Mercado ajusta-se ao Copom hawkish
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[20/06/25]
… Na volta dos feriados de Corpus Christi no Brasil e de Juneteenth nos EUA, os mercados atualizam as informações da 5ªF, quando o BoE manteve o juro britânico em 4,25% e o BC da Turquia em 46%. Na China hoje, o PBoC também confirmou taxas estáveis em 3,50% para cinco anos e 3% para um ano. No noticiário geopolítico, foi importante a declaração da Casa Branca de que Trump só tomará uma decisão sobre entrar na guerra contra o Irã em duas semanas, o que pode dar um fôlego às tensões no Oriente Médio, após o petróleo ter voltado a subir 3%. Nesta 6ªF, representantes iranianos vão se reunir com líderes europeus, em Genebra. Aqui, os investidores ajustam as suas posições nos juros futuros, depois do Copom hawkish, que subiu a Selic para 15% e alertou que não hesitaria em decidir novos aumentos.
… Correspondendo às expectativas mais conservadoras, o Banco Central decidiu por um ajuste final de 25pbs e, apesar de ter encerrado o ciclo de aperto, teve o cuidado de avisar que pode agir de novo, se necessário, para levar a inflação à meta.
… O tom duro do comunicado tem como objetivo evitar que o mercado passe a precificar cortes precoces da taxa Selic.
… No Estadão, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que “o intuito do BC ficou claro: pesar a mão para afastar cenários de cortes de juros precoces na curva. Com uma comunicação tão austera, fica difícil antecipar um ciclo baixista de juros”.
… Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, o comunicado “dá a entender que a decisão é um fim de ciclo misturado com pausa. Deixa a porta aberta. Se as condições mudarem (para pior), não há um impeditivo para que volte a subir os juros”.
… O Copom defendeu que os juros devem se manter elevados por “bastante” tempo, sinalizando a intenção de manter os 15% até meados do ano que vem, dando especial destaque às expectativas inflacionárias desancoradas – uma tecla que tem batido muito.
… Apressou-se em citar a tensão geopolítica, mas aliviou na avaliação das incertezas fiscais, justamente quando o governo enfrenta muitas resistências às medidas apresentadas pela equipe econômica para cumprir as regras do arcabouço deste ano.
… O único ponto levemente dovish foi ter afirmado que já enxerga “certa moderação” da atividade, de “incipiente moderação” em maio.
… Para o estrategista Sérgio Goldenstein, o comportamento do mercado na abertura desta 6ªF deve ser a clássica resposta a uma postura dura de política monetária: perda de inclinação da curva de juros, quedas das inflações implícitas das NTN-B e valorização do real.
… Nos Estados Unidos, o Fomc não surpreendeu, mantendo as taxas no intervalo entre 4,25% e 4,5%, mas o gráfico de pontos e a fala de Powell consolidaram a aposta de duas quedas do juro este ano, a partir de setembro, com redução de 50pbs neste ano.
… Antes da reunião, Trump voltou a atacar o Fed e cogitou nomear a si mesmo como chefe da autoridade monetária. Já nesta 5ªF, foi além, chamando Powell de “burro” [por não ter reduzido os juros] e dizendo que ele é uma “desgraça americana”.
… Na entrevista após o Fomc, Powell voltou a dizer que o tarifaço deve elevar a inflação no curto prazo e alertou que os efeitos podem ser “mais persistentes” e que “a obrigação do Fed é evitar que um aumento pontual se transforme em problema inflacionário contínuo”.
… Já em relação ao desempenho da economia, as autoridades do Fed esperam que o PIB dos EUA cresça 1,4% neste ano, abaixo dos 1,7% de março. Elas também preveem que o desemprego suba para 4,5%, acima da taxa atual de 4,2%.
… Mais dois Bancos Centrais divulgaram suas decisões de política monetária nesta 5ªF: o BC da Suíça (SNB) zerou a taxa, em novo corte de 25pbs, e o BC da Noruega (Norges Bank), em decisão inesperada, também reduziu o juro de 4,50% para 4,25%.
TARIFAS – Ainda nesta 5ªF, o Canadá anunciou uma série de medidas que prometem proteger os produtores e trabalhadores dos setores de aço e alumínio do país contra as sobretaxas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
… Na primeira medida, prevista para 21 de julho, o governo canadense ajustará suas tarifas retaliatórias sobre esses produtos para níveis consistentes com o progresso em um acordo comercial mais amplo com os EUA. Não foram citados valores ou porcentuais.
