Semana começa com nova fala de Galípolo

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[26/08/24]

… O BC da China manteve os juros de médio prazo (MLF) de 1 ano em 2,3%, voltando a decepcionar com a falta de novos estímulos econômicos. Nos EUA, ainda reverbera o discurso dovish de Powell em Jackson Hole, que abriu a possibilidade de um corte de 50pbs do juro em setembro, mas isso dependerá do payroll de agosto, que só sai no dia 6/9. Até lá, a agenda em NY será movimentada pelo balanço da Nvidia (4ªF à noite), segunda leitura do PIB/2Tri (5ªF) e PCE de julho (6ªF). Aqui, o IPCA-15 de agosto (5ªF) e dados do emprego e fiscais podem influenciar as apostas de retomada de alta da Selic no próximo Copom, que tomaram os mercados no embalo dos sucessivos recados de Galípolo. Hoje, ele volta a falar em evento do Tribunal de Contas de Teresina (10h).

… É a chance que terá o provável sucessor de Campos Neto de mudar o assunto ou, pelo menos, de colocar na mesa outras opções para o BC, que não seja subir a Selic, inclusive, considerando as perspectivas mais favoráveis para o juro americano.

… Powell afundou o dólar contra as moedas pares e emergentes, na 6ªF. Contra o real, a moeda furou a marca de R$ 5,50, tirando pressão inflacionária do câmbio, enquanto a curva de juros na B3 refletia o derretimento dos yields dos Treasuries.

… Ainda assim, naquele mesmo dia, economistas reunidos com diretores do BC defendiam que será necessário elevar a Selic entre 0,75pp e 1,25pp nos próximos meses para preservar a credibilidade e ancorar as expectativas de inflação.

… Hoje, a pesquisa Focus (8h25) pode fazer a diferença se trouxer novo recuo das estimativas para o IPCA de 2025, que têm desacelerado há duas semanas e estão em 3,91%. Mesmo ainda acima da meta, a continuidade da queda pode sugerir uma inflexão na tendência.

… Galípolo não gostou de comentários do mercado dizendo que ele havia colocado o Copom “em corner” e que, agora, a Selic vai ter que subir. Mas é isso mesmo. O mercado reagiu à comunicação que recebeu daquele que deve comandar o novo BC.

… Foi importante Galípolo ter se desdobrado para provar seu rigor técnico, mas a coisa tomou outro rumo e pede cautela.

… Campos Neto e Diogo Guillen já mostraram desconforto com as apostas exageradas do mercado. Falta Galípolo ajustar seu discurso. Na prática, a curva do DI ainda não limpou a perspectiva de elevação da Selic em setembro. A dúvida permanece no radar.

… Amanhã (3ªF), o IPCA-15 de agosto tem desaceleração prevista para preços de alimentos, energia elétrica e passagens aéreas. Deve aliviar o resultado da prévia da inflação oficial para 0,19% em agosto (mediana do Broadcast), contra 0,30% em julho.

… O anúncio oficial de Gabriel Galípolo para o Banco Central pode ser revelado ainda nesta semana.

… A equipe econômica negocia com Pacheco a sabatina do nome que vai suceder a Campos Neto na primeira semana de setembro, antes do próximo Copom (dias 17 e 18), para aproveitar o esforço concentrado no Senado.

… Segundo a imprensa, Pacheco sinalizou que irá colaborar com o calendário desejado pelo governo para aprovar o indicado e também os novos diretores do BC antes das eleições e da reunião de política monetária.

… Neste domingo, o colunista Lauro Jardim (O Globo) informou que o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, é o nome mais cotado para assumir a vaga de Galípolo na diretoria de Política Monetária do BC.

… Corre ainda por fora para o cargo estratégico o nome do chefe da tesouraria do Bradesco, Roberto Paris.

MAIS AGENDA – Além do IPCA-15, o IGP-M de agosto (5ªF) e dados de emprego, com o Caged de julho (na mesma 5ªF) e a Pnad Contínua (6ªF), também são importantes para projetar a urgência da retomada do ciclo de aperto monetário pelo Copom.

… O mercado estará de olho ainda nas contas do Governo Central (5ªF) e no resultado consolidado do setor público (6ªF).

… O câmbio confere hoje (8h30) as transações em c/c em julho, que podem mostrar déficit de US$ 4,350 bilhões (mediana do Broadcast), após o saldo negativo de US$ 4,029 bilhões em junho. As estimativas são todas deficitárias: variam de US$ 5,8 bilhões a US$ 3 bilhões.

… Para o Investimento Direto no País (IDP), a mediana indica entrada líquida de US$ 6,0 bilhões em julho, pouco abaixo do saldo positivo de US$ 6,269 bilhões em junho. As expectativas vão de US$ 4,700 bilhões a US$ 10,200 bilhões.

… O mercado cambial será ainda influenciado esta semana pela disputa em torno da formação da ptax (6ªF).

ORÇAMENTO EM BRASÍLIA – O governo encaminha até 6ªF ao Congresso o Projeto de Lei Orçamentário Anual (PLOA) de 2025. O projeto trará revisão de gastos que vão garantir a economia de R$ 25,9 bilhões, segundo Haddad.

… Junto ao projeto, serão encaminhadas as propostas prevendo o aumento das alíquotas da CSLL e JCP, como garantia caso as propostas aprovadas pelo Senado não sejam suficientes para compensar a desoneração.

… Poucos dias antes do envio do Orçamento, o TCU alertou para riscos ao déficit zero no ano que vem.

… Segundo os auditores, existe a possibilidade de frustrações de receitas e aumento das despesas obrigatórias.

… O TCU considera “otimistas” as estimativas para a receita primária líquida, que estariam de R$ 35,6 bilhões a R$ 50,7 bilhões acima das projeções feitas com base em dados do mercado, sinalizando decepção com as receitas.

