Semana tem guerra, G7, superquarta, PDL e feriado


Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*


[16/06/25]

… A produção industrial e as vendas no varejo da China, ontem à noite, são apenas os primeiros indicadores de uma semana cheia, apesar dos feriados de Corpus Christi e Juneteenth, que fecham os mercados aqui e em NY, na 5ªF. No cenário internacional, permanecem os riscos da política tarifária de Trump, adicionados agora à guerra entre Irã e Israel, que afeta diretamente o petróleo e pode impor pressões inflacionárias às vésperas da Superquarta, quando Fed e Copom decidem sobre juros. Outros BCs têm reuniões de política monetária nos próximos dias, incluindo BoJ, BoE, PBoC e BC turco. A expectativa é de manutenção da taxa por todos eles, à exceção do nosso BC, que ainda pode subir a Selic. Em paralelo, a crise do IOF permanece sem solução, com a ameaça da Câmara de votar um Projeto de Decreto Legislativo (PDL).

… No sábado, Lula entrou pessoalmente nas negociações, reunindo-se no Palácio do Alvorada com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Haddad não participou.

… O presidente tentou evitar que a Câmara aprove hoje, como está programado, a urgência para um PDL que visa derrubar as medidas que aumentaram o IOF para garantir a arrecadação e o cumprimento do arcabouço fiscal e da meta primária de 2025.

… Como moeda de troca, o Planalto ainda tem a liberação de emendas que estão atrasadas, mas os líderes da Casa estão decididos a não deixar passar as novas propostas apresentadas pela Fazenda, jogando as contas públicas num grande impasse.

… Segundo o Valor, no encontro, Motta transmitiu a Lula a queixa dos parlamentares sobre a demora na execução das emendas, quando Gleisi prometeu que o governo faria o empenho e pagaria uma parte do valor de forma imediata.

… Com a semana mais curta por causa do feriado de Corpus Christi, a votação da urgência deve ocorrer nesta 2ªF, sem tempo para que o governo possa ampliar o diálogo com a Câmara e os líderes partidários. A expectativa é de derrota para o Planalto.

… O melhor que pode acontecer (ou o menos pior) é que a votação se encerre hoje com o requerimento de urgência, sem avançar para o mérito, que anularia o decreto. Mas o placar refletirá o tamanho da base aliada nesse momento de tensão política.

… Na semana passada, a aliança União-Progressistas, que tem 109 deputados e controla quatro ministérios, anunciou que rejeitará a MP de aumento de impostos – LCI, LCA, JCP, Bets – e também votará contra o novo decreto do IOF.

… Nesse cenário de incertezas, o Copom se reúne sem uma referência consistente para a política fiscal, o que pode justificar, senão um ajuste adicional da taxa básica de juro, para 15%, ao menos a manutenção da mensagem de cautela que Galípolo vem adotando.

… Pesquisa do Broadcast com 48 instituições do mercado mostrou o mercado dividido sobre a reunião desta semana: enquanto 27 casas ainda esperam estabilidade da Selic em 14,75% ao ano, 21 apostam em uma alta residual de 25 pontos-base.

… Economistas mais conservadores argumentam que a inflação, principalmente de serviços e serviços subjacentes, continua rodando em patamares elevados. Já os mais otimistas destacam que os efeitos defasados da política monetária ainda devem aparecer.

… Os demais indicadores divulgados recentemente oferecem argumentos para as duas correntes.

… De um lado, o PIB mais fraco no 1Tri, composição mais benigna do IPCA de maio e a perda de força na indústria e no varejo em abril. De outro, o mercado de trabalho ainda forte e o aumento da renda, com estímulos como o FGTS e o crédito consignado.

… Hoje, sustentado pelo emprego e setor agropecuário, o IBC-Br de abril, a prévia do PIB/2Tri, deve avançar 0,1%, desaceleração após a alta de 0,8% em março. As estimativas variam de um recuo de 0,4% a uma alta de 0,4%. O dado será divulgado às 9h.

… Nos EUA, o Fomc deve manter o juro na 4ªF no intervalo entre 4,25% e 4,50%. A expectativa fica para as novas projeções econômicas do Fed e para a entrevista de Powell, que poderá confirmar as apostas do investidor em dois ou três cortes do juro neste ano.

… Na madrugada de 2ªF para 3ªF, o Banco do Japão (BoJ) deve manter o juro em 0,50%, e, na 5ªF, o Banco da Inglaterra (BoE) deve deixar a taxa em 4,25% e o BC turco, em 44,5%. À noite, será a vez da taxa de juros da China, que também tem expectativa de manutenção.

TARIFAS E GUERRA NO G7 – Em meio a elevadas tensões com a escalada do conflito entre Israel e Irã e ameaças de uma guerra comercial global, começou neste domingo, no Canadá, a cúpula dos Sete Países mais ricos do mundo, que terá as presenças de Trump e Lula.

… O presidente brasileiro deve chegar hoje à noite em Kananaskis, Alberta, para participar do encontro, que vai até amanhã (3ªF), ao lado de Austrália, Ucrânia, Coreia do Sul, México e da Índia – também convidados para o G7 neste ano.

… Junto com a crise das tarifas, a renovada tensão no Oriente Médio deve pautar a reunião, com os membros do G7 tentando persuadir Trump a encerrar a guerra. O presidente dos EUA é o único líder com real influência sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

… O fim de semana foi de intensos e ininterruptos ataques de ambos os lados, entre Israel e o Irã, com duas preocupações mais imediatas na evolução do conflito: que os iranianos fechem o Estreito de Ormuz e que os EUA entrem na guerra.

… Com a escalada dos conflitos, os contratos de petróleo abriram a semana com alta superior a 4%, mas no final da noite de ontem desaceleravam a alta para 1%.

… Israel solicitou ao governo americano que se juntasse à guerra contra o Irã para eliminar o programa nuclear de Teerã, e neste domingo, o presidente Trump não descartou a possibilidade. “Não estamos envolvidos, mas é possível que possamos nos envolver”.

… Ao mesmo tempo, o presidente disse a repórteres na Casa Branca que há “grande chance” de um acordo entre Irã e Israel. Sobre tarifas, Trump afirmou que a expectativa é de que acordos comerciais sejam feitos na Cúpula do G7.

… Faltando menos de um mês para o fim da trégua de 90 dias das tarifas “recíprocas” de Washington, esse será um tema dominante.


… Há expectativa de avanço nos acordos entre os EUA e países como Japão e Canadá durante a cúpula. Até o momento, os americanos só fecharam acordo com o Reino Unido e progrediram em tratativas preliminares com a China.

… A União Europeia também participa das reuniões em Alberta, embora não seja membro oficial.

… Em postagem no X no sábado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que teve uma boa conversa com Trump sobre os conflitos no Oriente Médio, na Europa Oriental e as negociações comerciais.

