Sangue-frio à espera da resposta do Irã

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[23/06/25]

… Os mercados surpreenderam na abertura dos pregões asiáticos, com perdas moderadas aos ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, neste sábado. O petróleo Brent registrou alta de 5%, pouco acima de US$ 80, uma pressão bem razoável, diante das previsões mais alarmistas de que pode ir a US$ 100 se os conflitos no Oriente Médio se agravarem. Investidores ainda buscavam os ativos de segurança, como dólar e Treasuries, mas sem pânico, à espera de uma reação do Irã que possa atingir o fluxo de energia. Ainda há poucas informações sobre o que se deve esperar como consequências. A principal expectativa é se o Irã fechará o Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo que abastece o mundo, o que pode gerar uma crise com efeitos inflacionários às economias globais.

… Na Bloomberg TV, Bob McNally, presidente da Rapidan Energy Advisers, explicou que o mercado está “um pouco imune a perturbações geopolíticas” e que deve reagir com certa moderação, pelo menos, até que os fluxos de petróleo sejam afetados.

… “Tivemos vários alarmes falsos. A invasão russa da Ucrânia foi um deles. Os preços do petróleo dispararam, mas não houve interrupção. Os traders esperam para ver se o Irã retaliará. Até agora, ninguém puxou o gatilho. Se não o fizerem, o preço se reverterá.”

… Um primeiro sinal de que a situação pode não sair do controle foi a reação dos aliados do Irã, que condenaram veemente o ataque dos Estados Unidos, mas limitaram-se à manifestação retórica, inclusive China e Rússia, sem oferecer apoio efetivo.

… Israel não mostra disposição para diminuir os ataques ao Irã após a ação em Fordow, Natanz e Isfahan, mas o papel dos EUA na guerra parece indefinido. As declarações de Trump soam contraditórias sobre o que seu governo pretende fazer a partir de agora.

… Em seu primeiro pronunciamento, ainda no sábado à noite, o presidente americano exigiu que o Irã parasse de atacar Israel e voltasse à mesa de negociações. “Ou haverá paz ou haverá tragédia para o Irã”, disse ele, ameaçando com novas ações militares.

… Já outras fontes da Casa Branca, inclusive o vice-presidente, JD Vance, dizem que os EUA não estão em guerra com o Irã, mas com o seu programa nuclear. “Não queremos uma mudança de regime [como Israel quer]. Não queremos prolongar isso.”

… Trump diz que as instalações nucleares foram “totalmente destruídas” pelas bombas lançadas pelas forças americanas, mas as imagens de satélite não comprovam isso. Isso pode fazer a diferença para o Irã? A AIEA diz que não há sinais de contaminação radioativa.

… Em postagem nas redes sociais, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, classificou os ataques dos EUA às instalações nucleares como “ultrajantes”, prometendo que eles terão “consequências eternas”.

… O parlamento iraniano pediu o fechamento do Estreito de Ormuz, segundo a TV estatal iraniana. Tal medida, no entanto, não poderá ser realizada sem a aprovação explícita do Líder Supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, que não disse nada até agora.

… Teerã poderá, também, optar por outras retaliações, como atingir a infraestrutura de petróleo de fornecedores rivais no Oriente Médio, entre os quais, Arábia Saudita, Iraque ou Emirados Árabes. Riad e Bagdá já manifestaram preocupação com o ataque dos EUA.

… O Irã poderia ainda promover ataques a navios no Mar Vermelho, contando com rebeldes houthis baseados no Iêmen.

… Se as hostilidades se intensificarem, as capacidades de produção de petróleo de Teerã poderão ser alvos, incluindo o importante centro de exportação da Ilha de Kharg. Tal medida elevaria os preços do petróleo bruto, o que os EUA talvez queiram evitar.

… Nos últimos meses, a OPEP+ vem flexibilizando as restrições à oferta em ritmo acelerado, buscando recuperar participação de mercado, e, mesmo assim, seus membros ainda têm mostrado capacidade ociosa substancial que poderia ser reativada.