… A equipe técnica do TCU também observa que a projeção do governo federal de aumento das despesas primárias totais ultrapassa o limite de crescimento real de 2,5% ao ano permitido pelo novo arcabouço fiscal.

HADDAD – Viaja na noite de 4ªF para a África do Sul, onde participa de evento do banco dos Brics.

LULA – Presidente se reúne hoje com líderes dos partidos da base aliada para conversar sobre as votações prioritárias do 2º semestre e tratar do acordo fechado entre os três Poderes para as emendas.

… Lula também acompanha hoje (9h) a reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e deverá assinar atos relacionados ao setor de energia. Alexandre Silveira (MME) fala à imprensa em seguida.

… O decreto que o governo federal prevê editar hoje com uma reformulação no setor de gás natural, com a finalidade de reduzir o preço do produto, pegou o setor de surpresa, que aponta intervenção.

… De maneira geral, o segmento entende que o governo está quebrando contratos e enterrando planos de negócios e de exploração e produção das petrolíferas. Além disso, o decreto seria uma afronta à Lei do Gás.

LÁ FORA – Antes do payroll de agosto, semana que vem, que será decisivo para o Fed de setembro, o mercado confere o PCE de julho, na próxima 6ªF, que deve afastar o risco da inflação, substituído agora pelas preocupações com o mercado de trabalho.

… Na fala curta e muito direta da última 6ªF, Powell contratou uma queda do juro na próxima reunião de política monetária (“Chegou a hora”), mas logo avisou que não iria antecipar o ritmo e o tamanho do ciclo de desaperto.

… O presidente do Fed disse que o foco do mandato duplo mudou, deixando claro agora que vê maiores riscos de perda de dinamismo do mercado de trabalho do que de reversão do processo de desinflação nos EUA.

… Na ferramenta do CME, as apostas em um corte de 25 pontos ainda estão ganhando, mas caíram (de 76,0% para 63,5%), enquanto a chance de uma redução mais agressiva, de 50 pontos, cresceu de 24,0% para 36,5%.

… Os mercados mantêm a aposta em queda de 100 pontos-base no juro americano até o fim do ano (44%), mas houve um avanço na precificação de um ciclo mais agressivo de cortes, de 125 pontos-base (de 18% para 26%).

… O recado de Powell desencadeou forte entusiasmo nos mercados globais (abaixo).

… Além do PCE (6ªF), ganha importância na agenda nos EUA a segunda leitura do PIB/2Tri (5ªF), que não pode vir muito fraca ou resgata o medo de um hard landing, e o balanço trimestral da Nvidia, na noite de 4ªF, aguardado como grande sinalizador da bolha da IA.

… Hoje, saem as encomendas de bens duráveis nos EUA (9h30), com previsão de +8,6% em julho. Na Alemanha, tem o índice Ifo de sentimento das empresas em agosto (5h). Os mercados no Reino Unido fecham para feriado.

… Na zona do euro, a leitura preliminar de agosto da inflação ao consumidor (CPI) vem na 6ªF. Durante participação no simpósio de Jackson Hole, Martins Kazaks (BCE) antecipou espaço para mais dois cortes de juros.

“THE TIME HAS COME” – Eliminada qualquer dúvida de que o pivô dovish do Fed virá em setembro, o investidor deve continuar se dedicando a adivinhar quão rápido e quão longe o BC dos EUA irá nos cortes das taxas de juro.

… Powell esclareceu em Jackson Hole que o mercado de trabalho norte-americano esfriou “consideravelmente” e que parece improvável que a mão de obra seja uma fonte de pressões inflacionárias elevadas em breve.

… Esvaziando o fantasma de recessão, observou ainda que o aumento do desemprego não foi resultado de demissões elevadas, como normalmente acontece quando uma crise econômica é deflagrada no país.

… “Em vez disso, o aumento reflete principalmente um aumento substancial na oferta de trabalhadores e uma desaceleração do ritmo frenético de contratações anteriormente”, avaliou, durante seu rápido discurso.

… Declarações de outros integrantes do Fed também reforçaram o otimismo do mercado.

… Austan Goolsbee (Fed de Chicago) disse que há um amplo acordo no Fomc de que haverá múltiplos cortes de juros em 2024 e 2025, embora ele (como Powell) tenha evitado se comprometer com o tamanho da redução.

… Patrick Harker disse que o Fed deve começar com corte de 25 pb, mas depois, o ritmo será ditado por dados.

… O mercado sextou com alegria. Em NY, teve rali nas bolsas, as taxa dos Treasuries de curto prazo rodaram abaixo de 4% e o dólar renovou a mínima do ano, com o DXY (-0,78%) de volta à linha dos 100 pontos (100,718).

… Diante do tombo da moeda americana, o euro chegou a rondar US$ 1,12 na máxima intraday e fechou perto desta marca, no melhor nível em mais de um ano (desde julho de 2023), em alta de 0,71%, cotado a US$ 1,1194.

… O Rabobank passou a prever quatro cortes consecutivos dos juros nos EUA, o que motivou uma revisão em alta da projeção para o euro em 3 meses, de US$ 1,09 para US$ 1,12, e em 6 meses, de US$ 1,09 para US$ 1,11.

… Com Powell e sinalização do presidente do BC inglês, Andrew Bailey, de que o BoE não tem pressa em cortar novamente o juro, a libra saltou 0,90%, a US$ 1,3212, para o patamar mais elevado em quase dois anos e meio.

… O iene subiu a 144,19/US$ e contou com impulso adicional do comentário do presidente do BoJ, Kazuo Ueda, de que planeja continuar elevando o juro, após comunicações recentes confundirem os próximos passos.

