Incertezas com Trump mantêm risco de volatilidade

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[21/01/25]

… NY volta do feriado sem saber o que Trump decidirá sobre as tarifas que ameaça impor ao mundo. Só o fato de ele não ter insistido com mais ênfase nesse ponto em seu discurso de posse serviu de alívio nesta 2ªF. Mas ontem foi apenas o primeiro dia do governo Trump. Já à noite, no Capital One Arena, falando para uma multidão de apoiadores, avançou um pouco mais, dizendo que os EUA vão “encher os bolsos”, que “só há duas palavras mais bonitas que tarifa: Deus e amor” e anunciou para 1º de fevereiro o decreto de sobretaxa para o México e o Canadá. Citou a possibilidade de aplicar tarifas de 25%, mas disse que a alíquota ainda será definida. Até que as medidas sejam efetivamente conhecidas, Trump deve continuar escalando a sua retórica para conseguir o que quer, mantendo o nível de incertezas elevado, o significa que o risco de volatilidade existe e não é pequeno.

… No câmbio, um alerta da Capital Economics para a forte venda de dólar. Disse a consultoria que, “diante das grandes posições líquidas compradas na moeda americana, uma liquidação como a de ontem é um risco se as tarifas não forem impostas rapidamente”.

… Embora seus analistas não descartem mais quedas com a indefinição das tarifas, preveem um salto do dólar quando forem anunciadas, em algum momento do 2Tri. A Capital Economic ainda acredita numa tarifa universal de 10% e 60% sobre as importações da China.

… Não é um consenso. Muitos apostam que Trump só quer que a China volte a comprar produtos agrícolas. À noite, o presidente eleito disse que os EUA ainda “não estão prontos” para implementar novas tarifas universais.

… Para o Brasil, o maior foco de interesse são justamente as medidas que Trump está reservando para a China.

… Se Xi Jinping estiver disposto a compor com o novo presidente dos EUA, o Brasil terá redução expressiva das exportações de grãos, que é basicamente o que vendemos para a China. No Trump 1, os chineses vieram comprar aqui o que deixaram de comprar lá.

… De seu lado, o Canadá e a UE prometeram reagir à potencial implementação de tarifas para defender seus interesses. “Estamos absolutamente prontos para responder”, avisou o ministro de Finanças canadense.

… Na primeira reação à ameaça de tarifas em fevereiro, o dólar canadense e o peso mexicano caíam mais de 1% no final da noite desta 2ªF, projetando uma abertura tensa para hoje, ainda que nada esteja muito certo.

MAIS TRUMP – Ainda na noite de ontem, o recém-empossado presidente norte-americano assinou ordem executiva que concede para o TikTok mais 75 dias antes da proibição da rede social nos EUA.

… Segundo ele, o melhor para Pequim é aprovar a oferta de compra de 50% do controle da plataforma.

… Enquanto assinava os decretos, Trump citou especificamente o Brasil. Disse que a América Latina (incluindo nós) precisa mais dos EUA do que os EUA precisam da AL, mas disse que tem relação “excelente” com a região.

… Sobre os Brics, afirmou que estão tentando “dar a volta” nos EUA e, se isso ocorrer, “não ficarão felizes”.

… O novo chefe da Casa Branca também disse que os EUA “muito provavelmente” irão parar de comprar petróleo da Venezuela e que já tem conversado sobre o tema com o novo secretário de Estado, Marco Rubio.

… Na assinatura dos primeiros decretos, declarou emergência na fronteira com o México, designou os cartéis de drogas como organizações terroristas e avisou que enviará tropas para a fronteira mexicana.

… Com uma canetada, acabou com a cidadania por direito de nascença de filhos de imigrantes ilegais.

… Trump ainda assinou declarou emergência energética, como prometido no discurso de posse, retirou os EUA da OMS e do acordo climático de Paris. Com a saída, os EUA ficarão ao lado do Irã, da Líbia e do Iêmen.

… Ainda nos primeiros atos oficiais, o novo presidente americano cumpriu a sua promessa de campanha e concedeu perdão a quase todos os condenados e acusados pela invasão ao Capitólio, cinco anos atrás.

DAVOS – Lula escalou o ministro Alexandre Silveira (MME) para representar o Brasil no Fórum Econômico Mundial. Com participação reduzida da comitiva brasileira, Silveira terá encontros com CEOs do setor de energia.

… Fonte do Executivo disse ao Broadcast que o ministro terá como foco atrair investimentos à agenda verde. O MME vê uma janela de oportunidade para o Brasil com o reposicionamento de Trump na questão energética.

A PAUTA DE HADDAD – Em sua apresentação na reunião ministerial de ontem, o ministro da Fazenda disse que as contas públicas estão sob controle e mencionou o aumento da arrecadação federal, segundo o Broadcast.

… Na Folha, Adriana Fernandes informa que ele elegeu 25 prioridades na agenda econômica até o fim do mandato de Lula, incluindo a isenção do IRPF para quem ganha até R$ 5 mil e a tributação dos milionários.

… O ministro dividiu as medidas em três frentes de trabalho: estabilidade macroeconômica; melhoria do ambiente de negócios e a implantação do plano de transformação ecológica.

… Na lista de prioridades, estão o fortalecimento do arcabouço fiscal, a reforma da previdência dos militares, além do combate a supersalários do funcionalismo público.

…Para melhorar o ambiente de negócio, a Fazenda quer regulamentar as big techs, modernizar o marco legal de preços de medicamentos e do regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos e das PPPs.

… Na transformação ecológica, a ideia é emitir títulos sustentáveis, aprimorar critérios de sustentabilidade do Plano Safra e o marco legal da inteligência artificial.

AGENDA – É esvaziada hoje aqui e no exterior, sem nenhum indicador nos EUA e apenas o índice alemão ZEW de expectativas econômicas na Zona do Euro. Wall Street aguarda pelo balanço da Netflix após o fechamento, com previsão de lucro por ação de US$ 4,21.

… Único dado doméstico é a prévia do IGP-M. No câmbio, o BC informou a rolagem integral dos contratos de swap para março, no total de US$ 14 bi, e inicia hoje (11h30) com leilão de até 15 mil contratos (US$ 750 mi).

