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Resumo semanal: 05/05 a 09/05

Atualizado 09/05/2025 às 18:19:08

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A China surpreendeu o mercado ao registrar alta de 8,1% nas exportações de abril, impulsionada por uma corrida de pedidos antes da implementação de novas tarifas pelos EUA. Apesar da queda nas exportações para o mercado americano (-2,5% no ano), houve forte expansão para regiões como Sudeste Asiático, América Latina e África, refletindo uma estratégia de diversificação geográfica. O superávit comercial com os EUA atingiu US$ 20,5 bilhões, alimentando tensões políticas. Já as importações caíram 0,2% no mês, mostrando sinais de demanda interna ainda fraca. A resiliência do comércio com países emergentes mostra que a China segue reposicionando suas cadeias produtivas diante da guerra comercial.

Em resposta ao ambiente externo adverso e à fraqueza doméstica, o Banco Popular da China reduziu a taxa de recompra para 1,4% e o compulsório bancário para 6,2%, injetando cerca de US$ 138 bilhões em liquidez. Pequim também cortou taxas de empréstimos e ampliou incentivos ao setor imobiliário e exportador. As medidas ocorrem às vésperas da retomada das negociações comerciais com os EUA e visam fortalecer a confiança do mercado. A estratégia inclui estímulos ao crédito habitacional e maior participação de fundos de seguradoras no mercado acionário, numa tentativa de conter os impactos da desaceleração industrial e estabilizar a economia em meio às incertezas globais.

Europa

A política alemã ganhou destaque nesta semana com a eleição de Friedrich Merz como novo chanceler, após uma segunda votação no Parlamento. Na primeira rodada, Merz ficou aquém da maioria exigida, com 310 votos dos 316 necessários, em um revés inesperado para a coalizão conservadora e centro-esquerda, que tem maioria formal. A votação secreta levantou dúvidas sobre a lealdade de parte dos deputados aliados. No entanto, em uma segunda tentativa no mesmo dia, Merz conquistou 325 votos, encerrando o impasse e garantindo sua posse pelo presidente Frank-Walter Steinmeier. Aos 69 anos, ele liderará um gabinete com 17 ministros, marcando um novo capítulo na política alemã. O episódio foi inédito desde 1949 e gerou forte repercussão no Bundestag.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa básica de juros em 0,25 p.p., para 4,25%, em linha com as expectativas. A decisão dividiu o Comitê de Política Monetária, com dois votos contrários ao corte, refletindo cautela diante da inflação ainda resistente. Essa foi a quarta redução desde o pico de 5,25% no ano passado. A economia britânica segue fraca, com crescimento de apenas 0,9% em 2024 e projeções ainda mais modestas para os anos seguintes. Apesar disso, um possível acordo comercial abrangente com os EUA anunciado por Trump pode amenizar parte das incertezas. A inflação segue elevada, mas o BoE estima alívio no terceiro trimestre com pico reduzido para 3,5%. O mercado já precifica mais três cortes até o fim do ano, levando a taxa para 3,50%.

Oriente Médio

A conta X do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, foi bloqueada na Turquia por determinação judicial, conforme informado por uma mensagem em sua própria rede social. Detido em 19 de março sob acusações de corrupção — que nega — Imamoglu é visto como o principal adversário político do presidente Tayyip Erdogan, e sua prisão desencadeou os maiores protestos no país em uma década. Quatro dias após a detenção, ele foi mantido preso aguardando julgamento. Críticos do governo classificaram a ação como politicamente motivada, enquanto o Partido Republicano do Povo (CHP), do qual Imamoglu faz parte, considerou a prisão um ataque direto à democracia. O governo turco rejeita as críticas e afirma que o Judiciário atua de forma independente. A plataforma X, ao cumprir a ordem judicial, afirmou ter iniciado um processo judicial, defendendo o acesso livre à informação e à liberdade de expressão. Pesquisas apontam que a prisão fortaleceu a popularidade de Imamoglu, ampliando sua vantagem sobre Erdogan para as eleições previstas apenas para 2028.