… Em Wall Street, o Dow Jones (+1,14%) resgatou os 41 mil pontos perdidos com o payroll de julho e fechou aos 41.175,08 pontos. O S&P 500 subiu 1,15%, a 5.634,61 pontos, e o Nasdaq avançou 1,47%, a 17,877,79 pontos.

… Incentivados pela confirmação de que o corte de juro nos EUA tem data para começar e pela esperança de que o ciclo pode começar com desaperto maior, de 50pbs, o juro da Note-2 anos caiu a 3,912%, de 4,011%.

UMA ESCOLHA MUITO DIFÍCIL? – Na sinuca de bico do Copom, nem todo o mercado acredita que a única saída é uma alta da Selic. Depois de Powell, o câmbio ajuda a confrontar a aposta de retomada no ciclo de aperto.

… A 6ªF de Jackson Hole restabeleceu o apetite pelo risco e na onda global de alívio, o dólar furou por aqui o suporte psicologicamente importante dos R$ 5,50. Se ficar abaixo disso, vai tirar uma pressão importante do BC.

… Na festa para o real, a moeda americana fechou em queda firme de 1,99%, negociada a R$ 5,4794.

… Embora Powell tenha deixado no ar quanto o juro vai cair em setembro, as taxas dos DIs queimaram prêmios junto com o derretimento do dólar. A curva a termo, no entanto, não esgotou as apostas de um Copom hawkish.

… No fechamento, o DI para Jan/25 caiu para 10,810% (contra 10,860% no pregão anterior); Jan/26, a 11,465% (de 11,621%); Jan/27, a 11,450% (de 11,629%); Jan/29, a 11,555% (de 11,703%); e Jan/31, a 11,560% (11,703%).

… Diante da queda dos juros futuros, as ações mais sensíveis ao ciclo econômico lideraram as altas do Ibovespa: Cogna disparou 7,52%, seguida por Lojas Renner (+7,32%), Eztec (+6,93%), Yduqs (+6,51%) e MRV (+5,30%).

… O Ibov terminou a sessão em alta moderada de 0,32%, aos 135.608,47 pontos, e giro de R$ 20,7 bi. O índice à vista entra na última semana de agosto caminhando para o melhor mês (+6,23%) desde novembro (+12,54%).

… Agosto ficará marcado na memória pelo rompimento das marcas inéditas acima dos 136 mil pontos pelo Ibov.

… Na 6ªF, Itaú (-0,76%, a R$ 36,46) foi exceção entre os bancos, que exibiram vigor: Santander (+1,03%; R$ 31,29), Bradesco ON (+1,21%; R$ 14,20), Bradesco PN (+0,90%; R$ 15,66) e Banco do Brasil (+0,75%; R$ 28,22).

… Não fossem as blue chips das commodities, o Ibovespa poderia ter registrado maior força. Vale (ON, -1,68%, a R$ 57,40) seguiu à risca o pessimismo do minério de ferro (-2,24%), que reflete a atividade fraca na China.

… Descolada do petróleo em alta (Brent para novembro, +2,09%, a US$ 78,15), Petrobras ON (-0,98%, a R$ 39,39) figurou entre as maiores perdas do Ibov. O papel PN da estatal registrou queda de 0,62% (R$ 36,89).

EM TEMPO… SABESP. Carlos Piani, presidente do conselho do Grupo Equatorial, será indicado para ser presidente-executivo da companhia nesta semana (fontes do Broadcast)…

… Empresa concluiu, conforme previsto no Contrato de Concessão 01/2024, a antecipação dos pagamentos aos Fundos Municipais de Saneamento Ambiental e Infraestrutura (FMSAIs), no montante total de R$ 2.590.500.000,00…

… Pagamentos foram feitos às cidades de Barueri, Botucatu, Diadema, Franca, Guarulhos, Osasco, Praia Grande, Santo André, Santos, São Bernardo e São Paulo.

BANCO DO BRASIL aprovou a distribuição de R$ 1,065 bilhão em JCP (R$ 0,1866/ação), com pagamento em 27/9; ex em 12/9.

ITAÚ concluiu a venda da totalidade das ações Classe A que possuía da XP Inc; banco permanece ainda com 8.285.060 de ações Classe B da XP, que representam 1,54% de seu capital social total.

CVC. WNT Gestora de Recursos reduziu para 3,34% sua participação acionária no capital social da empresa na 6ªF, três dias depois de ter informado que detinha fatia de 5,01%; valor atual é equivalente a 17.558.300 de ações ON.

AMERICANAS. BTG Pactual reduziu participação acionária na companhia para 3,62%, passando a deter 714.588.713 de ações ON.

GRUPO MATEUS inaugurou nova unidade de atacarejo, na cidade de Caruaru, sendo esta sua décima loja em Pernambuco.

RUMO, em conjunto com a Rumo Malha Paulista, fará o resgate antecipado facultativo total da primeira série da 3ª emissão de debêntures simples, no próximo dia 29.

LIGHT informou foi adiada para o dia 13 de setembro, às 14h (horário de Londres), a assembleia de credores (Bondholders) abrangidos pelo procedimento de scheme of arrangement; anteriormente, a assembleia estava marcada para 4 de setembro…

… Convocação foi autorizada pela Justiça do Reino Unido; empresa reiterou que o encontro ocorrerá exclusivamente de forma virtual.

SÃO MARTINHO informou que incêndios de origem desconhecida atingiram áreas de canavial da companhia…

… As causas do fogo estão sendo investigadas e os focos de incêndio foram prontamente identificados e estão sendo combatidos por equipes de brigada da empresa, sem relatos de danos materiais ou vítimas.

