O tira-teima da ata
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[04/02/25]
… Os mercados estavam fechados quando Trump confirmou uma pausa de 30 dias na adoção de tarifas para o Canadá, como já havia feito mais cedo com o México. A expectativa agora é para um acordo com a China, após a ameaça do presidente americano de elevar “substancialmente” as tarifas a Pequim, se não houver entendimento. Trump quer conversar com Xi Jinping nas próximas horas. O caso da China, que promete retaliar, pode ser mais difícil. Também a UE avisou que responderá “de maneira decisiva” se for alvo das tarifas de Trump. O risco de uma escalada da guerra comercial não está descartado e deve continuar a orientar os mercados de câmbio. Na agenda, destaque para o relatório Jolts e o balanço da Alphabet nos EUA e aqui, para a ata do Copom, daqui a pouco (8h).
… A maior expectativa é para mais detalhes sobre o balanço de riscos, após o comunicado ter colocado a desaceleração da atividade como fator baixista para a inflação. Esse foi um dos pontos mais citados por quem considerou a mensagem dovish.
… O Copom manteve o balanço de riscos com assimetria altista, mas alterou os dois riscos de baixa para a inflação.
… No comunicado de dezembro, pontuou uma desaceleração da atividade global maior que a esperada e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes que o esperado.
… Já no comunicado de janeiro, introduziu uma eventual desaceleração da atividade mais acentuada que a projetada e um cenário menos inflacionário para as economias emergentes, como reflexo de choques sobre o comércio internacional.
… Os economistas do mercado também esperam mais considerações do BC sobre a trajetória de elevação da taxa Selic, se há limites para combater a desancoragem das expectativas por meio dos juros e se há preocupações adicionais do Comitê.
… “O mercado quer ver se o Copom segue preocupado em combater a aceleração na inflação e a desancoragem das expectativas ou se há novos pontos de preocupação que justificariam um BC menos duro daqui para frente”, disse Danilo Passos (WHG) ao Broadcast.
… O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, também espera mais detalhes sobre os novos pontos de atenção do BC, em especial, sobre o impacto que o nível elevado de juros pode ter sobre a atividade econômica.
… Já para Alvaro Frasson (BTG) seria importante o Banco Central corrigir na ata o pouco destaque que o comunicado deu à deterioração das expectativas de inflação, que continuaram piorando na pesquisa Focus desta 2ªF (leia abaixo).
… Após o Copom de janeiro, a ampla maioria do mercado espera mais uma elevação da Selic na reunião de março, com alta de 1,00 ponto porcentual, para 14,25%, em linha com o guidance do BC. Este é o cenário base de todas as 49 casas consultadas pela AE.
… A mediana indica a taxa a 14,75% na reunião de maio, encontro que permanece sem indicações futuras da autoridade monetária, e a estimativa intermediária para junho subiu de 15% para 15,25%, mesma estimativa para a reunião de julho.
… A estimativa intermediária para o juro básico ao final de 2025 manteve-se em 15% e as projeções variam de 12,25% a 16,25%.
… Já a mediana para o 3Tri/2026, atual horizonte relevante da política monetária, subiu para 13,13%, entre 10,75% e 15,25%.
PETROBRAS – Os ADRs da estatal exibiram leve alta de 0,20% após o fechamento, apesar de o relatório do 4Tri ter apontado nova queda relevante, de 10,5%, na produção de óleo e gás na comparação com um ano antes.
… O volume médio produzido foi de 2,628 milhões de barris diários (boed) de óleo equivalente.
… Na comparação com o 3Tri, a queda foi de 2,1%, devido ao maior número de paradas de manutenção, que foram compensadas apenas em parte pela entrada em operação de novos navios-plataforma no pré-sal.
… Apesar dos números frustrantes, a piora nas receitas da Petrobras, a ser divulgada dentro do balanço trimestral no fim do mês (dia 26), será atenuada pela melhora na venda de derivados, especialmente gasolina.
… O volume total de vendas de derivados no mercado interno registrou alta anualizada de 1,4% no 4Tri, para 1,758 milhões de barris por dia (Mbpd), com crescimento de 6,1% na gasolina, para 432 mil bpd.
… Embora o relatório da noite de ontem não tenha empolgado, a Petrobras atingiu dois recordes em 2024.
… A produção total operada no pré-sal atingiu 3,23 milhões de boed, superando a marca de 3,15 milhões de boed de 2023. Além disso, a produção própria no pré-sal também foi recorde: 2,19 milhões de boed.
… Outro assunto que está no radar do investidor em relação à Petrobras é a indicação de Lula, feita ontem a Alcolumbre, de que o governo deve destravar em breve estudos sobre exploração na Margem Equatorial.
… A notícia, ainda não oficial, foi antecipada por Lauro Jardim/O Globo.
… O Amapá, Estado de Alcolumbre, é um dos principais beneficiados com a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Rio Amazonas. O senador já declarou em diversas oportunidades o desejo de ver avançar o projeto.
MAIS AGENDA – O dia começa com o IPC-Fipe (5h), que deve desacelerar para 0,28% em janeiro, contra 0,34% em dezembro, segundo a mediana de pesquisa Broadcast. Sem horário, saem os dados de janeiro da Fenabrave.
… À tarde (15h30), o Tesouro publica o Relatório da Dívida de 2024 e o Plano Anual de Financiamento de 2025.
LÁ FORA – Na preparação para o payroll, na 6ªF, o relatório Jolts de vagas abertas nos EUA em dezembro (12h) deve mostrar um recuo discreto, a 8,02 milhões de postos, contra 8,09 milhões em novembro.
… As encomendas à indústria (12h) devem reduzir o ritmo de queda à metade, para 0,2% em dezembro, de 0,4% em novembro. Três Fed boys falam: Raphael Bostic (13h), Mary Daly (16h30) e Philip Jefferson (21h30).
… Após o fechamento, Austan Goolsbee disse que as políticas de Trump podem desacelerar os cortes de juros.
… “Agora temos de ser um pouco mais cuidadosos e prudentes com relação à velocidade com que as taxas do Fed podem cair, porque há riscos de que a inflação comece a subir novamente”, alertou em programa de rádio.
ARRIBA! – Sem parada para tomar fôlego, o real completou ontem onze pregões consecutivos em alta, na sequência de valorização mais longa em 20 anos, diante da tática de negociação de Trump de dar mais tempo ao México.
… Poupado até agora do protecionismo de Washington, o Brasil surge como opção para quem foge da instabilidade do peso mexicano e ainda tem tido a oportunidade de ampliar vendas à China, que já é nosso maior parceiro.
… Mais do que tudo isso, o alívio do dólar por aqui tem respondido ao fluxo positivo de capital estrangeiro, tanto em direção a ativos considerados baratos na bolsa doméstica, como atraído pelas taxas elevadas da renda fixa.