… A semana não reserva nenhum índice relevante de atividade econômica. Mas reportagem do Broadcast alerta que, diante dos sinais recentes de desaceleração, o risco de uma recessão técnica já entra no radar do mercado.

… A perspectiva de dois trimestres seguidos de contração do PIB não é um consenso, mas está no cenário mais provável dos economistas de seis instituições: Bradesco, Ativa, Monte Bravo, Nova Futura, Tendências e BV.

… Os sinais de esgotamento do potencial de crescimento da economia foram reforçados recentemente pelos resultados fracos de novembro da produção industrial, vendas do varejo, volume de serviços e do emprego.

AINDA SEM PICANHA – O Valor apurou que Lula cobrou ontem dos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, um programa para baixar o preço dos alimentos. E rápido.

… A alta tem impactado diretamente a popularidade do presidente, que prepara o caminho para a reeleição ou sucessão em 2026. Os ministros teriam ouvido dele que “a população não pode esperar” que os preços baixem.

… Lula teria ordenado que o programa para baratear a alimentação “seja feito já”. Em 2024, o preço dos alimentos subiu, em média 7,69%, bem acima da inflação oficial do país, que ficou em 4,83%, segundo o IPCA.

SO FAR SO GOOD – Foi só o primeiro dia. Mesmo assim, os ativos domésticos embarcaram no alívio global com a opção de Trump de não anunciar de imediato o tarifaço, despertando a esperança de que ele possa ir devagar.

… Já antes da posse, a informação antecipada pela imprensa de que não viria chumbo logo de largada autorizou que o dólar começasse a cair, no movimento que teve ainda como pano de fundo os leilões de linha do BC.

… A alta inicial da moeda americana foi logo revertida. Só o que desanima é que o real não tenha se apreciado na mesma intensidade do que outras divisas emergentes, sugerindo que o Brasil está menos atrativo.

… Tudo o que o dólar caiu foi 0,39%, a R$ 6,0421, com os fundamentos domésticos que não estão dos melhores.

… O boletim Focus apontou desancoragem adicional nas expectativas de inflação e Selic maior no ano que vem.

… Passou de 5,01% para 5,13% a mediana das projeções para a inflação suavizada dos próximos 12 meses, medida que ganhou importância nas análises do mercado com a meta de inflação contínua a partir deste ano.

… A mediana para o IPCA/25 subiu pela 14ª semana consecutiva, de 5,0% para 5,08%. Para 2026, avançou pela quarta semana seguida, de 4,05% para 4,10%. A meta é de 3%, com tolerância de 1,5pp para baixo ou para cima.

… A previsão para a Selic em 2026 foi elevada de 12,00% para 12,25%. Para este ano, permaneceu em 15%, mas grandes bancos, como é o caso do Itaú, precificam a chance de o Copom ter que ir mais longe do que isso.

… Nesta 2ªF, a instituição financeira puxou a sua estimativa para o juro terminal de 15,00% para 15,75%, devido à depreciação do real e inflação fora do target, que indicam a necessidade de uma política mais contracionista.

… O dólar alto e a expectativa de serviços mais pressionados também levaram o banco a elevar a projeção para o IPCA deste ano (5,00% para 5,80%) e de 2026 (4,3% para 4,5%). O banco prevê maior inércia inflacionária.

… De acordo com o Itaú, o repasse da variação cambial para o IPCA parece estar mais rápido do que o usual e já é possível notar aceleração na margem dos itens da inflação mais sensíveis ao comportamento do dólar.

… No Focus, a mediana para a moeda americana neste ano e em 2026 segue elevada, em R$ 6,00. No horizonte mais longo (2027), a cotação esperada também já se aproxima deste patamar: subiu de R$ 5,82 para R$ 5,92.

… Apesar de tudo, a curva do DI descontou ontem os riscos e operou embalada pela queda global do dólar.

… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 caiu a 14,925% (de 14,965% no pregão anterior); Jan/27 recuou a 15,130% (15,250%); Jan/29, a 15,015% (15,190%); Jan/31, a 15,030% (15,160%); e Jan/33, a 14,970% (15,080%).

NÃO CHEGOU CHEGANDO – O Ibov engatou alta moderada e se aproximou dos 123 mil pontos, no reflexo direto do alívio do DI sobre as ações mais sensíveis ao ciclo econômico, após Trump pegar mais leve na estreia.

… O índice à vista ganhou 0,41%, aos 122.855,15 pontos, com um volume financeiro pífio, de apenas R$ 11,5 bilhões, por causa do feriado do dia de Martin Luther King Jr., nos EUA.

… Alexandre Sant’anna (ARX Investimentos) disse ao Valor que o estrangeiro não está interessado no Brasil e que foi atípica a entrada de R$ 6,5 bi de k externo na B3 na última 5ªF, no maior saldo positivo em único dia em 13 anos.

… Naquele dia, o volume inflou com a venda da fatia da Cosan na Vale (4,05%), zerando a posição na mineradora.

… No Ibov ontem, o recuo dos juros futuros, aliviado pela ausência de imposição imediata de Trump sobre tarifas de importação a parceiros comerciais, motivou a alta dos cíclicos.

… Assaí avançou 4,81%, a R$ 6,10), Yduqs (+3,61%; R$ 8,89), Azzas (+3,46%; 31,37), Carrefour (+2,65%; R$ 5,80) e LWSA (+2,64%; R$ 3,11).

… A maior valorização do dia foi Braskem (+8,45%, a R$ 13,74), ainda refletindo o anúncio de projetos para ampliar sua capacidade de produção.

… Bancos também subiram: Itaú (+0,96%; R$ 32,66), Bradesco ON (+0,75%; R$ 10,73), Bradesco PN (+0,35%; R$ 11,63), Santander (+0,44%; R$ 24,97) e Banco do Brasil (+0,32%; R$ 25,43).

… Na contramão do petróleo, Petrobras ON teve alta de 0,72% (R$ 41,90) e PN avançou 0,24% (R$ 37,29).

… O Brent/mar caiu 0,79%, a US$ 80,15/barril, com investidores aguardando detalhes sobre a ordem de Trump de declarar emergência energética nacional.

… Com a expectativa de dividendos ordinários atraentes no curto prazo, o Citi adicionou as ações da Petrobras em seu portfólio. O banco vê a companhia como um bom ativo para navegar por um período econômico turbulento.