… Em outra medida, já a partir do dia 30 de junho, iniciará a implementação de políticas de compras a parceiros comerciais confiáveis que oferecem acesso recíproco a fornecedores canadenses por meios de acordos comerciais.
… Também será maximizado o uso do aço e do alumínio canadenses em projetos financiados pelo governo e definidas cotas tarifárias de 100% para importação de produtos siderúrgicos de parceiros não signatários de acordos de livre comércio.
… A última medida anunciada pelo Canadá é uma linha de crédito tarifário para grandes empresas, no valor de US$ 10 bilhões.
ISENÇÕES NO ALVO – Em entrevista à CNN, o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, disse que a Pasta está trabalhando com o Congresso para apresentar uma proposta de revisão de benefícios fiscais na próxima semana.
… O secretário considera legítima a cobrança de revisão de alguns gastos do governo e disse que as medidas já propostas na MP, como a revisão no AtestMed e os benefícios por incapacidade, podem gerar uma economia de R$ 10 bilhões no próximo ano.
… Durigan também destacou a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação, que pode representar corte de R$ 4 bilhões para este ano e de R$ 10 bilhões para 2026. Para o seguro defeso, também foram propostos ajustes no cadastramento junto às prefeituras.
… O Broadcast apurou que o governo vai propor ao Congresso que os recursos necessários para cobrir o orçamento remanescente do Pé-de-Meia este ano venham do cancelamento de outras despesas.
… Durigan disse confiar no Legislativo para a agenda de revisão de benefícios fiscais, já que a proposta foi feita pelos próprias lideranças. Na sua opinião, é importante que o corte de benefícios seja linear, mas admite que o debate político vai mostrar o que é possível.
… Durigan disse, ainda, ver com “muita preocupação” a derrubada do veto de Lula a uma lei que aumenta o acesso ao BPC, que “já ocupa grande espaço no orçamento e mais essa despesa obrigatória comprime uma série de outras despesas discricionárias.”
… Ele afirmou que boa parte dos congelamentos de despesas reflete o aumento de gastos obrigatórios com o BPC, Proagro e INSS, já que, hoje, entre 25% e 30% do total de concessões de benefícios ocorre via judicial e o crescimento é muito grande.
… No Estadão, o governo projeta o BPC dobrando de tamanho em 34 anos (de 2026 até 2060), a 14,1 milhões de beneficiários, segundo estimativas do Ministério do Desenvolvimento Social anexadas ao PLDO de 2026.
… A sessão conjunta do Congresso, na 3ªF, foi suspensa após os parlamentares derrubarem os vetos ao projeto chamado eólica offshore, que impõe um aumento em torno de 3,5% das contas de luz, e antes que o governo sofresse mais derrotas.
MAIS AGENDA – Nenhum indicador está previsto para esta 6ªF no Brasil e, lá fora, a agenda é mais fraca.
… Na Europa, saem de madrugada as vendas no varejo em maio no Reino Unido e o índice de preços ao produtos (PPI), também de maio, na Alemanha. Na Zona do Euro, a Comissão Europeia divulga a preliminar de junho do índice de confiança do consumidor (11h).
… Nos Estados Unidos, a Baker Hughes atualiza os poços e plataformas de petróleo em operação (14h).
GANHANDO TEMPO – O recado da Casa Branca de que só daqui a duas semanas vai decidir se entrará na guerra tem potencial de levar o petróleo a devolver parte da pressão, se literalmente nenhuma bomba estourar até lá.
… Durante o feriado, a commodity não conseguiu baixar a adrenalina com o conflito no Oriente Médio e saltou para o pico em seis meses, com o contrato do Brent para agosto escalando 2,80%, negociado a US$ 78,85.
… Na máxima intraday, o barril chegou a operar na faixa de US$ 79, cotado a US$ 79,04. Mas na sessão asiática, no final da noite de ontem, o petróleo já corrigia boa parte do que subiu no pregão regular, em sinal de trégua.
… Pelos cálculos da Oxford Economics, uma eventual interrupção das exportações iranianas levará o petróleo para perto de US$ 90 e, no caso extremo de fechamento do Estreito de Ormuz, o barril pode bater US$ 130.