RAÍZEN confirmou enfrentar incêndios no estado de SP, que afetam, além de suas áreas de produção, as de fornecedores de cana e de outros grupos sucroenergéticos; origem dos incêndios ainda é desconhecida…

… Todo efetivo da brigada de incêndios da empresa está mobilizado no combate aos focos.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Powell fala às 11h em Jackson Hole

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[23/08/24]

… A fala de Jerome Powell no seminário de Jackson Hole (11h) é o único interesse dos mercados globais nesta 6ªF, quando os investidores esperam que ele não apenas confirme o início dos cortes do juro nos EUA em setembro, mas também sinalize a magnitude da primeira queda e, com alguma sorte, dê uma ideia do ciclo total. O caminho das pedras poderá ser dado pela preocupação que Powell mostrar com o mercado de trabalho. Na véspera do evento, um forte ajuste das apostas mais agressivas elevou a 75% as chances de uma redução de 25pbs. O movimento disparou os juros dos Treasuries, o dólar e derrubou as bolsas, na reprecificação reproduzida pelos ativos brasileiros. Galípolo achou que tinha ajudado na pressão, quis se explicar. Não precisava, o mercado já entendeu que ele é confiável.

… O provável substituto de RCN, que deve ser anunciado em breve, não se cansa de dizer que o Copom está pronto para subir os juros, se for necessário, fazendo questão de revelar que, para ele, o balanço de riscos é assimétrico, com mais riscos para a alta da inflação.

… Aí vai o mercado e faz o quê? Exagera, apostando em altas de 50 pontos-base da Selic em cada uma das últimas três reuniões do ano.

… Vem, então, Campos Neto e faz uma advertência contra a rápida intensificação das expectativas de aumento da taxa Selic, e vem Diogo Guillen e critica o “excesso de ênfase dado ao balanço de riscos”. Ambos tentando baixar um pouco o poeira.

… Galípolo insiste na mensagem de alta da Selic, mas não quer que o mercado tome suas avaliações sobre o balanço de riscos assimétrico como “guidance”, ao mesmo tempo em que diz estar contente com a interpretação que o mercado faz de suas palavras.

… O mercado começa a achar que eles não estão falando a mesma linguagem e parte para o vaivém das taxas na curva do DI.

… Galípolo ouve falar em posições dissonantes e faz um mea culpa, dizendo que se explicou mal na palestra na Fenabrave e queria corrigir na palestra da FGV. Não tinha a menor necessidade. Falar o mercado fala, mas isso estava bem longe de ser uma crise.

… O candidato ao comando do BC já provou que realizará uma condução técnica quando assumir em janeiro de 2025, que não terá medo de subir a Selic, que não se intimidará com Lula, que respeitará a meta de 3% e que o mercado pode acreditar.

… Mas, a cada vez que ele volta ao assunto, acaba dando margem a interpretações, porque é disso que o mercado vive, de interpretar os fatos e antecipar cenários. Galípolo está falando demais, e dando muita importância ao que pensa o mercado.

… Nesta 5ªF, por exemplo, a alta generalizada dos juros futuros na B3 refletiu a disparada dos yields americanos, que também corrigiram os exageros recentes, antes que Powell chegue e jogo um balde de água fria no mercado hoje.

… Do mesmo modo, o dólar se ajustou lá fora e aqui, em um pregão de expectativas que não autoriza tendências até as 11h.

DESONERAÇÃO – Haddad chamou a imprensa ontem à tarde para informar que projetos de lei prevendo aumento das alíquotas da CSLL e da tributação sobre JCP serão encaminhados junto ao Orçamento, semana que vem.

… De acordo com o ministro da Fazenda, as medidas servirão como uma espécie de garantia caso as propostas aprovadas pelo Senado não sejam suficientes para compensar a desoneração da folha no ano que vem.

… Faltando uma semana para o envio pelo Executivo ao Congresso da peça orçamentária de 2025, os auditores do TCU alertaram que as projeções do governo para o resultado primário em 2025 apresentam um “duplo risco”.

… Segundo eles, existe a possibilidade de frustrações de receitas e aumento das despesas obrigatórias.

… O TCU considera “otimistas” as estimativas para a receita primária líquida, que estariam de R$ 35,6 bilhões a R$ 50,7 bilhões acima das projeções feitas com base em dados do mercado, sinalizando decepção com as receitas.

… A equipe técnica do TCU também observa que a projeção do governo federal de aumento das despesas primárias totais ultrapassa o limite de crescimento real de 2,5% ao ano permitido pelo novo arcabouço fiscal.

ESTOUROU – Reportagem no Valor apurou que a alíquota média do IVA pode ficar em 28%, acima do limite de 26,5% definido pelo grupo de trabalho da reforma tributária.

… O estouro é consequência das várias concessões a setores beneficiados por isenções e regimes especiais.

… A Fazenda tentará ajustar a alíquota na tramitação da PEC no Senado, definindo compensações a benefícios concedidos. Se a alíquota de 28% se confirmar, o Brasil terá o maior imposto sobre o consumo do mundo.

MAIS AGENDA – Aqui, só sai a prévia do IPC-S (8h). Nos EUA, as vendas de casas novas (11h) têm previsão de +2,1% em julho. Às 14h, saem os dados de petróleo da Baker Hughes. O BoE solta às 12h a fala de Bailey em Jackson Hole.

DEU RUIM – O flerte do dólar com R$ 5,60 e a escalada dos juros futuros responderam ao esfriamento das apostas em um corte de juro mais agressivo pelo Fed e ao “bate-cabeça” em relação aos recados que Galípolo tem passado.

… Logo cedo, a moeda americana rompeu um nível importante (R$ 5,55), seguindo o ajuste lá fora, e a partir daí foi só ladeira acima, com o investidor procurando abrigo em meio à interpretação de discursos sem coesão no BC.

… Ao Broadcast, Nicolas Borsoi (Nova Futura) disse que as declarações recentes de Campos Neto e dos diretores do BC não combinam com a percepção anterior de que o Copom estava unido na avaliação sobre a condução do juro.

… “O Comitê parece agora não ter uma mensagem harmônica. Essa mudança é ruim e adiciona mais volatilidade.”

