Ouro fecha estável com apostas renovadas em corte de juros pelo Fed após PCE

Os contratos futuros do ouro terminaram estáveis nesta sexta-feira, na qual os investidores reforçaram as expectativas de um novo corte de juros nos EUA após a divulgação do PCE, medida de inflação preferida pelo Fed. O índice subiu 0,3% em setembro, dentro do previsto.

O mercado segue monitorando também as tentativas de negociação sobre um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, mas os especialistas estão cada vez mais céticos.

Em entrevista ao India Today, Putin afirmou que a Rússia tomará a região de Donbass “à força” caso as tropas ucranianas não se retirem, sinalizando novamente que não abre mão de territórios, algo que a Ucrânia não aceita.

O contrato do metal precioso para fevereiro fechou estável na Comex, cotado a US$ 4.243,00 por onça-troy. Na semana, o desempenho é negativo em 0,27%.

Resumo semanal: 01/12 a 05/12

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Estados Unidos

A semana nos Estados Unidos foi marcada por sinais mistos na economia e por crescente tensão geopolítica envolvendo a Venezuela. No front interno, dados da EIA mostraram alta de 5,2 milhões de barris nos estoques comerciais de petróleo bruto, apesar de refinarias operando a 94,1% da capacidade e forte processamento de gasolina, com destaque para a queda nas importações para 6 milhões de bpd. O mercado de trabalho apresentou enfraquecimento, com o setor privado perdendo 32 mil vagas em novembro segundo a ADP, puxado por cortes em pequenas empresas e pela maior queda desde março de 2023, enquanto pedidos iniciais de seguro-desemprego caíram para 191 mil, sinalizando resiliência parcial. O núcleo do PCE registrou alta mensal de 0,2% e anual de 2,8% em setembro, alinhado às projeções, mas os gastos do consumidor mostraram moderação. Na indústria, o PMI manufatureiro do ISM caiu para 48,2, somando nove meses de contração, em contraste com o PMI da S&P Global, que ainda indica expansão moderada sustentada por aumento de produção, embora com demanda em desaceleração.

A política monetária deve ser influenciada pela combinação de inflação controlada, mas acima da meta, e desaquecimento no emprego, com mercados precificando alta probabilidade de mais um corte de 0,25 p.p. pelo Federal Reserve na reunião de dezembro, embora haja divisões internas sobre o ritmo do afrouxamento. No campo externo, a crise com a Venezuela escalou rapidamente: Washington fechou o espaço aéreo do país, classificou formalmente o “Cartel del los Soles” como organização terrorista e mobilizou ativos militares significativos, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford e 15 mil soldados no Caribe. As ações incluíram bombardeios a embarcações comerciais, criticados na ONU como possíveis execuções extrajudiciais. Embora Trump tenha revelado contato cordial prévio com Maduro, analistas divergem se isso indica abertura para negociação ou apenas manobra estratégica. O cenário geopolítico permanece tenso, com risco real de intervenção direta, consolidando múltiplas frentes de pressão econômica e militar nos EUA, fatores que podem influenciar mercados e decisões de política energética e externa no curto prazo.

Brasil

A economia brasileira encerrou o terceiro trimestre de 2025 com sinais de desaceleração. O PIB cresceu apenas 0,1% frente ao trimestre anterior e 1,8% na comparação anual, com serviços e consumo das famílias praticamente estáveis em meio à taxa Selic de 15% e condições de crédito restritivas. A indústria seguiu em perda de fôlego: em outubro, avançou 0,1% sobre setembro e recuou 0,5% no comparativo anual, com resultados heterogêneos entre setores. Indústrias extrativas (+3,6%), veículos (+2%) e alimentos (+0,9%) evitaram queda mais acentuada, mas bens intermediários caíram 0,8% pelo segundo mês consecutivo. No comércio exterior, novembro registrou superávit de US$ 5,84 bilhões, impulsionado por altas expressivas nas exportações de soja (+60%), carne bovina e petróleo para a China, que ampliou compras em 41%. Em contrapartida, as vendas para os EUA despencaram 28% no mês, enquanto importações vindas do mercado americano cresceram 24,5%.