… Em outra frente, o colunista Lauro Jardim/O Globo informou que o governo deve pressionar o conselho da Petrobras a amenizar os reajustes dos preços de combustíveis e não turbinar muito a inflação.

… O conselho deve se reunir provavelmente na semana que vem para discutir a questão.

… Vale recuou 0,37%, a R$ 54,29, na contramão da leve alta de 0,13% no minério de ferro em Dalian. A maior perda do dia foi de Cosan (-6,83%, a R$ 7,64). Brava Energia cedeu 6,43% (R$ 23,71) e Raízen baixou 5,39% (R$ 1,93).

NÃO É PRA JÁ – A julgar pela reação do dólar ante moedas pares, Wall Street deu um suspiro de alívio com o fato de Donald Trump não ter anunciado medidas concretas na área de tarifas de importação.

… Com as bolsas e mercado de títulos fechadas por causa do feriado de Martin Luther King Jr., sobrou para o câmbio repercutir o discurso de posse de Trump. O índice DXY teve queda forte, de 1,2%, a 108,034 pontos.

… O euro subiu 1,33%, a US$ 1,0415, a libra avançou 1,28%, a US$ 1,2326, e o iene ganhou 0,42%, a 155,638/US$.

… O novo presidente dos EUA não fez comentários mais específicos sobre tarifas, tampouco mencionou a China, afastando-se de uma guerra comercial pelo menos logo no 1º dia de governo.

… Segundo o The Wall Street Journal, Trump planeja emitir um amplo memorando determinando que agências federais detalhem as políticas comerciais existentes e o relacionamento com China, Canadá e México.

… Em relatório a clientes, o Citi previu que Trump vai elevar as tarifas de importação em 5pp, em média, este ano. Isso elevaria as tarifas médias de 2% a 3% para 7% a 8%. Para a China, contudo, o aumento deve ser de 10 a 15 pp.

… “Dito isso, não esperamos tarifas generalizadas de grande porte”, acrescentou o Citi. O banco ainda espera que o governo Trump reduza as pressões regulatórias sobre as empresas em diversos setores, incluindo energia e finanças.

… “Eu realmente acho, e talvez seja apenas uma esperança, que Trump recue de sua retórica mais extrema, especialmente nas frentes de deportação e tarifas”, disse Marvin Loh (State Street Global Markets) na Bloomberg.

… Seja como for, se levadas a cabo, as políticas prometidas por Trump, de redução de impostos e maiores gastos fiscais, devem manter o dólar pressionado e os juros dos Treasuries elevados.

EM TEMPO… VALE reiterou em comunicado que decisões sobre alocação de capital seguem “rigoroso processo de avaliação”, em resposta a notícias de que governo pressiona a empresa para comprar a mineradora Bamin.  

GERDAU aprovou programa de recompra de até 63 milhões de ações PN e até 1,5 milhão de ações ON, que representam 5% e 10% das ações em circulação, respectivamente.

METALÚRGICA GERDAU aprovou programa de recompra de até 6 milhões de PN, ou 1% do total em circulação.

AGROGALAXY registrou prejuízo líquido ajustado de R$ 1,58 bilhão no 3Tri24. Resultado foi 1.679% pior do que o prejuízo de R$ 88,7 milhões de igual período de 2023…

… O Ebitda ajustado ficou negativo em R$ 1,2 bilhão, de resultado positivo de R$ 74,4 milhões um ano antes.

TRISUL registrou VGV de R$ 924 milhões no 4Tri24, alta de 120% sobre o 4Tri23. Vendas somaram R$ 746,3 milhões, alta de 129,1% no período.

HELBOR atingiu R$ 317,6 milhões em VGV de lançamentos no 4Tri24, queda de 15,5% ante o 4Tri23. As vendas cresceram 43,2% no período, para R$ 369,2 milhões.

WIZ PARTICIPAÇÕES aprovou 2ª emissão de debêntures no valor de R$ 300 milhões, com vencimento será em 30 de janeiro de 2030.

PARANÁ BANCO convocou assembleia para 11/2 para votar a conversão de ações preferenciais em ordinárias, na proporção de um para um. O banco também propõe o cancelamento de 47,8 milhões de ações ON e 505,3 mil PN.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Os olhos do mundo estão em Washington

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[20/01/25]

… A China manteve os juros, horas antes da posse de Trump, a partir das 13h30, que coincide com o feriado de Martin Luther King. Os mercados em NY ficam fechados. Apesar da liquidez reduzida prevista para o dia, o BC chamou para hoje dois leilões de venda de dólares com compromisso de recompra (de linha), às 10h20 e 10h40, no total de US$ 2 bilhões. Em compasso de espera pela largada do novo governo dos EUA, o BoJ decide juro na 6ªF, inclinado a subir a taxa para 0,50%. A semana tem ainda como destaques o balanço da Netflix, amanhã, e o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Haddad não vai, ocupado pelas pressões fiscais, desgaste do PIX e reforma ministerial. Aqui, o único indicador mais relevante da agenda é o IPCA-15 de janeiro, que sai 6ªF. A partir de agora, os olhos do mundo estão em Washington.

… Os investidores globais não duvidam de decretos de impacto logo na estreia de Trump 2 para concretizar as promessas de aumento de tarifas de importação, expansionismo fiscal e políticas de imigração mais rígidas.

… Esperadas com muita expectativa, as medidas e as ameaças alardeadas na campanha eleitoral têm potencial de sobra para sacudir o comércio mundial, pressionar a inflação americana e encurtar o ciclo de afrouxamento monetário do Fed.

… Em discurso neste domingo no ginásio Capital One Arena, em Washington, Trump prometeu assinar ainda hoje “muitas, muitas” ordens executivas, impondo tarifas comerciais para levar as indústrias de volta aos Estados Unidos.

… “Vamos cortar impostos, vamos acabar com a inflação, vamos reduzir os preços, aumentar os salários e trazer milhares de fábricas de volta, vamos construir aqui, vamos contratar americanos e comprar produtos americanos. Isso será feito através de tarifas.”

… Trump não detalhou as medidas econômicas que pretende adotar, mas sinalizou que elas devem ser anunciadas já nesta 2ªF, por meio de ordens executivas, que equivalem a medidas provisórias no Brasil. “Vamos assinar tudo amanhã (hoje).”