… Antecipando-se aos riscos, o Pentágono estuda redistribuir os navios dos EUA no Golfo Pérsico para reduzir a vulnerabilidade, se o Irã resolver usar sua carta na manga e bloquear a passagem por Ormuz, segundo o NYT.
… Embora a recente alta nos preços da energia e a alta da inflação justifiquem alguma cautela, o BoE sinalizou ontem que pode retomar os cortes no juro já em agosto, depois de ter mantido a taxa em 4,25% nesta 5ªF.
… Com placar dividido, já ontem mesmo, três dos nove integrantes do BC inglês votaram por um relaxamento da política monetária na dose de 25 pontos-base. No entanto, o alívio deve ficar para o início do segundo semestre.
… Na reação inicial ao corte projetado, a libra enfraqueceu, mas até o fim do dia já havia se recuperado, para US$ 1,3468. Também o euro subiu, para US$ 1,1498, apesar de comentário dovish de membro do BCE.
… François Villeroy de Galhau disse ser mais provável que o juro caia nos próximos seis meses do que suba, a menos que a zona do euro enfrente um grande choque, como a escalada do conflito militar no Oriente Médio.
… O índice DXY do dólar caiu ontem para 98,777 pontos. O iene foi negociado em queda, a 145,39/US$.
… Fica hoje a expectativa, por aqui, de gap de alta na abertura dos negócios para o real, que tem tudo para faturar a Selic a 15% e o discurso superhawkish do Copom, neutralizando as esperanças de corte rápido do juro.
… Antes do Copom, na 4ªF, o dólar optou por fechar estável (+0,07%; R$ 5,5009), em clima de esperar para ver, assim como os demais ativos domésticos. Do Fed, não veio novidade e só restou operar no suspense pela Selic.
… Trump também condenou os negócios a operarem em compasso de espera, não dizendo nem que sim e nem que não entraria na guerra. Na dúvida, o investidor seguiu a recomendação de não fazer nada para não errar.
… No fechamento, o DI para Jan/26 marcava 14,870% (de 14,867% no ajuste anterior); Jan/27, 14,250% (contra 14,242% na 3ªF); Jan/29, 13,505% (de 13,552%); Jan/31, 13,660% (de 13,678%); e Jan/33, 13,720% (13,740%).
… Em encontro com jornalistas para marcar um ano de gestão à frente da Petrobras, Magda Chambriard disse ainda ser prematuro avaliar o impacto do conflito entre Israel/Irã no preço dos combustíveis, informou O Globo.
ZEN – Desafeto de Trump, o presidente do Fed continuou exibindo sangue gelado às pressões políticas por cortes de juros e alertou que a política protecionista pode elevar a inflação americana no curto prazo.
… Pela quarta reunião de política monetária consecutiva, o Fed manteve os juros e não mudou os planos de projetar cortes só para o 3Tri, com redução programada de 50pb no ano (provavelmente 25pb + 25pb).
… Com tudo dentro do script, as taxas dos Treasuries caíram de leve. O rendimento da Note-2 anos recuou para 3,934%, contra 3,943% no pregão anterior, e o retorno do título do Tesouro de 10 anos foi a 4,384%, de 4,388%.
… As bolsas em NY fecharam de lado, porque o Fed não disse nada novo e Trump não disse se vai atacar o Irã. O Dow Jones caiu 0,10%, a 42.171,66 pontos; S&P 500, -0,03%, em 5.980,86 pontos; e Nasdaq, +0,13% (19.546,27).
… Sem segurança sobre o que viria do Copom na noite de 4ªF, o Ibovespa foi para o feriado no zero a zero (-0,09%, aos 138.716,64 pontos), com o giro de R$ 32,9 bi turbinado pelo vencimento de opções sobre o índice.
… Hoje, é dia de game de opções sobre ações. Os vendidos já se anteciparam no último pregão à aposta (certa) de que a Selic subiria até 15% e derrubaram os papéis dos bancos, que devem sentir o aperto no crédito.
… Itaú PN (-0,59%, a R$ 36,83) puxou as perdas do setor; Bradesco ON recuou 0,34%, a R$ 14,45; Bradesco PN registrou queda de 0,77%, para R$ 16,76; BB ON perdeu 0,41%, a R$ 21,81; e Santander unit, -0,23%, a R$ 30,08.