… Desde que o ano começou, a moeda americana já caiu quase 6%, consolidando-se abaixo dos R$ 6.
… Num primeiro momento, os ruídos de Trump sobre a imposição das tarifas pelos EUA sobre importações do Canadá, México e China levaram pressão ao dólar, até R$ 5,9053 na máxima intraday, antes de a poeira baixar.
… A pausa de 30 dias acertada com o governo mexicano aliviou e a moeda americana fechou a R$ 5,8160 (-0,35%).
… Juntou o dólar mais barato com a queda das taxas dos Treasuries e o caminho ficou livre para a curva do DI queimar prêmio de risco, especialmente no miolo e na ponta longa. A curta caiu menos, inibida pelo boletim Focus.
… Em nova rodada de piora nas expectativas de inflação, a mediana para o IPCA 12 meses à frente subiu de 5,64% para 5,74%. Esta medida ganhou importância nas análises do mercado após a regulamentação da meta contínua.
… Ainda no levantamento, as apostas para o IPCA deste ano tiveram alta marginal (5,50% para 5,51%), mas seguem firmes e fortes acima do teto da meta, de 4,50%. A estimativa para o IPCA/26 passou de 4,22% para 4,28%.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 caía para 14,865% (de 14,940% no pregão anterior); Jan/27 recuava a 14,825% (de 15,035%); Jan/29, a 14,445% (de 14,775%); Jan/31, a 14,390% (14,720%); e Jan/33, 14,350% (14,670%).
… Nesta 2ªF, ainda o tom conciliatório das declarações do presidente Lula após reunião com os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, ajudou a melhorar a percepção de risco doméstica.
… Lula disse que não mandará nenhum projeto às duas Casas sem anuência dos líderes e da cúpula do Congresso, e assegurou uma relação política harmônica entre os Poderes, enquanto Alcolumbre mandava recado ao STF.
… “A recente controvérsia sobre emendas parlamentares ao Orçamento ilustra a necessidade de respeito mútuo e diálogo contínuo. É indispensável garantir que este Parlamento não seja cerceado em sua função de legislar.”
A COR DO DINHEIRO – Sai hoje o informe da B3 sobre o fluxo de capital estrangeiro em janeiro, que já beira R$ 7 bilhões, marcando uma reviravolta em relação ao ano passado, lembrado pela falta de apetite do k externo.
… Em boa parte, o retorno do interesse neste início de 2025 se deve à movimentação desencadeada pela Cosan com a venda da fatia na Vale. Mas, além disso, a maior simpatia dos gringos pelo Brasil reflete o carry trade.
… Apesar da instabilidade fiscal doméstica, a melhor perspectiva de rentabilidade com a Selic alta tem feito a diferença e pode melhorar ainda mais se Trump aliviar a sua retórica protecionista e facilitar a vida do Fed.
… Ontem, diante da pausa de um mês na imposição das tarifas pelos EUA, o Ibovespa operou flat, em leve queda de 0,13%, aos 125.970,46 pontos e com volume financeiro de R$ 19,5 bilhões.
… Petrobras contrariou a alta do petróleo, com a ação ON em queda de 1,22% (R$ 41,14) e a PN, -0,50% (R$ 37,50). Os papéis podem ter operado em stand-by antes do relatório de produção e vendas, divulgado após o fechamento.
… Na ICE, o Brent/abril subiu 0,38%, a US$ 75,96 por barril, longe da máxima do dia (+3%) depois que a aplicação de tarifas dos EUA sobre o México foi adiada.
… Ontem, a Opep+ decidiu manter a política de aumentar gradualmente a produção a partir de abril.
… Vale inverteu o sinal e zerou as perdas (+0,07%; R$ 54,21), após queda de quase 1% no início da tarde.
… Para analistas ouvidos pelo Broadcast, não há risco direto de a política comercial dos EUA afetar a mineradora, já que a pressão tarifária de Trump pesa mais contra o aço.
… Nos bancos, a contagem regressiva pelos balanços já garante uma dose extra de volatilidade. Ontem, o setor fechou no vermelho. Itaú caiu 0,92%, a R$ 33,48, e Santander, -0,50% (R$ 25,83). Ambos soltam resultados amanhã.
… Bradesco PN registrou -0,17% (R$ 12,07) e Bradesco ON, -0,09% (R$ 11,01). O banco traz seus dados trimestrais na 6ªF. Banco do Brasil perdeu 0,25%, a R$ 27,61.
… A sessão foi favorável para algumas cíclicas por causa do alívio nos juros futuros. Automob liderou as altas, com +3,23% (R$ 0,32). Carrefour subiu 2,75% (R$ 6,36) e Hypera ganhou 2,57% (R$ 18,75).
… Na ponta oposta, Azul afundou 5,65%, a R$ 4,34; Braskem (-5,07%; R$ 13,11) e Marfrig (-4,97%; R$ 15,10).
PASSO ATRÁS – As bolsas em NY voltaram a cair em meio à escalada tarifária de Trump, mas fecharam longe das fortes perdas iniciais depois que o presidente dos EUA adiou a imposição de tarifas sobre o México por 30 dias.
… O Dow Jones caiu 0,27% (44.422,31 pontos); S&P 500 recuou 0,76% (5.994,65); e Nasdaq, -1,20% (19.391,96).
… Apesar da retórica incendiária de Trump, a pausa das tarifas sobre o México e Canadá reforçou a visão de alguns analistas de que está é uma ferramenta de negociação e que os investidores não deveriam reagir exageradamente.
… De forma geral, os profissionais não creem em tarifas duradouras.
… “Não acreditamos em tarifas permanentes sobre aliados dos EUA”, disse Thierry Wizman (Macquarie) à CNBC. “Fazer concessões é uma maneira mais fácil de lidar com Trump, que gosta de fazer acordos”, afirmou.
… Para Wizman, a pressão política e do mercado também deve pesar sobre as decisões do governo, como ocorreu em 2018.
… Seja como for, entre as grandes incertezas da guerra comercial, está a dúvida sobre como a economia dos EUA vai se comportar se esse cenário de materializar.
… Isso se refletiu nos Treasuries, com o juro curto em alta, enquanto os demais caíam.
… O da note de 2 anos subiu a 4,251% (de 4,207% na sessão anterior) e o da note de 10 anos caiu a 4,532% (de 4,536%). O do T-bond de 30 anos cedeu a 4,759% (de 4,788%).
… Para o JPMorgan, uma guerra comercial poderia adicionar 1pp, ou mais, à inflação americana. O Morgan Stanley calcula um aumento de 0,3 a 0,6pp, mais redução no PIB de 0,7 a 1,1 ponto percentual.
