Tarifaço de Trump contra o Brasil entra em vigor sem plano de contingência a exportadores afetados

A semana termina com o tarifaço de Donald Trump em vigor e sem o plano de contingência do governo brasileiro aos exportadores afetados, cujo anúncio ficou para semana que vem.

A trégua tarifária dada por Trump à China chegará ao fim na próxima terça-feira e, até o momento, não há qualquer sinal de que o prazo será prorrogado por mais 90 dias, como chegou a se especular nos últimos dias.

Por outro lado, um possível cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia pode se tornar realidade no fim da próxima semana, a depender do que Trump e Putin combinarem no encontro que terão no Oriente Médio.

Bom fim de semana!

Resumo semanal: 04/08 a 08/08

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

Em julho de 2024, a balança comercial chinesa registrou superávit de 98,2 bilhões de dólares, resultado inferior ao mês anterior e abaixo das expectativas do mercado. Apesar do crescimento anual tanto nas exportações quanto nas importações, o desempenho no comparativo mensal foi marcado por queda nas exportações, reflexo principalmente da retração nas vendas para Estados Unidos, Japão e União Europeia. Itens afetados vão desde bens de consumo menos sofisticados, como têxteis, vestuário e brinquedos, até produtos de maior valor agregado, como celulares e computadores. Em contrapartida, as importações cresceram moderadamente, impulsionadas por uma demanda doméstica ainda fraca.

Setorialmente, destacou-se a resiliência das exportações de semicondutores, possivelmente beneficiadas por isenções tarifárias temporárias concedidas pelos Estados Unidos. No âmbito diplomático, houve uma melhora pontual nas relações comerciais sino-americanas, atribuída a acordos temporários firmados entre maio e junho. Contudo, as incertezas persistem, já que as tarifas elevadas sobre produtos chineses continuam sendo um obstáculo relevante e devem seguir limitando o dinamismo do comércio bilateral nos próximos meses. Assim, o cenário permanece sujeito a riscos associados ao ambiente geopolítico e à evolução das políticas comerciais internacionais.

Europa

A guerra entre Rússia e Ucrânia chega ao quarto ano, com o conflito permanecendo sem solução definitiva. Os ataques russos persistem, enquanto iniciativas de cessar-fogo perdem força, evidenciando a complexidade das negociações internacionais. A pressão americana se alterna entre posicionamentos mais rígidos e tentativas diplomáticas, destacando que uma solução permanente ainda parece distante. Paralelamente, o contexto geopolítico europeu influencia diretamente as perspectivas econômicas e políticas da região, afetando decisões estratégicas de governos e órgãos multilaterais. O ambiente permanece incerto, exigindo cautela por parte de analistas e formuladores de políticas.

No campo econômico, a Zona do Euro apresentou sinais de recuperação moderada no varejo, com alta de 0,3% nas vendas em junho e avanço anualizado de 2,8% no segundo trimestre, segundo o Eurostat. Alemanha e Itália contribuíram para o desempenho positivo, enquanto a França registrou retração. O nível geral das vendas se aproxima do patamar pré-pandêmico, sinalizando resiliência do consumo na região. Ao mesmo tempo, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros em 25 pontos base, para 4% ao ano, em decisão dividida, refletindo o avanço gradual da desinflação frente à persistente pressão inflacionária em energia e alimentos. A expectativa é que a inflação atinja a meta de 2% apenas em 2027, mantendo o debate sobre a necessidade de ajustes graduais na política monetária.

Oriente Médio

Na última semana, o mercado de petróleo foi marcado por significativa volatilidade, com o preço futuro do Brent apresentando queda de 8,4%, encerrando o período em 66,4 dólares por barril. Esse movimento foi impulsionado pela expectativa de uma reunião entre líderes mundiais que pode avançar em acordos de cessar-fogo envolvendo Rússia e Ucrânia, além de progressos nas relações entre Estados Unidos e Rússia. Destacou-se ainda a possibilidade de redução das ameaças de imposição de tarifas secundárias a países que importam petróleo russo, o que pode reconfigurar os fluxos comerciais e aliviar pressões sobre o mercado internacional da commodity.