… “Fizemos um balanço das negociações comerciais e reiterei nosso compromisso de chegar a um bom acordo antes de 9 de julho.”

MAIS AGENDA – Antes do IBC-Br (9h), será divulgado o IGP-10 de junho (8h00) e, na sequência, o Boletim Focus (8h25), com a atualização das projeções do mercado para o IPCA deste ano e dos próximos, PIB, Selic e câmbio.

… Para o IGP-10, as projeções são de forte recuo, de 0,92%, em junho (segundo mediana do Broadcast), após a queda de 0,01% em maio. As estimativas são todas de queda, entre -1,15% e -0,44%, com maior deflação dos itens agropecuários.

NO CONGRESSO – A expectativa é de uma semana esvaziada, em razão dos festejos juninos no Norte e Nordeste e das férias do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O que tiver que acontecer, como a votação da urgência do PDL, será hoje.

… Antes de sair em férias, Fernando Haddad participou de encontro realizado pelo grupo Prerrogativas, na 6ªF à noite, quando dissociou a questão fiscal do desempenho do governo nas eleições de 2026.

… “Não acho que será o tamanho do déficit que vai determinar a eleição. Se a economia estiver bem, a chance de êxito na eleição será maior”, disse o ministro, acrescentando que o presidente Lula tem orgulho do arcabouço fiscal.

… O mercado gostou da sinalização de apoio de Bolsonaro a Tarcísio, que tem a menor rejeição (15%) no Datafolha.

… Ainda amanhã (3ªF), o presidente do Senado, David Alcolumbre, pode ler o requerimento de criação da CPMI que investigará as fraudes no INSS – um evento que abrirá mais uma frente de desgaste para o governo Lula.

LÁ FORA – Além das seis reuniões de política monetária, são destaques entre os indicadores esta semana as vendas no varejo e produção industrial nos EUA em maio, amanhã, além do índice ZEW na Alemanha, também nesta 3ªF, e da inflação na Zona do Euro (4ªF).

… Ainda nos Estados Unidos, será divulgado hoje (9h30) o índice de atividade industrial Empire State de junho do Fed/NY, com a previsão de melhorar a queda para -5,5 (-9,2 em maio). Já o petróleo espera pelo relatório mensal da Opep, à primeira hora do dia.

CHINA HOJE –A produção industrial desacelerou de 6,1% em abril para 5,8% em maio (base anual), levemente abaixo da expectativa de 5,9% e marcando o crescimento mais lento desde novembro do ano passado.

… Já o fôlego das vendas no varejo surpreendeu. O indicador subiu de 5,1% em abril para 6,4% em maio, bem acima da previsão de 4,3%. Foi o avanço mais rápido registrado pelo indicador desde dezembro de 2023.

EFEITOS COLATERAIS – Analistas já se dedicam a precificar o impacto para o Brasil do conflito deflagrado no Oriente Médio, caso a crise escale para um patamar ainda mais perigoso, com o envolvimento direto dos EUA.

… No salto de nervosismo da 6ªF, o petróleo Brent disparou 7,02%, para US$ 74,23. No Broadcast, profissionais alertam que, se o barril chegar a US$ 80, pode precipitar reajustes nos combustíveis e bater na inflação.

… “A Petrobras consegue segurar os preços até uns 15% de paridade. Se [o petróleo] chegar em US$ 80, a paridade deve alcançar 25% e haverá repasse de custos ao consumidor”, calcula Hugo Queiroz (da L4 Capital).

… A torcida é para os ataques seguirem restritos a Israel e ao Irã, sem a entrada dos EUA (de um lado) e Rússia e a China (do outro), porque neste caso os riscos cresceriam em proporções geométricas. Todo cuidado é pouco.

… No final de semana, o governo iraniano relatou que Israel atacou depósitos de petróleo em Teerã.

… Os bombardeios não atingiram o coração da infraestrutura petrolífera, mas o mercado teme que, em retaliação à pressão ocidental, o Irã ameace fechar o Estreito de Ormuz, ponto de passagem crucial do petróleo.

… Por lá, é transportado mais de um terço de todo o suprimento mundial da commodity.

… O ambiente turbulento abre espaço para o barril bater níveis especulativos, descolados dos fundamentos, neste momento em que os grandes produtores turbinam a oferta, apesar da economia global desaquecida.

… Especificamente para a Petrobras, além do rali do petróleo, as ações também vêm reagindo à possibilidade de pagamento de dividendos extraordinários, mencionada por Haddad como medida alternativa à alta do IOF.

… Desde 4ªF passada, os papéis da Petrobras vêm operando com força total e ganharam gás extra na 6ªF (PN, +2,46%, a R$ 32,53; e ON, +2,13%, a R$ 34,98) com o risco de um conflito mais amplo no Oriente Médio.

… Os ganhos expressivos da estatal ajudaram a amortecer o impacto sobre o Ibovespa da maior investida do Iraque sobre a República Islâmica desde a década de 1980. A bolsa aqui caiu bem menos do que lá fora.

… Fechou em queda de 0,43%, aos 137.213 pontos, enquanto NY acusou o baque com maior intensidade.

… O Dow Jones caiu 1,79%, aos 42.197,79 pontos; o S&P 500 recuou 1,13%, aos 5.976,96 pontos; e o Nasdaq fechou em queda de 1,30%, a 19.406,83 pontos. Termômetro do medo, o índice VIX saltou 18%, a 21,3 pontos.

… Aqui, Vale perdeu 1,33% (R$ 52,13), pior do que o minério (-0,14%). Sinal vermelho também entre a maioria dos bancos: Itaú PN, -1,2%, a R$ 36,17; Bradesco ON, -1,19%, a R$ 14,11; e Bradesco PN, -1,15%, a R$ 16,29.

… Santander (unit, -0,36%, a R$ 29,80) teve as perdas atenuadas pela decisão do BofA de elevar o preço-alvo do papel de R$ 28 para R$ 33 e manter a recomendação neutra. Exceção do setor financeiro, BB ON subiu 0,79%.

… Em sua estreia na Nyse, os ADRs da JBS fecharam em alta firme de 1,61%, Para o Citi, a chegada do papel à bolsa de NY representa um “ponto de inflexão” na estratégia de acesso da companhia a mercados mais líquidos.

… Juntando o pregão de ações na Nyse e os BDRs em SP, as ações da empresa movimentaram US$ 285 milhões no último pregão. O valor corresponde a 4,5 vezes a média do volume da companhia nos últimos 12 meses na B3.

O INESPERADO ACONTECE – Faltando muito pouco para as reuniões do Fed e do BC, a súbita explosão do petróleo para perto dos US$ 75 lança especulações sobre a eventual influência da commodity sobre o balanço de riscos.