… O mercado de petróleo tem sido afetado pela crise desde que Israel atacou o Irã há mais de uma semana, com os contratos futuros em alta, os volumes de opções disparando junto com as taxas de frete e a curva de futuros se deslocando para refletir as tensões.

… O Oriente Médio responde por cerca de um terço da produção global de petróleo bruto, e preços mais altos e sustentados aumentariam as pressões inflacionárias em todo o mundo. O ataque dos EUA pode ser uma conflagração do conflito.

… Investidores testam o sangue-frio, mas estão atentos e qualquer movimento pode desencadear uma rápida e brusca mudança.

… Ainda na Bloomberg, Helima Croft, chefe de estratégia global de commodities do RBC, alerta que não se pode dizer que o pior já passou.

… “Pode levar alguns dias ou até semanas para discernir a resposta iraniana a este ataque sem precedentes às suas instalações nucleares e ao seu pessoal-chave. Uma expansão mais ampla [do conflito] ainda não pode ser descartada neste momento.”

… Analistas avaliam que, embora os representantes de Teerã, como Hezbollah e Hamas, estejam enfraquecidos, não foram eliminados.

… Hoje, reunião de emergência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está marcada para discutir o ataque ao Irã, enquanto o ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araghchi, deve se encontrar com Putin.

AGENDA DA SEMANA – O testemunho de Powell no Congresso dos EUA – amanhã (3ªF) na Câmara e 4ªF no Senado – vem a calhar para comentar o agravamento da guerra Israel-Irã e os riscos de alta do petróleo e pressões inflacionárias.

… A semana terá ainda as falas de vários outros membros do Fomc, que tendem a seguir a linha de cautela, com exceção de um ou outro integrante mais dovish, como Christopher Waller (hoje), que defende a possibilidade de corte de juros a partir de julho.

… Entre os indicadores nos EUA, o PCE de maio na 6ªF pode estar comprometido pelas novas expectativas para o petróleo. Um dia antes, na 5ªF, a leitura final do PIB/1Tri americano deve confirmar a retração provocada pelas importações antecipadas às tarifas.

… Hoje, várias prévias do índice PMI composto de junho serão divulgados, na Zona do Euro, Alemanha, França, Reino Unido e EUA (10h45). No Japão, o indicador subiu de 50,2 em maio para 51,4, indicando expansão.

… A presidente do BCE, Christine Lagarde, tem três pronunciamentos previstos para a semana, o primeiro deles hoje (10h), e também deve comentar sobre o agravamento dos conflitos no Oriente Médio e os riscos inflacionários com o eventual encarecimento do petróleo.

… Entre os Fed boys, além de Waller (5h), falam hoje Michelle Bowman (11h), Austan Goolsbee (14h10) e Adriana Kugler (15h30).

… Ainda nos EUA, saem as vendas de casas usadas em maio (11h) e na Zona do Euro, a prévia da Confiança do Consumidor de junho (11h).

NO BRASIL – A expectativa é para a ata do Copom (amanhã), que elevou a Selic de 14,75% para 15%, e descartou cortes do juro este ano, avisando, inclusive, que pode voltar a subir o juro se as expectativas inflacionárias não convergirem para a meta de 3%.

… A semana ainda tem indicadores importantes, como os dados das transações correntes de maio (4ªF), o IPCA-15 de junho (5ªF) e dados do emprego, com o Caged e a taxa de desemprego do IBGE (6ªF). Na 6ªF, também será divulgado o IGP-M de junho.

… Hoje, mais uma pesquisa Focus (8h25) atualiza as projeções do IPCA, com destaque para as expectativas futuras, e da Selic. Um pouco antes (8h), sai o IPC-S semanal. E, às 15h, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulga o saldo semanal da balança comercial.