… Em relatório, a corretora Charles Schwab disse que, segundo o modelo do Fed, o núcleo de inflação pode ter uma alta adicional de 0,7pp.
… Susan Collins, do Fed/Boston, disse ontem que há risco inflacionário. “Tarifas de base ampla como as anunciadas não provocariam apenas aumento nos preços dos bens finais, mas também nos bens intermediários”, disse.
… Raphael Bostic, do Fed/Atlanta, revelou que empresas consultadas sobre eventuais impactos de tarifas têm afirmado que repassarão 100% dos custos para seus clientes.
… A cautela nos Treasuries longos se sobrepôs aos PMIs, que indicaram recuperação na indústria dos EUA.
… O indicador medido pelo ISM subiu de 49,2 em dezembro para 50,9 em janeiro, de uma expectativa de 49,5. O número da S&P Global avançou a 51,2, de 49,4, e previsão de 50. Foi a primeira expansão em sete meses.
… O dólar reduziu a alta após a trégua entre México e EUA. O índice DXY chegou a bater em 109,881 pontos, mas fechou em 108,99 pontos, ainda com ganho expressiva de 0,57%.
… Com a UE na mira de Trump, o euro caiu 0,81%, a US$ 1,0299, a despeito da aceleração do CPI de janeiro no bloco para 2,5% (preliminar), de 2,4% em dezembro.
… Já a libra ficou estável (-0,04%), a US$ 1,2405, em meio a negociações mais amigáveis entre EUA e Reino Unido. Visto como ativo de segurança, o iene subiu 0,25%, a 154,817/US$.
… O dólar canadense fechou estável (+0,08%), a 1,441/US$, enquanto o peso mexicano subiu 1,64%, a 20,339/US$.
EM TEMPO… PETROBRAS recebeu o pagamento contingente (earnout) de R$ 2,161 bilhões dos parceiros nos blocos de Sépia e Atapu. Também recebeu R$ 516 milhões da Karoon Petróleo & Gás referente à venda do campo de Baúna.
MOVIDA cancelou o registro de companhia aberta da Movida Locação. O cancelamento foi aprovado pela CVM.
RUMO. Citi rebaixou a ação de compra para neutro e reduziu o preço alvo de R$ 22,50 para R$ 19,50. Perspectiva para transporte de soja é positiva, mas para o transporte de milho “não é tão promissora”, diz o banco.
KLABIN recebeu primeira parcela, de R$ 800 milhões, prevista em acordo com a Timo. O aporte da segunda parcela de R$ 1,0 bilhão, sujeito a eventuais ajustes, segue previsto para o segundo trimestre.
COPEL. Mercado do segmento de distribuição cresceu 4,7% no 4Tri24 sobre o 4Tri23, para 9.226 GWh…
… O volume é composto pelo mercado cativo, pelo suprimento a concessionárias e permissionárias e pela totalidade dos consumidores livres…
… Segundo a empresa, o crescimento reflete, principalmente, o aumento da atividade econômica e o padrão de consumo mais elevado da base de clientes.
CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL aprovou a 2ª emissão de debêntures, no valor de R$ 300 milhões. O vencimento é em 5 de fevereiro de 2030.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
Escalada tarifária de Trump renova tensão
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[03/02/25]
… As tarifas de 25% impostas pelos EUA ao México e Canadá, e de 10% à China –oficializadas no sábado– afundavam os futuros das bolsas de NY e disparavam o petróleo no pregão asiático. Depois de um início de governo mais amigável, Trump está vindo com tudo. Já ameaçou taxar também os produtos importados da União Europeia, “em breve”. A crise ganha dimensão na semana de agenda movimentada, com a volta dos mercados chineses do feriado do Ano Novo Lunar (na 4ªF), o payroll de janeiro (6ªF) e os balanços de mais duas magníficas: Alphabet e Amazon. Aqui, Petrobras divulga hoje à noite o relatório de produção e vendas do 4Tri. A temporada de resultados começa com os grandes bancos: Santander e Itaú (4ªF) e Bradesco (6ªF). Além disso, a ata do Copom (amanhã) reserva bastante expectativa.
… O BC optou por não se comprometer com um novo guidance e deixou maio em aberto, ganhando liberdade para operar as incertezas da conjuntura externa e do cenário doméstico, com a inflação desancorada, o esfriamento da atividade e as desconfianças fiscais.
… Lá fora, a guerra comercial armada por Trump pede cautela e já leva a contra-ataques, potencializando os riscos.
… As tarifas ao Canadá, México e China entrarão em vigor a partir de amanhã (3ªF).
… O governo de Trudeau já revidou no próprio sábado, impondo também 25% sobre produtos americanos. De um total de US$ 155 bilhões, US$ 30 bilhões entrarão em vigor amanhã (3ªF) e US$ 125 bilhões em 21 dias.
… Em conversa com repórteres na noite deste domingo, Trump alertou que, se o Canadá retaliar, Washington pode colocar novas tarifas sobre o país. Ele vai conversar hoje de manhã com o primeiro-ministro canadense.
… Em entrevista à ABC News neste domingo, a embaixadora do Canadá nos EUA, Kirsten Hillman, disse que o governo ainda tem esperança de que as tarifas americanas contra o país não entrem em vigor amanhã.
… “Estamos prontos para continuar conversando com o governo Trump sobre isso”, declarou, assegurando que o governo canadense não está interessado em uma escalada na política protecionista contra os EUA.
… Segundo ela, os canadenses estão “perplexos e chocados” com as tarifas impostas pelos EUA.
… Trump também informou que vai se reunir hoje com o governo do México, que havia prometido para esta 2ªF as primeiras medidas contra as tarifas, enquanto a China anunciou que processará os EUA na OMC.
… A UE também não deve escapar das garras de Trump, que ameaça com “algo substancial em breve”. A Comissão Europeia promete dar o troco e responder “firmemente a tarifas injustas ou arbitrárias”.
… Trump ainda prometeu taxar chips e disse que as tarifas sobre o petróleo, gás, aço, alumínio e cobre deverão ser aplicadas até dia 18.
… Diante da artilharia de Trump, o Goldman Sachs enviou relatório para clientes neste domingo em que reconheceu que “o panorama é incerto”, mas avaliou que provavelmente as tarifas impostas serão temporárias.
… Reportagem da Reuters aponta para o risco de um novo abalo no humor do mercado hoje, diante dos riscos que as investidas de Trump representam para as pressões inflacionárias e menor crescimento econômico global.
… No câmbio, o dólar subia ante rivais, com o índice DXY em alta de 1,21%, acima de 109 pontos, e frente às moedas dos emergentes, com destaque para a desvalorização do dólar canadense e do peso mexicano, os primeiros atingidos pelas tarifas.
MAIS AGENDA – A troca de chumbo de Trump eleva as incertezas sobre os próximos passos do Copom, que já contratou nova alta de 1pp da Selic em março, mas ainda tem bastante tempo para decidir o que fazer até maio.