… O presidente eleito também citou medidas para desregulamentar as aéreas ambiental, que, segundo ele, “atrapalham os negócios”, e de energia, para incentivar as empresas de petróleo a aumentarem a produção e reduzir os preços dos combustíveis.

… Também existe a expectativa de medidas de desregulamentação no setor financeiro para reduzir os custos de financiamentos a empresas e famílias, o que inclusive conta com o apoio de políticos democratas.

… O governo planeja ainda iniciar amanhã (3ªF) as deportações em larga escala, com uma grande operação em Chicago.

… Não se descarta que, só nesta primeira semana de governo, 100 decretos possam ser assinados por Trump.

… No contexto geopolítico, Trump vem manifestando o interesse em tomar o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá.

TIKTOK – Em seu primeiro ato, Trump antecipou neste domingo que planeja dar mais tempo ao TikTok, baseado na China, para encontrar um comprador. “Estou aprovando a volta do TikTok em nome dos EUA. Eu gosto do TikTok.”

… Mais cedo, Trump já havia feito uma postagem defendendo a rede social, que voltou após breve tempo fora do ar.

… Na 6ªF, causaram surpresa os relatos de que, em telefonema, Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, adotaram uma conversa amigável, o que ajudou no movimento de recuperação das bolsas (abaixo).

… O republicano manifestou a assessores o seu interesse em visitar a China ainda nos primeiros 100 dias no cargo, segundo a agência Dow Jones, em uma tentativa de aprofundar o seu relacionamento com Xi Jinping.

… Embora tenha elogiado o líder chinês, qualificando-o de “poderoso e brilhante”, Trump prometeu impor tarifas massivas à China quando era candidato, de até 60%, sobre uma ampla gama de produtos.

… A torcida, no entanto, é para que a política a ser adotada possa ser bem menos agressiva.

TARIFAS – Na semana passada, o futuro secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, minimizou as pressões inflacionárias, dizendo que, “mesmo com 10% de tarifas”, o governo de Pequim ainda exportará com redução de custos.

… Ouvido pelo Broadcast, o economista-chefe para os EUA do Deutsche Bank, Matthew Luzzetti, projeta que serão implementadas 20% de tarifas à China (10% neste primeiro semestre e 10% na segunda metade do ano).

… No caso da Europa, acredita Luzzetti, serão cobrados 7,5% de tarifas somente sobre os carros importados.

… Os europeus querem evitar uma guerra comercial em grande escala, já que os EUA são o maior parceiro comercial da UE, com as duas economias movimentando aproximadamente US$ 8,7 trilhões entre si.

… Um cenário de tarifas mais altas do governo norte-americano impostas sobre a China poderia redirecionar produtos baratos para a Europa, criando um golpe duplo para os fabricantes do bloco.

… Os representantes da UE esperam neutralizar algumas dessas ameaças com propostas que podem incluir compromissos para comprar mais gás natural liquefeito e suprimentos de defesa americanos.

… Além disso, podem colocar na mesa de negociação uma oferta de se aliar a Trump no enfrentamento à China.

… Em relação ao México e Canadá, cresceu nas últimas semanas a chance de as exportações sofrerem impostos adicionais de 25% para ingressar no mercado americano até que haja controle da imigração e fluxo de drogas.

… Mas ainda é possível que estes dois países não sejam taxados imediatamente, porque fazem parte de um grande acordo comercial com o governo dos EUA firmado ainda no primeiro mandato de Trump.

A POSSE – A agenda de Trump começa hoje com uma missa na St. John’s Church. Em seguida, vai à Casa Branca, onde ele e sua esposa, Melania Trump, serão recebidos para tomar chá com Biden e a primeira-dama, Jill Biden.

… A cerimônia de posse começará às 13h30 (de Brasília). O juramento será feito primeiro pelo vice-presidente eleito, J.D. Vance, e, na sequência, por Trump, quando oficialmente inicia seu segundo mandato nos EUA.

… Devido ao frio intenso a ser registrado hoje Washington, Trump fará o discurso de posse em ambiente fechado, na Rotunda do Capitólio, facilitando a segurança do serviço secreto, após as tentativas de assassinato.

… Após a posse, ele participa do desfile presidencial que vai do Congresso à Pennsylvania Avenue, com revista de tropas. Em seguida, participa na Casa Branca de uma cerimônia para assinatura de atos oficiais no Salão Oval.

… À noite, está previsto que o presidente eleito participe de três bailes da posse, com show do Village People.

… Pela primeira vez na história dos EUA, um presidente eleito receberá líderes estrangeiros em sua posse. Conservadores como Milei (Argentina) e a premiê italiana, Giorgia Meloni, marcarão presença no evento.

… Xi Jinping vai enviar o vice-presidente, Han Zheng, como seu representante. Impedido de viajar pelo ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro mandou a mulher, Michele, e os filhos Eduardo e Flavio para a posse de Trump.

… Cerca de 20 parlamentares da oposição também devem ir, incluindo as deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli.

TIME IS MONEY – Três dias antes de sua posse, o novo presidente dos EUA lançou na 6ªF a sua própria criptomoeda, a $TRUMP. O lançamento foi um estouro, com a moeda saltando mais de 1.200% até domingo.

… O republicano disponibilizou a venda de 200 milhões de tokens da $TRUMP. A empresa do presidente responsável por gerir o ativo ficará com outras 800 milhões, o que pode garantir um retorno colossal a Trump.

… Em redes sociais, alguns especialistas no tema criticaram o movimento de Trump.

… “Trump possuir 80% e anunciar o lançamento horas antes da posse é predatório”, disse um investidor de risco. Outro alertava: “Agora, qualquer pessoa no mundo pode depositar dinheiro na conta bancária do presidente com alguns cliques”.

PAZ EM GAZA – A libertação dos primeiros reféns consolidou o acordo de paz entre Israel e o Hamas, iniciado neste domingo.

… Na Carolina do Sul, Joe Biden falou sobre o cessar-fogo em seu último discurso como presidente dos EUA, dizendo que foi uma das mais difíceis negociações que já fez, mas não há dúvidas de que este é um mérito de Donald Trump.