… Em Brasília, o Congresso pode ter mais uma semana esvaziada pelas festas juninas, quando parlamentares permanecem em suas bases, mas com o ministro Fernando Haddad de volta das férias, podem surgir novidades sobre a política fiscal.

MEDINDO FORÇAS – Apesar da promessa do Copom de manter os juros elevados por período “bastante prolongado”, em vez de apenas “prolongado”, como na comunicação anterior, o mercado foi para cima do BC.

… Insensível à intenção do comitê de Galípolo de afastar a perspectiva de cortes precoces da Selic até a metade do ano que vem, parte da curva do DI se lançou à especulação de que a taxa básica já possa cair em jan/2026.

… É verdade que esta aposta mais ousada deve ser corrigida no caso de o choque externo da guerra explodir os preços do petróleo nestas próximas semanas a ponto de configurar sério risco à pressão inflacionária doméstica.

… Também a ata do Copom ainda pode virar esta onda dovish, que desafia o conservadorismo do comunicado. 

… Mas no pregão regular da última 6ªF, um dia antes de os EUA atacarem o Irã, cálculos ao Broadcast do economista Carlos Lopes (do Banco BV) indicaram no DI um terço de chance de a Selic cair 25pb em janeiro.

… A probabilidade maior, no entanto, ainda se concentra em um relaxamento em abril. Março também tem adeptos.

… Entre os bancos, o JPMorgan está mais arrojado do que os próprios traders, antecipando queda do juro em dezembro/25, com a Selic terminando 2026 em 10,75%, ou seja, redução acumulada de 4,25pp. A expectativa intermediária segue em 12,50%.

… Uma grande vantagem de o Copom ter adotado um tom superhawkish é que acabou se protegendo contra o cenário ainda altamente incerto em relação ao conflito no Oriente Médio e protecionismo econômico de Trump.

… A trégua nas tarifas recíprocas termina em 9 de julho e a demora nas negociações acende o sinal amarelo.

… Na volta do feriado de Corpus Christi, a curva do DI só respeitou o recado duro do Copom na ponta curta, com alta das taxas. Já o trecho médio e longo recuou, acreditando que o ciclo de aperto acabou e antecipando cortes.

… No fechamento, o DI para Jan/26 subiu a 14,960% (de 14,868% no ajuste anterior) e o Jan/27, a 14,270% (de 14,250%). Já o Jan/29 caiu a 13,390% (de 13,550%); Jan/31, a 13,510% (13,705%); e Jan/33 a 13,590% (13,771%).

… A primeira reação do câmbio ao Copom firme, que eleva o diferencial de juro e reforça a atração de k externo no curto prazo, foi de alívio no dólar para R$ 5,4696 na mínima pela manhã. Mas o bom humor não durou.

… A falta de medidas concretas na reunião entre diplomatas europeus e iranianos, realizada em Genebra, e o desprezo de Trump às negociações (“o Irã não quer conversar com a Europa”) deixaram o mercado na defensiva.

… O dólar zerou toda a queda observada na primeira metade do dia e fechou em alta de 0,44% (R$ 5,5249).

DORMIU VENDIDO EM RISCO – Já de largada na 6ªF, o Ibovespa tinha contratada a reação negativa ao plano do Copom de manter a Selic alta por muito tempo. Ao longo do dia, a tensão externa só aprofundou a cautela.

… O índice à vista da bolsa doméstica queimou 1.600 pontos e fechou em baixa de 1,15%, na faixa dos 137 mil pontos (137.115,83). O volume financeiro de R$ 31,3 bilhões foi inflado pelo exercício das opções sobre ações.

… Os interesses dos vendidos, em dia de vencimento, derrubaram a Vale (ON, -2,58%, a R$ 49,92), apesar da alta de quase 1% do minério. Petrobras PN caiu 0,27% (R$ 32,82), mas ON avançou 0,45% (R$ 35,91).

