Resumo semanal: 20/10 a 24/10
Inflação em queda no Brasil e crescimento acima do esperado na China marcam a semana nos mercados globais
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A economia chinesa registrou expansão de 4,8% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, superando ligeiramente as projeções de mercado. O crescimento foi impulsionado principalmente pela aceleração do setor industrial, que avançou 5,5% em setembro, com destaque para os segmentos de transformação, eletrônicos e automotivo. As vendas no varejo ganharam tração, beneficiadas por programas de subsídio governamental, embora os investimentos tenham registrado desaceleração, especialmente em infraestrutura e imóveis. A taxa de desemprego urbano recuou de 5,3% para 5,2%, mantendo o país no caminho para atingir a meta de crescimento anual de 5%.
O Banco do Povo da China (PBoC) manteve as taxas de juros inalteradas, com a LPR de um ano em 3,45% e de cinco anos em 4,2%, refletindo postura cautelosa diante dos riscos persistentes no setor imobiliário. A crise imobiliária continua sendo o principal fator de risco, com quedas acentuadas nas construções e vendas em setembro, além da inadimplência de unidades do Grupo Evergrande. No âmbito geopolítico, as tensões comerciais entre China e Estados Unidos se intensificaram após declarações americanas propondo aumento de tarifas sobre produtos chineses, com uma reunião entre lideranças de ambos os países confirmada para o final de outubro.
Europa
O conflito entre Rússia e Ucrânia ainda está sem perspectivas concretas de resolução, enquanto Estados Unidos e União Europeia mantêm pressão diplomática e econômica sobre Moscou. Na Zona do Euro, a atividade econômica registrou expansão em outubro, com o PMI Composto avançando para 53,2 pontos, impulsionado principalmente pelo setor de serviços. A Alemanha destacou-se positivamente, com índice de 53,8 pontos, refletindo recuperação da demanda interna, embora a França tenha apresentado retração de 46,8 pontos, sinalizando heterogeneidade no desempenho regional.
No Reino Unido, os dados inflacionários surpreenderam positivamente, com o CPI recuando para 3,8% em setembro, abaixo das expectativas, enquanto o núcleo da inflação desacelerou para 5,7%. Esse cenário reforça a possibilidade de flexibilização monetária pelo Banco da Inglaterra nas próximas reuniões. O PMI Composto britânico atingiu 50,7 pontos em outubro, indicando expansão moderada da atividade, liderada pelo setor de serviços. O varejo também apresentou desempenho robusto, com crescimento de 0,9% em setembro, superando amplamente a projeção de 0,3%, sugerindo resiliência do consumo doméstico apesar do ambiente de juros elevados.
Oriente Médio
Os Estados Unidos iniciaram o monitoramento do frágil cessar-fogo em Gaza com cerca de 200 soldados responsáveis por organizar o fluxo de ajuda humanitária e planejar a criação de uma força internacional para estabilizar o enclave. A proposta de força internacional, elemento central do plano do presidente Donald Trump, enfrenta obstáculos significativos, incluindo a relutância de países em comprometer tropas sem definição clara do mandato operacional. O Hamas não se comprometeu com o desarmamento e intensificou a repressão interna, enquanto Israel demonstra resistência à participação de forças turcas. Paralelamente, o Irã suspendeu as negociações nucleares indiretas com os EUA, alegando “exigências irracionais” de Washington, mantendo elevada a tensão regional.
Na Turquia, o banco central desacelerou seu ciclo de flexibilização monetária com corte de 100 pontos-base na taxa básica de juros para 39,5%, sinalizando preocupações após a inflação anual saltar para 33,29% em setembro, acima das expectativas e da meta de 24% para o final do ano. Nos Emirados Árabes Unidos, os mercados de ações encerraram a semana em alta, com Dubai avançando 0,8% e Abu Dhabi subindo 0,1%, impulsionados por expectativas de cortes nas taxas do Federal Reserve e anúncios de megaprojetos imobiliários. Os preços do petróleo Brent ampliaram ganhos para US$ 66,49 o barril, pressionados pelas sanções americanas às empresas petrolíferas russas devido à guerra na Ucrânia.
Estados Unidos
A economia norte-americana apresentou sinais de resiliência em outubro, apesar das pressões inflacionárias persistentes. O índice de preços ao consumidor (CPI) registrou alta de 0,3% em setembro na comparação mensal, enquanto o núcleo da inflação avançou 0,2%, mantendo-se acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve. Diante desse cenário, a perspectiva de cortes adicionais nas taxas de juros torna-se menos provável, uma vez que o banco central deve manter postura cautelosa frente à inflação elevada. O mercado permanece atento às próximas decisões de política monetária, considerando o equilíbrio entre crescimento e controle inflacionário.
A atividade econômica acelerou no mês de outubro, conforme evidenciado pelo aumento de 0,7 ponto no PMI Composto, que atingiu 54,3 pontos, refletindo expansão tanto no setor manufatureiro quanto no de serviços. Contudo, o setor imobiliário continua enfrentando dificuldades, com as vendas de casas usadas recuando 1% em setembro, acumulando queda de 3,5% no acumulado de 12 meses, reflexo das taxas de hipoteca elevadas. Paralelamente, o governo americano enfrenta um impasse político que resultou em shutdown desde o início de outubro, suspendendo serviços públicos não essenciais e interrompendo temporariamente a divulgação de dados econômicos por agências governamentais.
Brasil
O IPCA-15 registrou alta de 0,18% em outubro, ficando significativamente abaixo da projeção de 0,30% e da mediana de mercado de 0,24%, resultando em desaceleração do índice acumulado em 12 meses de 5,32% para 4,94%. A composição inflacionária mostrou-se mais benigna que o esperado, com surpresas favoráveis em bens industriais, queda nos preços de commodities no atacado e desaceleração acentuada nas passagens aéreas (-20,62%). A energia elétrica apresentou deflação de 0,95%, enquanto alimentos in natura aceleraram moderadamente para 1,01%. A projeção para o IPCA de 2023 foi revisada de 5,0% para 4,9%, enquanto a estimativa para 2024 permanece em 4,2%, embora o segmento de serviços subjacentes continue pressionado em 6,7%.
No âmbito externo, a conta corrente brasileira registrou déficit de US$ 9,8 bilhões em setembro, superando as expectativas de mercado, e após ajuste sazonal, o déficit atingiu US$ 8,3 bilhões. Apesar do saldo comercial ter permanecido positivo, os resultados negativos em serviços e rendas pressionaram o desempenho geral, elevando o déficit acumulado em 12 meses para 3,4% do PIB (US$ 78,9 bilhões), ante 3,3% registrado no mês anterior. Essa trajetória reflete o enfraquecimento das exportações, aumento das importações de serviços e elevação das remessas de lucros ao exterior. Para 2025, a projeção de déficit em transações correntes foi mantida em US$ 57 bilhões, embora riscos associados à volatilidade cambial permaneçam relevantes.