Resumo semanal: 15/12 a 19/12

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Estados Unidos

O cenário político e de segurança externa se deteriorou com a escalada das tensões entre Washington e Caracas. Cinco aeronaves militares norte-americanas, incluindo modelos EA-18G Growler e F/A-18E Super Hornet, sobrevoaram o Mar do Caribe a poucos quilômetros da costa venezuelana, enquanto o presidente Donald Trump declarou não descartar uma ação militar contra o país e reforçou o bloqueio a petroleiros sancionados. O discurso ocorre após apreensão de embarcação venezuelana e deslocamento de ativos navais e tropas para a região. Internamente, indicadores econômicos apontam desaceleração: em novembro foram criadas 64 mil vagas, concentradas em saúde e construção, com taxa de desemprego subindo a 4,6% e salários avançando apenas 0,1% no mês, sinalizando menor dinamismo no mercado de trabalho. O PMI composto caiu para 53 pontos em dezembro, menor nível em seis meses, refletindo perda de fôlego tanto nos serviços quanto na indústria.

A inflação ao consumidor avançou 2,7% em novembro, abaixo da expectativa de 3,1%, influenciada por efeitos técnicos decorrentes da paralisação do governo e descontos sazonais, mas com núcleo em 2,6% e tendência de aceleração no curto prazo. Economistas apontam que o impacto das tarifas de importação ampliadas pelo governo já foi parcialmente repassado aos preços e deve alcançar até 70% até março de 2026, mantendo pressão inflacionária. Embora a S&P Global estime crescimento anualizado de 2,5% do PIB no quarto trimestre, o ritmo arrefeceu nos últimos meses, com enfraquecimento das novas encomendas e confiança empresarial mais baixa. O conjunto de dados reforça a leitura de um ciclo de expansão menos vigoroso, com atividade sob risco de desaceleração adicional no início de 2026, em meio a incertezas políticas, tensões geopolíticas e persistentes desafios de custo para consumidores e empresas.

Brasil

A inflação medida pelo IGP-10 encerrou dezembro com alta de 0,04%, desacelerando frente ao mês anterior e acumulando deflação de 0,76% em 12 meses, após avanço de 6,61% em 2024. O resultado foi influenciado pela queda do IPA-10 (-2,87% no ano), refletindo recuo nos preços agropecuários e industriais, enquanto o IPC-10 registrou alta anual de 4,01%, com habitação assumindo protagonismo devido à volatilidade das tarifas de energia elétrica. No lado da atividade, o IBC-Br mostrou retração de 0,2% em outubro, segundo mês consecutivo de queda, com indústria (-0,7%) e serviços (-0,2%) recuando, apesar do varejo surpreender com alta de 0,5% e a agropecuária avançar 3,1%. O Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano e reiterou na ata do Copom que não há espaço para flexibilização no curto prazo, sinalizando política monetária restritiva prolongada para ancorar expectativas e convergir a inflação à meta.

No setor externo, as transações correntes registraram déficit de US$ 4,94 bilhões em novembro, equivalente a 3,47% do PIB em 12 meses, compensado por forte ingresso de investimento direto — US$ 9,82 bilhões no mês. Apesar disso, o fluxo estrangeiro para ações e fundos de investimento manteve saldo negativo, respectivamente de US$ 670 milhões e US$ 290 milhões, enquanto títulos de renda fixa tiveram saída líquida de US$ 1,76 bilhão. No acumulado do ano, apenas o mercado de renda fixa se mantém positivo (+US$ 14,95 bilhões), sustentando parte do fluxo externo. No campo legislativo, o Senado aprovou projeto que altera a execução penal para condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, vedando cumulação de penas e definindo novos critérios de progressão de regime, com regras mais duras para crimes hediondos e liderança de organizações criminosas. O projeto segue para sanção presidencial e poderá impactar julgamentos em curso no STF.

Europa

A Alemanha lançou o Deutschlandfonds, pacote de € 30 bilhões para estimular investimentos privados em transição energética, tecnologia e modernização industrial, com meta de mobilizar € 130 bilhões adicionais. O fundo será operado pelo KfW com garantias e financiamentos direcionados a descarbonização, infraestrutura renovável e startups, enquanto por outro lado, indicadores como o índice Ifo e o PMI apontam estagnação econômica e queda de confiança empresarial. No Reino Unido, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa básica para 3,75% após inflação cair para 3,2%, menor nível desde março, embora desemprego tenha atingido 5,1%, o mais alto desde 2021. Em paralelo, líderes da UE ainda negociam apoio financeiro à Ucrânia via empréstimo de reparações com ativos russos congelados, com decisão prevista para início de 2026. Na França, o orçamento de 2026 segue em disputa no parlamento, prevendo déficit acima de 5%. As negociações comerciais também avançam com pressão sobre a Itália para aprovar o acordo UE–Mercosul.

No leste europeu, confrontos na guerra da Ucrânia continuam intensos, com Kiev afirmando controlar 90% de Kupiansk e Moscou negando avanços ucranianos. Líderes europeus condicionaram qualquer concessão territorial à implementação de garantias de segurança, incluindo força multinacional liderada pela Europa e capacidade militar ucraniana de 800 mil soldados. A Polônia decidiu retomar a produção de milhões de minas antipessoais para fortificar fronteiras com Belarus e Kaliningrado, medida que poderá prover excedente à Ucrânia e aliados da OTAN. A economia europeia enfrenta fragilidade, com queda na produção industrial alemã e desaceleração dos serviços, além de mercado de trabalho britânico enfraquecido. O contexto geopolítico e econômico mantém projeções de baixo crescimento para 2026, enquanto o bloco busca consolidar acordos estratégicos e preservar coesão diante de desafios externos e internos.

