco sacado, principal queixa de varejistas e bancos.
… Já as medidas mais estruturais preveem um corte de até R$ 30 bilhões/ano em gastos tributários, incluindo o fim das isenções da folha de pagamento dos 17 setores e redução de fundos regionais.
… O governo também deve ampliar as restrições no acesso ao BPC, incluindo limites para entrada de beneficiários por decisões judiciais.
… Não se chegou a um consenso sobre a desvinculação do benefício com o salário mínimo, mas duas PECs estão em estudo: para conter os gastos no Fundeb, que eram 12% em 2021 e vão chegar a 23% em 2026, e a junção dos pisos mínimos de saúde e educação.
… Se essas medidas forem aprovadas, o decreto do IOF deixa de valer em 31 de dezembro deste ano.
… Medidas semelhantes foram apuradas também pelo Broadcast, mas, segundo uma fonte do governo disse à reportagem, as propostas estão colocadas no contexto das negociações entre a Fazenda e o Congresso, e nem todas devem prosperar.
… Duas outras iniciativas para o curto prazo, e que não dependem do Legislativo, estariam sendo consideradas: o aumento do repasse de dividendos pelo BNDES e a alteração do Preço de Referência do Petróleo, que a Fazenda está de olho desde o ano passado.
… Já o leilão de venda de óleo excedente em áreas do pré-sal não contratadas (nos campos de Atapu, Mero e Tupi) tem o maior potencial de receitas, podendo gerar em torno de R$ 15 bilhões. O pacote defendido pelo MME somaria cerca de R$ 20,25 bilhões este ano.
… “O que circulou até agora é um pouco decepcionante. Apenas a questão do Fundeb é mais estrutural. O resto é tentar apagar incêndio com uma garrafa d’água”, disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos à Agência Estado.
… Para ele, o ministro Fernando Haddad se colocou em uma “situação ruim” ao dizer que tinha preferência por um ajuste estrutural, em vez do IOF paliativo, elevando o sarrafo das expectativas. “Se não vier algo nesse sentido, o mercado vai cobrar bastante.”
… Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, também comentou sobre o impacto negativo do imbróglio do IOF, afirmando que o governo, que até aqui alegava serenidade nas contas públicas, age como se as finanças públicas estivessem à beira do colapso.
LULA – A pesquisa Genial/Quaest sobre o governo, divulgada nesta 4ªF, mostrou que a desaprovação oscilou de 56% em março para 57% em maio, recorde desde o início do terceiro mandato do presidente, enquanto a aprovação foi de 41% para 40%.
CAPTAÇÃO – Numa operação bem-sucedida, apesar do rebaixamento do outlook do rating pela Moody’s, o Tesouro confirmou a emissão de US$ 2,75 bilhões em bônus de 5 anos e a reabertura de bônus de 10 anos, com demanda de até US$ 10,9 bilhões.
… A emissão de 5 anos foi de US$ 1,5 bilhão, realizada ao preço de 99,178% do valor de face e taxa de retorno ao investidor de 5,680%, e a reabertura de 10 anos captou US$ 1,25 bilhão, ao preço de 99,237% do valor de face, com taxa de retorno de 6,730% aa.
… Também nesta 4ªF, a Gerdau captou US$ 650 milhões com bônus no exterior com vencimento em 10 anos.
BCE –As tarifas de Trump não apenas fizeram a economia europeia ter um “excelente” trimestre, com a antecipação das exportações e produção industrial impulsionando a atividade, como também fizeram a inflação na Zona do Euro quase desaparecer.
… A avaliação é do banco holandês ING e fortalece os argumentos para uma nova redução de 25pbs do juro no BCE de hoje. E apesar de algumas opiniões sugerirem que um corte adicional pode ser justificado em julho, isso não é um consenso.
… O dirigente do BCE e presidente do BC da Alemanha, Joachim Nagel, pregou cautela, com os fatores de longo prazo “que ainda estão à espreita”, e o BC da Áustria defendeu que o BCE interrompa os cortes. Robert Holzmann acha que nem deveria cortar hoje.
… Assim, será muito importante a sinalização de Christine Lagarde, na entrevista que concederá às 9h45.
… Logo cedo (6h), sai o índice de preços ao produtor (IPP) na Zona do Euro.
MAIS AGENDA – Pedidos de auxílio-desemprego nos EUA (9h30) podem ser importantes, depois dos dados da pesquisa ADP. A previsão é de mais 235 mil pedidos iniciais, de 240 mil na semana anterior. No mesmo horário, sai a balança comercial de abril.