… Os papéis dos bancos recuaram em bloco: Itaú, -0,52% (R$ 36,64); Bradesco PN, -0,84% (R$ 16,62); Bradesco ON, -1,11% (R$ 14,29); Santander unit, -2,03% (R$ 29,47); e BB ON registrou desvalorização de 2,11% (R$ 21,35).

… Lá fora, apesar da turbulência com o Irã, o petróleo Brent realizou lucro (-2,33%; US$ 77,01) e praticamente zerou tudo o que saltou no pregão anterior (+2,8%). Mas hoje, já abriu a US$ 81,40, em alta de 5,7%.

… Pressão defensiva à vista também para o dólar, que na 6ªF se ajustou em queda ao comentário do Fed boy dovish Christopher Waller, defendendo que os EUA têm condição de cortar o juro já na próxima reunião, no mês que vem.

… Para ele, o efeito das tarifas deve ser pontual e não causar inflação persistente. Trump deve ter aplaudido a defesa pelo alívio na política monetária, mas a opinião de Waller não é compartilhada por todos os seus colegas.

… Tom Barkin (Fed/Richmond) reverberou a falta de pressa de Powell em reduzir a taxa de juros e recomendou que não seja ignorada prematuramente a hipótese de um pico da inflação nos EUA, que segue acima da meta.

… Na mesma linha de pensamento, Mary Daly (Fed/São Francisco) projetou o horizonte de um corte mais para frente. “Espero mais o outono [setembro a novembro nos EUA] do que julho”, disse, segundo o ForexLive.

… Apesar da divisão interna no Fed, o índice DXY do dólar testou uma queda com a fala dovish de Waller.

… Caiu 0,20%, a 98,707 pontos. O euro ganhou 0,21%, negociado a US$ 1,1525. O HSBC espera que a moeda do bloco europeu suba para US$ 1,20 no 4Tri, com a política tarifária e fiscal de Trump desestabilizando o dólar.

… A libra recuou 0,11%, a US$ 1,3448 no último pregão, e também o iene fechou em queda, a 146,12/US$.

… Num misto de reação ao corte de juro defendido por Waller em julho e ao clima de alerta com o Irã, caíram os juros dos Treasuries de 2 anos (3,905%, de 3,934% antes do feriado nos EUA) e 10 anos (4,379%, de 4,384%).

… No ambiente de esperar para ver o que poderia rolar no final de semana em relação ao conflito do Oriente Médio, as bolsas em NY anularam os ganhos iniciais e exibiram alguma procura por posições defensivas.

… Dow Jones estável (+0,08%, a 42.206,82 pontos); S&P 500, -0,22% (5.967,82); e Nasdaq, -0,51% (19.447,41).

EM TEMPO… Pressionada pelo ala baiana do governo (Rui Costa e Jaques Wagner) e o ministro Alexandre Silveira, a VALE mantém estudos para comprar a mineradora Bamin, sediada na Bahia, segundo O Globo

… Altamente endividada, a Bamin estaria precisando de investimentos bilionários, estimados em US$ 5,5 bi.

MINERVA. Conselho aprovou homologação de aumento de capital de R$ 2 bilhões, por meio da emissão de 386,8 milhões de novas ações ON, e atribuição de 193,4 milhões de bônus de subscrição como vantagem adicional.

TENDA recebeu R$ 159,0 milhões em primeira etapa de securitização de certificados de recebíveis imobiliários (CRI), emitidos pela Opea Securitizadora, em sua 448ª emissão, com distribuição realizada pela Galapagos.

TRACK&FIELD informou que seu conselho de administração aprovou a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) no valor bruto total de R$ 9,8 milhões, a R$ 0,064 por ação PN. Ex na próxima 5ªF.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Vai rolar: Líderes europeus se reúnem com Irã para debater programa nuclear

No noticiário geopolítico, foi importante a declaração da Casa Branca de que Trump só tomará uma decisão sobre entrar na guerra contra o Irã em duas semanas, o que pode dar um fôlego às tensões no Oriente Médio, após o petróleo ter voltado a subir 3%. Nesta 6ªF, representantes iranianos vão se reunir com líderes europeus, em Genebra.