… Parte do mercado passou a especular com a chance de o ciclo de aperto terminar ainda neste primeiro semestre, porque o BC citou a desaceleração da atividade e não se comprometeu com novo guidance, apesar da inflação alta.
… O investidor vai tentar ler na ata se o BC foi mesmo dovish no comunicado ou só mais cuidadoso nas palavras. Além disso, o mercado ficará de olho em Galípolo, que deve palestrar na 5ªF em evento do BIS na Cidade do México.
… No calendário dos indicadores domésticos, destaque para a produção industrial de dezembro (4ªF), neste momento em que uma série de dados já aponta para uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia.
… Do lado da inflação, saem os resultados fechados de janeiro do IGP-DI (6ªF), IPC-Fipe (3ªF) e IPC-S, hoje (8h), quando deve aliviar para 0,06% (mediana de pesquisa Broadcast), contra alta de 0,31% em dezembro.
… Na última 6ªF, diante da volta da cobrança do ICMS pelos Estados, a Petrobras confirmou um reajuste de 6,3% no preço do diesel. Economistas projetam impacto praticamente nulo sobre o IPCA deste ano (+0,01 pp).
… Porém o impacto indireto sobre alimentos, transportes e energia pode provocar o espalhamento da inflação.
… Os dados fechados da balança comercial de janeiro estão programados para 6ªF. Hoje é dia de Focus (8h25).
EM BRASÍLIA – Lula recebe hoje, às 10h, os presidentes eleitos da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. A nova cúpula do Congresso indica que pretende seguir um caminho conciliatório.
… Analistas ouvidos pelo Broadcast apostam que o comando de Motta, que assumiu falando em responsabilidade fiscal e defendendo as emendas, tende a ser mais favorável à agenda de Lula e de Haddad.
… O deputado possui boa relação política com Padilha, responsável pela articulação do governo no Congresso.
… “Mas não será um mar de rosas. Lula tem que manter o esquema das emendas parlamentares funcionando”, como resumiu o cientista político e professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Eduardo Grin.
… Lula parabenizou Motta e Alcolumbre e falou em ampliar a parceria “exitosa” entre Executivo e Legislativo.
… Hoje à tarde (14h), o presidente e Haddad participam da sessão solene de abertura do Ano Judiciário, no STF. Na sequência (16h), o ministro da Fazenda vai à sessão conjunta do Congresso que inaugura o ano legislativo.
… Em meio à crise de popularidade do governo, sai hoje nova pesquisa presidencial Genial/Quaest.
… Segundo Lauro Jardim (O Globo), o presidente Lula continua muito competitivo, mesmo com a piora na avaliação do governo, depois que a reprovação ultrapassou a aprovação no levantamento anterior.
… A pesquisa de hoje testará pela 1ª vez Gusttavo Lima e Eduardo Bolsonaro como opções da direita.
FISCAL SEMPRE EM ALERTA – Reportagem do Estadão de domingo aponta que os gastos não incluídos no Orçamento/25 pelo governo podem diminuir ou até mesmo anular os efeitos do pacote fiscal aprovado.
… O Orçamento, enviado em agosto do ano passado pelo Poder Executivo, ainda não foi aprovado pelo Legislativo, porque a crise das emendas atrasou a votação, que só deve ser retomada após o carnaval.
LÁ FORA – O BC inglês (BoE) divulga decisão de política monetária na 5ªF. No mesmo dia, o México decide juro.
… Nos EUA, além dos balanços de Alphabet (3ªF) e Amazon (5ªF), o emprego disputa atenção na agenda. Antes do payroll de janeiro (6ªF), saem o relatório Jolts (3ªF) e pesquisa ADP do setor privado (4ªF).
… Hoje, saem o PMI industrial medido pela S&P Global (11h45) e ISM (12h) em janeiro, além dos investimentos em construção em dezembro (12h). O Tesouro divulga às 17h as estimativas trimestrais de empréstimo federal.
… Entre os Fed boys, Raphael Bostic (14h30) e Alberto Musalem (20h30) participam de eventos nesta 2ªF.
… A Opep se reúne hoje para revisar as restrições de fornecimento.
… Ainda nesta 2ªF, o PMI industrial será divulgado na zona do euro (6h), Alemanha (5h55) e Reino Unido (6h30). O CPI da zona do euro sai às 7h.
CHINA HOJE – O PMI/S&P Global industrial caiu a 50,1 em janeiro (final), de 50,5 em dezembro. Amanhã (3ªF) à noite, sai o PMI/S&P Global composto de janeiro. No sábado, tem inflação na China.
JAPÃO HOJE – O PMI industrial recuou a 48,7 em janeiro, contra 49,6 em dezembro. Foi o sétimo mês consecutivo de queda na atividade do setor e o ritmo de contração mais intenso desde março do ano passado.
NÃO SE ABALOU – O dólar chegou à décima queda seguida na 6ªF, na onda do carry trade, atraente para o investidor gringo, e na contramão da moeda no exterior, que subiu após o tarifaço de Trump.
… Na mínima do dia, o dólar por aqui desceu a R$ 5,81 (-0,70%).
… Houve certa volatilidade antes da formação da Ptax, mas a queda se manteve à tarde, com a moeda fechando em baixa de 0,28%, a R$ 5,8366. Na semana, caiu 1,39%; no mês, o recuo foi de 5,56%, o maior desde junho/23 (-5,59%).
… O otimismo de janeiro se estendeu aos juros, que caíram cerca de 100pb, e à bolsa, que teve o primeiro mês positivo após quatro no vermelho.
… Matéria da repórter Aline Bronzati/Broadcast, na 6ªF, mostrou que investidores estrangeiros começam a enxergar um ponto de entrada em determinados ativos brasileiros, apesar do fiscal.
… No momento, o interesse beneficia ativos menos arriscados, mas pode aumentar se houver medidas que contenham o crescimento da dívida e deem mais clareza sobre a trajetória fiscal, segundo banqueiros e executivos.
… Em novo sinal de desaquecimento da economia, a taxa de desemprego no 4Tri24 ficou acima (6,2%) do esperado (6,0%), a 1ª alta após oito quedas seguidas.
… Nos juros, a ponta curta reagiu ao estresse nos Treasuries depois de confirmadas as tarifas dos EUA sobre México, Canadá (25%) e China (10%) e ao reajuste de 6,3% no preço do diesel pela Petrobras.
… Os DIs médios e longos encontraram apoio na queda do dólar e caíram. Também foram amparados pelo déficit um pouco menor do setor público consolidado em 2024, de R$ 47,5 bilhões, contra expectativa de R$ 48,8 bilhões.