… O consenso do Trading Economics é de déficit de US$ 94 bilhões, após o déficit de março ter atingido novo recorde (US$ 140,5 bilhões).
… Três dirigentes do Fed falam hoje, após o mercado avançar em apostas para um corte do juro americano no Fomc deste mês (18/6): a diretora Adriana Kugler (13h), Patrick Harker/Filadélfia (14h30) e Jeff Schmid/Kansas (também às 14h30).
… Aqui, o MDIC divulga às 15h os dados da balança comercial de maio, que deve trazer superávit de US$ 8,4 bilhões, segundo a mediana apurada pelo Broadcast, após saldo positivo de US$ 8,153 bilhões em abril. As projeções variam de US$ 8 bilhões a US$ 9 bilhões.
… Pela manhã (11h), a Anfavea informa os números da produção de veículos em maio, após 228,2 mil veículos produzidos em abril, com uma alta de 2,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já na comparação com março, o salto foi de mais de 20%.
CHINA HOJE – O PMI composto (que engloba indústria e serviços) caiu de 51,1 em abril para 49,6 em maio, na primeira redução desde dezembro de 2022. O PMI específico de serviços subiu de 50,7 em abril para 51,1.
TRUMP – Assinou dois decretos no final do dia: um deles proíbe a entrada de estudantes estrangeiros para estudar em Harvard e outro proíbe a entrada nos Estados Unidos de pessoas de 12 países, incluindo o Afeganistão.
NO SEU TEMPO – Sem pressa até aqui para cortar o juro, o Fed se viu às voltas ontem com a surpresa de dois indicadores econômicos muito fracos, embora o grande dado da semana (payroll) ainda esteja por vir.
… A percepção de desaquecimento da economia deixa no ar a dúvida se o BC de Powell pode decidir antecipar o início do relaxamento monetário, de setembro para este mês, ou alongar o ciclo de queda (ou as duas coisas).
… Em termos de fluxo aos mercados emergentes, o processo de queda dos juros americanos pode ser bastante vantajoso, reforçando a continuidade da rotação de carteiras globais, com o Brasil surfando nesta onda.
… Atingidas em cheio pela insegurança com a guerra tarifária, as empresas americanas freiam o ritmo de contratação. O relatório de empregos ADP apontou +37 mil vagas em maio, bem pior que a previsão (130 mil).
… Por mais que a pesquisa não tenha maior fidelidade com a metodologia do payroll, o susto levou o Goldman Sachs a revisar em baixa a projeção do dado de amanhã, para 110 mil postos, contra o consenso de 126 mil.
… A falta de fôlego do mercado de trabalho americano deu munição extra para Trump renovar as críticas a Powell (“atrasado demais”), pouco menos de uma semana depois da reunião fechada realizada entre os dois.
… Na ocasião (5ªF passada), a Casa Branca relatou que Trump acusou Powell de estar “cometendo um erro ao não reduzir as taxas de juros e colocar os EUA em desvantagem econômica em relação à China e outros países”.
… Já abalados ontem pelo emprego fraco da ADP, os mercados tiveram que lidar na sequência com o PMI do setor de serviços dos EUA medido pelo ISM, que entrou em maio em terreno contracionista (abaixo de 50).
… O indicador registrou queda inesperada de 51,6 em abril para 49,9, contrariando a previsão de alta para 52,2.
… Bateu o medo e os juros dos Treasuries derreteram. A taxa da Note de dez anos chegou a tocar 4,35% na mínima do dia, para fechar a 4,360%, contra 4,454% na véspera. O yield de dois anos caiu a 3,871%, de 3,955%.
… No cenário de fundo, também o elevado endividamento público dos EUA e a retórica expansionista de Trump no campo fiscal adicionam doses de incerteza à saúde da economia e questionam a supremacia do dólar.
… O índice DXY caiu 0,44%, a 98,787 pontos. Mesmo com um corte de juro contratado para hoje pelo BCE, o euro subiu 0,33%, a US$ 1,1415. A libra (+0,20%, a US$ 1,3549) e o iene (142,91/US$) também se deram bem.
CADA UM COM OS SEUS PROBLEMAS – Desta vez, o real não conseguiu faturar com o enfraquecimento global do dólar, porque voltou a focar na crise detonada pelo IOF, esgotando todo o ânimo exibido na véspera.
… Apesar de os desdobramentos em Brasília apontarem para uma solução negociada, possivelmente já no domingo, o mercado teme que o governo continue evitando atacar as verdadeiras raízes do problema fiscal.
… Corrigindo o alívio do pregão anterior, o dólar à vista fechou em leve alta de 0,17%, cotado a R$ 5,6455.