As projeções para a indústria indicam crescimento modesto de até 1% em 2025, refletindo a sensibilidade do setor ao aperto monetário e à pressão do “tarifaço” americano sobre produtos manufaturados. A dinâmica do PIB sugere estabilidade até o fim do ano, com eventual suporte de estímulos fiscais e transferências às famílias, mas mantendo riscos de crescimento limitado em 2026. No campo político, o cenário interno se vê tensionado pela iniciativa do ministro Gilmar Mendes de restringir o alcance da Lei de Impeachment sobre magistrados do STF, provocando reação do Senado e reacendendo disputas entre Legislativo e Judiciário, com possibilidade de impacto em pautas prioritárias de segurança pública. A agenda externa ganhou novo capítulo com a ligação entre os presidentes Lula e Donald Trump, que discutiram tarifas comerciais, combate ao crime organizado e sanções a autoridades brasileiras. Lula celebrou a retirada de tarifas sobre alguns produtos, mas pediu ampliação da desoneração, sinalizando que as relações bilaterais seguirão sendo condicionadas por negociações econômicas e questões institucionais.

Europa

O cenário europeu foi marcado por forte convergência entre tensões políticas, sanções e debates econômicos. Na República Tcheca, Andrej Babis, líder do partido populista ANO, foi confirmado como próximo primeiro-ministro após transferir seu conglomerado Agrofert para um fundo fiduciário independente, viabilizando uma coalizão com partidos de extrema-direita e postura crítica à UE. Em Bruxelas, a Comissão Europeia propôs reforço da integração dos mercados de capitais com ampliação de poderes da ESMA e supervisão centralizada de criptoativos, visando maior competitividade frente a EUA e China. No Reino Unido, novas sanções foram impostas contra a Rússia, incluindo a totalidade da GRU, após a conclusão de inquérito ligando Moscou a ataques com agente nervoso. Paralelamente, Moscou reagiu à proposta da UE de usar ativos russos congelados para financiar a Ucrânia, ameaçando retaliações, enquanto prosseguiam negociações indiretas com Washington em busca de uma solução para o conflito ucraniano. O debate interno europeu manteve-se acirrado quanto à estratégia militar e às condições de paz.

No campo econômico, a zona do euro registrou alta revisada de 0,3% no PIB do 3º trimestre de 2025, impulsionada por expansão no investimento e comércio, com Alemanha estável, França crescendo 0,5% e Espanha liderando o avanço entre as principais economias. A inflação anual subiu marginalmente para 2,2% em novembro, consolidando a expectativa de manutenção das taxas pelo BCE no curto prazo, diante de núcleo ainda elevado em serviços. A França enfrenta alerta do Tribunal de Contas sobre pressões fiscais de longo prazo devido ao envelhecimento populacional, podendo elevar os gastos públicos além de 60% do PIB nas próximas décadas. A Ucrânia, por sua vez, tenta reestruturar US$ 3,2 bilhões em warrants do PIB para aliviar pressões da dívida, enquanto disputa apoio europeu e americano sobre os termos de paz. No campo geopolítico, as ameaças de Moscou de cortar o acesso marítimo da Ucrânia e usar seus avanços militares como barganha nas negociações revelam que o ambiente permanece altamente volátil. A combinação de desafios fiscais estruturais, ajustes monetários graduais e riscos geopolíticos prolongados mantém elevada a incerteza para a economia europeia no horizonte de curto e médio prazo.

Ásia

Os eventos recentes na Ásia foram marcados por um aumento das tensões geopolíticas e atividades militares, sobretudo envolvendo China, Taiwan e Japão. Pequim reagiu de forma contundente à nova legislação americana sobre relações oficiais com Taipé, sancionada por Donald Trump, que prevê revisões periódicas nos protocolos de interação bilateral. Em paralelo, a China intensificou sua presença marítima, mobilizando mais de 100 embarcações em áreas estratégicas do Leste Asiático, prática vista como demonstração de força e resposta a declarações japonesas sobre Taiwan e anúncios de gastos militares adicionais por Taipé. No Japão, o índice Nikkei recuou 1,3% após dados fracos de gastos das famílias e expectativas de aumento da taxa de juros pelo Banco Central, enquanto os rendimentos dos títulos públicos atingiram os maiores patamares desde 2007. Já na Coreia do Sul, os preços ao consumidor avançaram 2,4% em novembro, pressionados por alimentos e serviços, mantendo-se acima da meta de inflação pelo terceiro mês consecutivo. Hong Kong, por sua vez, enfrentou um cenário político sensível com eleições legislativas restritas a candidatos pró-Pequim, realizadas em meio à recuperação da pior tragédia em décadas, enquanto suas vendas no varejo registraram alta anual de 6,9% em outubro.