… Vale ON caiu 0,33% (R$ 51,24), Petrobras ON, -0,55%, a R$ 35,75; e Petro PN ficou estável (-0,09%; R$ 32,91).
EM TEMPO… BRADESCO aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões em JCP intermediários, o equivalente a R$ 0,2701 por ação ON e R$ 0,2971 por ação PN, com pagamento até 31/1/26; ex em 1º/7.
JBS informou que o conselho de administração elegeu, por unanimidade, Wesley Batista como presidente do colegiado e Joesley Batista como vice-presidente. Gilberto Tomazoni foi reeleito diretor presidente da empresa.
PETROBRAS. Magda Chambriard disse na 4ªF que vai fazer “todo o esforço” para o pagamento de dividendos extraordinários, ressaltando que isso vai depender da evolução do petróleo…
… A equipe econômica conta com esses pagamentos extras das estatais para cumprir a meta fiscal neste ano.
PETRORECÔNCAVO. ANP aprovou pedido de retomada das operações nas estações Nova Cassarongongo e Ilhas, localizadas no campo de Cassarongongo, na Bahia.
PRÉ-SAL. PPSA informou ter habilitado 10 empresas para participar, individualmente ou em grupo, do 5º Leilão de Petróleo da União, que será realizado daqui uma semana na B3. As companhias vão disputar 74,5 milhões de barris.
DIRECIONAL ENGENHARIA. O conselho de administração aprovou a emissão de debêntures no valor de R$ 600 milhões, que pode chegar a até R$ 750 milhões. A operação deve acontecer em 15 de julho.
TAESA. Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) emitiu Termo de Liberação Definitivo relativo à energização da LT 230 kv Abdon Batista – Videira C1 e C2 referente à conclusão da instalação da concessão Pitiguari, em SC…
… Com a liberação do trecho, a concessão entrará em operação total, adicionando o valor de R$ 22,2 milhões de Receita Anual Permitida (RAP) para a companhia (referente ao ciclo 2024-2025), adicionado de PIS/Cofins.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.
Guerra na superquarta
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[18/06/25]
… Foi uma longa noite de expectativa sobre um ataque das forças americanas a Fordow, a instalação nuclear iraniana construída sob uma montanha e projetada para resistir a bombardeios pesados, que marcaria a entrada dos EUA na guerra entre Israel e Irã. Trump, no entanto, [ainda] não agiu. A reunião com seu Conselho de Segurança Nacional levantou especulações e colocou os mercados na defensiva, mas já na abertura dos negócios os ativos reagiam de forma moderada. Novos sinais de escalada dos conflitos podem produzir uma reviravolta em plena superquarta, dia de Fomc e Copom. O Fed manterá o juro, mas a expectativa é grande para Powell, que agora tem os riscos geopolíticos adicionados às incertezas das tarifas. Aqui, o mercado não se arriscou a um consenso e permanece dividido.
… As apostas mantêm a proporção de 60% de chances para uma Selic elevada a 15% e 40% para manutenção em 14,75%.
… Traders e economistas não acreditam que as tensões geopolíticas no Oriente Médio – agravadas pela participação dos EUA – venham a pesar na decisão do Comitê, mas podem ser mais um motivo para o BC continuar segurando o discurso hawkish.
… “Já não acreditávamos em guidance [agora menos ainda] e mesmo uma alta de 25pbs não permitirá ao BC afirmar que o aperto do juro acabou, com a desancoragem das expectativas e o hiato do produto positivo”, disse Felipe Rodrigo de Oliveira (MAG) ao Broadcast.
… Também o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, acredita que o Copom “não vai se comprometer com nada”, assim como outros economistas do mercado que participaram de uma live da Warren Investimentos, nesta 3ªF.
… Todos concordaram que, independentemente da decisão, os passos futuros seguirão em aberto, sem um indicativo mais forte.
… “Tenho uma dificuldade muito grande em achar que o Copom deixará um guidance explícito agora, depois de tanto bater na tecla da incerteza”, disse o gestor de renda fixa da Kinea, Vagner Alves, citando comunicações dos diretores do BC e de Galípolo.
