Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[28/12/23]

… No rali non stop, o Ibovespa chega ao último pregão do ano cruzando barreiras históricas e descontando riscos. A continuidade do sentimento otimista será testada hoje pelo IPCA-15 (9h), IGP-M de dezembro (8h) e ainda pela entrevista coletiva de Haddad (10h), em que o ministro da Fazenda deve anunciar as medidas de arrecadação para compensar a renúncia fiscal da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da  economia, que foi prorrogada pelo Congresso até 2027. Um dos drivers positivos da bolsa ontem foi a intenção de Campos Neto de entregar juros “o mais baixo possível” em 2024, seu último ano como presidente do BC. A declaração, antecipada pela GloboNews no início da tarde desta 4ªF, foi dada em entrevista gravada à jornalista Míriam Leitão antes do Natal, no dia 21, e transmitida na íntegra pela emissora no final da noite de ontem.

… RCN evitou, no entanto, mudar a comunicação assumida oficialmente pelo BC nos últimos tempos e reforçou que o atual ritmo de quedas de 0,50 ponto porcentual da Selic segue como o mais “apropriado” no momento.

… O mercado sabe que as decisões do Copom em janeiro e março estão dadas, com os cortes de meio ponto contratados. Mas o 2Tri coincidirá com o processo de queda do juro pelo Fed e mudará a dinâmica do fluxo.

… Diante da atratividade do carry trade, o estrangeiro já anda comprando Brasil e, se a questão fiscal doméstica for endereçada com cuidado, o Copom pode ser desafiado a acelerar o pace (0,75pb) de queda da taxa básica.

… O presidente do BC aproveitou para elogiar o “esforço gigantesco” de Haddad para “enquadrar o fiscal” e defendeu a postura de perseverança em relação à promessa da Fazenda de meta de déficit fiscal zero.

… Sobre a expansão econômica, disse que as análises econômicas têm errado muito e apontou viés positivo, com chance de o País crescer até mais do que a estimativa de 1,7% apresentada na semana passada pelo RTI.

… Além de juro baixo, Campos Neto reforçou ontem a importância de o BC entregar inflação na meta em 2024.

… Hoje, o IPCA-15 de dezembro deve confirmar a tendência de desinflação apontada pela ata do Copom. Na mediana de pesquisa Broadcast, o indicador vai desacelerar para 0,25%, contra 0,33% em novembro.

… O intervalo das projeções vai de 0,17% a 0,35%. O alívio dos alimentos e passagens aéreas deve justificar a perda de força da inflação. Já a gasolina deve reduzir o ritmo de queda, dissipados os efeitos dos últimos cortes.

… O IPCA-15 deve encerrar o ano em 4,56%, abaixo do teto da meta, de 4,75%. Em 2022, subiu 5,90%.

… Já para o IGP-M, o mercado espera aceleração para 0,67% em dezembro, contra 0,59% em novembro (piso de 0,42% e teto de 0,91%). Os preços agropecuários no atacado devem continuar a pressionar o dado de inflação.

… Ainda na agenda do dia, o Caged (14h) deve indicar a criação de 150 mil postos formais de trabalho em novembro, depois da surpresa positiva de 190.366 vagas em outubro. Às 14h30, o BC divulga o fluxo cambial.

… Nos EUA, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego (10h30), as vendas pendentes de imóveis (12h), que têm previsão de alta de 0,5% em novembro entre os economistas, e os estoques de petróleo do DoE (13h).

UM SHOW POR DIA – O Ibovespa não desencanta e continua atropelando a realização de lucro, que uma hora virá, mas que vem sendo adiada, dando espaço às conquistas históricas, agora já na faixa dos 134 mil pontos.  

… Com giro insignificante ontem, de R$ 14 bilhões, o índice à vista esticou o rali de fim de ano, embalado pelo cenário externo favorável, com bolsas em NY em alta e taxas dos Treasuries em baixa, antecipando o Fed dovish.

