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Resumo semanal: 28/04 a 02/05

Atualizado 02/05/2025 às 20:20:49

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

Na China, a atividade industrial apresentou retração mais acentuada do que o previsto em abril. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial recuou para 49,0 pontos, abaixo das expectativas de 49,7 e inferior aos 50,5 pontos registrados em março. Como o índice abaixo de 50 sinaliza contração, os dados sugerem enfraquecimento no setor. O principal destaque negativo veio da categoria de novas encomendas, que caiu de 51,8 para 49,2 pontos, indicando que o setor começa a sentir os efeitos das novas tarifas comerciais. Esse movimento levanta preocupações sobre a recuperação econômica chinesa e sua capacidade de sustentar o crescimento industrial nos próximos meses. Enquanto isso, no Japão, o Banco Central (BoJ) decidiu manter a taxa de juros inalterada em 0,50%, em linha com as expectativas do mercado, reforçando sua postura de cautela diante do atual cenário inflacionário e cambial.

No campo diplomático, a China declarou que está avaliando a possibilidade de retomar negociações comerciais com os Estados Unidos. De acordo com o Ministério do Comércio chinês, autoridades americanas têm demonstrado interesse em retomar o diálogo, e Pequim está analisando as propostas recebidas. No entanto, o governo chinês destacou a necessidade de “sinceridade” por parte de Washington como condição para o avanço nas conversas. A sinalização de um possível reaproximamento entre as duas maiores economias do mundo foi bem recebida pelos mercados, que reagiram positivamente à notícia. Esse movimento pode representar uma mudança relevante no cenário geopolítico e econômico, especialmente em um momento em que o comércio global enfrenta desafios crescentes. O desenrolar das negociações será monitorado de perto pelos investidores nas próximas semanas.

Europa

Os Estados Unidos e a Ucrânia firmaram um acordo que permite a exploração de recursos naturais ucranianos por empresas americanas, em reconhecimento ao apoio financeiro e material fornecido por Washington desde o início da guerra contra a Rússia. O texto prevê acesso preferencial a minerais estratégicos como terras raras, titânio e lítio, além da criação de um fundo conjunto para investimentos em infraestrutura, energia e projetos de extração. De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, a iniciativa reforça a parceria bilateral e representa um passo importante na reconstrução econômica da Ucrânia no período pós-guerra. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que o acordo também serve como um sinal de advertência à Rússia e fortalece a posição americana em futuras negociações por um cessar-fogo. A movimentação amplia a influência geopolítica dos Estados Unidos na região e reforça sua presença estratégica no setor de recursos naturais críticos.

Na zona do euro, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, superando as expectativas de 0,2% e acelerando em relação ao crescimento de 0,2% no quarto trimestre de 2024. Apesar do desempenho acima do previsto, as projeções para os próximos meses são cautelosas. Estima-se estagnação no segundo trimestre e um crescimento modesto de apenas 0,1% no terceiro trimestre, em parte devido aos impactos negativos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Além disso, o Indicador de Sentimento Econômico da região caiu para 93,6 pontos em abril, o menor nível desde dezembro, refletindo deterioração da confiança em todos os setores, especialmente entre os consumidores. O núcleo da inflação, por sua vez, subiu 2,7% em 12 meses, acima dos 2,5% esperados, ainda pressionado por efeitos sazonais como o feriado da Páscoa. O Banco Central Europeu, no entanto, mantém a projeção de que a inflação deve convergir para a meta ao longo do ano, o que pode abrir espaço para a continuidade dos cortes de juros.

Oriente Médio

As negociações nucleares entre Estados Unidos e Irã foram adiadas, e a definição de uma nova data dependerá da postura adotada por Washington, segundo autoridades iranianas. A próxima rodada, prevista inicialmente para ocorrer em Roma no dia 3 de maio, foi suspensa por “razões logísticas”, conforme informou Omã, que atua como mediador. No entanto, fontes afirmam que os EUA nunca chegaram a confirmar presença na reunião. O Irã acusa os americanos de comportamento contraditório e de adotar sanções unilaterais que dificultam avanços diplomáticos. Paralelamente, o governo dos EUA reforçou sua pressão sobre Teerã com novas sanções ao setor petrolífero e ameaças por conta do apoio iraniano aos Houthis no Iêmen. Mesmo assim, o Irã declarou que continuará comprometido com uma abordagem séria e voltada para resultados nas negociações. O presidente americano Donald Trump, por sua vez, reiterou confiança em obter um novo acordo que impeça o desenvolvimento de armas nucleares por parte do Irã.