Aqui, os investidores ajustam as suas posições nos juros futuros, depois do Copom hawkish, que subiu a Selic para 15% e alertou que não hesitaria em decidir novos aumentos. (Rosa Riscala)

? Confira abaixo a agenda de hoje

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Eventos

Mercado ajusta-se ao Copom hawkish

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[20/06/25]

… Na volta dos feriados de Corpus Christi no Brasil e de Juneteenth nos EUA, os mercados atualizam as informações da 5ªF, quando o BoE manteve o juro britânico em 4,25% e o BC da Turquia em 46%. Na China hoje, o PBoC também confirmou taxas estáveis em 3,50% para cinco anos e 3% para um ano. No noticiário geopolítico, foi importante a declaração da Casa Branca de que Trump só tomará uma decisão sobre entrar na guerra contra o Irã em duas semanas, o que pode dar um fôlego às tensões no Oriente Médio, após o petróleo ter voltado a subir 3%. Nesta 6ªF, representantes iranianos vão se reunir com líderes europeus, em Genebra. Aqui, os investidores ajustam as suas posições nos juros futuros, depois do Copom hawkish, que subiu a Selic para 15% e alertou que não hesitaria em decidir novos aumentos.

… Correspondendo às expectativas mais conservadoras, o Banco Central decidiu por um ajuste final de 25pbs e, apesar de ter encerrado o ciclo de aperto, teve o cuidado de avisar que pode agir de novo, se necessário, para levar a inflação à meta.

… O tom duro do comunicado tem como objetivo evitar que o mercado passe a precificar cortes precoces da taxa Selic.

… No Estadão, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que “o intuito do BC ficou claro: pesar a mão para afastar cenários de cortes de juros precoces na curva. Com uma comunicação tão austera, fica difícil antecipar um ciclo baixista de juros”.

… Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, o comunicado “dá a entender que a decisão é um fim de ciclo misturado com pausa. Deixa a porta aberta. Se as condições mudarem (para pior), não há um impeditivo para que volte a subir os juros”.

… O Copom defendeu que os juros devem se manter elevados por “bastante” tempo, sinalizando a intenção de manter os 15% até meados do ano que vem, dando especial destaque às expectativas inflacionárias desancoradas – uma tecla que tem batido muito.

… Apressou-se em citar a tensão geopolítica, mas aliviou na avaliação das incertezas fiscais, justamente quando o governo enfrenta muitas resistências às medidas apresentadas pela equipe econômica para cumprir as regras do arcabouço deste ano.

… O único ponto levemente dovish foi ter afirmado que já enxerga “certa moderação” da atividade, de “incipiente moderação” em maio.

… Para o estrategista Sérgio Goldenstein, o comportamento do mercado na abertura desta 6ªF deve ser a clássica resposta a uma postura dura de política monetária: perda de inclinação da curva de juros, quedas das inflações implícitas das NTN-B e valorização do real.

… Nos Estados Unidos, o Fomc não surpreendeu, mantendo as taxas no intervalo entre 4,25% e 4,5%, mas o gráfico de pontos e a fala de Powell consolidaram a aposta de duas quedas do juro este ano, a partir de setembro, com redução de 50pbs neste ano.

… Antes da reunião, Trump voltou a atacar o Fed e cogitou nomear a si mesmo como chefe da autoridade monetária. Já nesta 5ªF, foi além, chamando Powell de “burro” [por não ter reduzido os juros] e dizendo que ele é uma “desgraça americana”.

… Na entrevista após o Fomc, Powell voltou a dizer que o tarifaço deve elevar a inflação no curto prazo e alertou que os efeitos podem ser “mais persistentes” e que “a obrigação do Fed é evitar que um aumento pontual se transforme em problema inflacionário contínuo”.