… Além disso, a mensagem de Campos Neto sobre “juros o mais baixo o possível” garantiu fôlego extra ao Ibovespa (+0,49%), com novos recordes intraday (134.195,47 pontos) e de fechamento (134.193,72 pontos).

… É o quarto pregão seguido em que o índice à vista da bolsa doméstica renova os picos de todos os tempos.

… Capital estrangeiro não tem faltado na B3. Houve entrada de mais R$ 1,874 bilhão na última 6ªF, antes do Natal. Neste mês de dezembro, o saldo de k externo está em 16,575 bilhões; no ano, está positivo em R$ 43,967 bilhões.

… A esperança despertada por RCN de maior ousadia nos cortes da Selic contagiou ontem as ações das varejistas, que lideraram os ganhos do Ibov: Magalu (+6,64%), Casas Bahia (+6,03%), Alpargatas (+3,79%) e Natura (+3,75%).

… O salto de Casas Bahia, negociada na maior cotação (R$ 11,60) desde o novo grupamento de ações, foi turbinado pela manutenção do papel na última prévia da carteira teórica do Ibovespa, que confirmou ainda a entrada de Cteep.

… O bom resultado do lucro industrial da China em novembro (alta anualizada de 29,5%) impulsionou o minério (+0,51%) e, por tabela, a Vale (+0,97%, a R$ 77,40). Mas o papel não deve evitar a primeira queda anual desde 2015.

… A ação da mineradora protagoniza uma arrancada de quase 5% este mês, mas ainda acumula queda de 6% no ano.  

… Petrobras terminou ontem de lado (PN, +0,08%, R$ 37,36; e ON, -0,15%, R$ 39,14), mas caiu bem menos que o petróleo Brent (-1,62%), abaixo de US$ 80 (US$ 79,54), que devolveu parcialmente a alta de 2,5% do dia anterior.

… Entre os papéis dos grandes bancos, o sinal positivo predominou. Só BB caiu e de leve (-0,15%, a R$ 54,86). Itaú registrou alta de 0,68%, a R$ 33,88; Bradesco PN ganhou 0,59%, a R$ 16,98; e Santander unit, +1,2%, a R$ 32,08.

… Apesar do recado positivo de Campos Neto sobre o ritmo de flexibilização monetária e apesar ainda de os juros dos Treasuries terem renovado sucessivas mínimas em NY, a curva do DI caiu pouco, limitada pelo desconforto fiscal.

… O déficit de R$ 39,389 bi do Governo Central em novembro apontou rombo maior do que o esperado (-R$ 38 bi), foi o pior para o mês da série histórica e também o pior para o acumulado do ano (-R$ 114,631 bi) desde 2020.

… Seja como for, na coletiva para comentar o resultado, o secretário Rogério Ceron (Tesouro) apontou duas receitas extras que não estavam previstas no Orçamento de 2024, mas que ajudarão o governo a buscar o déficit zero:

… Depósito judicial da Caixa, estimado em até R$ 14 bi, e mais R$ 20 bi com novas regras de preços de transferência.

… No fechamento, o DI para jan/25 recuou a 9,990% (de 10,010% no dia anterior); jan/26 caiu a 9,540% (de 9,570%); jan/27, a 9,645% (9,680%); jan/29, a 10,010% (10,040%); jan/31, a 10,210% (10,240%); e jan/33, 10,290% (10,330%).

… Em ajuste de posições antes da virada do ano e em meio à briga da ptax, que se decide hoje, o dólar passou por alguma correção (+0,22%, a R$ 4,8326), depois de ter caído na véspera à cotação mais baixa em quase cinco meses.

… Diante do fluxo positivo, a moeda americana acumula um alívio de 1,65% no mês e de quase 8,5% no ano.  

MONTANHA-RUSSA – Este foi um trimestre de grandes emoções para os juros dos Treasuries de 10 anos, que ultrapassaram 5% em outubro pela primeira vez em 16 anos, mas rodam abaixo de 3,80% nesta reta final do ano.