… Era uma promessa de campanha do presidente eleito “acabar com essa guerra em um dia” e ele agiu para isso.

… No comício deste domingo, Trump disse que o cessar-fogo em Gaza foi “resultado de nossa vitória” e prometeu também acabar com a guerra na Ucrânia, o caos no Oriente Médio e impedir a Terceira Guerra Mundial.

… Em entrevista à CNN, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Waltz, afirmou que o acordo de cessar-fogo só aconteceu graças à eleição de Trump, mostrou aos líderes do Hamas que eles poderiam ser derrotados como o Hezbollah.

… Waltz reafirmou que os EUA não aceitarão que o Hamas governe Gaza, acrescentando incertezas sobre a duração do armistício.

… Em Israel, também o ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, afirmou que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, influenciou na última semana para o acordo de cessar-fogo que entrou em vigor neste domingo.

… Saar reforçou que Trump não os forçou a nada, apenas ajudou, e repetiu que Israel não aceitará que o Hamas governe a Faixa de Gaza.

… As negociações para a segunda fase do acordo entre Israel e o Hamas estão previstas para começar somente no dia 4 de fevereiro.

MAIS AGENDA – A decisão final de política monetária desta semana no Japão pode depender dos comentários e medidas de Trump nos primeiros dias do governo, mas a maioria do BoJ deve apoiar um aumento, segundo a agência Nikkei.

… Na semana passada, o presidente do BoJ, Kazuo Ueda, afirmou que haverá um aperto se os indicadores econômicos continuarem melhorando e os salários continuarem em trajetória positiva.

… De seu lado, o vice-presidente do BC japonês, Ryozo Himino, disse que a inflação está no caminho da meta.

… Na 5ªF, Trump participará virtualmente do Fórum Econômico Mundial em Davos. Mais de 60 chefes de Estado e de governo estarão presentes no evento, que será realizado de hoje até 6ªF nos Alpes Suíços.

… Lagarde fala em Davos duas vezes esta semana (4ªF e 6ªF), às vésperas da decisão do BCE (dia 30). A expectativa na zona do euro é de continuidade do ciclo de flexibilização, com o quinto corte do juro a caminho.

… O BC da Turquia faz reunião de política monetária na 5ªF. Hoje, na Alemanha, sai o PPI de dezembro (4h).

CHINA HOJE – Os bancos comerciais mantiveram as taxas de juros básicas (LPRs), que balizam os empréstimos. A LPR de um ano foi mantida em 3,1%, enquanto a LPR de cinco anos permaneceu em 3,6%, anunciou o BC chinês.

… Esse foi o terceiro mês consecutivo em que as taxas de juros referenciais ficaram inalteradas, depois que o governo de Pequim fez um corte em outubro para impulsionar a demanda doméstica.

… A administração Trump 2 e a volatilidade do yuan e dos títulos do governo chinês podem influenciar o momento de uma flexibilização mais significativa da política monetária.

AQUI – Fora o IPCA-15 de janeiro (6ªF), a semana tem poucos destaques: as prévias do IPC-Fipe (hoje, às 5h) e do IPC-S (5ªF), além dos dados de transações correntes e IDP em dezembro, que serão divulgados também na 6ªF.

… Hoje (8h25) tem Focus. Na edição da semana passada, a projeção de inflação acumulada em 12 meses até o horizonte relevante da política monetária (2Tri de 2026) estava em 4,45%, colada ao teto da meta, de 4,50%.

… Como observou ao Broadcast o economista Alexandre Lohmann (Constância Investimentos), a desancoragem das expectativas sugere que o forward guidance deixado pelo Copom (1pp + 1pp) já está “atrás da curva”.

… Preocupa que a escalada das expectativas esteja ocorrendo simultaneamente à alta das projeções para a taxa Selic.

… Em reunião na 6ªF com os diretores do BC, economistas reforçaram a preocupação com o fiscal. Os cenários de todos os analistas no encontro corroboraram a necessidade de continuar aumentando a Selic para até 15%.

… Os profissionais esperam que o IPCA deste ano fique entre 5% e 5,50%, estourando de novo o teto da meta.

… Entrevistado pela CNN Brasil, Haddad descartou na 6ªF o risco de dominância fiscal, manifestou confiança na política monetária para conter a inflação, mas reconheceu estar preocupado com a trajetória da dívida pública.

… Questionado sobre o atual patamar do câmbio, o ministro disse que “não compraria dólar acima de R$ 5,70, porque é caro para os fundamentos brasileiros”, mas disse não saber onde a moeda vai parar.

… A caminho de Davos, o presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, cobrou menos despesas do governo para um maior equilíbrio fiscal. Para ele, o BC não pode agir sozinho na luta pela reancoragem das expectativas.

… Em entrevista ao Estadão de hoje, o executivo disse ainda que o crédito vai pisar no freio este ano, diante da Selic alta.

… No front político, Lula encontra com ministros hoje e deve cobrar resultados, na ressaca da crise do PIX.

… Na Folha, o presidente prevê mais duas semanas para desenhar a reforma ministerial. A expectativa é de que as mudanças do primeiro escalão estejam traçadas após as eleições para as presidências da Câmara e Senado.

NA VÉSPERA DE TRUMP – Os dados da China, com o PIB/4Tri, produção industrial e as vendas no varejo acima do esperado em dezembro, impulsionaram o minério e deram força à Vale e ao Ibov, que teve o melhor desempenho semanal desde agosto/24, na 6ªF.

… O ambiente positivo contou, ainda, com os ganhos em Wall Street, que driblou a cautela no último pregão antes da posse de Trump, e registrou alta do S&P 500 (+1%, 5.996,66 pontos), Dow Jones (+0,78%, 43.487,73 pontos) e Nasdaq (+1,51%, 19.630,20).

… Aqui, o Ibovespa subiu 0,92% (122.350,38 pontos), mas com giro baixo para um dia de vencimento de opções sobre ações (R$ 22,6 bi). O ganho na semana foi de 2,94%, elevando o avanço no mês de janeiro até o dia 17 para 1,72%.

… As metálicas foram destaques, com Vale fechando o pregão na máxima (+3,46%, a R$ 54,49), Usiminas, +3,51%, CSN, +4,10% e CSN Mineração no topo da lista (+5,13%). Já Petrobras PN subiu 0,40% (R$ 37,20) e ON ficou negativa (-0,07%, R$ 41,60).