… Já em relação ao desempenho da economia, as autoridades do Fed esperam que o PIB dos EUA cresça 1,4% neste ano, abaixo dos 1,7% de março. Elas também preveem que o desemprego suba para 4,5%, acima da taxa atual de 4,2%.

… Mais dois Bancos Centrais divulgaram suas decisões de política monetária nesta 5ªF: o BC da Suíça (SNB) zerou a taxa, em novo corte de 25pbs, e o BC da Noruega (Norges Bank), em decisão inesperada, também reduziu o juro de 4,50% para 4,25%.

TARIFAS – Ainda nesta 5ªF, o Canadá anunciou uma série de medidas que prometem proteger os produtores e trabalhadores dos setores de aço e alumínio do país contra as sobretaxas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

… Na primeira medida, prevista para 21 de julho, o governo canadense ajustará suas tarifas retaliatórias sobre esses produtos para níveis consistentes com o progresso em um acordo comercial mais amplo com os EUA. Não foram citados valores ou porcentuais.

… Em outra medida, já a partir do dia 30 de junho, iniciará a implementação de políticas de compras a parceiros comerciais confiáveis que oferecem acesso recíproco a fornecedores canadenses por meios de acordos comerciais.

… Também será maximizado o uso do aço e do alumínio canadenses em projetos financiados pelo governo e definidas cotas tarifárias de 100% para importação de produtos siderúrgicos de parceiros não signatários de acordos de livre comércio.

… A última medida anunciada pelo Canadá é uma linha de crédito tarifário para grandes empresas, no valor de US$ 10 bilhões.

ISENÇÕES NO ALVO – Em entrevista à CNN, o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, disse que a Pasta está trabalhando com o Congresso para apresentar uma proposta de revisão de benefícios fiscais na próxima semana.

… O secretário considera legítima a cobrança de revisão de alguns gastos do governo e disse que as medidas já propostas na MP, como a revisão no AtestMed e os benefícios por incapacidade, podem gerar uma economia de R$ 10 bilhões no próximo ano.

… Durigan também destacou a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação, que pode representar corte de R$ 4 bilhões para este ano e de R$ 10 bilhões para 2026. Para o seguro defeso, também foram propostos ajustes no cadastramento junto às prefeituras.

… O Broadcast apurou que o governo vai propor ao Congresso que os recursos necessários para cobrir o orçamento remanescente do Pé-de-Meia este ano venham do cancelamento de outras despesas.

… Durigan disse confiar no Legislativo para a agenda de revisão de benefícios fiscais, já que a proposta foi feita pelos próprias lideranças. Na sua opinião, é importante que o corte de benefícios seja linear, mas admite que o debate político vai mostrar o que é possível.

… Durigan disse, ainda, ver com “muita preocupação” a derrubada do veto de Lula a uma lei que aumenta o acesso ao BPC, que “já ocupa grande espaço no orçamento e mais essa despesa obrigatória comprime uma série de outras despesas discricionárias.”

… Ele afirmou que boa parte dos congelamentos de despesas reflete o aumento de gastos obrigatórios com o BPC, Proagro e INSS, já que, hoje, entre 25% e 30% do total de concessões de benefícios ocorre via judicial e o crescimento é muito grande.

… No Estadão, o governo projeta o BPC dobrando de tamanho em 34 anos (de 2026 até 2060), a 14,1 milhões de beneficiários, segundo estimativas do Ministério do Desenvolvimento Social anexadas ao PLDO de 2026.

… A sessão conjunta do Congresso, na 3ªF, foi suspensa após os parlamentares derrubarem os vetos ao projeto chamado eólica offshore, que impõe um aumento em torno de 3,5% das contas de luz, e antes que o governo sofresse mais derrotas.