Enquanto isso, o Irã confirmou a retomada das negociações nucleares com os Estados Unidos no domingo, em Omã, após um adiamento por “motivos logísticos”, segundo o mediador. O chanceler iraniano Abbas Araqchi afirmou que as tratativas estão avançando e que as delegações precisam de mais tempo para analisar os pontos críticos. A iniciativa busca reviver o acordo de 2015, do qual os EUA se retiraram sob a presidência de Donald Trump, que chegou a ameaçar ações militares caso não houvesse novo pacto. O Ocidente acusa o Irã de usar seu programa nuclear com fins militares, o que Teerã nega, alegando ser um projeto civil. Em paralelo, a tensão entre Israel e o Hezbollah escalou após ataques aéreos israelenses no sul do Líbano, causando mortes e destruição. Israel justificou os bombardeios como resposta a violações do cessar-fogo, enquanto o Líbano acusa Tel Aviv de não cumprir os termos do acordo. Ao mesmo tempo, o exército israelense interceptou um míssil lançado pelos Houthis do Iêmen, que assumiram responsabilidade como forma de apoiar os palestinos em Gaza.

Estados Unidos

O Federal Reserve manteve os juros no intervalo entre 4,25% e 4,50%, decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado. O comunicado da reunião destacou um aumento na incerteza sobre o cenário econômico, além de ressaltar a inflação ainda elevada e um mercado de trabalho aquecido. Diante desse contexto, o Fed preferiu manter a política monetária estável, adotando uma postura de cautela. O presidente Jerome Powell afirmou que este é um momento adequado para “esperar para ver”, aguardando maior clareza antes de novos movimentos. Indicadores recentes, como o índice ISM de serviços, subiram para 65,1 pontos, refletindo possíveis efeitos das tarifas. Ainda assim, os dados não indicam uma recessão severa. Nossa projeção é de, no máximo, um ou dois cortes de 0,25 p.p. ainda este ano, caso uma recessão leve se confirme.

A semana também trouxe novidades relevantes no front comercial. O anúncio de um encontro entre o Secretário do Tesouro americano e o vice-primeiro-ministro chinês reacendeu expectativas positivas nos mercados, sendo a primeira reunião oficial desde abril. A sinalização de Donald Trump, que sugeriu tarifas de 80% sobre produtos chineses como “adequadas”, reforça a complexidade das negociações. Apesar disso, o mercado recebeu bem os primeiros sinais de alívio. O Reino Unido foi o primeiro país a firmar um novo acordo comercial com os EUA, reduzindo tarifas sobre produtos americanos de 5,1% para 1,8%, enquanto os EUA mantêm alíquota de 10%. Além disso, outras 17 negociações estão em curso. Por outro lado, a União Europeia ameaça impor tarifas adicionais sobre 100 bilhões de euros em bens americanos caso as tratativas fracassem.

Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, alcançando 14,75%, conforme amplamente previsto pelo mercado. O comunicado pós-reunião destacou as incertezas no cenário global e doméstico, além do dinamismo da atividade econômica interna. Apesar disso, o tom mais brando — ou “dovish”, no jargão econômico — sugere que o ciclo de alta de juros está encerrado ou muito próximo do fim. O Copom não indicou claramente os próximos passos, preferindo enfatizar a necessidade de cautela e flexibilidade diante de novos dados econômicos. Avaliamos que os estímulos fiscais recentes — como o Minha Casa Minha Vida, liberação do FGTS e crédito consignado privado — somados à desancoragem das expectativas, podem levar a um último aumento de 0,25 p.p. na próxima reunião. A projeção de inflação do Copom, de 3,6% para o final de 2026, segue acima da meta, o que reforça a postura vigilante da autoridade monetária.

Em abril, o IPCA subiu 0,43%, em linha com as expectativas, levando a inflação anual de 5,48% para 5,53% — o maior patamar desde meados de 2023. A alta foi impulsionada pelos preços de vestuário, itens de higiene pessoal e pela reversão de descontos da semana do consumidor. A inflação de serviços sensíveis ao ciclo econômico segue pressionada, atingindo 6,73% em 12 meses. O quadro de curto prazo ainda indica inflação resistente, sem sinais claros de alívio nos componentes cíclicos, o que deve influenciar as decisões futuras do Copom. Apesar disso, a valorização do câmbio e a queda no preço do petróleo motivaram uma revisão na projeção do IPCA de 2025, de 6,0% para 5,7%. Já a produção industrial surpreendeu positivamente em março, com alta de 1,2% após cinco leituras fracas. No entanto, com confiança empresarial em queda e condições financeiras apertadas, projetamos desaceleração para 2025, com crescimento estimado em 2,2%, abaixo dos 3,1% esperados para este ano.

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