… A reversão do humor responde diretamente às apostas recuperadas de que o Fed possa começar a derrubar o juro mais rápido, em março, ou no máximo em maio, abrindo um ciclo de relaxamento monetário de até 200 pontos.

… Antecipando o pivô dovish do Fed, a taxa da Note-10 anos derreteu ontem para 3,787%, contra 3,901% no pregão anterior. A queda foi intensificada ao longo do dia por dois leilões de títulos, em que o mercado mostrou apetite.

… A volta do yield do bônus do Tesouro americano para o piso de julho animou as bolsas em NY a driblarem uma correção e continuarem subindo, devagar e sempre, com o S&P 500 (+0,14%, a 4.781,58 pontos) perto do recorde.

… O índice Dow Jones subiu 0,30%, aos 37.656,52 pontos, e o Nasdaq avançou 0,16%, para 15.099,18 pontos.

… A precificação amplamente majoritária no CME (90%) de que o juro do Fed vai cair já no 1Tri levou o índice DXY (-0,47%) a renovar no câmbio as mínimas em 5 meses e operar abaixo da linha dos 110 pontos (100,986).

… As apostas renovadas contra o dólar voltaram a favorecer o euro (+0,58%, a US$ 1,1108), na máxima em quatro meses e meio, a libra (+0,58%, a US$ 1,2794) e o iene (+0,40%, a 141,78/US$), apesar da fala do presidente do BoJ.

… Kazuo Ueda disse que uma possível elevação nos juros japoneses não deve acontecer durante o 1Tri, como esperado por parte do mercado, uma vez que a tendência de aumento dos salários ainda precisa ser confirmada.

EM TEMPO… O conselho de administração da PETROBRAS aprovou a aquisição de participação em três blocos em São Tomé e Príncipe, na costa oeste da África, em um processo competitivo conduzido pela Shell…

… Prates informou que a Lubnor, refinaria da Petrobras em Fortaleza (CE) que chegou a ser vendida no governo Bolsonaro, mas teve o contrato rescindido pela atual gestão, será transformada em unidade de baixo carbono.

PETRORECONCAVO restabeleceu parte da produção de petróleo e gás natural no Rio Grande do Norte, interrompida no último dia 13, por conta da impossibilidade de recebimento da produção no Ativo Industrial de Guamaré (AIG).

ODEBRECHT vendeu a sua empresa de óleo e gás Ocyan ao fundo americano EIG por cerca de R$ 2 bilhões, apurou Lauro Jardim/O Globo…

…  O montante foi levantado com a criação de um FIP, cujos investidores são majoritariamente brasileiros. Os recursos serão repassados pela Odebrecht para o BNDESPar para o pagamento de dívidas.

BTG PACTUAL. O conselho de administração aprovou JCP líquido de R$ 0,126/unit; ex dia 04/1; pagamento em 15/2.

COGNA informou que a gestora de ativos BlackRock passou a deter participação de 9,97% na companhia.

DIRECIONAL vendeu dois projetos habitacionais, com 990 unidades, para o programa “Pode Entrar”, do governo de SP, por R$ 205,9 milhões.

MRV aprovou programa de recompra de até 6 milhões de ações, ou 8,06% do total em circulação, até junho de 2025.

SÃO CARLOS concluiu a venda dos edifícios Centro Empresarial Botafogo, Morumbi Office Tower, Corporate Plaza e Alameda Santos por R$ 865 milhões.

TAESA anunciou que distribuirá R$ 228 milhões em dividendos intercalares, a R$ 0,22 por ação. O pagamento será em 16 de janeiro de 2024, com base na posição acionária de 3 de janeiro; ex a partir do dia 4.

AMERICANAS demitiu 4.298 funcionários temporários na semana do Natal. A empresa mantém 1.758 lojas abertas, 93,4% do total que tinha antes da recuperação judicial.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.