MAIS AGENDA – Nenhum indicador está previsto para esta 6ªF no Brasil e, lá fora, a agenda é mais fraca.

… Na Europa, saem de madrugada as vendas no varejo em maio no Reino Unido e o índice de preços ao produtos (PPI), também de maio, na Alemanha. Na Zona do Euro, a Comissão Europeia divulga a preliminar de junho do índice de confiança do consumidor (11h).

… Nos Estados Unidos, a Baker Hughes atualiza os poços e plataformas de petróleo em operação (14h).

GANHANDO TEMPO – O recado da Casa Branca de que só daqui a duas semanas vai decidir se entrará na guerra tem potencial de levar o petróleo a devolver parte da pressão, se literalmente nenhuma bomba estourar até lá.

… Durante o feriado, a commodity não conseguiu baixar a adrenalina com o conflito no Oriente Médio e saltou para o pico em seis meses, com o contrato do Brent para agosto escalando 2,80%, negociado a US$ 78,85.

… Na máxima intraday, o barril chegou a operar na faixa de US$ 79, cotado a US$ 79,04. Mas na sessão asiática, no final da noite de ontem, o petróleo já corrigia boa parte do que subiu no pregão regular, em sinal de trégua.

… Pelos cálculos da Oxford Economics, uma eventual interrupção das exportações iranianas levará o petróleo para perto de US$ 90 e, no caso extremo de fechamento do Estreito de Ormuz, o barril pode bater US$ 130.

… Antecipando-se aos riscos, o Pentágono estuda redistribuir os navios dos EUA no Golfo Pérsico para reduzir a vulnerabilidade, se o Irã resolver usar sua carta na manga e bloquear a passagem por Ormuz, segundo o NYT.  

… Embora a recente alta nos preços da energia e a alta da inflação justifiquem alguma cautela, o BoE sinalizou ontem que pode retomar os cortes no juro já em agosto, depois de ter mantido a taxa em 4,25% nesta 5ªF.

… Com placar dividido, já ontem mesmo, três dos nove integrantes do BC inglês votaram por um relaxamento da política monetária na dose de 25 pontos-base. No entanto, o alívio deve ficar para o início do segundo semestre.

… Na reação inicial ao corte projetado, a libra enfraqueceu, mas até o fim do dia já havia se recuperado, para US$ 1,3468. Também o euro subiu, para US$ 1,1498, apesar de comentário dovish de membro do BCE.

… François Villeroy de Galhau disse ser mais provável que o juro caia nos próximos seis meses do que suba, a menos que a zona do euro enfrente um grande choque, como a escalada do conflito militar no Oriente Médio.

… O índice DXY do dólar caiu ontem para 98,777 pontos. O iene foi negociado em queda, a 145,39/US$.

… Fica hoje a expectativa, por aqui, de gap de alta na abertura dos negócios para o real, que tem tudo para faturar a Selic a 15% e o discurso superhawkish do Copom, neutralizando as esperanças de corte rápido do juro.

… Antes do Copom, na 4ªF, o dólar optou por fechar estável (+0,07%; R$ 5,5009), em clima de esperar para ver, assim como os demais ativos domésticos. Do Fed, não veio novidade e só restou operar no suspense pela Selic.

… Trump também condenou os negócios a operarem em compasso de espera, não dizendo nem que sim e nem que não entraria na guerra. Na dúvida, o investidor seguiu a recomendação de não fazer nada para não errar.

… No fechamento, o DI para Jan/26 marcava 14,870% (de 14,867% no ajuste anterior); Jan/27, 14,250% (contra 14,242% na 3ªF); Jan/29, 13,505% (de 13,552%); Jan/31, 13,660% (de 13,678%); e Jan/33, 13,720% (13,740%).

… Em encontro com jornalistas para marcar um ano de gestão à frente da Petrobras, Magda Chambriard disse ainda ser prematuro avaliar o impacto do conflito entre Israel/Irã no preço dos combustíveis, informou O Globo.