… Se um guidance não é esperado, ainda menos esperada é a sinalização de um corte da Selic.
… A mensagem deve destacar a intenção de manter os juros em terreno restritivo por um período prolongado e sem fechar as portas para novas altas. É um passo importante para evitar que o mercado passe a precificar cortes no futuro próximo.
… Um ajuste de 25pbs, portanto, teria mais o efeito de evitar que se iniciasse o debate dos cortes. No caso de não haver uma alta hoje, o BC deve reforçar que segue vigilante e pronto para reagir em caso de não convergência da inflação para a meta.
… O estrategista-chefe da Warren, Luis Felipe Vital, defende a alta da Selic hoje, dizendo que, se o Copom vier com um discurso mais duro e entregar mais 25pbs, vai ter a chance de controlar as expectativas. “É um momento fenomenal para mostrar credibilidade.”
… Mesmo quem espera manutenção da Selic em 14,75%, como o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Rosal, diz que a decisão precisaria ser acompanhada por uma “comunicação dura”, visando justamente ancorar as expectativas do mercado.
… Desde o último Copom, houve alguma melhora nas expectativas de inflação, embora permaneçam desancoradas, e moderação do IPCA, além do PIB/1Tri mais fraco. Mas outros fatores altistas persistem, como os estímulos fiscais e o mercado de trabalho ainda aquecido.
… Em resumo: há motivos para manter a Selic em 14,75%, não serão 25pbs a mais ou a menos que fariam tanta diferença nos preços, o que BC decidirá hoje é se precisa parecer mais hawkish do que de fato deve desejar. A briga é pelas expectativas.
FED – Antes do Copom, que anuncia o resultado para a Selic após as 18h30, o Fomc deve manter a taxa de juros nos EUA (15h), segundo aposta unânime. Analistas consultados pelo Broadcast acreditam que será conservada a postura de “esperar para ver”.
… Se já era assim antes, considerando os efeitos incertos das tarifas, mais ainda agora, com as tensões geopolíticas sobre as expectativas inflacionárias. O tom do comunicado, as projeções de cortes do Comitê e a mensagem de Powell (15h30) darão rumo aos mercados.
… O alívio das pressões tarifárias não deve ser considerado em destaque pelo Fed, já que apenas um acordo foi fechado até agora, com o Reino Unido, as negociações com a China são apenas preliminares e a trégua dos 90 dias está vencendo em 9 de julho.
… Preocupação mais direta é com o salto de cerca de 10% nos preços do petróleo desde a semana passada.
… Goldman Sachs aposta que os dirigentes do Fomc manterão a perspectiva de dois cortes do juro este ano. Deutsche espera uma postura mais restritiva. E o BofA quer ver o que Powell diz sobre o mercado de trabalho e os riscos inflacionários das tarifas.
… Já Citi e BBH acreditam que o Fed virá mais dovish, após três meses de dados mais baixos do núcleo da inflação e ausência de pressões de preços relacionadas a tarifas. Ambos esperam o primeiro corte do juro em setembro e concordam que o petróleo é um risco.
A GUERRA – Autoridades americanas disseram que as próximas 24 a 48 horas serão cruciais para determinar se uma solução diplomática com o Irã é possível ou se Trump recorreria à ação militar, informou no final da noite a rede ABC.
… Trump se reuniu com sua equipe de segurança nacional por mais de uma hora para discutir o crescente conflito no Oriente Médio, gerando especulações de que os Estados Unidos estariam prestes a se juntar ao ataque de Israel ao Irã.
… A Casa Branca, porém, não comentou ou emitiu uma declaração ao final do encontro.
… As armas americanas são vistas como cruciais para alcançar uma destruição mais completa do programa atômico da República Islâmica, sobretudo para destruir a instalação nuclear de Fordow, construída sob uma montanha a 61 metros de profundidade.
… Antes de reunir seus assessores na Sala de Situação, o presidente Trump publicou uma mensagem nas redes sociais exigindo a rendição incondicional do Irã e alertou sobre um possível ataque contra o líder do país, o aiatolá Ali Khamenei.
… “Sabemos exatamente onde o chamado Líder Supremo está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos matá-lo, pelo menos não por enquanto.” Enquanto isso, Israel e Irã indicavam que planejam intensificar os conflitos, que já duram cinco dias.