… No mercado à vista, o dólar fechou com alta de 1,98%, em R$ 5,5904, bem próximo da máxima intraday de R$ 5,5955. A mínima foi de R$ 5,4813.

… O cenário de incerteza do BC e do Fed apareceu também na curva dos DIs, achatada, com as taxas dos vencimentos mais curtos próximas aos longos. Ontem, a diferença entre o Jan26 e o Jan33 era de apenas 0,06pp.

… O DI para Jan/25 subiu para 10,845% (de 10,75% no pregão anterior); o Jan/26 avançou a 11,590% (de 11,45%); o Jan/27 foi a 11,590% (de 11,415%); o Jan/29 pagou 11,665% (de 11,485%); e Jan/31, 11,670% (de 11,520%).

… A Quantitas revisou para cima o call da Selic, de manutenção para alta de 0,25pp em setembro, e projeta agora  ciclo total de aperto de 1,5pp, com duas doses de meio ponto depois da próxima reunião e mais 0,25pp em janeiro.

… A casa cita o desconforto dos diretores do BC com a desancoragem das expectativas de inflação. Mas outras instituições financeiras ainda estão confiantes de que o Copom vai resistir a tirar o juro de onde está (10,50%).

… O Barclays reconhece que há chance de aperto de 1,50pp à frente, mas ainda mantém a aposta em Selic estável, mesmo antecipando uma economia mais aquecida e tendo subido a projeção para o PIB do ano de 2,2% para 2,7%.

… Do mesmo modo, o Banco Inter confia em manutenção da taxa de juro até o primeiro semestre do ano que vem, embora ressalve que o risco é de alta, diante das revisões nas estimativas de inflação e de crescimento econômico.

… O banco elevou a projeção de IPCA de 4,2% para 4,4% e a do PIB de 2,1% para 2,5%.

… Para o Bradesco, a Selic está restritiva o suficiente para garantir a convergência do IPCA à meta. O banco diz que estimativas próprias apontam uma meta implícita na atual condução da política monetária muito próxima de 3,0%.

TRÊS É DEMAIS – A reprecificação para o Fed, antes de Jackson Hole, facilitou o ajuste em baixa do Ibovespa, que entrou em bom ponto de venda, depois da sequência de três pregões nas máximas históricas de fechamento.

… Deixando na promessa a conquista dos 137 mil pontos, o índice à vista fechou em baixa de 0,95%, aos 135.173,39 pontos, com giro de 22 bi. Mas não quer dizer que a bolsa vá estacionar. Pode ter sido só uma parada estratégica.

… Entusiasmado com a força do crescimento econômico doméstico neste ano, o JPMorgan elevou a projeção para o Ibovespa de 135 mil para 143 mil pontos no fim do ano. A XP Investimentos não duvida de até mais: 147 mil pontos.

… Mas mantém um posicionamento ainda cauteloso, diante da volatilidade e riscos fiscais e políticos do País.  

… Ontem, as apostas no gradualismo do Fed e a percepção de sinais trocados dentro do Copom abriram uma onda de correção no Ibov, que poupou só 13 papéis, entre eles, as duas maiores blue chips de commodities (Vale e Petro).

… Já os bancos realizaram em bloco parte das altas recentes. BB puxou a fila do setor: -2,44% (R$ 28,01). Itaú caiu 0,92% (R$ 36,74); Bradesco PN, -0,70% (R$ 15,52); Bradesco ON, -0,07% (R$ 14,03); e Santander, -0,32% (R$ 30,97).

… CVC (-6,52%) apagou metade dos ganhos conquistados no dia anterior, após a gestora WNT ter elevado sua fatia.

… A alta do DI cobrou seu preço de papéis mais sensíveis ao ciclo econômico. MRV (-5,28%), Magazine Luiza (-4,84%), Eztec (-4,68%), Yduqs (-4,63%) e Cogna (-4,32%) figuraram entre as maiores perdas do Ibovespa.

… Vale resistiu à queda de 1,14% do minério de ferro e virou para leve alta na reta final: ON, +0,14%, a R$ 58,38. O papel, porém, ainda acumula queda de 18,50% este ano, abalado pelo cenário de fragilidade econômica da China.

… Com tombo de 3,46%, Usiminas PNA continuou refletindo os receios com o ritmo de consumo de commodities pelos chineses. CSN perdeu 1,62%; Metalúrgica Gerdau PN caiu 1,41%; CSN Mineração, -1,10%; e Gerdau PN, -0,81%.

… Petrobras subiu de leve (ON, +0,10%, a R$ 39,78; e PN, +0,13%, a R$ 37,12), de olho no petróleo, que reagiu após quatro quedas seguidas. No fechamento, o Brent para outubro subiu 1,54%, a US$ 77,22 por barril, na Ice londrina.

VAI DE ESCADA – A percepção de que o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, logo mais, vai indicar que o Fed pegará a escada em vez do elevador na descida dos juros levou os investidores a ajustarem suas posições em NY.

… Mohamed El-Erian comentou que o mercado estava exagerando nas apostas de corte de 50 pb e, de fato, no fim dos negócios ontem, o CME indicava 75% de chance de -25 pb, contra 62% na véspera.

… Discursos de vários Fed boys foram na linha da cautela. Jeffrey Schmid (Kansas City) disse que quer ver mais dados antes de apoiar qualquer corte.

… Sua contraparte de Boston, Susan Collins, também precisa de mais informações e disse que “um ritmo gradual e cauteloso” de redução é mais apropriado.

… Patrick Harker (Filadélfia) defendeu um corte em setembro, mas deixou a magnitude em aberto.

… Mistos, os indicadores do dia prescreveram cuidado. O PMI composto dos EUA veio em agosto (54,1) um pouco acima do esperado (54,0) graças aos serviços, que subiram de 55,0 para 55,2, contrariando previsão de queda a 54,1.