Ásia

A China oficializou a transformação de Hainan em porto de livre comércio, buscando atrair investimentos estrangeiros e alinhar-se aos padrões do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP). O plano prevê permitir entrada de produtos com ao menos 30% de valor agregado local sem tarifas, ampliando a abertura para setores de serviços restritos no continente. O movimento ocorre em meio à queda de 10,4% do investimento estrangeiro direto nos três primeiros trimestres de 2025 e visa diversificar a economia de US$ 19 trilhões, atualmente dependente de estímulos. Paralelamente, Taiwan revisou sua projeção de crescimento de 2025 para 7,31% ante 4,55% anteriores, impulsionada por exportações de semicondutores e superávit comercial de US$ 143,8 bilhões com os EUA. Na Coreia do Sul, o Banco Central alertou que a inflação pode superar previsões se o câmbio won/dólar se mantiver próximo a 1.470, acima da meta de 2% desde setembro. Em Cingapura, exportações não petrolíferas subiram 11,6% em novembro, superando expectativas, enquanto Hong Kong manteve desemprego em 3,8%.

A Tailândia enfrenta forte apreciação do baht (+9,1%), impulsionada por fluxos de comércio de ouro, levando o Banco Central a sinalizar possível flexibilização adicional da política monetária após cortes acumulados de 125 pontos-base desde outubro de 2024; o PIB previsto para 2025 é de 1,5%. O cenário político local é instável com eleições em fevereiro e queda de apoio ao Pheu Thai, enquanto o Camboja permanece em disputa fronteiriça. Em Myanmar, a junta militar ganha terreno com novas táticas, aumento de efetivo para cerca de 134 mil soldados e uso intensivo de drones, fortalecida por apoio diplomático e militar da China. A tensão regional cresce com Taiwan reforçando capacidade de resposta a ataques súbitos, diante da intensificação das manobras chinesas próximas à ilha. Já no Japão, o Banco Central elevou a taxa de juros para 0,75%, maior patamar desde 1995, apontando melhora econômica e salarial. Na frente diplomática, Pequim exige retratação do Japão por declarações de Sanae Takaichi sobre Taiwan, aprofundando a deterioração nas relações bilaterais.

Oriente Médio

As tensões regionais permaneceram elevadas, com negociações críticas e conflitos latentes. Na Síria, persistem impasses para integrar as Forças Democráticas Sírias, de maioria curda, às forças estatais antes do prazo de fim de ano, em um contexto de pressão turca e mediação norte-americana. No Líbano, França, EUA e Arábia Saudita avançaram na elaboração de um roteiro para desarmar o Hezbollah e fortalecer o cessar-fogo com Israel, ameaçado por ataques aéreos e acusações mútuas. No Golfo, o Kuwait fechou contrato de US$ 3,97 bilhões com a chinesa CCCC para a primeira fase do Porto Mubarak Al-Kabeer, estratégico para a Iniciativa Cinturão e Rota. O Catar lançou a Qai, aposta bilionária em IA ancorada em energia de baixo custo, tentando competir com Arábia Saudita e Emirados. Israel, por sua vez, aprovou acordo recorde de US$ 34,67 bilhões para exportar gás ao Egito até 2040, visando estabilizar a região.

O cenário de segurança continua frágil, com o cessar-fogo entre Israel e Hamas sustentando-se, mas sem avanços nas fases decisivas do plano de 20 pontos de Trump, como o desarmamento do Hamas e a formação de órgão de transição em Gaza. Washington pressiona o Paquistão a contribuir com tropas para possível força de estabilização, o que pode gerar repercussão interna negativa. No Iêmen, o avanço do Conselho de Transição do Sul sobre áreas petrolíferas estratégicas elevou o risco de confronto indireto entre Arábia Saudita e Emirados, com a ONU alertando para impactos no Mar Vermelho e no comércio global. A China busca concluir acordo de livre comércio com o Conselho de Cooperação do Golfo, reforçando laços com Riad. No front econômico, a Arábia Saudita registrou queda da inflação anual para 1,9%. Já na Turquia, o Banco Mundial mobiliza € 1,5 bilhão para ampliar crédito a pequenas e médias empresas, especialmente de mulheres e jovens.

Giro das 15h: Bolsas seguem em recuperação aqui e em NY

O Ibovespa segue em recuperação nesta sexta-feira (+0,55%, aos 158.785 pontos) e tenta zerar as perdas acumuladas no mês (-0,18%), com investidores deixando o trade eleitoral em segundo plano e buscando papéis que foram mais descontados nos últimos dias, como os grandes bancos (Itaú PN +1,46%; Bradesco PN +1,47%).

O dólar à vista virou e passou a subir nos últimos minutos (+0,11%, a R$ 5,5300), possivelmente impulsionado pela demanda de remessas de fim de ano. Mais cedo, o BC fez um leilão de linha de até US$ 2 bi para rolagem de operações similares anteriores.

Os juros futuros também devolvem prêmios recentes (DI Jan/27 a 13,770%; Jan/29 a 13,245%).

Lá fora, a sessão nas bolsas em NY também é de recuperação (Dow Jones +0,60%; S&P500 +0,92%; Nasdaq +1,25%), especialmente entre as techs (Oracle +7,8%; Nvidia +3,8%). (Téo Takar)

++ Trump/Truth Social: Única razão pela qual nos

++ Trump/Truth Social: Única razão pela qual nossa taxa de desemprego subiu para 4,5% é porque estamos reduzindo o quadro de funcionários do governo em nºs nunca vistos

++ 100% dos nossos novos empregos são no setor privado

++ “Eu poderia reduzir o desemprego para 2% da noite para o dia, simplesmente contratando pessoas para o governo federal, mesmo que esses empregos não sejam necessários”