… Na Bloomberg, forças de Israel identificaram mísseis lançados do Irã e instruíram a população a se abrigar. Na Reuters, explosões eram ouvidas em Tel Aviv. E no NYT, o Irã atacará interesses militares dos EUA no Oriente Médio, se Trump prosseguir com sua campanha.
… A Agência da República Islâmica falou em uma “operação punitiva” e alertou os israelenses para evacuarem Tel Aviv e Haifa.
… O chanceler alemão Friedrich Merz, que participava do G7 no Canadá, disse que uma decisão dos EUA de se juntar à guerra aconteceria “no decorrer do dia” e que, se o Irã não voltar à mesa de negociações, “seu programa nuclear será completamente destruído”.
… O Irã estava negociando com os EUA há semanas sobre um acordo nuclear antes de Israel lançar seu ataque surpresa.
… O vice-presidente JD Vance disse a repórteres que Trump estava “deixando claro para o povo americano e para o mundo inteiro que a política dos EUA é que o Irã não pode ter uma arma nuclear e que “eles não têm permissão para enriquecer urânio”.
… À noite, a Embaixada dos EUA em Jerusalém e os consulados em Jerusalém e Tel Aviv anunciaram o fechamento por três dias.
… Nesta 3ªF, declarações do presidente Trump sinalizando a possibilidade de aderir ao conflito no Oriente Médio sustentaram um pregão de cautela em Nova York, com os investidores indo para a defensiva no ambiente de aversão ao risco (leia abaixo).
LULA – O presidente deixou a Cúpula do G7 no Canadá e está voltando ao Brasil, sem se reunir com os líderes da Alemanha (Fridrich Merz cancelou o encontro porque a agenda atrasou) e da Ucrânia, Volodymyr Zelenski (pela segunda vez; a primeira foi no Japão, em 2023).
… Até mesmo a entrevista com a imprensa que estava marcada para antes do embarque não aconteceu.
… As únicas reuniões bilaterais de Lula às margens do G7 foram com o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, com quem ele discutiu comércio, transição energética e democracia, e o novo líder da Coreia do Sul, Lee Jae-myung.
NÃO TÁ FÁCIL – O presidente enfrenta na volta duras derrotas no Congresso: 1) a aprovação da urgência do Decreto Legislativo contra o aumento do IOF, 2) a leitura do CPMI do INSS, e 3) a derrubada de vetos importantes para as contas públicas.
… Entre os vetos, os relacionados às regras para a produção de energia eólica em alto-mar, chamado pelo jargão de “eólicas offshore”, são o mais preocupante, porque o projeto passou com uma série de jabutis para atender a diferentes geradores de energia.
… Segundo as estimativas, esses jabutis podem custar até R$ 17 bilhões/ano e também encarecerão a conta de luz dos consumidores.
… O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, disse que o governo deve editar em breve uma MP para compensar eventuais aumentos na conta de energia elétrica causados pela derrubada de um veto sobre pequenas hidrelétricas.
… Nem todos os vetos foram apreciados, os líderes conseguiram segurar alguns para negociar e, segundo apurou o Estadão, se o governo colocasse os demais jabutis em votação, corria o risco de perder em todos, com o clima negativo na relação com o Congresso.
… Durante à tarde, um a um, os vetos presidenciais foram derrubados, incluindo o veto ao projeto que garante pensão vitalícia de R$ 7,7 mil a crianças vítimas do Zika Vírus e o veto à isenção de FIIs e Fiagros da cobrança de IBS e CBS, no âmbito da reforma tributária.
MAIS AGENDA – O 2º decêndio de junho do IGP-M (8h) e os dados semanais do fluxo cambial (14h30) são os dois indicadores da 4ªF.
… Lá fora, o dia começa com a inflação (CPI) de maio na Zona do Euro (6h) e, nos EUA, segue com as construções de moradias iniciadas em maio e os pedidos de auxílio-desemprego na semana até o dia 14 – ambos com divulgação às 9h30.
… Às 11h30, o DoE divulga os estoques de petróleo nos Estados Unidos, que na semana anterior caíram 3,644 milhões de barris.
JAPÃO HOJE – As exportações registraram queda anualizada de 1,7% em maio, após alta de 2% em abril, dando a medida do impacto das tarifas aplicadas pelo governo Trump. Foi o primeiro recuo do indicador em 8 meses.