… Mas a indústria marcou o pior nível do ano: 48, ante 49,6 em junho. A expectativa era de estabilidade.

… As vendas de moradias usadas em julho subiram 1,3% ante junho, de uma previsão de +0,8%, segundo a NAR. Foi o primeiro aumento em cinco meses.

… Os pedidos de auxílio desemprego (232 mil) na semana passada vieram um pouco abaixo do esperado (233 mil).

… Em NY, as techs – sensíveis à política monetária – lideraram as perdas, com o Nasdaq em forte baixa de 1,67%, aos 17.619,35 pontos.

… “Os investidores estavam tentando ajustar posições antes da divulgação do balanço da Nvidia, na semana que vem, e diminuir risco antes do discurso de Powell”, disse Scott Ladner (Horizon Investments), à Reuters.

… O profissional vê o presidente do Fed sinalizando um corte em setembro. “Powell será discreto quanto à magnitude do corte, mas tentará colocar o mercado na direção dos 25pbs”, disse.

… No S&P 500, o bloco de tecnologia também comandou as baixas. O índice cedeu 0,89%, a 5.570,64 pontos. O Dow caiu 0,43%, a 40.712,78 pontos.

… Esse ajuste de posições para o corte do Fed em setembro levou a note de 2 anos de volta aos 4%, em 4,011% (de 3,933% na véspera.

… O resto da curva também subiu. O juro da note de 10 anos avançou a 3,858% (de 3,801%) e o do T-bond de 30 anos foi a 4,130% (de 4,078%).

… Depois de cravar a mínima do ano na véspera, o dólar avançou sobre a maioria dos pares. O DXY subiu 0,46%, a 101,508 pontos. O iene devolveu parte dos ganhos recentes, com queda de 0,76%, a 146,252/US$.

… Apesar do PMI composto em terreno de expansão no bloco europeu (51,2), o euro caiu 0,39%, a US$ 1,1111.

… Já a libra fechou praticamente estável (-0,03%), a US$ 1,3087, porque respondeu melhor ao dado positivo do PMI composto do Reino Unido, que teve alta inesperada, para 53,4 em agosto, maior nível em 4 meses.

EM TEMPO… ITAÚ emitiu R$ 3,1 bilhões em letras financeiras subordinadas nível 2, com vencimento em 2034.

ENERGISA. Problema externo no SIN gerou interrupção no sistema que abastece Acre e Rondônia.

EVEN concluiu a venda de 9.800.000 ações de emissão da Melnick, representativas de 4,75% do capital social; valor representa a totalidade das ações até então aprovadas pelo conselho de administração da companhia…

… Empresa ainda detém 29.983.107 ações da Melnick, representativas de 14,54% do capital social; venda foi feita na bolsa de valores.

ALLOS. Guepardo Investimentos passou a deter 27.356.400 de ações ON de emissão da companhia, o equivalente a 5,04% do capital social.

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Agenda tem Galípolo e dados nos EUA

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[22/08/24]

… Dia cheio por aqui começa com os dados de arrecadação federal de julho (10h30) e, depois, o mercado tem para acompanhar a agenda do BC. Guillen participa de evento da PUC-Rio (11h), Galípolo faz palestras em congressos da Fenabrave (14h30) e FGV (17h00), e Campos Neto participa à noite (21h) do primeiro dia do Simpósio de Jackson Hole. Na véspera da fala de Powell por lá, indicadores nos EUA calibram as expectativas. Destaque para a leitura preliminar de agosto do PMI/S&P Global composto (10h45), que também será divulgado na Europa (junto com a ata do BCE), e para o auxílio-desemprego (9h30), um dia depois de a ata dovish do Fed e a revisão dos dados do payroll terem recuperado apostas de que o ciclo de queda do juro nos EUA pode começar com corte maior (50pbs).

… Esta não é ainda a expectativa majoritária no mercado, mas pode virar, dependendo do tom que Powell assumir amanhã e, particularmente, de como vier o payroll de agosto, diante da cautela explícita do Fed com o emprego.

… A ata mostrou ontem que o BC americano está satisfeito com o progresso no combate à inflação, mas que redirecionou o seu foco de preocupação para o ritmo acentuado de desaceleração do mercado de trabalho.

… O documento revelou que alguns membros do Fed chegaram até mesmo a defender um corte antecipado do juro no último encontro (em julho), indicando que dificilmente o relaxamento monetário deve passar da próxima reunião.

… Parece ser agora questão só de quanto, não de quando. Quem ainda projeta redução de 25pbs, reconhece que a eventual deterioração do emprego no relatório oficial de agosto ampliaria a chance do corte mais agressivo (50pbs).

… Também subiu a chance de o juro cair mais no ano (125pbs), embora a perspectiva de 100pbs continue ganhando.

… A fraqueza observada na revisão dos dados do payroll na base anualizada até março, que veio perto da estimativa mais pessimista (abaixo), também ajudou a manter em cena a chance de maior flexibilização monetária nos EUA.

… Mas a vantagem foi que os números, por piores que tenham vindo, não assustaram a ponto de resgatar o pânico de recessão. Para a consultoria Capital Economics, os dados ainda mostram crescimento “saudável” do emprego.

… Hoje, o auxílio-desemprego tem expectativa de alta de quatro mil pedidos, para 231 mil.

… Embora a inclinação dovish para o Fed tenha derrubado para a mínima do ano ontem o índice DXY, que mede a força do dólar, por aqui, o dólar continuou rondando R$ 5,50. Já o Ibov teve um novo recorde para chamar de seu.

… Será importante conferir a interpretação que o mercado fará hoje dos comentários de Galípolo, que pareceu mais brando na última fala, de que “não há guidance” para o Copom, embora admita que uma alta da Selic está na mesa.

