Retrospectiva dos principais acontecimentos do ano de 2025

2025 transformou a instabilidade em norma: a volta de Trump ampliou tensões globais enquanto o Brasil enfrentou crises institucionais, políticas e econômicas.

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Por Matheus Gomes de Souza, CEA

🤵 Donald Trump, o protagonista indiscutível de 2025

O retorno de Donald Trump à Casa Branca reorganizou o tabuleiro político e econômico global ao longo de 2025. Desde os primeiros meses do mandato, a política “America First” voltou a se traduzir em tarifas, pressões diplomáticas e decisões unilaterais, afetando cadeias globais de suprimento e elevando a incerteza nos mercados. O tarifaço contra parceiros estratégicos ampliou tensões com a China, reacendeu disputas comerciais com a União Europeia e atingiu diretamente países emergentes, entre eles o Brasil.
Ao mesmo tempo, Trump levou a política externa americana a um patamar de interferência direta em processos internos de outros países, com destaque para o caso brasileiro após a condenação de Jair Bolsonaro. Na América Latina, a escalada contra a Venezuela combinou sanções, bloqueios e ações militares indiretas, elevando o risco geopolítico regional. Em 2025, Trump não apenas voltou ao poder: ele se impôs como o principal fator de instabilidade política, comercial e institucional do mundo.

⚔️ Um mundo sob tensão permanente

Se houve um traço comum no cenário internacional em 2025, foi a normalização da instabilidade. O ano foi marcado por conflitos ativos, cessar-fogos frágeis e negociações incapazes de produzir soluções duradouras. Em Gaza, a trégua mediada pelos Estados Unidos interrompeu a fase mais intensa dos combates, mas manteve o território em colapso humanitário e sob ameaça constante de retomada da guerra.
Na Ucrânia, os esforços diplomáticos conduzidos por Washington fracassaram diante da resistência russa a qualquer cessar-fogo sem ganhos territoriais, enquanto o conflito seguiu corroendo a infraestrutura e ampliando custos globais. No Indo-Pacífico, Taiwan ocupou o centro das atenções com demonstrações inéditas de força naval chinesa, elevando alertas em Tóquio e Washington. Índia e Paquistão voltaram a trocar ataques após anos de relativa estabilidade, reacendendo temores nucleares. Já no Congo, a violência continuou alimentada por interesses minerais, em um dos conflitos mais ignorados — e economicamente estratégicos — do planeta.

🎯 O Brasil no centro de uma crise política sem precedentes

O ano de 2025 consolidou um marco histórico na política brasileira: o julgamento, a condenação e a prisão de um ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Jair Bolsonaro tornou-se o primeiro líder máximo do Executivo brasileiro a cumprir pena por atentar contra a ordem democrática, em um processo que reverberou dentro e fora do país.
A crise ganhou contornos internacionais quando o governo Trump reagiu à condenação com sanções, discursos e medidas diplomáticas contra ministros do STF e autoridades brasileiras, tensionando uma relação bilateral historicamente pragmática. Internamente, a prisão aprofundou divisões políticas, provocou reações do centrão, mobilizou a oposição e consolidou o Judiciário como ator central na defesa institucional. Para investidores e analistas, 2025 deixou claro que a estabilidade política brasileira passou a depender menos do calendário eleitoral e mais da capacidade das instituições de conter choques antidemocráticos.

💰 Ano fiscalmente duro: avanços sociais, limites políticos

As contas públicas estiveram no centro da agenda econômica brasileira durante todo o ano. A aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil representou uma das maiores mudanças tributárias das últimas décadas, com impacto direto sobre o consumo e a renda de milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, a criação de uma tributação mínima sobre altas rendas buscou sinalizar compromisso com a compensação fiscal.
No entanto, o ano também expôs os limites políticos da agenda econômica. O governo enfrentou derrotas relevantes no Congresso, viu medidas de arrecadação serem barradas e não conseguiu construir uma narrativa fiscal robusta o suficiente para reduzir desconfianças sobre o equilíbrio das contas. O resultado foi um ambiente de maior cautela nos mercados, com a política fiscal permanecendo como um dos principais vetores de risco macroeconômico ao longo de 2025.

♟️ Choque institucional nas maiores economias

A instabilidade institucional não foi exclusividade de países emergentes. Em 2025, os Estados Unidos enfrentaram o maior shutdown de sua história, com 43 dias de paralisação governamental. O episódio causou um apagão sem precedentes na divulgação de dados econômicos, comprometendo leituras sobre inflação, emprego e crescimento.
A ausência de informações oficiais forçou o Federal Reserve a conduzir sua política monetária em um ambiente de incerteza extrema, aumentando a volatilidade nos mercados globais. Empresas, investidores e governos passaram semanas operando praticamente sem referência estatística. O episódio reforçou a percepção de que a polarização política e os impasses institucionais passaram a gerar custos econômicos relevantes até mesmo nas maiores economias do mundo.

⚠️ Fraudes no INSS e a exposição de erros do Estado

O escândalo revelado pela Operação Sem Desconto expôs uma das mais graves falhas de governança da administração pública brasileira em anos recentes. O esquema de descontos associativos indevidos atingiu milhões de aposentados e pensionistas e movimentou bilhões de reais ao longo de vários anos sem controles eficazes.
A investigação avançou sobre o alto escalão do INSS e do Ministério da Previdência, resultando em prisões, afastamentos e no avanço de uma CPI no Congresso. O caso evidenciou problemas estruturais na fiscalização, na gestão de convênios e na proteção de dados dos beneficiários. Mais do que um episódio de corrupção, o caso do INSS tornou-se símbolo da dificuldade histórica do Estado brasileiro em proteger os mais vulneráveis de esquemas sofisticados e institucionalizados.

⛅ Clima no centro do discurso, mas longe da urgência

A COP30, realizada em Belém, projetou o Brasil como protagonista da diplomacia climática em um momento globalmente adverso. Embora tenha produzido avanços importantes em temas como adaptação, justiça climática e participação da sociedade civil, a conferência evidenciou a dificuldade do sistema multilateral em enfrentar os principais motores da crise climática.
O texto final evitou compromissos claros sobre a eliminação dos combustíveis fósseis e trouxe avanços tímidos em financiamento climático, frustrando expectativas de países em desenvolvimento. Por outro lado, a mobilização social em Belém foi histórica, colocando povos indígenas, movimentos ambientais e o debate racial no centro da agenda global. A COP30 terminou como um retrato fiel de 2025: mais consciência, mais pressão social — e ainda poucos consensos efetivos.

⛪ Um ano de transição simbólica no Vaticano

A morte do papa Francisco encerrou um dos papados mais politicamente ativos e socialmente orientados da história recente da Igreja Católica. Sua sucessão, com a eleição do papa Leão XIV, marcou uma tentativa cuidadosa de continuidade e reequilíbrio interno.
Primeiro papa americano, com forte atuação pastoral na América Latina, Leão XIV assumiu em um mundo marcado por guerras, crise climática e fragmentação política. Seus primeiros gestos sinalizaram preservação da agenda social, atenção aos pobres e ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que buscou reduzir tensões com alas conservadoras. A troca no comando do Vaticano funcionou, em 2025, como um raro momento de transição institucional organizada em um ano dominado por rupturas.

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