No âmbito da produção, a OPEP+ decidiu elevar em 547 mil barris por dia a oferta de petróleo a partir de setembro, sinalizando o provável último aumento no curto prazo, com previsão de retirada voluntária de 2,2 milhões de barris até o final de 2024. Essa decisão reflete o esforço do grupo para equilibrar oferta e demanda globais diante de incertezas geopolíticas e volatilidade dos preços. No setor agrícola, os preços futuros apresentaram desempenho misto: a soja registrou alta de 1%, enquanto milho e trigo recuaram 2,4% e 1%, respectivamente. O cenário reforça a relevância do Oriente Médio no centro das discussões energéticas e comerciais internacionais.

Estados Unidos

As novas tarifas comerciais implementadas pelos Estados Unidos entraram em vigor nesta semana, aumentando a média efetiva das alíquotas de importação para 18,3%, patamar bem acima do histórico de 2,4% desde 1935, segundo cálculos de um centro de pesquisa de Yale. Entre os principais parceiros comerciais, houve impacto diferenciado: a União Europeia enfrentou medidas generalizadas, Japão e Coreia do Sul passaram a ser taxados em 15%, o Canadá está sujeito a 35% devido a preocupações de segurança na fronteira, enquanto Índia e Brasil viram suas tarifas subirem significativamente, e México conseguiu um prazo maior de negociação. China, por sua vez, terá múltiplas tarifas, incluindo aumentos de 10% e 30% em diferentes setores. Esse cenário ressalta o aumento das tensões comerciais globais e pode gerar efeitos inflacionários relevantes, com potencial impacto nos preços internos.

No âmbito doméstico, o setor de serviços dos Estados Unidos se manteve estável em julho, com o índice PMI do ISM marcando 50,1 pontos – uma leve queda de 0,7 em relação ao mês anterior. Apesar da pequena redução em demanda e no emprego, os níveis continuam próximos à estabilidade, enquanto os preços seguem sob pressão. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego permaneceram baixos, atingindo 226 mil na primeira semana de agosto, o que reforça a resiliência do mercado de trabalho frente ao novo cenário de tarifas. Diante desse quadro e da recente surpresa negativa nos dados do emprego, acredita-se que o Federal Reserve (Fed) deverá manter os juros no patamar atual por mais algum tempo, monitorando de perto os desdobramentos inflacionários e eventuais mudanças a serem avaliadas na próxima reunião de setembro.

Brasil

Em julho, o IGP-DI registrou a terceira deflação consecutiva, com queda de 0,07%. O resultado ficou acima das expectativas do mercado, que projetava recuo de 0,15%, e reflete principalmente a contração dos preços ao produtor, especialmente no setor agrícola, cujo IPA caiu 3,42%. O núcleo do IPA industrial, que exclui alimentos, combustíveis e minério de ferro, também apresentou retração de 0,26%. Nos últimos 12 meses, o IGP-DI acumulou alta de 2,9%, com destaque para avanços de 2,8% no IPA agrícola e 4,9% no núcleo industrial. Esse movimento indica um recente alívio nos preços do atacado, embora a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, permaneça pressionada por fatores internos, como o mercado de trabalho aquecido.

No âmbito da política monetária, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pelo Banco Central, reforçou o tom de cautela do colegiado. A Selic foi mantida em 15% ao ano, sinalizando a interrupção do ciclo de alta para observar os efeitos dos ajustes já realizados. O documento mencionou quatro vezes a necessidade de cautela, motivada principalmente pelo ambiente internacional instável e incertezas no comércio global e geopolítica. Destacou-se ainda que o mercado de trabalho segue dinâmico, sendo apontado como um elemento-chave para monitoramento das próximas decisões. A expectativa, conforme indicado na ata, é de manutenção da Selic em patamar elevado até o final deste e do próximo ano, corroborando o cenário de estabilidade monetária diante dos desafios inflacionários.

Juros futuros corrigem baixa recente, após Guillen reforçar Selic elevada por longo período

Os juros futuros fecharam em leve alta nesta sexta-feira, corrigindo parte da forte queda dos prêmios ontem, e em linha com a recuperação do dólar.

Em dia de agenda esvaziada, o mercado monitorou as declarações do diretor do BC Diogo Guillen, durante evento do Jota pela manhã. Guillen afirmou que o Copom optou por uma interrupção no ciclo de alta por cautela.

“Temos que olhar para ver se a taxa de juros é apropriada; e se for, será assim por um longo período”, destacou.

No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,905% (de 14,897% no ajuste anterior); Jan/27 a 14,130% (14,087%); Jan/29 a 13,300% (13,267%); Jan/31 a 13,500% (13,479%); e Jan/33 a 13,610% (13,604%).