… O DI para janeiro de 2026 subiu a 14,940% (de 14,855% no fechamento anterior) e o Jan/27 avançou a 15,035% (14,980%). Já o Jan/29 caiu a 14,775% (14,865%); Jan/31, a 14,720% (14,870%); e Jan/33, a 14,670% (14,850%).
SEM ÍMPETO – Tudo ia bem no Ibov até o meio da tarde, quando Trump confirmou as tarifas sobre seus principais parceiros comerciais. O anúncio dragou as bolsas de NY e levou junto o índice brasileiro.
… Nem Petrobras, em alta após o reajuste do diesel, salvou o dia.
… O Ibov encerrou em baixa de 0,61%, aos 126.134,94 pontos e giro de R$ 21,6 bilhões. Mas na semana subiu 3,01% e, em janeiro, acumulou ganho de 4,86%, a primeira valorização mensal desde agosto passado.
… Petrobras ON subiu 0,68% (R$ 41,65) e PN teve alta de 0,80% (R$ 37,69), após aumentar em R$ 0,22 o litro (+6,3%) do diesel nas refinarias.
… O combustível estava sem reajuste havia 401 dias. Segundo o Citi, a defasagem ante o mercado internacional caiu de 11% para 4%. Nas contas do BTG, recuou de 10% para 3%.
… Ação da petroleira foi na contramão do Brent/abr, que recuou 0,28%, a US$ 75,67.
… Vale, por sua vez, afetada pela tarifa contra a China, cedeu 1,56%, a R$ 54,17.
… Bancos ficaram mistos. Itaú fechou na mínima, em R$ 33,81 (-0,65%). Bradesco PN caiu 0,41% (R$ 12,09) e Bradesco ON perdeu 0,27% (R$ 11,02). Santander ganhou 0,89% (R$ 25,96) e Banco do Brasil subiu 0,14% (R$ 27,68).
… No topo do ranking positivo, Totvs avançou 4,45% (R$ 34,06). Na outra ponta, Vibra Energia caiu 5,07% (R$ 16,86), após rebaixamento pelo Goldman Sachs, de compra para neutro.
COLOCOU NO PREÇO – A confirmação de que os EUA iriam impor tarifas de importação sobre México, Canadá e China no sábado acabou com a festa dos mercados em NY na 6ªF.
… Os ativos iniciaram o dia bem, mas o caráter imprevisível de uma eventual guerra comercial provocou fuga do risco na segunda metade do pregão.
… As bolsas caíram, o dólar e os juros dos Treasuries subiram, com a note de 10 anos firme acima dos 4,5%.
… No fechamento de NY, o Dow Jones caiu 0,75%, aos 44.544,66 pontos; o S&P 500 cedeu 0,50% (6.040,53) e o Nasdaq perdeu 0,28% (19.627,44). Na semana, o Dow subiu 0,27%, o S&P 500 baixou 1,00% e Nasdaq, -1,64%.
… No mês, as bolsas subiram de forma expressiva, puxada por dados que reforçam a solidez da economia americana e um início de governo Trump menos turbulento que o esperado (agora desandou).
… O Dow subiu 4,70%, o S&P 500, +2,70% e o Nasdaq, +1,64%.
… Na 6ªF, as declarações de Trump acabaram deixando em segundo plano os dados que mostraram aceleração menor que a esperada no custo de mão de obra e a inflação em linha com o previsto nos EUA, embora mais alta.
… O PCE, o índice preferido do Fed, acelerou para 0,3% em dezembro, de 0,1% em novembro, mas ficou dentro do esperado. O mesmo na comparação anual. Subiu de 2,4% para 2,6%, dentro do previsto.
… O núcleo do índice também não trouxe surpresas. Avançou a 0,2%, de 0,1% em novembro, e no confrontou anual repetiu a taxa de 2,8%.
… Os gastos com consumo subiram 0,7% no mês, acima da previsão de 0,5% e da taxa de 0,4% em novembro. A renda pessoal cresceu 0,4%, dentro do esperado, e acima do 0,3% de um mês antes.
… De uma forma geral, os que reforçaram a postura do Fed de não ter pressa em cortar o juro.
… Na esteira das políticas protecionistas de Trump, que podem estimular a inflação, o juro da note de 10 anos subiu a 4,551% (de 4,515%) e o do T-Bond de 30 anos foi a 4,803% (de 4,761%). O da note de 2 anos ficou estável (4,203%).
… O índice DXY subiu 0,53%, a 108,356. O euro caiu 0,26%, a US$ 1,0383. A libra cedeu 0,18%, a US$ 1,2410. O iene recuou 0,63%, a 155,202/US$, devolvendo o ganho da véspera.
… Apesar do aumento da aversão ao risco, o peso mexicano teve leve apreciação, enquanto o dólar canadense apresentou um pequeno recuo.
EM TEMPO… PETROBRAS recebeu R$ 1,025 bi da Prio por pagamento contingente (“earnout”) do preço do petróleo de 2024; pagamento corresponde à última parcela recebida pela venda de Albacora Leste.
JBS. Itaú BBA projetou Ebitda ajustado de R$ 9,7 bilhões no 4TRI da companhia, o que posicionará a empresa no topo do seu guidance para 2024.
NATURA informou que seu acionista fundador, Guilherme Peirão Leal, reduziu sua participação na empresa de 7,166% para 4,166%…
… A redução, quando efetivada, será por meio da doação de ações ON a seus filhos, com reserva do usufruto vitalício da integralidade dos respectivos direitos políticos e econômicos; cada um dos donatários passa a deter 1%…
… Leal tem ainda o usufruto político e econômico de 6,54% das ações cuja propriedade é de seus filhos Felipe e Ricardo, totalizando uma fatia de 13,1%.
EZTEC acertou capitalização de R$ 130 milhões em troca de 47% da Adolpho Lindenberg.
TENDA. JPMorgan atingiu participação de 5,03% das ações ON.
ALLOS fará resgate antecipado de debêntures da 5ª emissão no dia 14/2.
CAIXA SEGURIDADE. Oferta de ações deve ser lançada este mês, de acordo com fontes do Broadcast. A ideia é levar a operação a mercado após a publicação do balanço da companhia, prevista para a segunda semana de fevereiro.
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*com a colaboração da equipe do BDM Online
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Saem as primeiras tarifas de Trump
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[31/01/25]
… A imposição de tarifas de 25% sobre o petróleo do Canadá e México, já a partir deste sábado, foi confirmada na reta final do pregão por Trump, com impacto imediato nos negócios, sobretudo no câmbio. O dólar, que vinha em queda em NY, virou para alta, enquanto os juros dos Treasuries reduziram as perdas. Aqui, o dólar futuro, que ainda operava, ganhou força e subiu 0,38%. Trump não só confirmou as ameaças, como citou a China, dizendo que está se preparando para aplicar tarifas ao país asiático – preocupação em dobro para os emergentes. Assim, os mercados abrem hoje repercutindo a notícia, além da agenda importante, com o PCE de dezembro nos EUA e, aqui, os números fiscais consolidados de 2024 (8h30), após o superávit do Governo Central acima do esperado ter ajudado a derrubar os juros futuros abaixo dos 15%.