… Enquanto os juros dos Treasuries afundaram, por aqui, os DIs longos foram bem mais devagar na queda, porque querem ver direito como é que a questão do IOF será endereçada pela equipe econômica e o Congresso.
… Já a ponta curta dos juros futuros domésticos persistiu em alta, porque ainda não esqueceu os comentários de Galípolo esta semana, que deram margem a interpretações de que a Selic alcance 15% no Copom deste mês.
… Segundo o Broadcast, a chance de que o BC opte por uma pausa no ciclo de aperto monetário no próximo dia 18 ainda é mais provável (52%), mas disputa de perto (48%) com a precificação de uma alta residual de 0,25pp.
… O DI para Jan/26 subiu para 14,830% (de 14,800% no pregão anterior); e o Jan/27 avançou a 14,210% (de 14,175%). Já o Jan/29 caiu a 13,600% (de 13,620%); Jan/31, a 13,720% (13,750%); e Jan/33, 13,780% (13,790%).
… Cogitada como medida alternativa à elevação do IOF, a proposta de mudança na metodologia de cálculo do Preço de Referência do Petróleo (PRP), que não depende do aval do Legislativo, continua repercutindo mal.
… O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) vem insistindo que a mudança pode ser judicializada, especialmente se o governo quiser adotá-la no curto prazo, desrespeitando um período de transição.
… Segundo o IBP, os leilões tendem a perder a atratividade se houver aumento na Participação Especial (PE) paga à União. Petrobras vem sentindo a ofensiva do governo: PN, -2,75% (R$ 29,35); e ON, -2,91% (R$ 31,37).
… Para piorar, o petróleo caiu ontem, com o Brent/ago valendo US$ 64,86 (-1,17%). O barril sente a estratégia dos sauditas de ampliar a oferta para sabotar outros membros do cartel que vinham produzindo acima da cota.
… Segundo a Bloomberg, a Arábia quer que a Opep+ continue elevando a produção de forma acelerada nos próximos meses, mesmo depois de já ter decidido por mais um aumento expressivo de 411 mil bpd no sábado.
… Pegando pesado, a estatal Saudi Aramco anunciou ontem que irá reduzir os preços para os clientes asiáticos.
… De carona no minério de ferro na China (+1,37%), as ações da Vale fecharam em alta moderada de 0,46%, a R$ 52,77. Os bancos foram mal e, por pouco, o Ibov (-0,40%) não perdeu os 137 mil pontos (137.001,58).
… No setor financeiro: Banco do Brasil caiu 2,74%, a R$ 22,35); Santander recuou 2,35%, a R$ 29,03; Bradesco PN, -0,30%, a R$ 16,45; e Itaú perdeu 0,24%, a R$ 36,94. Já Bradesco ON ficou estável, negociado a R$ 14,18.
… Em NY, as bolsas mostraram menor nervosismo do que os Treasuries e o câmbio com os indicadores fracos do dia, até mesmo porque uma eventual antecipação dos cortes de juro pelo Fed pode abrir o apetite por risco.
… O índice Dow Jones caiu de leve (-0,22%), para 42.427,74 pontos, o S&P 500 fechou praticamente estável (+0,01%), aos 5.970,81 pontos; e o Nasdaq teve alta modesta de 0,32%, aos 19.460,49 pontos.
EM TEMPO… PETROBRAS apresentou declaração de interesse em blocos exploratórios localizados em áreas offshore da Costa do Marfim, na costa oeste da África…
… FUP e Anapetro entraram com ação contra a oferta de 47 áreas na Bacia da Foz do Amazonas…
… Para entidades, as áreas deveriam ser ofertadas sob regime de partilha de produção e a licitação desrespeita pareceres técnicos do Ibama, bem como recomendações do MPF.
PRIO registrou produção de 99.766 barris de óleo equivalente por dia (boepd) em maio, volume 9,47% superior à média de abril.
VALE. Conselho de Administração aprovou a nomeação de Grazielle Parenti como vice-presidente executiva de sustentabilidade, com início de mandato previsto para 7/7.
ELDORADO anunciou a incorporação da Prime Victory, empresa que detinha 49,41% de participação acionária na companhia. Com a operação, a J&F passa a ser a única acionista direta da empresa.
ALPARGATAS. JPMorgan reduziu participação acionária na companhia de 5,05% para 4,96%, passando a deter 17.066.915 de ações PN.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL reportou lucro líquido recorrente de R$ 4,945 bilhões no 1Tri de 2025. O montante representa alta de 71,5% na comparação com o mesmo período de 2024.
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