… O ING alerta que um agravamento do conflito entre Irã e Israel pode reduzir claramente as chances de o Fed cortar os juros no 3Tri – poucos dias atrás, o mercado precificava três cortes (setembro, outubro e dezembro).

… Para o Copom, de última hora, o petróleo mais caro pode eventualmente adicionar fator de conservadorismo à inclinação hawkish que boa parte dos investidores já vinha identificando nos últimos discursos de Galípolo. 

… Mas o desfecho para a Selic na 4ªF é um mistério, com os economistas divididos entre pausa e alta para 15%.

… Na 6ªF, o BTG Pactual revisou a sua estimativa para cima e agora espera alta do juro (0,25pp) pela última vez no ciclo. O banco reconhece que há argumentos consistentes tanto para a elevação quanto para manutenção.


… “No entanto, avaliamos que o Copom deve aproveitar o momento para reforçar o compromisso com a convergência da inflação à meta e fortalecer a credibilidade da política monetária, realizando ajuste residual.”

… No suspense do que virá, a curva do DI recuou, apesar do clima de tensão no exterior com Israel e o Irã.

… No fechamento, o contrato de juro para Jan/26 caía a 14,840% (contra 14,863% no ajuste anterior); Jan/27, a 14,170% (de 14,215%); Jan/29, a 13,535% (13,557%); Jan/31, 13,680% (13,708%); e Jan/33, 13,740% (13,771%).

… Os vencimentos operaram imunes à pressão das taxas dos Treasuries, que foram impulsionadas pelo petróleo e pela surpresa positiva com o sentimento do consumidor americano, medido pela Universidade de Michigan.

… O dado teve a primeira melhora em seis meses: 52,2 (maio) para 60,5 (junho), superando o consenso de 53.

… O juro da Note-2 anos subiu a 3,952% (de 3,903%) e o de 10 anos, a 4,409% (de 4,354%). Mas é cedo para saber se o Fed mudará o plano de cortes do juro. Está nas mãos de Trump (tarifas) e agora também da guerra.

… Por enquanto, sem qualquer dano mais significativo à infraestrutura de energia do Irã ou bloqueio no trânsito do Estreito de Ormuz, a consultoria Capital Economics acredita que a escalada do petróleo não será duradoura.

… Do mesmo modo, avalia, o dólar deve continuar próximo do pior nível em mais de três anos, apesar de ter operado em alta na 6ªF, diante do cenário de aversão a risco com o conflito desencadeado no Oriente Médio.

… Buscas defensivas levaram o índice DXY a subir de leve (+0,27%), a 98,184 pontos, derrubando o iene (143,90/US$), o euro (-0,40%, para US$ 1,1546) e a libra esterlina, que perdeu 0,39%, cotada a US$ 1,3565.

… Aqui, o real resistiu estável contra o dólar (-0,02%, a R$ 5,5417). Operadores atribuíram o comportamento mais forte à alta do petróleo, que beneficiou também moedas de outros países produtores da commodity.


EM TEMPO Tanure contratou banco de investimento internacional Rothschild para assessorá-lo em proposta que deve levar meses para ser formalizada para aquisição de fatia da Novonor na BRASKEM, apurou o Broadcast.

JBS aprovou a distribuição de R$ 2,2 bilhões em dividendos, o equivalente a R$ 1,00 por ação ON, com pagamento em 17/6.

MINERVA anunciou que a controlada Athn Foods celebrou contrato de venda da uruguaia Establecimientos Colonia para a Allana Magellan, por US$ 48 milhões.

MULTIPLAN pagará R$ 135 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2336 por ação, aprovados em junho de 2024, no próximo dia 20/6; ex a partir de 27/6/24.

EZTEC anunciou lançamento do empreendimento Moved Osasco Residence, com VGV de R$ 218 mi.

INVEPAR confirmou acordo com prefeitura do RJ para manter vigência da concessão da Linha Amarela (Lamsa) até o fim do prazo contratual estabelecido no 11º Termo Aditivo, ou seja, em 2037.

ENERGISA. Opportunity HDF alcançou participação de 3,93%, passando a administrar 17.984.553 de ações ON e 71.938.215 de ações PN; gestora não aparece como acionista no formulário de referência mais recente.

AMERICANAS informou ter firmado termo de transação individual com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) com objetivo de equacionar a totalidade dos débitos fiscais junto ao órgão…

… Valor total dos débitos incluídos no acordo é de R$ 865 milhões, sendo aplicado um desconto de 100% dos juros e multas, limitado a 70% do valor consolidado do débito; somados, os descontos totalizam mais de R$ 500 milhões.

EMBRAER. Subsidiária Eve Air Mobility (Eve), listada na Nyse, assinou um acordo vinculativo com a Revo, operadora de mobilidade aérea urbana (UAM) sediada em São Paulo, e sua controladora, a Omni Helicopters International…

… O contrato de US$ 250 mi (equivalente a R$ 1,35 bi) envolve a compra de até 50 aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), os chamados carros voadores. A primeira entrega está prevista para o 4Tri de 2027.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

BDM: Semana tem guerra, G7, Superquarta, PDL e feriado

São Paulo, 16/06 – A produção industrial e as vendas no varejo da China, ontem à noite, são apenas os primeiros indicadores de uma semana cheia, apesar dos feriados de Corpus Christi e Juneteenth, que fecham os mercados aqui e em NY, na 5ªF. No cenário internacional, permanecem os riscos da política tarifária de Trump, adicionados agora à guerra entre Irã e Israel, que afeta diretamente o petróleo e pode impor pressões inflacionárias às vésperas da Superquarta, quando Fed e Copom decidem sobre juros. Outros BCs têm reuniões de política monetária nos próximos dias, incluindo BoJ, BoE, PBoC e BC turco. A expectativa é de manutenção da taxa por todos eles, à exceção do nosso BC, que ainda pode subir a Selic. Em paralelo, a crise do IOF permanece sem solução, com a ameaça da Câmara de votar um Projeto de Decreto Legislativo (PDL).

A coluna Bom Dia Mercado, elaborada pela jornalista Rosa Riscala, pode ser acessada como conteúdo adicional pelos usuários do Valor PRO, a partir das 6h. Solicite uma demonstração ligando para 0800 003 1232.

A coluna Bom Dia Mercado, elaborada pela jornalista Rosa Riscala, está disponível aos usuários do Broadcast a partir das 6h, de 2ªF a 6ªF. Mais informações sobre o acesso ao serviço pelo telefone: 0800 016 1313.