… Os dados surpreenderam positivamente (abaixo), reforçando a reação ao Copom, numa estreia muito bem-sucedida de Galípolo.
… As taxas dos contratos de curto prazo na BM&F chegaram a cair 50 pontos-base, sustentadas pela leitura de parte do mercado que o Copom foi “dovish”, quando o que o Copom fez foi ter um pouquinho mais de cuidado na redação do comunicado.
… É verdade que o Copom não alardeou a nova rodada de deterioração das expectativas inflacionárias, mas essa preocupação estava lá. Era para ter alardeado? Assim como não poderia se comprometer com maio. Se há incertezas, não pode haver guidance.
… Se nem o Fed sabe se vai conseguir continuar cortando os juros, porque primeiro precisa entender as políticas de Trump, por que o BC teria que ter uma bola de cristal? E não é papel do BC se mostrar apavorado e induzir o mercado à volatilidade.
… Essa estratégia também faz parte da administração de expectativas.
… Imagine você qual seria a reação dos agentes se o BC vislumbrasse um cenário sem saída, contratando desde já uma mão pesada para maio? Para quanto teriam puxado a Selic terminal? O fato é que o Copom conseguiu baixar a bola do mercado.
… Não foi leniente, não foi omisso, confirmou o guidance, não só na reunião desta semana como também para março, e vai esperar para ver. Tem muito chão até maio. O que o mercado tem que ter certeza é que, se chegar lá e a coisa não melhorar, o BC agirá.
NA MOSCA – As contas do governo central serviram ontem como um importante driver de otimismo aos negócios, na medida em que o Brasil conseguiu cumprir o arcabouço fiscal, respeitando o intervalo da meta, de até -0,25%.
… Tirando da conta as despesas com a ajuda emergencial ao Rio Grande do Sul, o déficit de R$ 11 bi correspondeu a 0,09% do PIB. Já considerando o valor desembolsado após as enchentes, o déficit foi de R$ 43 bi (0,36% do PIB).
… Foi o melhor resultado anual desde 2022 e superou a mediana das previsões dos economistas, de -R$ 45,7 bi.
… Para o resultado de hoje do setor público consolidado em dezembro, a mediana da pesquisa Broadcast indica um superávit primário de R$ 14,5 bilhões, revertendo o déficit de R$ 6,620 bilhões em novembro.
… O intervalo inteiro das apostas é positivo e vai de R$ 5,0 bilhões até R$ 26,7 bilhões.
… No acumulado do ano, o déficit primário deve ficar em R$ 48,80 bi. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que a dívida bruta do governo geral deve fechar 2024 em torno de 77% do PIB, “um pouco menos ou pouco mais”.
… Apesar da melhor percepção fiscal, a Previdência segue como foco de maior preocupação. Os dados divulgados ontem revelam que o governo gastou quase R$ 30 bi a mais com a Previdência em 2024 do que estava prevendo.
… Na previsão da lei orçamentária do ano passado, o governo estimava que as despesas com benefícios previdenciários ficariam em R$ 908,7 bilhões. O gasto nominal realizado, contudo, foi de R$ 938,544 bilhões.
… Economistas acusam a equipe econômica de vir subestimando os riscos. Ceron disse que o Planejamento está debruçado para reestimar os gastos previdenciários de 2025 para que não seja novamente pego de surpresa.
… As pressões na Previdência têm obrigado o governo a bloquear gastos discricionários para honrar a meta fiscal.
COMPRA BRIGA – Na entrevista gravada ontem pela manhã à RedeTV e transmitida no fim da noite pela emissora, Haddad afirmou que as críticas do mercado ao resultado das contas públicas têm “componente ideológico”.
… O ministro da Fazenda citou que os déficits fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram “muito maiores”, mas que se passa a “falsa ideia” de que agora é que as contas estão descontroladas. “É uma falsificação da realidade.”
… Em sua avaliação, o governo Lula 3 está endereçando “exitosamente” o tema da reponsabilidade fiscal.
… Haddad disse que revisar gastos é atividade rotineira na Fazenda e no Planejamento e que a equipe econômica tem trabalhado continuamente em medidas que serão levadas ao presidente da República, mas não citou quais.
… Ele não respondeu se pretende acabar com grandes renúncias, como o Simples Nacional e a Zona Franca.
… Sobre a crise dos alimentos, reiterou que os preços vão se acomodar, com dólar mais baixo e aumento da safra. Diante da redução esperada nas pressões inflacionárias, manteve a previsão de que o PIB vai crescer 2,5% este ano.
… Ao comentar a articulação política do governo em relação à agenda econômica no Congresso, Haddad garantiu ter uma “relação excelente” com Hugo Motta e Alcolumbre, que devem assumir a Câmara e Senado nos próximos dias.
… Quanto à corrida presidencial em 2026, disse que não trabalha com a perspectiva de uma disputa sem Lula.
PLUS A MAIS – Ontem, além do déficit fiscal perto de zero, também o que ajudou a derreter os prêmios na curva do DI foram os dados fracos do Caged em dezembro, que sinalizaram desaceleração da atividade econômica.
… Houve fechamento líquido de 535.547 empregos formais no mês do Natal, pior que o piso estimado (-487.116).
… Hoje, no entanto, a Pnad (9h) deve vir bem, com a taxa de desemprego encerrando 2024 em 6%, menor valor da série histórica. As projeções no mercado para a pesquisa do IBGE sobre a mão de obra variam de 5,9% a 6,2%.
… O Caged ruim se somou ontem a outros indicadores recentes que mostram uma economia menos aquecida.
… Esta semana, o Copom colocou uma “eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada” como risco de baixa para a inflação. Todo mundo quer ver mais detalhes na ata da próxima 3ªF.
… Apesar de parte do mercado estar se antecipando a especular com o final do ciclo de aperto da Selic mais cedo que se imaginava, em pesquisa Broadcast, a mediana para a Selic em maio, que é a incógnita, continua em 14,75%.
LULA AJUDOU – Em nova estratégia de comunicação, em meio ao desgaste de popularidade, o presidente deu ontem uma entrevista coletiva de pouco mais de 1h aos jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto.
… Falou bem de Haddad, de Galípolo e da Petrobras. O mercado gostou. Após ter protagonizado inúmeras trocas de farpas com RCN por causa da Selic, Lula saiu em defesa da política monetária no day after da nova alta de 1pp.