A escalada das iniciativas militares da China, aliada ao fortalecimento dos laços militares entre Estados Unidos e Taiwan, tende a acentuar instabilidades no Leste Asiático, aumentando riscos para a segurança regional e influenciando alianças estratégicas. A mobilização naval chinesa e os movimentos de Taiwan e Japão configuram um ambiente de alerta, com possíveis impactos sobre cadeias logísticas e fluxos comerciais marítimos. No campo econômico, a pressão inflacionária na Coreia do Sul pode adiar cortes de juros e manter o Banco Central em posição cautelosa, enquanto no Japão, os custos financeiros mais altos desafiam o consumo doméstico e podem afetar a valorização do iene. Hong Kong enfrenta tensão institucional, com baixa expectativa de comparecimento eleitoral e críticas quanto à legitimidade do processo, embora o varejo siga positivo sustentado por turismo e bens de alto valor. No setor estratégico, um avanço significativo foi a aprovação dos EUA ao programa de submarinos nucleares da Coreia do Sul, com perspectiva de alterar o equilíbrio de forças na região, reforçar capacidades defensivas contra Pyongyang e potencialmente estimular uma corrida armamentista submarina envolvendo Japão e China. Esses movimentos, somados ao afrouxamento nas licenças de exportação de terras raras pela China, indicam um alinhamento entre dinâmicas geopolíticas e impactos diretos sobre mercados asiáticos e cadeias industriais globais.

Oriente Médio

A semana no Oriente Médio foi marcada por avanços diplomáticos pontuais e tensões persistentes. No âmbito regional, Paquistão e Afeganistão realizaram nova rodada de negociações mediadas na Arábia Saudita, mantendo o frágil cessar-fogo firmado em Doha, embora sem um acordo definitivo para encerrar conflitos fronteiriços agravados desde outubro. No Levante, Israel e Líbano ampliaram o escopo de discussões do comitê militar de cessar-fogo para incluir representantes civis, em linha com exigências dos EUA e com sinalizações iniciais para cooperação econômica, apesar de acusações mútuas sobre violações por parte do Hezbollah e das forças israelenses. Em Israel, o debate sobre o orçamento de 2026 mobilizou disputas internas e incluiu previsão de gastos de 760,6 bilhões de shekels, com 90 bilhões destinados à defesa, enquanto paralelamente avançou projeto de lei para revisão da concessão de exploração de minerais do Mar Morto, visando aumentar a participação estatal e proteger o ecossistema.

Nas frentes econômicas, a Arábia Saudita aprovou orçamento para 2026 projetando déficit menor, na ordem de 3,3% do PIB, e reposicionando seu fundo soberano em setores estratégicos como logística, mineração e inteligência artificial, alinhado à nova fase do plano Visão 2030. No setor energético, a OPEP+ decidiu implementar avaliações anuais de capacidade produtiva para alinhar cotas a volumes reais, reforçando a credibilidade dos acordos diante de disparidades crescentes entre metas e produção efetiva. O Cazaquistão, impactado por redução na capacidade de sua principal rota de exportação devido a ataque de drone, ampliou embarques via oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, embora com limitações logísticas. No campo geopolítico, as tratativas entre Israel e Líbano permanecem condicionadas ao desarmamento do Hezbollah e à retirada de tropas israelenses, enquanto o Líbano mantém abertura para presença internacional na verificação de compromissos. Apesar de alguns gestos diplomáticos, a região segue sob pressão de agendas militares, interesses energéticos estratégicos e reformas fiscais de médio prazo.

Giro das 15h: Cenário eleitoral para 2026 derruba o Ibovespa e faz dólar disparar

O mercado doméstico deu um cavalo de pau no início da tarde com a notícia de que Jair Bolsonaro teria decidido que seu filho Flávio será seu candidato ao Palácio do Planalto em 2026, enterrando as expectativas dos investidores, de que Tarcísio de Freitas pudesse concorrer à Presidência, em vez de tentar a reeleição ao governo paulista.

Depois de renovar máxima histórica aos 165.035,97 pontos (+0,35%), o Ibovespa mergulhou pouco antes das 13h e agora marca 159.678 pontos (-2,91%), com giro elevado (projetando mais de R$ 37 bilhões no fechamento).

O dólar à vista também sobe forte (+2,10%, a R$ 5,4221) e os juros futuros avançam mais de 30 pb (Jan/27 a 13,705%; Jan/29 a 12,995%; Jan/33 a 13,370%).

Lá fora, o PCE dentro do esperado (núcleo +0,2% em setembro) reforça as apostas de corte de juros pelo Fed na semana que vem e mantém NY em alta (Dow Jones +0,39%; S&P500 +0,31%; Nasdaq +0,29%).