Risco geopolítico domina negócios globais

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[13/06/25]

… O petróleo saltava quasse 10% e os futuros de NY registravam fortes perdas, ontem à noite, após Israel ter lançado ataques em grande escala a instalações nucleares do Irã. Netanyahu disse que as operações continuarão por quantos dias forem necessários. Fontes do governo israelense dizem que esse não é um ataque de um dia só. Investidores corriam para o dólar, iene, Treasuries americanos e títulos do Japão. Comunicado da Casa Branca informou que os EUA não estão envolvidos. Os riscos geopolíticos devem dominar o ambiente dos negócios globais. Na agenda dos indicadores, sai a preliminar de junho do sentimento do consumidor americano de Michigan e, aqui, o volume de serviços, em meio à crise entre governo e Congresso, no confronto aberto.

… Em mais um susto para o Planalto, Hugo Motta foi ao X no final da manhã, após a reunião de líderes, para anunciar a decisão de pautar na 2ªF a urgência de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para derrubar o novo pacote do IOF da Fazenda.

… “Conforme tenho dito nos últimos dias, o clima na Câmara não é favorável para o aumento de imposto com objetivo arrecadatório para resolver nossos problemas fiscais.” A notícia causou espanto, já que as novas medidas haviam sido combinadas com Haddad.

… Causou espanto e causou confusão também, porque se o Congresso derruba o novo decreto do IOF, publicado na noite de 4ªF, passaria a valer o primeiro decreto, que começou essa briga. Agora, estão vendo um jeito de derrubar os dois decretos de uma vez só.

… O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, está cuidando da logística, afirmando que “pagadores de impostos não podem continuar sendo surrupiados por esse governo irresponsável que não quer conter gastos.” Motta voltou a ceder às pressões.

… Horas antes, Haddad reforçava aos jornalistas que está disponível para discutir com o Congresso as medidas alternativas ao IOF. “Estou 100% disponível para visitar os presidentes [das Casas], os líderes, as bancadas. Quantas horas precisar.”

… O ministro defendeu as medidas do IOF por terem a vantagem de entrar em vigor imediatamente, o que representaria uma salvaguarda das contas públicas. “Óbvio que o IOF tem dimensão regulatória, mas ela tem uma arrecadação importante.”

… Ele considera natural algum tipo de reação negativa, seja de setores, de parlamentares da oposição, afirmando que os lobbies são mais rápidos e atuam com muita força, mas ainda acreditava que, com diálogo, ganharia apoio. Até do agro e da construção civil.

… Rebatendo as críticas à tributação de 5% para LCAs e LCIs, disse que “o agro nunca cresceu tanto como agora, nós vamos para o terceiro plano safra de crescimento”, e que “metade da construção civil é Minha Casa, Minha Vida, que tinha acabado no governo anterior”.

… O ministro citou novas fontes para complementar as receitas com as medidas do atual decreto do IOF e MP, que devem ficar em torno de R$ 10 bilhões este ano, como dividendos extraordinários das estatais, e a venda de petróleo de áreas do pré-sal não contratadas.

… E ainda manifestou a esperança de que as isenções tributárias, estimadas em R$ 800 bilhões, possam ser reduzidas em até 10%.

… Haddad insiste que as medidas da MP não representam aumento de impostos, mas “correção de distorções”, e que, em relação ao setor financeiro, o que está sendo feito é uma equalização da tributação. Mas já era tarde demais para bater na mesma tecla.

… Brasília pegava fogo e, em Mariana (MG), o presidente Lula reconheceu em discurso um “clima muito ruim” na Câmara.

… Respondendo às críticas de que seu governo não faz cortes de gastos, Lula disse que não foi eleito para “fazer benefícios para os ricos”, que “recebem R$ 860 bilhões em isenções fiscais e o Brasil vive uma sina desgraçada de que pobre tem que nascer e morrer pobre”.

… Em Fórum da Fiesp, o presidente Josué Gomes da Silva resumiu o quadro que parece sem saída…

… “Todos entendemos que as contas públicas não podem permanecer como estão, há o consenso do que fazer, mas não há consenso do como fazer. Cada um de nós quer que o ajuste das contas públicas seja feito no vizinho. Ninguém abre mão de nada.”

… O pior desfecho nesse cenário seria uma mudança da meta fiscal, que já começa a ser considerada no mercado.

MUITO POUQUINHO – Estudo da XP aponta que os cortes de gastos propostos na MP, como perícia médica online no INSS, a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação e o controle no acesso ao Seguro Defeso devem render apenas R$ 2 bilhões em 2025.

… Para 2026, a economia com esses primeiros itens indicados pela Fazenda poderiam ser de R$ 4,8 bilhões.

SACO SEM FUNDO – Ninguém abre mão de nada e, sempre que dá, querem um pouco mais, como a mais nova pressão de parlamentares que decidiram atrelar a isenção do IR ao maior número de deputados na Câmara e à recuperação de verbas do orçamento secreto.

… A Comissão Mista de Orçamento aprovou, nesta 5ªF, um projeto que abre caminho para a aprovação da isenção do IR até R$ 5 mil, mas sem a compensação que deve taxar os mais ricos – conforme proposta do governo – e com os dois “jabutis” incluídos.

… A ideia é que o governo estime no Orçamento de 2025 e nos Orçamentos dos anos seguintes o impacto da criação das novas vagas dos deputados, elevadas de 513 para 531, com um custo de receita de R$ 64,8 milhões ao ano.

… A CMO também alterou o projeto para recuperar R$ 2 bilhões em verbas do orçamento secreto, autorizando que obras com problemas técnicos, como falta de licitação e licenciamento ambiental, e municípios inadimplentes com a União, recebam esse dinheiro.

… Além disso, serão contempladas outras emendas direcionadas por deputados e senadores para seus redutos eleitorais.

LESADOS DO INSS – Governo pediu ao STF autorização para abrir crédito extraordinário para pagar indenizações às vítimas de descontos indevidos do INSS, solicitando que o valor não seja incluído nos limites de gastos nos anos de 2025 e 2026.

MAIS AGENDA – Pesquisa Broadcast aponta alta de 0,2% para o volume de serviços prestados em abril, na mediana das estimativas, após crescimento de 0,3% em março. As estimativas variam de recuo de 1,0% a expansão de 0,8%. O dado será divulgado às 9h.

… Confirmadas as expectativas, este será o terceiro mês consecutivo de expansão, na esteira da recuperação da confiança do consumidor, do mercado de trabalho aquecido e de medidas pontuais de estímulo, como a liberação do FGTS e do crédito consignado privado.

… Nesta 5ªF, a Pesquisa Mensal de Comércio trouxe uma queda nas vendas do varejo ampliado (-1,9%) em abril maior do que a mediana das estimativas (-1,4%). Mas o indicador não foi suficiente para reforçar as apostas em manutenção da Selic.

… Pesquisa da Agência Estado apurou que o mercado está dividido para o Copom da próxima semana, com 27 Casas esperando que o BC mantenha o juro estável em 14,75%, enquanto 21 instituições acreditam em um último ajuste de 25pbs, para 15% (abaixo).