ZEN – Desafeto de Trump, o presidente do Fed continuou exibindo sangue gelado às pressões políticas por cortes de juros e alertou que a política protecionista pode elevar a inflação americana no curto prazo.

… Pela quarta reunião de política monetária consecutiva, o Fed manteve os juros e não mudou os planos de projetar cortes só para o 3Tri, com redução programada de 50pb no ano (provavelmente 25pb + 25pb).

… Com tudo dentro do script, as taxas dos Treasuries caíram de leve. O rendimento da Note-2 anos recuou para 3,934%, contra 3,943% no pregão anterior, e o retorno do título do Tesouro de 10 anos foi a 4,384%, de 4,388%.

… As bolsas em NY fecharam de lado, porque o Fed não disse nada novo e Trump não disse se vai atacar o Irã. O Dow Jones caiu 0,10%, a 42.171,66 pontos; S&P 500, -0,03%, em 5.980,86 pontos; e Nasdaq, +0,13% (19.546,27).

… Sem segurança sobre o que viria do Copom na noite de 4ªF, o Ibovespa foi para o feriado no zero a zero (-0,09%, aos 138.716,64 pontos), com o giro de R$ 32,9 bi turbinado pelo vencimento de opções sobre o índice.

… Hoje, é dia de game de opções sobre ações. Os vendidos já se anteciparam no último pregão à aposta (certa) de que a Selic subiria até 15% e derrubaram os papéis dos bancos, que devem sentir o aperto no crédito.

… Itaú PN (-0,59%, a R$ 36,83) puxou as perdas do setor; Bradesco ON recuou 0,34%, a R$ 14,45; Bradesco PN registrou queda de 0,77%, para R$ 16,76; BB ON perdeu 0,41%, a R$ 21,81; e Santander unit, -0,23%, a R$ 30,08.

… Vale ON caiu 0,33% (R$ 51,24), Petrobras ON, -0,55%, a R$ 35,75; e Petro PN ficou estável (-0,09%; R$ 32,91).

EM TEMPO… BRADESCO aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões em JCP intermediários, o equivalente a R$ 0,2701 por ação ON e R$ 0,2971 por ação PN, com pagamento até 31/1/26; ex em 1º/7.

JBS informou que o conselho de administração elegeu, por unanimidade, Wesley Batista como presidente do colegiado e Joesley Batista como vice-presidente. Gilberto Tomazoni foi reeleito diretor presidente da empresa.

PETROBRAS. Magda Chambriard disse na 4ªF que vai fazer “todo o esforço” para o pagamento de dividendos extraordinários, ressaltando que isso vai depender da evolução do petróleo…

… A equipe econômica conta com esses pagamentos extras das estatais para cumprir a meta fiscal neste ano.

PETRORECÔNCAVO. ANP aprovou pedido de retomada das operações nas estações Nova Cassarongongo e Ilhas, localizadas no campo de Cassarongongo, na Bahia.

PRÉ-SAL. PPSA informou ter habilitado 10 empresas para participar, individualmente ou em grupo, do 5º Leilão de Petróleo da União, que será realizado daqui uma semana na B3. As companhias vão disputar 74,5 milhões de barris.

DIRECIONAL ENGENHARIA. O conselho de administração aprovou a emissão de debêntures no valor de R$ 600 milhões, que pode chegar a até R$ 750 milhões. A operação deve acontecer em 15 de julho.

TAESA. Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) emitiu Termo de Liberação Definitivo relativo à energização da LT 230 kv Abdon Batista – Videira C1 e C2 referente à conclusão da instalação da concessão Pitiguari, em SC…

… Com a liberação do trecho, a concessão entrará em operação total, adicionando o valor de R$ 22,2 milhões de Receita Anual Permitida (RAP) para a companhia (referente ao ciclo 2024-2025), adicionado de PIS/Cofins.

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*com a colaboração da equipe do BDM Online

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