CONGRESSO X STF – Depois de o Supremo ter anunciado o acordo com o governo e os congressistas para manter tudo mais ou menos como estava no pagamento das emendas, a Câmara sinalizou um recuo estratégico.

… A PEC que autoriza o Legislativo a derrubar decisões do STF voltará para a geladeira.

… Mas, segundo a Coluna do Estadão, isso não significa clima de plena harmonia. A outra PEC, que limita decisões monocráticas dos ministros do STF, continuará seu curso e o líder da oposição, Filipe Barros (PL), foi escalado relator.

… O texto foi aprovado no Senado no ano passado e estava na gaveta de Lira desde dezembro. Mas foi resgatado à pauta em tom de retaliação, após Dino suspender as emendas parlamentares impositivas e o STF assinar embaixo.

MAIS AGENDA – Diante do consenso entre os investidores de que as expectativas de receita do governo estão muito otimistas e que os gastos continuam subestimados, a Receita divulga hoje a arrecadação federal do mês de julho.

… A dinâmica positiva da atividade econômica no período e a desvalorização cambial devem impulsionar o resultado para R$ 224,850 bilhões em julho (mediana de pesquisa Broadcast), depois de R$ 208,844 bilhões em junho.

… Haddad participa à tarde (15h) de reunião do CMN e vai com Lula à solenidade de posse de ministros do STJ (17h).

LÁ FORA – A ata do BCE sai às 8h30, horas depois do PMI composto da zona do euro (5h), Alemanha (4h30) e Reino Unido (5h30). Nos EUA, vêm a atividade de julho medida pelo Fed/Chicago (9h30) e as vendas de casas usadas (11h).

JAPÃO HOJE – A leitura preliminar de agosto do PMI composto medido pelo setor privado (S&P Global) melhorou de 52,5 em julho para 53,0. O indicador acima do patamar neutro de 50 indica que a atividade continua em expansão.

… O PMI industrial abandonou a breve contração em julho (49,1) para 50,9 e o PMI/serviços subiu de 53,7 para 54,0.

NON STOP – Agora que rompeu os recordes históricos, o Ibovespa não quer mais parar a brincadeira.

… Bateu ontem, pela terceira vez consecutiva, a melhor marca de todos os tempos de fechamento, com alta de 0,28%, aos 136.463,65 pontos, após ter superado no pico intraday o nível inédito dos 137 mil pontos (137.039,54).

… Estrelas do dia, as ações das metálicas protagonizaram o otimismo na bolsa. Mas tem mais coisa aí.

… Com o corte contratado do juro pelo Fed e os preços defasados do Ibov, o capital estrangeiro tem voltado com força. “Há uma arbitragem super positiva”, resumiu ao Broadcast o CEO da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti.

… Só este mês, já entraram quase R$ 8 bilhões em k externo na B3 e, como contra o fluxo não há argumento, o Ibovespa tem enfrentado os desafios com mais facilidade, como a chance de retomada das altas da Selic.

… Até mesmo este risco de o ciclo de aperto voltar à tona tem sido visto sob lentes cor de rosa, com o mercado interpretando a abordagem mais hawkish de Galípolo como um ganho de credibilidade para o novo BC.

… Nesta 4ªF, o rali de 4,5% do minério bombou os papéis de siderurgia e mineração: Gerdau (+3,83%), CSN Mineração (+3,80%), CSN (+3,70%), Metalúrgica Gerdau (+3,70%) e Usiminas (+2,95%). Vale subiu 1,92% (R$ 58,30).

… Animaram os rumores de que a China pode anunciar medidas para reaquecer o setor imobiliário.

… No lado negativo do índice, Petrobras engatou novo dia de queda, na esteira do quarto recuo seguido do petróleo (Brent/out -1,49%; US$ 76,05), puxado pela revisão do payroll, que reduz a perspectiva de consumo nos EUA.

… O papel ON registrou recuo de 0,88% (R$ 40,73) e o PN caiu 0,60% (R$ 38,06).

… Bancos também ficaram no vermelho, depois de fortes altas nas duas sessões anteriores, sugerindo realização.

… Bradesco PN cedeu 0,45% (R$ 15,63), Banco do Brasil caiu 0,44% (R$ 29,13), Itaú baixou 0,40% (R$ 37,08) e Bradesco ON recuou 0,14% (R$ 14,04). Santander unit foi exceção. Fechou estável, em R$ 31,07.

SÓ ASSISTIU – O real não conseguiu faturar a queda acentuada do dólar lá fora, onde o índice DXY furou a linha dos 101 pontos, no menor patamar do ano, após a ata dovish do Fed e revisão em baixa do payroll de um ano até março.

… O que se comenta entre os especialistas é que o câmbio assume por aqui alguma postura defensiva com o risco ainda presente de recessão nos EUA e que faltam gatilhos que encorajem o dólar a aprofundar o alívio recente.

… Ao Broadcast, o superintendente da Mesa de Derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, observa que, depois de a moeda americana ter escalado até a faixa de R$ 5,74 no início do mês, passa agora por um período de acomodação.

… O profissional vê o dólar rodando entre R$ 5,40 e R$ 5,50, sem estímulos suficientes para voltar a R$ 5,30.

… De qualquer maneira, Powell vem aí amanhã para calibrar as expectativas para o Fed. Ontem, a moeda americana fechou estável (-0,02%), a R$ 5,4821.

… A baixa no rendimento dos Treasuries, via ata e revisão do payroll, até apoiou um recuo nas taxas curtas dos DIs, mas o fato de eles terem devolvido parte da queda no fim da sessão limitou queima mais forte de prêmios por aqui.

… No fechamento, o DI para Jan/25 caiu para 10,750% (de 10,801% na véspera), o Jan/26 recuou a 11,450% (de 11,538%) e do Jan/27 cedeu a 11,430% (de 11,538%).