… Outro destaque de alta, IRB subiu 4,21%. Já a ação de Yduqs, que teve a classificação do papel rebaixada de overweight (equivalente a compra) para neutro pelo JPMorgan, caiu 5,71%. Em seguida, Hapvida perdeu 5,49% e Cosan, -4,98%.

… Entre os principais bancos, só Itaú ficou no azul (+0,72%, a R$ 32,35), após ter sua recomendação elevada para compra pelo UBS BB. Em realização, Bradesco ON caiu 1,30% (R$ 10,65), Bradesco PN, -1,19% (R$ 11,59), Santander, -0,68%, e Banco do Brasil, -0,12%.

… Em NY, o cessar-fogo entre Israel e o Hamas ajudou a manter o otimismo, junto com alguns sinais de que Trump poderá pegar mais leve do que ameaçou em suas políticas tarifárias, especialmente com a China, após a conversa amigável com Xi Jinping.

… Além da alta das bolsas, o alívio nos rendimentos dos Treasuries se manteve, em resposta às apostas de que o Fed pode voltar a cortar os juros este ano. As apostas para uma redução de 25pbs em junho bateram em 45% na ferramenta do CME Group.

… O retorno da T-note de 2 anos subia a 4,275% no final da tarde em NY, o da T-note de 10 anos cedia a 4,612% e o do T-bond de 30 anos recuava a 4,848%. Mas até Trump esclarecer suas decisões para as tarifas de importados, a volatilidade tende a se manter.

… Na B3, prevaleceu a cautela antes de Trump, com os juros futuros retomando a alta para o fechamento, principalmente os mais longos.

… O DI para janeiro de 2026 encerrou em 14,96%, de 14,91% no ajuste da véspera, enquanto a do DI para janeiro de 2027 passou de 15,17% no ajuste para 15,25%. O DI para janeiro de 2029 terminou a sessão com taxa a 15,19%, de 15,05%.

… A fala de Haddad, em entrevista à CNN Brasil durante a tarde, não conseguiu tranquilizar o mercado sobre o aspecto fiscal.

… O ministro pareceu mais irritado do que de costume com as desconfianças do mercado sobre a política para as contas públicas e insistiu que o governo tem feitos importantes que deveriam ser reconhecidos.

… No câmbio, apesar dos bons dados da China, o dólar subiu 0,20%, a R$ 6,0656, com mínima a R$ 6,0290 e máxima a R$ 6,0904.

… Lá fora, o novo cenário nos EUA com Trump no comando da Casa Branca ajuda a sustentar o dólar forte. O índice DXY fechou em alta de 0,36%, a 109,347 pontos. Já o euro e a libra se desvalorizavam a US$ 1,0278 e US$ 1,2170, respectivamente.

… No petróleo, após os avanços da semana, a paz em Gaza colocou os contratos futuros para baixo. O WTI/março fechou em queda de 0,59%, a US$ 77,39 o barril, enquanto o Brent para mesmo mês recuou 0,61%, a US$ 80,79 o barril.

EM TEMPO… PETROBRAS. Conselho de administração reúne-se em 10 dias para discutir os reajustes dos preços dos combustíveis…

… Segundo Lauro Jardim/O Globo, o colegiado fará a avaliação anual do cumprimento da política de preços pela diretoria da estatal, que, de acordo com a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis, estão defasados em 13% na gasolina e 22% no diesel.

DASA. Ainda no Globo, agora que o Cade deu o ok para a fusão das áreas de hospitais de Amil e Dasa, será retomada uma outra negociação que ficou paralisada e que tem na outra ponta a Oncoclínicas, de Bruno Ferrari…

… A área oncológica da Amil/Dasa poderá ser transferida para a Oncoclínicas e as partes podem promover uma troca de ações.

RAÍZEN. Anunciou na 6ªF que vai parar sua produção de etanol de segunda geração (E2G) na Usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP)…

… A planta, a primeira de produção de etanol celulósico do grupo, será dedicada a partir de agora apenas para testes e “futuros desenvolvimentos” do biocombustível, segundo comunicado da empresa ao mercado.

HYPERA. Fará a amortização antecipada facultativa parcial das debêntures da 11ª emissão da companhia…

… A empresa pagará, em 29 de janeiro, o valor da parcela, mais remuneração e um prêmio de 0,40%, o que totalizará R$ 581,883 milhões.

SANTANDER. Está iniciando discussão sobre uma possível venda de sua operação no Reino Unido por conta de retornos mais baixos que em outros mercados. Não há informações sobre quem seriam os interessados na compra (Financial Times).

EZTEC. Lançamentos no 4TRI24 somaram R$ 262 milhões em valor geral de vendas (VGV), queda de 12,7% na comparação anual, segundo prévia operacional.

MOVIDA aprovou em AGE realizada nesta 6ªF (17) o cancelamento do registro de companhia aberta da sua subsidiária Movida Locação, na categoria “B”, perante a CVM…

… A Movida seguirá sendo uma companhia aberta na categoria “A” perante a CVM e com ações listadas na B3 sob o ticker MOVI3.

VIBRA ENERGIA aumentou o capital social da Comerc em R$ 1,5 bilhão, mediante a emissão de 161.985.792 ações ON; ações foram subscritas nesta 6ªF (17) e serão integralizadas pela companhia até o dia 30 deste mês.

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IBC-Br e varejo conferem recuo da atividade aqui e nos EUA

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[16/01/25]

… Balanços do BofA e do Morgan Stanley (antes da abertura) podem manter o entusiasmo do setor financeiro em Wall Street – onde tudo deu certo, nesta 4ªF. A grande notícia foi a desaceleração da inflação nos EUA, que reanimou as apostas de que os juros voltarão a cair neste ano, em uma notícia muito positiva para os emergentes. Hoje são importantes os dados do varejo americano (10h30), que tendem a reforçar a expectativa com um Fed mais dovish se confirmarem o recuo esperado. É claro que, a dois pregões da posse de Trump, as incertezas sobre as suas políticas tarifárias continuam sendo uma ameaça, e ninguém está autorizado a relaxar a guarda. Também aqui, os investidores monitoram os sinais de esfriamento da economia, que dão alívio adicional aos juros. Na agenda, o IBC-Br é destaque (9h).