… Nos EUA, a preliminar de junho do sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan sai às 11h, com previsão de que tenha melhorado para 53,5 (de 52,2 em maio). Junto saem também as expectativas inflacionárias para um ano e cinco anos.

… Às 14h, a Baker Hughes informa o número de poços e plataformas de petróleo em operação nos Estados Unidos.

… Na Zona do Euro, dados da balança comercial e da produção industrial abrem o dia (6h), ambas referentes a abril.

GOLPE PELAS COSTAS – A sabotagem de Motta, com a promessa de colocar o decreto do IOF em pauta, quando tudo o que Haddad precisava era de um tempo para negociar alternativas, levou o câmbio para a defensiva.

… Diante do clima pesado em Brasília, o dólar aqui desperdiçou a chance de embarcar na queda firme da moeda americana lá fora, desencadeada pela inflação fraca nos EUA, que projeta até três cortes de juro pelo Fed.

… A virada do dólar no mercado doméstico para alta coincidiu com o momento da postagem do presidente da Câmara, avisando que vai jogar para votação o projeto de decreto legislativo que derruba o aumento do IOF.

… Depois de ter tocado mínima de R$ 5,525 mais cedo, a divisa americana zerou a queda e passou raspando em R$ 5,56 na máxima do dia (R$ 5,5591), antes de fechar perto da estabilidade (+0,07%), cotada a R$ 5,5421.

… Há dificuldade do dólar para furar o piso informal de R$ 5,50, mesmo com o carry trade favorável ao Brasil, por conta da confusão gerada pelas mudanças no IOF, resumiu Eduardo Velho (da Equador) ao Broadcast.

… Em meio aos ruídos domésticos, só restou ao real passar o dia olhando de longe o índice DXY afundar 0,71% em NY e furar a linha dos 98 pontos (97,927), no menor patamar em três anos, de olho na pressão dovish sobre Powell.

… Um dia depois de os preços ao consumidor americano (CPI) terem vindo comportados, o PPI confirmou que está tudo sob controle. A alta de 0,1% da inflação ao produtor em maio contra abril veio abaixo do esperado (0,2%).

… O indicador reforçou a percepção de que a política protecionista dos EUA ainda não atingiu em cheio os custos.

… Mas Trump, que nunca se cansa de aprontar, já veio ontem com o papo de que as tarifas sobre automóveis importados, hoje em 25%, podem subir em breve, em mais uma das ameaças para embolar a guerra comercial.

… O republicano informou ainda que pretende mandar cartas nas próximas duas semanas para os parceiros comerciais dos EUA definindo tarifas unilaterais antes do prazo final de 9 de julho e que é “pegar ou largar”.

… Em entrevista à CNBC, aproveitou também para xingar Powell de “idiota” e insinuar que “talvez eu seja obrigado a tentar alguma coisa” para forçar o Fed a reduzir as taxas de juros, embora tenha descartado demitir Powell.

… O mercado anda tão convencido que a inflação não é obstáculo do Fed, que já se animou a projetar ontem não apenas dois, mas três desapertos monetários, incluindo outubro no cronograma que já previa setembro e dezembro.

… Beneficiado em duas frentes, pela fraqueza do dólar com o Fed mobilizado para cortar o juro no 3Tri e pela sinalização do BCE de que está chegando ao fim de seu ciclo de cortes, o euro subiu 0,79%, para US$ 1,1578.

… Nas máximas, escalou ao pico em quatro anos. A libra ganhou 0,43%, a US$ 1,3602. O iene foi a 143,56/US$.

ONDE HÁ FUMAÇA, HÁ FOGO – Em um rali impressionante, Petrobras vem exibindo altas expressivas há três pregões e hoje pode completar o seu quarto dia de ganhos, se depender da explosão do petróleo com Israel-Irã.

… Desde 3ªF, vinham rolando rumores no mercado, confirmados ontem por Haddad, sobre uma possível pressão do governo Lula para a distribuição de dividendos extraordinários pelas estatais, nos esforços para mirar a meta fiscal.

… Ao chegar ontem à Fazenda, Haddad mencionou as medidas em estudo para cobrir o rombo das contas públicas.

… Além dos dividendos extraordinários, citou o projeto de lei que autoriza a venda de petróleo de áreas do pré-sal não contratadas adjacentes aos campos de Mero, Atapu e Tupi, enviado no final do mês passado para o Congresso.

… As ações ON da Petrobras subiram 2,76% (R$ 34,25), entre os maiores ganhos do dia, assim como as PN (+2,25%; R$ 31,75), ajudando a embalar o Ibovespa e ofuscar o impacto da investida da Câmara ao decreto do IOF.

… Perto dos 138 mil pontos, o índice à vista da bolsa doméstica subiu 0,49% e fechou aos 137.799,74 pontos, com giro de R$ 28,6 bilhões, acima das médias recentes. Além da Petrobras, os bancos também colaboraram ontem.

… Bradesco liderou o setor, com +1,42% (ON, a R$ 14,28) e +0,98% (PN, a R$ 16,48). Itaú PN subiu 0,77%, para R$ 36,61, e BB ON ficou praticamente estável (+0,09%), a R$ 21,42. Na mão contrária, Santander caiu 0,86% (R$ 29,91).

… Vale perdeu 0,66% (R$ 52,83), seguindo o minério de ferro na China, em leve queda de 0,21%. De seu lado, o petróleo Brent acionou realização de lucro, depois do salto de 4% na véspera, e caiu 0,59%, a US$ 69,36 por barril.

… Mas hoje já é outro dia, com o bombardeio em larga escala lançado por Netanyahu às bases nucleares do Irã.

O RACHA DO COPOM – O duelo das apostas, entre pausa e nova alta de 0,25pp da Selic na semana que vem, continua rolando solto, projetando um resultado imprevisível para a reunião de política monetária da próxima 4ªF.

… De última hora, o Santander mudou ontem o seu call, de manutenção para um aperto adicional. Segundo o banco, embora a inflação venha surpreendendo para baixo, a atividade segue forte, particularmente o mercado de trabalho.

… “Nesse contexto, o BC pareceu desconfortável com o mercado precificando uma certeza de não aumento [do juro] e ativamente direcionou as expectativas para um aperto”, escreveu o economista Marco Antonio Caruso.

… O profissional faz parte da corrente do mercado que leu os últimos comentários de Galípolo pelo viés hawkish.

… A curva do DI operou sob volatilidade ontem, diante da proximidade do Copom e do barulho do IOF, mas os contratos futuros dos juros acabaram fechando perto dos ajustes, devolvendo a pressão observada pela manhã.

… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,845% (contra 14,890% no pregão anterior); Jan/27, 14,185% (de 14,235%); Jan/29, 13,535% (de 13,570%); Jan/31, 13,690% (de 13,700%); e Jan/33, 13,740% (13,760%).