No contexto das tensões regionais, Israel bombardeou uma área próxima ao palácio presidencial em Damasco, na Síria, em uma ação que o governo israelense classificou como um recado direto às novas autoridades sírias. A ofensiva marca a intensificação das operações militares de Israel desde a queda do regime de Bashar al-Assad, agora substituído por Ahmed al-Sharaa, um ex-líder da Al Qaeda que rompeu com o grupo em 2016. O principal objetivo de Israel é impedir o avanço de forças hostis nas proximidades de vilarejos habitados por drusos, minoria que também tem presença em Israel e no Líbano. O exército israelense confirmou a mobilização de tropas no sul da Síria e a evacuação de cidadãos sírio-drusos feridos para hospitais israelenses. O governo sírio classificou o ataque como uma “escalada perigosa” e criticou a alegada proteção israelense aos drusos como pretexto para agressões. O episódio ocorre em meio a confrontos sectários entre sunitas e drusos, que deixaram dezenas de mortos e testam a promessa de unidade feita por Sharaa.

Estados Unidos

Os Estados Unidos deram início a uma nova rodada de negociações tarifárias com a China, segundo o Ministério do Comércio chinês. Representantes americanos propuseram o início das conversas, e Pequim afirma estar avaliando a proposta. Essa é a primeira sinalização concreta desde a escalada tarifária entre os países. Washington também intensificou esforços diplomáticos com a Índia e a União Europeia, que demonstraram abertura para discutir acordos comerciais. A movimentação ocorre em um momento de fragilidade econômica: o PIB dos EUA contraiu 0,3% no 1º trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior, frustrando expectativas de estabilidade. Foi a primeira queda desde o início de 2022, puxada por um salto de 41,3% nas importações – reflexo da corrida por estoques antes da entrada em vigor de tarifas mais altas. O consumo das famílias, embora positivo, desacelerou para o ritmo mais fraco desde meados de 2023.

Nos indicadores de preços e emprego, os dados reforçam o cenário desafiador para o Federal Reserve. A inflação medida pelo deflator do PCE – índice preferido do banco central – acelerou para 3,5% no 1º trimestre, acima da expectativa de 3,3% e distante da meta de 2,0%. O mercado de trabalho, por sua vez, segue resiliente: em abril, foram criadas 177 mil vagas, superando a previsão de 130 mil, e a taxa de desemprego manteve-se em 4,2%. Diante disso, o Fed deve manter uma postura de cautela na próxima reunião de política monetária, evitando decisões precipitadas. A combinação de inflação elevada e crescimento fraco reforça temores de estagflação na maior economia do mundo. O banco central deve seguir com uma comunicação prudente, adotando o tom de “esperar para ver” enquanto monitora a persistência da inflação e a resposta da atividade.

Brasil

O mercado de trabalho brasileiro segue sólido, com a taxa de desemprego em 7,0% no trimestre encerrado em março, em linha com as expectativas. A renda real do trabalho continua em trajetória de alta: o rendimento médio real habitual subiu 0,3% entre fevereiro e março e acumula alta de 4,0% na comparação anual. Apesar da desaceleração no ritmo mensal, o mercado formal gerou 71,6 mil vagas em março, acumulando 456 mil novas vagas no 1º trimestre. A ocupação total segue em expansão, impulsionada principalmente por empregos formais. Os salários reais sustentam a demanda doméstica e contribuem para a persistência da inflação de serviços. Essa dinâmica reforça o cenário de desaceleração gradual da atividade e inflação elevada nesse segmento no curto prazo.

No lado fiscal, o governo central registrou superávit primário de R$ 1,1 bilhão em março, abaixo das projeções. No acumulado de 2025, o superávit chega a R$ 54,5 bilhões, mas o resultado em 12 meses aponta déficit de R$ 8,6 bilhões (0,1% do PIB). A receita líquida cresceu apenas 0,8% em termos reais, enquanto a despesa caiu 0,5% – queda considerada pontual, relacionada à fila represada da Previdência. Com a normalização desses pagamentos, os gastos devem voltar a subir. Com a desaceleração da economia e a queda nos preços do petróleo, espera-se novo esfriamento das receitas. Isso eleva os riscos para o cumprimento da meta fiscal, e o governo pode ter de bloquear R$ 10,5 bilhões para se manter dentro do arcabouço. Enquanto isso, após operação da PF que revelou fraudes de R$ 6,3 bilhões no INSS, o Tesouro reafirmou que o ressarcimento será feito com recursos do próprio órgão, sem aporte adicional.

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