… O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, conversou esta semana com Trump à margem da cúpula do G7, no Canadá, e afirmou que os dois países ainda não chegaram a um acordo, mas concordaram em ampliar as discussões.
PIOR DOS MUNDOS – O risco no ar da manobra política tão temida, de que os EUA se metam no conflito Irã/Israel, gerou nova onda de estresse mundial, disparou o petróleo e o “índice do medo” VIX (+12,40%, a 21,48 pontos).
… Felizmente, o mercado doméstico sentiu menos o choque externo, porque o petróleo amorteceu a queda do Ibov e do dólar, e o câmbio ainda foi favorecido pela perspectiva de Selic alta, mesmo que o Copom não suba o juro hoje.
… Mais ou menos tanto faz para o capital especulativo interessado em aplicar no Brasil se a taxa básica continuará em 14,75% ou será elevada para 15%, porque com pausa ou sem pausa no ciclo de alta, a Selic está muito atrativa.
… Apostando na continuidade do fluxo estrangeiro, o dólar operou só pontualmente ontem na faixa dos R$ 5,50 (máxima intraday de R$ 5,5076), mas fechou abaixo desta marca, cotado a R$ 5,4968, em leve alta de 0,20%.
… Operou comportado se comparado ao salto lá fora do índice DXY (+0,84%, a 98,817 pontos) com a busca por proteção na moeda americana, que derrubou o euro (-0,71%, para US$ 1,1487) e a libra (-1,15%, para US$ 1,3487).
… Também o iene (145,27/US$) caiu, depois de o BoJ ter deixado os juros inalterados em 0,50% pela terceira vez consecutiva e ter anunciado que reduzirá as compras mensais de JGBs, os títulos do Tesouro japonês.
… Além de terem operado com relativo sangue-frio à subida de tom de Trump nas ameaças ao Irã, os ativos domésticos tampouco foram abalados pela surra tomada pelo governo na aprovação da urgência do PDL do IOF.
… Apesar do ambiente sensível em Brasília, o investidor parece estar apostando no sucesso dos acordos que serão costurados nos bastidores nas próximas semanas para baixar a temperatura na relação do governo e o Congresso.
… Quanto à escalada da tensão externa, o Brasil tem sentido a dimensão do conflito menos dramaticamente, blindado pela condição de exportador de petróleo, segundo o economista Carlos Kawall (da Oriz) no Broadcast.
… Depois de uma curta realização de lucro na 2ªF, os papéis da Petrobras já voltaram a exibir fôlego ontem, ocupando o ranking das maiores altas do Ibov e ajudando a contrabalançar o impacto do tombo das ações da Vale.
… A mineradora corrigiu o salto superior a 3% do pregão anterior e afundou 4,50%, para R$ 51,41, enquanto Petrobras ON liderou os ganhos do Ibovespa, com 2,95% (R$ 35,95), e PN registrou valorização de 2,27% (R$ 32,94).
… Em meio às forças opostas entre as blue chips das commodities, o índice à vista da bolsa limitou a queda a 0,30%, aos 138.840 pontos, e continua sonhando em fechar um dia acima do patamar inédito dos 140 mil pontos.
… Mês passado, esta marca já foi cruzada no intraday (140.381,93), mas nunca ainda bancada até o fechamento.
… Entre os bancos, ontem, só BB caiu (ON, -0,36%, a 21,90). Bradesco PN engatou alta de 1,50%, para R$ 16,89, Bradesco ON subiu 0,90%, a R$ 14,50; Itaú PN ganhou 0,60%, a R$ 37,05; e Santander Unit, +0,20%, a R$ 30,15.
… Pior queda do dia, Usiminas PNA (-6,90%; R$ 4,59) sentiu o corte de recomendação para marketperform (neutro) pelo Itaú BBA, após o banco ter identificado uma rápida deterioração nos preços do aço (-14% desde março).
BARRIL DE PÓLVORA – Avesso a uma solução diplomática para o fim ao conflito de Israel com Teerã, Trump voltou a botar fogo no mercado de petróleo com os relatos na imprensa de que atacaria as instalações nucleares iranianas.