… Depois de três meses consecutivos de crescimento, o “PIB do BC” deve voltar ao terreno negativo em novembro (-0,1%), na mediana do Broadcast. As estimativas variam de recuo de 1,2% a expansão de 0,3%.

… Na base anualizada, o indicador deve desacelerar fortemente contra a leitura de outubro, de 7,3% para 4,3%.

… O que se nota é que a perda de ritmo esperada para o dado não é isolada. No intervalo de pouco mais de uma semana, este já seria o quarto referencial da atividade econômica que apontaria para uma perda de dinamismo.

… Primeiro, foi a produção industrial de novembro (-0,6%). Em seguida, as vendas no varejo registradas no período vieram fracas (-0,4%) e, ontem, o volume do setor de serviços (-0,9%) veio pior que o esperado (-0,5%).

… Os números combinados levantam suspeitas de que a economia começou a perder pique no último trimestre do ano passado, ainda que não haja consenso se este já é um reflexo direto do ciclo de aperto monetário.

… Os sintomas de um processo de esfriamento justificaram ontem um novo ajuste em queda na curva de juros e podem trazer à tona a discussão de uma Selic terminal abaixo da marca de 15% exibida pelo boletim Focus.

… O Safra projeta um pico de 14,75% da taxa básica em maio e desaceleração para 13,75% no final do ciclo.

… O banco reduziu a aposta do PIB do ano de 2,5% para 1,5%, projetando avanço menor no consumo das famílias e nos investimentos corporativos, diante do aperto monetário mais forte e ausência de impulso fiscal.

PASSOU RECIBO – Após a onda de fake news, o governo recuou e revogou norma da Receita que ampliava a fiscalização em transações financeiras, incluindo o Pix, de operações acima de R$ 5 mil (PF) e R$ 15 mil (PJ).

… O governo decidiu ainda publicar uma medida provisória para reforçar que não haverá taxação de transações feitas pelo meio de pagamento instantâneo, depois de a oposição ter espalhado as informações falsas.

… A AGU pediu à PF abertura de inquérito para identificar autores que disseminaram informações distorcidas. O recuo do governo foi mal visto de todos os lados, por especialistas no Broadcast e dentro do próprio PT.

… No momento em que volta atrás na instrução normativa da Receita, o governo oferece de bandeja aos opositores a sinalização de que eles venceram, que a pressão deu certo e que a intenção era mesmo taxar o PIX.

… Não adianta trocar ministro da comunicação e continuar comunicando mal. Também de pouco adianta nessa guerra de narrativas e fake news apelar à PF. Melhor seria Lula ter convocado rede nacional para desmentir.

… Teria matado logo o assunto, evitando a proporção que a polêmica ganhou depois de o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) sobre o tema ter viralizado e capitalizado a vitória do desgaste do governo.

… Na opinião do professor Paulo Niccoli Ramirez (ESPM), a gestão petista vem sendo desestabilizada pelo uso mais eficaz pela direita das redes sociais, com poder de persuasão muito maior e mais atraente aos algoritmos.

… Tivesse o governo usado de uma estratégia articulada, não perderia tanto tempo em correr atrás do prejuízo.

REFORMA MINISTERIAL – Reportagem no Estadão aponta que a cúpula do PT está preocupada com a desidratação que o partido, que comanda 11 ministérios, deve sofrer com as mudanças no Esplanada.

… Dirigentes petistas defendem nos bastidores que o União Brasil, que não entrega os votos correspondentes a seu tamanho, deveria perder lugar na dança das cadeiras para atrair o PP, expoente do Centrão e sigla de Lira.

… De saída do cargo, o presidente da Câmara é sido cobiçado por parte dos petistas para ingressar no governo e dar palanque a Lula na disputa à reeleição no ano que vem. Se Lira topar, ganharia a pasta da Agricultura.

… Já a chance de Rodrigo Pacheco integrar a equipe de Lula desagrada ao PT, que não enxerga no presidente do Senado uma figura capaz de ter articulação decisiva junto ao Congresso para apagar os incêndios de crise.

… As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro.

… Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

AZUL NO AFTER HOURS – O ADR da companhia aérea disparou quase 5%, no entusiasmo da notícia de que assinou com a Abra, dona da Gol, memorando de entendimentos para explorar uma combinação de negócios.

… O CEO da Azul, John Rodgerson, disse ao Broadcast que a fusão tem chance de ser concluída até o fim do ano.

… O acordo prevê que a companhia combinada, que deve criar uma gigante no setor de aviação, converterá as suas ações preferenciais em circulação em ON, que serão listadas no Novo Mercado da B3 e na Nyse.

MAIS AGENDA – A FGV divulga a segunda prévia do IPC-S de janeiro (8h). Lula e Haddad participam, às 15h, de cerimônia de sanção do projeto que regulamenta a reforma tributária. A expectativa é que o texto tenha vetos.

… Lá fora, o crescimento das vendas do varejo dos EUA (10h30) deve desacelerar a 0,6% em dezembro, de 0,7% em novembro, mas ainda se mantendo num nível forte.

… Já no mercado de trabalho, contrariando a força do payroll, os pedidos de auxílio-desemprego (10h30) devem registrar alta de 13 mil, para 214 mil. A Nahb informa a confiança das construtoras em janeiro (12h).

… Na zona do euro, o BCE divulga a ata da reunião do dia 12 de dezembro, em que reduziu o juro em 25pb, para 3% ao ano.

… Ontem, o vice-presidente do BC europeu, Luis de Guindos, avisou que o foco da política monetária mudou da inflação para o crescimento.

… Embora sem se comprometer com uma direção para os juros, disse que, se os próximos dados confirmarem as projeções do BCE, a trajetória da política monetária é “clara”: “espero continuar reduzindo o aperto das taxas”.

TÃO LONGE, TÃO PERTO – Devagar, o dólar vai tentando voltar aos R$ 6, mas ainda encontra piso por aí, diante dos receios sobre a política expansionista e protecionista de Trump 2, além de toda a incerteza fiscal doméstica.

… Para quem aposta contra o dólar, toda a torcida é para que, na posse de 2ªF, o presidente eleito dos EUA venha o menos provocativo que conseguir, esvaziando o risco de uma guerra de tarifas e optando pela elevação gradual.