… Lá fora, as taxas dos Treasuries caíram com a inflação sem sustos do PPI e as novas ameaças tarifárias de Trump, que mantiveram posições defensivas nos títulos do Tesouro, como deve acontecer hoje com o ataque de Israel/Irã.

… O retorno da Note de 2 anos recuou a 3,903%, de 3,942% na véspera, e o de 10 anos, a 4,354%, contra 4,415%.

… Com Trump botando as garras de fora novamente, as bolsas em NY subirem pouco, mas não deixaram de expressar o alívio com o esvaziamento das pressões inflacionárias, que pode contratar ciclo maior de queda do juro.

… O Dow Jones subiu 0,24%, a 42.967,62 pontos; o S&P 500 ganhou 0,38%, a 6.045,25 pontos; e o Nasdaq, +0,24%, para 19.662,48 pontos. Boeing despencou 4,79% com o acidente na Índia que deixou um único sobrevivente.

EM TEMPO… Na Folha, a JBS e seu braço portuário, a JBS Terminais, avaliam colocar de pé o plano para leilão de concessão do novo megaterminal no porto de Santos, o Tecon 10, que deve ocorrer até o final de 2025.

TELEFÔNICA aprovou a distribuição do valor líquido de R$ 170 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0524 por ação, com pagamento até 30/4/26; ex em 24/6.

BANCO MASTER. O BRB entregou ao BC essa semana a documentação completa sobre o escopo da compra da instituição, apurou a Broadcast. Com isso, o prazo de 360 dias para análise da operação começou a correr.

MRV informou que fará a 29ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, no valor de até R$ 750 milhões…

… Ainda segundo a empresa, o Conselho de Administração autorizou a recompra de até 6.082.426 de ações ON da companhia; plano de recompra terá vigência até 12/12/26.

NEOENERGIA aprovou a distribuição de R$ 264 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2174 por ação ON, com pagamento em dezembro; ex em 18/6.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

MP alternativa ao IOF já nasce condenada

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[12/06/25]

… Depois do CPI abaixo do esperado nos EUA, que resgatou a expectativa de dois cortes do juro neste ano, hoje será divulgado o índice de preços do produtor (PPI), que pode confirmar a inflação comportada. O cenário lá fora ainda é influenciado pelo progresso nas negociações de Washington com Pequim, enquanto dificuldades para um acordo com o Irã pressionam o petróleo e os protestos crescentes de imigrantes reforçam os ruídos políticos para o governo Trump. Aqui, saem as vendas no varejo, que devem recuar em abril. Mas as atenções do mercado estão todas voltadas para a MP da Fazenda, publicada ontem à noite, com as medidas alternativas para substituir o decreto do IOF, que já sofrem forte resistência do Congresso, adicionando incertezas à política fiscal do governo Lula.

… O novo pacote não trouxe novidades, confirmando as propostas que foram antecipadas pelo ministro Fernando Haddad.

… Entre os pontos centrais, a alíquota fixa do IOF aplicável ao crédito à pessoa jurídica cai de 0,95% para 0,38%. O IOF sobre a operação de crédito conhecida como risco sacado não tem mais alíquota fixa, apenas a diária, de 0,0082%.

… Isso significa redução de 80% na tributação do risco sacado, a medida do decreto do IOF que mais havia recebido críticas.

… O governo também reduziu a tributação sobre seguros do tipo VGBL (previdência), criando uma regra de transição.

… A partir de 2026, os aportes de até R$ 600 mil por ano feitos por PF estarão isentos de IOF. Acima desse valor, incidirá uma alíquota de 5% sobre o excedente, considerando a soma de todos os planos do titular, mesmo que em seguradoras diferentes.

… Para este ano, o limite de isenção será de R$ 300 mil, mas apenas para aportes realizados em uma mesma seguradora, no período entre 11 de junho e 31 de dezembro. Acima disso, aplica-se a mesma alíquota de 5% sobre o valor excedente.

… No caso dos FIDCs, haverá cobrança do IOF de 0,38% para aquisição primária de cotas, toda vez que for feito um aporte. Para o câmbio, fica zerada a alíquota para operações de retorno de recursos aplicados por estrangeiro em participações societárias no País.

… Já as medidas para compensar a arrecadação incluem maior tributação sobre apostas esportivas (bets), de 12% para 18%.

… Ganhos e rendimentos com ativos virtuais, como criptomoedas, serão tributados no Brasil. Pessoas físicas e pessoas jurídicas isentas ou optantes pelo Simples Nacional pagarão 17,5% de IR, podendo deduzir custos e compensar perdas dentro de certos limites.

… Para empresas do lucro real, presumido ou arbitrado, os ganhos líquidos nas operações com ativos virtuais integram a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, vedada a dedução de perdas. A retenção de imposto na fonte e compensação de perdas terão restrições a partir de 2026.

… A MP confirma a taxação de 5% das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito Agropecuário (LCA), antes isentas, mas essas alíquotas passarão a valer apenas a partir de janeiro de 2026. Já o aumento de tributação para as bets entra em vigor imediatamente.

… Além das LCIs e das LCAs, serão afetadas as Letras Hipotecárias, CRI, CDA, WA, CDCA, CRA, CPR, FII, FIAGRO, LIG e LCD.

… A alíquota de 9% de CSLL das instituições financeiras, restritas às Fintechs, foi eliminada, permanecendo apenas as faixas de 15% e 20%, válida hoje para os bancos. Também foi elevada a alíquota do Juros sobre Capital Próprio (JCP), de 15% para 20%.

… O pacote também traz uniformização da alíquota do IR em 17,5% sobre todas as aplicações financeiras de pessoas físicas residentes no País, a partir de 2026, e confirma a Isenção de IOF para o retorno de investimentos estrangeiros diretos.

… A medida define ainda que os lucros obtidos em operações na bolsa e no mercado de balcão organizado no Brasil são tributados pelo IR de 17,5% para PF e algumas PJ. Ganhos no mercado à vista ficam isentos se as vendas no trimestre não passarem de R$ 60 mil.

… A MP amplia a possibilidade de compensação de ganhos e perdas em operações no mercado financeiro. Hoje, essa possibilidade existe apenas para renda variável. A mudança vai permitir que o rendimento de renda fixa possa compensar perdas da renda variável.

… Outra proposta confirmada é a intenção de reduzir o gasto tributário (isenções fiscais) em “pelo menos 10%”, além da discussão de uma agenda para redução dos gastos primários que a Fazenda pretende tocar em conjunto com o Congresso.

… A MP traz uma ação regulatória para coibir compensações consideradas abusivas de crédito tributário, considerando indevidas aquelas feitas com documento de arrecadação inexistente e crédito de PIS/Cofins que não tenha relação com a atividade do contribuinte.