… Explicou que o novo presidente do BC não poderia dar “um cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra” e que a necessidade de subida de juros pelo outro presidente [RCN] “já estava praticamente demarcada”.
… Em aval à autonomia do BC, disse que Galípolo “fez aquilo que entendeu que deveria”, mas que tem 100% de certeza que o BC vai criar as condições para entregar ao povo juro menor, “no tempo em que a política permitir”.
… Saiu também em defesa total de Haddad na conversa com a imprensa. Lula disse ter dado risada quando soube das críticas do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ao ministro da Fazenda, chamado de “fraco” na 4ªF.
… Lula enumerou todas as ações de Haddad e disse que Kassab foi injusto e deveria pedir desculpas.
… Comentários do presidente reforçando a independência da Petrobras também jogaram a favor nos negócios. Na coletiva, Lula afirmou que “não autorizou” aumento do diesel, porque “quem autoriza é a Petrobras”.
… Na mesma linha, Alexandre Silveira (MME) disse à Folha que o governo não fará “peripécia” para baixar os combustíveis, referindo-se a alterações em impostos. “Não tem hipótese de baixar Cide, PIS e Cofins. Chance zero.”
… O ministro afirmou que o governo federal “deixará o mercado se resolver”. Ele citou um provável aumento de R$ 0,20 ou R$ 0,21 no preço do diesel e disse que a estatal fará “o que tem que ser feito de maneira correta”.
… Paralelamente ao debate sobre o reajuste dos combustível, amanhã, de qualquer forma, o preço da gasolina vai subir R$ 0,10 por litro e o diesel deve aumentar R$ 0,06 por litro nas bombas devido à elevação do ICMS.
FAMA DE MAU – Em postagem ontem à noite, Trump engrossou com os Brics, ameaçando aplicar tarifa de 100% se o bloco insistir nos planos de criar uma moeda própria para substituir o dólar no comércio exterior.
… O republicano disse que exigirá compromisso desses países “aparentemente hostis”. Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul “que procurem outra nação otária e digam adeus à venda para a maravilhosa economia dos EUA.”
AFTER HOURS – Após o susto com a queda de 11% nas vendas de iPhone na China no 4Tri, Apple subiu 3,03% no pregão estendido, focando no guidance de aumento de receita no trimestre que acaba em março.
… A empresa mais valiosa do mundo teve lucro líquido de US$ 36,3 bilhões no trimestre encerrado em dezembro, 7% mais que mesmo período do ano anterior, de expectativa de US$ 35,6 bilhões.
… O lucro por ação, de US$ 2,40, superou os US$ 2,35 esperados.
… O mercado também gostou os resultados da Intel (+3,65%). Apesar do prejuízo líquido de US$ 126 milhões, a perda diluída por ação ficou em US$ 0,03, melhor do que a queda esperada de US$ 0,09 esperado.
MAIS AGENDA – Após o Fed segurar o juro, seu índice preferido de inflação, o PCE (10h30), deve mostrar aceleração em dezembro, para 0,3%, de 0,1% (novembro). Na comparação anual, deve subir de 2,4% para 2,6%.
… O núcleo deve dobrar para 0,2%, mas no ano deve permanecer em 2,8%.
… Ainda hoje, o ISM/Chicago informa o PMI de janeiro (11h45). Às 10h30, o Depto do Trabalho divulga o Índice de Custo de Emprego do 4Tri, que deve subir 1%, de 0,8% no 3Tri, e Michelle Bowman (Fed) fala em evento.
… A Baker Hughes informa o número de poços e plataformas de petróleo em operação nos EUA (15h), mesmo horário em que o BC da Colômbia decide juros.
… Na Europa, a Alemanha divulga o CPI preliminar de janeiro, que deve desacelerar de 0,5% (dez) para 0,2%.
… Por aqui, a Aneel define bandeira tarifária de fevereiro.
O IMPÉRIO CONTRA-ATACA – Na reta final dos pregões aqui em NY, a sinalização de Trump de que as tarifas contra o Canadá, México e China podem ser para valer assustaram e provocaram reação imediata nos mercados.
… Na curva do DI, os vencimentos longos se afastaram das mínimas, acompanhando a desaceleração das baixas das taxas dos Treasuries. No câmbio, o contrato do dólar futuro para fevereiro subiu 0,38%, cotado a R$ 5,8780.
… O mal-estar de última hora veio na direção contrária do otimismo ao longo do dia, que garantiu a nona alta consecutiva do real e induziu todas as taxas dos juros futuros a rodarem abaixo dos 15% no pós-Copom.
… Traders leram o comunicado do BC como dovish e o investidor ainda viu com bons olhos os esforços de Lula para proteger Galípolo das críticas da ala radical do PT à alta da Selic em sua estreia no comando da política monetária.
… O fato de o Copom ter deixado em aberto os passos para maio deixou a impressão em parte do mercado de que o BC pode desacelerar o ritmo de aperto, o que provocou uma correção das apostas para a Selic nos DIs curtos.
… Para completar o cenário positivo, a percepção de risco fiscal melhorou com o déficit fiscal muito próximo de zero e ainda os números mais fracos do mercado de trabalho (Caged) ajudaram a queimar prêmios de risco na curva.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,855% (de 15,180% no pregão anterior); Jan/27 caía a 14,980% (de 15,375%); Jan/29, a 14,865% (de 15,115%); Jan/31, 14,870% (15,060%); e Jan/33, a 14,850% (14,980%).
… No câmbio à vista, que já estava fechado quando Trump atacou, ainda não foi ontem que o dólar parou de cair.
… A moeda americana chegou a operar em alta durante quase todo o pregão, sinalizando que poderia realizar os lucros. Mas, a poucos minutos do fechamento, inverteu o sinal e emplacou queda de 0,23%, negociada a R$ 5,8528.
… No Broadcast, o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, disse que as especulações criadas pelo Copom sem guidance para maio pressionaram o dólar logo cedo, mas que o carry trade continua vantajoso.
… “Há espaço para o dólar furar o piso técnico de R$ 5,80. É muito caro ficar comprado em dólar com os juros altos. É preciso um fluxo de notícias negativas para fazer valer a pena comprar dólares”, afirmou o especialista.
… Como se viu no final da tarde de ontem, o que pode botar muita coisa a perder nos mercados emergentes é Trump, que já faz valer o seu estilo durão. Hoje, a volatilidade ainda pode ser redobrada pela disputa da ptax.
ABRIU O APETITE – O Ibovespa deu um sprint de quase 3,5 mil pontos ontem, fechou colado nos 127 mil pontos (126.912) e o que é melhor: com giro bom, de R$ 25,6 bilhões, para dar consistência ao fluxo comprador.
… O alívio dos juros futuros, a meta fiscal cumprida e as falas responsáveis de Lula sobre a Petrobras e o Copom fizeram a festa no índice à vista da bolsa doméstica, com alta generalizada entre as ações e força entre as blue chips.