… De seu lado, o Irã teria voltado a levantar a possibilidade de fechar o Estreito de Ormuz, considera a última grande cartada do país. Mas analistas afirmam nas agências internacionais que a ameaça dificilmente se concretizará.
… Primeiro, porque desencadearia resposta violenta dos EUA, o que seria ainda pior. Fora isso, economicamente, fechar o Estreito de Ormuz prejudicaria o próprio Irã, que está usando a hidrovia para exportar petróleo à China.
… Pelo Estreito, é transportado 34% de todo o fluxo global da commodity por via oceânica. Agitado pelo cenário conturbado, o contrato do petróleo Brent com vencimento em agosto disparou 4,40%, negociado a US$ 76,45.
… Pela manhã, a AIE avaliou que o mercado da commodity deve ficar bem abastecido até o final desta década, mas ponderou que os riscos geopolíticos e as tensões comerciais introduzem incertezas significativas para a oferta.
… Tensas com o risco de os EUA exibirem o seu poderio bélico e Trump ordenar uma ação militar contra o Irã, as bolsas em NY foram para a defensiva. Indicadores fracos também afetaram o sentimento na véspera do Fed.
… Dow Jones, -0,70%, a 42.215,80 pontos; S&P 500, -0,84% (5.982,72 pontos); e Nasdaq, -0,91% (19.521,09 pontos).
… Em sinal de desaquecimento da economia americana, as vendas no varejo recuaram 0,9% em maio contra abril, pior do que a queda de 0,7% esperada. A produção industrial caiu 0,2% e contrariou a aposta de alta de 0,2%.
… Os dados foram lidos pelo lado negativo, da atividade fraca, mas reforçam a expectativa de corte de juro no 3Tri.
… Essa percepção de que o Fed pode começar a relaxar a política monetária em setembro derrubou ontem as taxas dos Treasuries, que já sofriam com o apelo defensivo provocado pela onda global de aversão a risco com o Irã.
… Mas se a guerra escalar para graus mais alarmantes, que disparem o petróleo acima de US$ 80, e se Trump não desistir de sua obsessão protecionista, Powell vai ter trabalho para lidar com as pressões inflacionárias.
… O retorno da Note de 2 anos caiu a 3,943%, contra 3,972%, e o de 10 anos recuou para 4,388%, de 4,456%.
… Aqui, só a ponta curta do DI fechou praticamente estável, engessada pelo suspense com o Copom. Já os demais contratos embutiram prêmio, precificando o clima de nervosismo, se os EUA decidirem se intrometer na guerra.
… No fechamento, o vencimento para Jan/26 marcava 14,860% (de 14,863% no ajuste anterior). Já o Jan/27 subia a 14,235% (de 14,170%); Jan/29, a 13,540% (de 13,454%); Jan/31, a 13,660% (13,597%); e Jan/33, 13,720% (13,669%).
EM TEMPO… PETROBRAS e BRASKEM assinaram, em 6/6, aditivo ao contrato de fornecimento de hidrocarbonetos leves de refinaria (HLR) da Refinaria Henrique Lage (Revap), originalmente firmado em outubro de 2024…
… O novo aditivo visa incorporar mecanismos que permitam a comercialização de HLR a preço diferenciado (HLRPD) no contrato…
… Segundo comunicado, valor máximo estimado da operação é de R$ 590 milhões, considerando a comercialização total dos volumes adicionais e o câmbio atual.
CEMIG aprovou a distribuição de R$ 596,75 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2086 por ação, com pagamento em duas parcelas (30/6 e 30/12); ex em 24/6.
HYPERA aprovou a distribuição de R$ 185,1 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2925 por ação, com pagamento até o fim do exercício social de 2026, em data a ser definida pela companhia; ex em 27/6.
JALLES MACHADO encerrou o 4Tri da temporada 2024/25 com prejuízo líquido de R$ 8,5 milhões, uma reversão do lucro de R$ 7,4 milhões registrado em igual período da safra anterior…
… O Ebitda ajustado foi de R$ 530,3 milhões, avanço de 78,3% na comparação anual. Já a receita líquida avançou 30%, para R$ 653,6 milhões.
GRIPE AVIÁRIA. O Ministério da Agricultura confirmou a suspensão temporária pelo Japão das importações de carne de aves provenientes dos municípios de Santo Antônio da Barra (GO) e Campinápolis (MT).
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
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