DESPESAS PÚBLICAS – A MP também incluiu o programa Pé-de-Meia no piso constitucional da Educação, mudanças nas regras do serviço digital do INSS para solicitar benefícios por incapacidade temporária e novos critérios de acesso ao Seguro Defeso.

… Além disso, estabelece que o dinheiro usado para equilibrar as contas entre o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e os regimes de previdência dos servidores públicos só poderá ser pago se houver recursos previstos no Orçamento.

… Sobre o Pé-de-Meia, os recursos destinados ao programa passam a ser contabilizados como parcela mínima obrigatória que o governo deve investir no setor. Hoje, a Constituição exige que a União aplique 18% da receita líquida de impostos em Educação.

… Já os gastos com benefícios por incapacidade temporária no INSS podem ser controlados com a permissão para que as perícias médicas sejam feitas por telemedicina ou apenas por análise documental, limitando a concessão nesses casos a até 30 dias.

… Por fim, a concessão do Seguro Defeso passa a estar sujeita à disponibilidade de recursos orçamentários específicos.

NÃO VAI VINGAR – Entre as medidas do novo pacote de Haddad, a taxação de 5% das LCIs e LCAs – que afeta diretamente o crédito para os setores do agronegócio e imobiliário – não parece ter nenhuma chance de passar. Ou chance de valer um dia.

… Essa medida não tem validade imediata na MP e nem deve entrar em vigor em janeiro de 2026, para quando está programada.

… O pacote todo sofre forte resistência do Congresso, embora tenha sido negociado por Haddad com os presidentes da Casa, Hugo Motta e David Alcolumbre, naquela reunião de cinco horas no domingo passado, quando todos eles saíram falando em acordo.

… Não levou 24 horas para Motta tirar o corpo fora e dizer que não se comprometia com as novas medidas alternativas da Fazenda, e o que se pode inferir disso tudo é que a retórica apenas servirá para o governo ganhar o tempo de validade da MP.

… É só segurar a votação que as medidas mais polêmicas ficarão postergadas para daqui a quatro meses, quando uma nova crise já está contratada. O mercado deve esperar os impactos das novas medidas que não foram ainda calculados, ou divulgados.

… Segundo fontes da equipe econômica ouvidas pelo Estadão, a MP alternativa ao IOF prevê arrecadação de R$ 10 bilhões este ano e de R$ 20 bilhões em 2026, sendo que não incluem as receitas com o pretendido corte de 10% dos gastos tributários.

… Mas, mesmo após as estimativas oficiais, a MP não deve trazer tranquilidade às contas públicas, porque já nasceu condenada.

AGENDA – Em mais um indicador importante da atividade para as expectativas da política monetária, a mediana do mercado indica recuo de 0,7% para as vendas do varejo restrito em abril, na margem, após alta de 0,8% em março. O dado será divulgado às 9h.

… Segundo pesquisa do Broadcast, após três crescimentos mensais consecutivos, o varejo restrito deve recuar, como reflexo das pressões inflacionárias sobre supermercado e farmácia e em linha com a perda de tração da atividade aguardada para o segundo trimestre.

LULA – Em Minas hoje, o presidente participa (10h) da Cerimônia de Apresentação dos Avanços do Acordo Rio Doce, em Mariana, e, às 13h, da entrega de equipamentos agrícolas a municípios mineiros no Ceasa, em Contagem.

GALÍPOLO – Às 19 horas, o presidente do Banco Central participa da Cerimônia alusiva ao Dia da Marinha e de Imposição das Condecorações da Ordem do Mérito Naval e da Medalha Mérito Tamandaré.

LÁ FORA – O núcleo da inflação ao produtor (PPI) dos EUA em maio deve desacelerar na comparação anual de 3,1% para 1,7%, embora a estimativa seja de alta na margem, para 0,3%, contra queda de 0,4% em abril.

… O índice cheio tem previsão de +0,2%, contra -0,5% no mês anterior, e +2,6% na base anualizada, de 2,4%.

… O indicador sai às 9h30, mesmo horário dos pedidos de auxílio-desemprego, que devem vir estáveis.

… À noite (20h), o BC do Peru anuncia decisão de política monetária.

METAMORFOSE AMBULANTE – Não está dado o Copom da semana que vem, na agitação das apostas ao sabor das novidades de cada dia: ontem foi o IOF, hoje são as vendas no varejo e amanhã pode ser o dado de serviços.  

… Antes de entrar em período de silêncio, Galípolo recorreu à estratégia clássica de todo presidente do BC de não se comprometer com guidance e sinalizar que as opções para a Selic estão em aberto. Faz parte do hedge.

… Seus comentários recentes, porém, foram lidos como hawkish. A última vez em que ele falou foi sábado, no Guarujá. No curto espaço de tempo de lá para cá, o mercado já foi e já voltou na reprecificação da Selic.

… Para dar a medida de como tudo está dinâmico, ontem, as apostas estavam bem diferentes da véspera.

… Apenas um dia depois de o IPCA no piso em maio ter recuperado as chances de juro estável na próxima 4ªF, o mercado voltou a mudar de ideia, de olho nas resistências políticas às soluções alternativas ao aumento do IOF.

… No momento, a chance de alta de 0,25pp da Selic está vencendo no placar na curva a termo. Subiu de 56% para 68% nas últimas 24h, enquanto a probabilidade de manutenção da taxa básica diminuiu de 44% para 32%.

… Mas hoje já é outro dia e uma nova reversão nas apostas não surpreenderia, sob a volatilidade máxima.

… Na véspera do resultado das vendas no varejo, a consultoria MCM revisou ontem em alta a previsão para o PIB do ano, de 1,7% para 2,2%, diante do mercado de trabalho robusto, que deve manter a demanda aquecida.

… Existe um duelo de forças hoje para o Copom avaliar: de um lado, o crescimento econômico ainda a todo vapor, enquanto a inflação corrente começa a dar sinais de acomodação e suaviza as expectativas para o ano.  

… Depois do IPCA comportado de maio, o Citi acredita em pausa da Selic em 14,75%, sem que necessariamente isso signifique o fim do ciclo, segundo o banco, porque o BC tem que continuar perseguindo a meta da inflação.

… Ontem, a recalibragem das apostas para o Copom, para alta do juro, puxou a ponta curta e média do DI, enquanto o trecho longo terminou perto da estabilidade, de olho na inflação abaixo do esperado nos EUA.

… O contrato de juro para Jan/26 subiu a 14,890% (de 14,850% no pregão anterior); Jan/27 avançou a 14,235% (de 14,155%); e Jan/29, a 13,570% (13,515%). Jan/31 fechou a 13,700% (13,690%); e Jan/33, estável, a 13,760%.