… O Ibov se encaminha para a primeira alta mensal desde agosto, quando subiu 6,54% e anotou sua última máxima histórica, aos 137 mil pontos. Com ganho de 5,51% até ontem, este pode ser o melhor janeiro desde 2022 (+6,98%).
… Peso-pesado, Vale recuperou R$ 10 bilhões em valor de mercado, com alta de 4,22%, a R$ 55,03. O papel girou mais de R$ 2 bilhões, com quase 55,6 mil negócios, o maior volume da B3.
… A alta na ação da mineradora se ampliou após Lula ter dito que “foi boa” a reunião com o CEO da Vale, Gustavo Pimenta. Um novo encontro será realizado para discutir obstáculos setoriais enfrentados pela companhia.
… Petrobras pegou o embalo positivo e subiu bem mais que o petróleo no dia. O papel ON registrou +1,97% (R$ 41,37) e o PN, +1,33% (R$ 37,39). Lá fora, o Brent/abril registrou valorização moderada de 0,37%, a US$ 75,80/barril.
… Deixando a polêmica de lado, as declarações de Lula em defesa da independência da Petrobras pegaram bem.
… Os bancos foram alvo de interesse gringo e também ganharam força com a notícia (Broadcast) de que governo estuda prazo máximo de 5 anos para operações de crédito com garantia do FGTS. A imposição é vista como positiva.
… Bradesco puxou os ganhos: PN (+5,47%; R$ 12,14) e ON (+4,44%; R$ 11,05). Às vésperas de seus balanços (dia 5) Santander subiu 3,83% (R$ 25,73) e Itaú avançou 2,44% (R$ 34,03). BB teve alta de 0,73%, a R$ 27,64.
… A queda dos juros futuros beneficiou Magazine Luiza, com +12,59% (R$ 7,42); Yduqs, +9,86% (R$ 10,36); e CVC, +8,33% (R$ 1,95), na liderança das altas.
… Apenas quatro papéis fecharam no vermelho: Petz (-2,21%; R$ 4,86), Braskem (-1,27%; R$ 14,03), BB Seguridade (-0,44%; R$ 38,59) e BRF (-0,14%; R$ 22,00).
EFEITO TRUMP – Nos pós-Fed e com alguns bons balanços, as bolsas de NY fecharam em alta moderada. O otimismo com a Tesla ajudou a compensar a decepção com a Microsoft.
… Declarações de Trump quase colocaram os ganhos a perder. Perto do fechamento, os índices cederam momentaneamente depois de Trump confirmar as tarifas de 25% sobre México e Canadá a partir de amanhã.
… O câmbio sentiu mais o baque e o dólar subiu, enquanto os juros dos Treasuries diminuíram a queda.
… No fechamento, o Dow Jones escapou em alta de 0,38%, aos 44.882,13 pontos. S&P500 avançou 0,53% (6.071,17) e o Nasdaq ganhou 0,25% (19.681,75).
… Tesla (+2,87%) ajudou a puxar o Nasdaq e o S&P 500 depois que Musk prometeu lançar modelos de carros mais baratos até o fim do primeiro semestre e começar a testar um serviço autônomo de transporte, em junho.
… Meta (+1,55%) e IBM (+12,96%) foram bem depois de os balanços superarem as expectativas de Wall Street. Microsoft caiu 6,18% com previsões de crescimento do negócio de computação em nuvem que decepcionaram.
… Investidores também tomaram nota dos comentários dos CEOs de Meta e Microsoft defendendo seus pesados investimentos em IA depois do advento da DeepSeek.
… O mercado acompanhou o resultado preliminar do PIB do 4Tri24 dos EUA, que veio abaixo do esperado, em 2,3% anualizado, de expectativa de 2,6% – mas não mexeu com os negócios. No 3Tri, o crescimento foi de 3,1%.
… Analistas consideraram o ritmo sólido, já que o período foi marcado pela greve da Boeing e pela queda de investimentos em estoques. O consumo das famílias, que puxa o PIB, deu um salto de 4,2%.
… Em outro dado do dia, a queda inesperada – de 223 mil para 207 mil – dos pedidos de auxílio-desemprego continuou a sinalizar um mercado de trabalho forte.
… O dólar vinha numa toada mais suave ante seus pares, mas firmou alta depois de Trump confirmar as tarifas contra México e Canadá. O índice DXY subiu 0,12%, a 108,00 pontos.
… O euro caiu 0,26%, a US$ 1,0410, também influenciado pelo corte de 25pb no juro pelo BCE, como esperado. Christine Lagarde reiterou que a direção do juro é clara, mas que as decisões sempre vão depender dos dados.
… Para o Commerzbank, o BCE deve realizar mais três cortes de juros de 25 pb até o meio do ano. O próximo deve ocorrer em março, quando o BC europeu publicará suas projeções atualizadas para inflação e PIB.
… A libra ficou perto da estabilidade (-0,09%), a US$ 1,2433. Na expectativa de mais aumento de juros pelo BoJ, o iene continuou a subir: +0,61%, a 154,238/US$.
… Nos Treasuries, o juro da note de 2 anos recuou a 4,206%, de 4,2135%, na sessão anterior. O da note de 10 anos cedeu a 4,523% (de 4,540%) e o do T-Bond de 30 anos caiu a 4,771% (4,777%).
EM TEMPO… BRASKEMdecidiu descontinuar novos investimentos na Oxygea, veículo voltado à transformação digital com startups no mercado. Decisão está alinhada à estratégia de reavaliação de ativos e investimentos.
TOTVS informou que segue avaliando se apresentará proposta vinculante para a aquisição da Linx. Segundo o Broadcast, a israelense Nayax desistiu do negócio. Agora restam a Totvs e a Constelattion…
… A expectativa é que a Stone receba propostas vinculantes em fevereiro e que a operação seja fechada ainda neste primeiro semestre.
NEOENERGIA. Total de energia injetada aumentou 2,1% no 4Tri24 ante o 4Tri23, totalizando 22.635 GWh. No acumulado do ano, o crescimento foi de 5,8%, atingindo 87.218 GWh, segundo prévias operacionais…
… A energia distribuída avançou 2,0% no trimestre, para 19.353 GWh, e 6,1% no ano, somando 75.683 Gwh.
HERINGER elegeu Fausto Pereira Goveia para os cargos de diretor Financeiro e de RI, em substituição a Gustavo Bastide Horbach, diretor presidente, que estava interinamente na posição desde 31 de dezembro de 2024.
SAFRA. David e Joseph adquiriram a participação da irmã Esther no Grupo Safra. A aquisição será feita com recursos próprios dos acionistas remanescentes e ainda aguarda aprovação dos reguladores.
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