… Certo ajuste nas apostas para a Selic, com o mercado devolvendo parcialmente as chances de alta de 0,50pp, também seguiu reduzindo as taxas curtas.

… A ponta longa da curva pegou a contramão, mas ficou próxima dos ajustes da véspera. O Jan/29 subiu a 11,500% (de 11,484%); e Jan/31, a 11,520% (de 11,498%).

… Os riscos de aperto da Selic continuam no radar, até porque a atividade econômica segue firme e forte. Ontem, o PicPay elevou a projeção do PIB em 2024, de +2,3% para +2,5%. Mas reduziu 2025, de +2,0% para +1,8%.

… Embora não veja a economia superaquecida, a LCA Consultoria revisou o crescimento deste ano para 2,6% ante previsão inicial de 2% e projeta PIB de +0,9% na margem no 2Tri. Antes, esperava +0,5%.

… Apesar disso, ainda espera Selic estável de 10,50% até o fim de 2024.

AGORA É PRA VALER – O tão aguardado pivô do BC americano pode finalmente vir em setembro, a julgar pela ata do Fed e a forte revisão do payroll até março, o que sustentou as bolsas em NY e derrubou juros e dólar.

… A tradicional revisão do Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS) não costuma gerar muita expectativa.

… Mas os sinais de que o mercado de trabalho dos EUA está enfraquecendo e os riscos para um dos pontos do mandato duplo do Fed – o emprego – reacenderam o interesse nos números.

… No fim das contas, a revisão foi grande, a maior desde 2009. A criação de empregos nos 12 meses até março foi 818 mil menor do que os números originais apontavam, ficando bem perto da projeção mais pessimista (-1 milhão).

… Mas em vez em renovar o medo de recessão, o mercado embarcou no sentimento de que o dado dá mais força ao início do corte de juros em setembro, num cenário de pouso suave.

… O que foi reforçado depois pela ata, que trouxe a surpreendente revelação de que alguns membros do Fed cogitaram corte de juro ainda em julho, mas que a “vasta maioria” viu uma redução em setembro como apropriada.

… Olhando em retrospecto, o Fed poderia ter cortado as taxas de juros em julho, dada a forte revisão do payroll, segundo o economista-chefe da Comerica, Bill Adams.

… No monitoramento do CME, cresceram (a 36%) as apostas de corte de 50pbs em setembro, mas uma redução de 0,25pp ainda é majoritária (64%).

… Para Christian Thorgaard (Skopos), a ata mostrou que os riscos de inflação baixaram e os do emprego subiram. “Alguns diretores notaram que desaceleração adicional arrisca uma piora mais consistente no mercado de trabalho.”

… O tom da ata, aliado ao payroll de julho, bem como a revisão de ontem, justificariam o começo de um ciclo de cortes em setembro com queda de 50pbs no juro, avalia Thorgaard.

… A bola agora está com o payroll de agosto, que se vier fraco, pode chancelar de vez os 50pbs.

… Com esse combo ata-revisão dos dados de emprego, as bolsas em Wall Street fecharam em alta moderada, já que os investidores ainda esperam o discurso de Jerome Powell amanhã, em Jackson Hoje.

… O Nasdaq liderou os ganhos, com alta de 0,57%, aos 17.918,99 pontos. O S&P 500 ganhou 0,42% (5.620,82) e o Dow Jones subiu 0,13% (40.889,96).

… Nos Treasuries, os juros desceram bem, especialmente após a ata, mas devolveram parte da queda, justamente por causa da cautela antes das palavras do presidente do Fed.

… A expectativa é que ele chancele o corte mês que vem, mas sem se comprometer com o futuro, reforçando a dependência de dados para tomar decisões.

… Mais atado aos passos da política monetária, o rendimento da note de 2 anos se afastou um pouco mais dos 4%. Caiu de 3,983% na véspera para 3,930%. O da note de 10 anos cedeu a 3,794%, de 3,806%.

… Na contramão, o juro do T-bond de 30 anos subiu a 4,068%, de 4,061%.

… O dólar seguiu apanhando dos pares. O índice DXY chegou a perder os 101 pontos na mínima do dia (100,923) e fechou no menor nível desde dezembro passado, em 101,039 (-0,40%).

… Euro e libra, que aceleraram logo depois da revisão do payroll, alcançaram o maior patamar desde julho passado.

… A moeda comum subiu 0,26%, a US$ 1,1155, e a britânica avançou 0,44%, a US$ 1,3091. O iene ficou perto da estabilidade (-0,02%), em 145,144/US$.

EM TEMPO… Conselho de Administração aprovou o aumento de capital da OI no valor de R$ 1,39 bilhão, por meio da emissão de 264.091.364 novas ações ON.

NATURA. BlackRock reduziu participação na companhia de 5,05% para 4,99% do capital social, passando a deter 69.296.739 de ações ON.

BRASKEM. Em manifestação após a sentença que condenou sua controladora, Novonor, a indenizá-la em R$ 8 bi, a empresa disse à Justiça que receber esses recursos ou crédito a coloca em risco e “piora sua situação”…

… Isso ocorreria em razão de compromissos assumidos nos acordos de leniência firmados no Brasil, Suíça e EUA e que seriam descumpridos com o recebimento, segundo reportagem do Valor.

JHSF adquiriu participação de controle na empresa italiana Tavolara Bay, situada na região da Sardenha, com o objetivo de desenvolver o projeto de um Hotel Fasano na ilha; valor da operação não foi divulgado.

VIBRA ENERGIA antecipou a aquisição dos 50% da Comerc, no valor de R$ 3,52 bilhões; Comerc foi avaliada em R$ 7,05 bilhões em julho/2024, com 2,1 GW em operação.

ENERGISA aprovou a 21ª emissão de debêntures, no valor de R$ 975 milhões.

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