DESCONTOU O RISCO – A bolsa não costuma ser amiga de juros altos, mas driblou ontem a retomada da aposta de que a Selic pode ir a 15%, preferindo se concentrar em outros gatilhos para recuperar os 137 mil pontos.  

… Os motores de alta vieram da Petrobras e dos bancos. A estatal colou no rali do petróleo, e o setor financeiro foi embalado pelo jogo duro do Congresso contra as mudanças de tributação pretendidas pelo governo.

… Os papéis operaram na esperança de que a equipe econômica não consiga aprovar o aumento do imposto do JCP e as mudanças nas alíquotas de investimentos no agronegócio e no setor imobiliário, que hoje são isentos.

… Bradesco PN (+3,10%, a R$ 16,32), Bradesco ON (+2,70%, a R$ 14,08) e Itaú (+1,17%, a R$ 36,42) engataram altas firmes. Santander unit (+4,65%, a R$ 30,17) liderou o ranking de valorizações do Ibovespa nesta 4ªF.

… A instituição repercutiu a melhora da recomendação de suas ações pelo UBS BB, para compra, assim como do preço-alvo, de R$ 30 para R$ 38. Exceção entre os bancos ontem, BB virou na reta final (-0,65%, a R$ 21,40).

… Parte do fôlego do Ibov foi limitado pela decisão do BofA de rebaixar as ações brasileiras (neutro, de compra) pela primeira vez em três anos, citando visão cautelosa para as commodities, ruído político e deterioração fiscal.

… Ainda assim, o índice à vista segurou uma alta de 0,51%, aos 137.128 pontos, com giro de R$ 21,6 bilhões.

… Além dos bancos, a bolsa contou na retaguarda com a força da Petrobras, que emplacou altas próximas de 3% pelo segundo pregão consecutivo: os papéis PN subiram 3,33% (R$ 31,05) e os ON avançaram 2,93%, a R$ 33,33.

… Pegaram carona na tensão do petróleo com a ameaça do Irã de atacar bases americanas no Oriente Médio, caso os EUA não cheguem a um acordo sobre o programa nuclear esta semana, na sexta rodada de negociações.

… A reação veio horas depois de Trump ter dito que estava “perdendo a confiança” em um consenso.

… As agências internacionais noticiaram que os EUA estariam evacuando a embaixada americana no Iraque por riscos à segurança. No salto de nervosismo, o barril do Brent para agosto escalou 4,33%, cotado a US$ 69,77.

… Ainda no Ibov, Vale ON caiu 0,88% (R$ 53,18), na direção oposta ao minério (+1%). Braskem PNA (-3,07%) devolveu ganho da véspera com o interesse declarado da Petrobras em elevar poder de gestão na petroquímica.

SO FAR, SO GOOD – As tarifas de Trump ainda não abalaram a inflação americana e, embora persista a incerteza da política protecionista, o mercado pede cortes de juro pelo Fed em setembro e dezembro (25pb cada um).

… Trump cobrou mais (1pb) ontem, depois de o índice de preços ao consumidor (CPI) subir 0,1% em maio contra abril e 2,4% na comparação anual, ambos abaixo das previsões de altas de 0,2% e 2,5%, respectivamente.

… Para a Pantheon, o indicador mostra que o impacto tarifário “permanece microscópico por enquanto”. O ING acredita que o efeito sobre os custos só deve ser sentido em julho, três meses depois da sua imposição.

… Também a Oxford Economics alerta que o impulso ainda aparecerá mais para frente. Mas os juros dos Treasuries caíram nesta 4ªF, porque pelo menos até aqui a onda protecionista ainda não bateu forte nos preços.

… A taxa da Note-2 anos furou 4%, a 3,942%, de 4,011% na véspera, e a de 10 anos foi a 4,415%, de 4,467%.

… Aliviado pelo CPI, o índice DXY do dólar caiu 0,47%, a 98,631 pontos, dando espaço adicional ao euro (+0,49%, a US$ 1,1485), apesar de o BCE vir antecipando novos cortes do juro. A libra esterlina subiu 0,33%, a US$ 1,3541.

… O iene avançou 144,61/US$ e o real também foi bem contra a moeda americana, que caiu 0,59%, a R$ 5,5376, com a inflação mais fraca nos EUA e o acordo preliminar com a China sobre tarifas comerciais e terras raras.

… No WSJ, Pequim está impondo limite de seis meses às licenças de exportação de terras raras às montadoras e fabricantes dos EUA, levantando suspeitas de que os chineses estejam levando vantagem na negociação.

… A cautela com os detalhes do acordo, combinada à escalada da tensão geopolítica com o Irã, em meio à evacuação dos embaixadores no Iraque, anulou o otimismo das bolsas em NY com a inflação sob controle.

… No fechamento, o índice Dow Jones operava estável, aos 42.865,77 pontos, o S&P 500 registrava leve queda de 0,27%, aos 6.022,30 pontos, enquanto o Nasdaq exibia desvalorização de 0,50%, aos 19.615,88 pontos.

EM TEMPO… JBS comunicou que início de negociação das ações Class A na Nyse, previsto para ocorrer hoje, foi adiado em um dia, para amanhã…

… Alteração, segundo a companhia, foi em razão da impossibilidade de conclusão de procedimentos operacionais, que envolvem uma série de diferentes prestadores de serviços no Brasil e no exterior…

… Adicionalmente, data prevista para pagamento de dividendos, que era 16 de junho, será postergada para 17 de junho, quando também tem início leilão de frações de ações.

PETRORECONCAVO informou que, por determinação da ANP, será paralisadas, de forma imediata, duas estações de produção da companhia no campo de Cassarongongo (Ativo Bahia)…

… A decisão foi tomada após a Superintendência de Segurança Operacional (SSO) identificar problemas “no sistema de combate a incêndio por espuma” e “em tubulações e vasos de pressão”.

LOJAS MARISA. B3 aprovou a extensão de prazo para enquadramento do percentual mínimo de ações em circulação (free float) da empresa de 31/01/26 para 31/12/26.

FLEURY comprou a rede de laboratórios mineira Hemolab por R$ 39,5 milhões.

REDE D’OR aprovou a distribuição de R$ 450 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2039 por ação ON, com pagamento em 1º/7; ex em 17/6.

CEMIG vai realizar no dia 30/6 pagamento da 1ª parcela de proventos referentes ao exercício de 2024, no valor bruto de R$ 1,86 bilhão (R$ 0,6727 por ação).

ALLOS aprovou a distribuição de R$ 153 milhões em dividendos intermediários e intercalares…

… Dividendos intermediários serão pagos em duas parcelas iguais de R$ 51 milhões, equivalentes a R$ 0,1019 por ação ON, em 2/7 e 4/8…

… Dividendos intercalares serão pagos em parcela única de R$ 51 milhões, também equivalente a R$ 0,1019 por ação, em 2/9.

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