… Neste caso, quem sabe o investidor possa sonhar com a moeda americana furando o suporte que está tão difícil de quebrar. Ontem, o dólar seguiu o alívio em escala global com o CPI e completou três pregões seguidos em queda.

… Fechou em baixa moderada de 0,35%, cotado a R$ 6,0252, tendo chegado a R$ 6,0119 na mínima intraday.

… Na cola do câmbio e do fôlego de baixa das taxas dos Treasuries com os dados mais fracos nos EUA, o DI partiu para mais uma rodada de devolução de prêmios de risco. Muito esticada, a curva tem aproveitado para voltar.

… Outros dois fatores colaboraram ontem para os juros futuros desarmarem ainda mais a pressão recente: a queda do volume do setor de serviços, que sugere atividade menos aquecida, e o déficit fiscal menor que o esperado.

… Em novembro, as contas do Governo Central vieram deficitárias em R$ 4,515 bi, melhor que a aposta de -R$ 6,5 bi dos economistas. O secretário Rogério Ceron (Tesouro) traçou expectativa mais positiva para o acumulado de 2024.

… Embora tenha reconhecido que houve algumas perdas de receitas no final do ano passado, declarou que, não fosse isso, o resultado primário em 2024 teria chance de ficar quase no centro da meta definida no arcabouço fiscal.

… Disse ainda que a relação despesa/PIB voltará a um dos menores patamares da década.

… Outra boa notícia foi que o Tesouro identificou um erro na contabilização de receitas que melhora o resultado primário em R$ 2 bi nos últimos dois anos. Em 2023, o déficit de R$ 230,5 bilhões caiu para R$ 228,5 bilhões.

… Já em 2024, o resultado até outubro passou de déficit de R$ 64,3 bilhões para R$ 62,3 bilhões.

… Com a respirada no DI, as taxas voltaram a rodar abaixo de 15%: Jan/26 a 14,815% (de 14,865% na véspera); Jan/27, a 14,995% (15,140%); Jan/29, 14,830% (15,060%); Jan/31, 14,720% (14,950%); e Jan/33, 14,580% (14,820%).

DEU SHOW – O Ibov se convidou para a festa de NY com a inflação comportada e esteve a um triz de tocar os 123 mil pontos na máxima do dia (122.987,84). Turbinado, saltou 2,81%, a 122.650,20 pontos, com só duas ações em queda.

… Foi o maior ganho porcentual em um ano e meio, ajudando a devolver o índice à vista ao positivo no acumulado do ano (+1,97%). O giro extraordinário de R$ 70,3 bi foi potencializado pelo vencimento de opções sobre o Ibov.

… Amanhã, tem game de novo na bolsa, com o exercício das opções sobre ações, concentrado nas blue chips.

… Bancos contribuíram para a deslanchada do Ibovespa. Em dia de atratividade da bolsa, costumam ser os primeiros a responder.

… Itaú puxou a valorização do setor, com +4,34% (R$ 32,22). Santander subiu 3,53% (R$ 24,95); Bradesco ON, +3,51% (R$ 10,92); Bradesco PN, +3,50% (R$ 11,83); e Banco do Brasil, +2,52% (R$ 25,27).

… Vale ganhou 1,45% (R$ 52,60), na esteira da alta do minério de ferro em Dalian (+0,71%).

… Petrobras ON (+1,31%, a R$ 41,66) fechou na máxima e PN subiu 1,28% (R$ 37,29), de olho na alta do Brent/março, de 2,64%, a US$ 82,03 por barril.

… Ficou em segundo plano apara o petróleo a confirmação do cessar-fogo na Faixa de Gaza a partir de domingo, já que o mercado tinha antecipado o acordo na véspera.

… A cotação do barril foi embalada pela queda do dólar, pelo recuo maior que o esperado nos estoques nos EUA e pela manutenção da previsão de aumento da demanda global pela Opep em 2025 (+1,45 milhão de bpd).

… Hapvida deu um salto de 10,45%, a R$ 2,43, apoiada também pela definição da ANS em relação às datas das audiências públicas sobre política de preços e reajustes dos planos de saúde.

… Vamos subiu 9,44% (R$ 4,87) e Yduqs teve alta de 8,37% (R$ 9,19). Apenas Marfrig (-1,76%; R$ 16,22) e Klabin (-0,51%; R$ 21,58) ficaram no vermelho.

… Depois do Itaú BBA, foi a vez de o Safra reduzir o preço-alvo para o Ibovespa no fim de 2025. O banco espera que o índice chegue a 141,5 mil, ante 165 mil previstos antes.

… Aumento do protecionismo sob o governo Trump 2, menos espaço para corte de juros nos EUA, incertezas fiscais domésticas, alta da Selic e desancoragem de expectativas de inflação justificaram a reavaliação do banco.

ALÍVIO – A desaceleração do núcleo do CPI pela primeira vez em seis meses recuperou a percepção de que o progresso da inflação americana em direção à meta foi retomado, desencadeando a onda global de apetite por risco.

… Para completar, a temporada de balanços começou bem em Wall Street. Os resultados trimestrais de Wells Fargo (+6,69%), Citigroup (+6,49%), Goldman Sachs (+6,02%) e JPMorgan (+1,97%) agradaram ao mercado.

… Embora a meta de inflação está esteja longe de ser atingida, os dados do CPI aliviaram as tensões depois de um payroll muito mais forte que o esperado, que levou parte do mercado a falar até na possibilidade de alta de juro.

… O mercado voltou a apostar mais fortemente em pelo menos mais um corte do juro no ano. Na ferramenta do CME, junho aparece como o mês mais provável (65,8%, de 57,3%) para a retomada da flexibilização pelo Fed.

… O núcleo do CPI – que exclui alimentos e energia – cedeu para 0,2% em dezembro, de 0,3% em novembro, em linha com o esperado. Na leitura anual, desacelerou de 3,3% para 3,2%. A expectativa era de manutenção em 3,3%.

… O CPI cheio acelerou de 0,3% em novembro para 0,4% em dezembro, puxado pelos preços da energia. No ano, subiu de 2,7% para 2,9%. Analistas esperavam alta de 0,3% e 2,9%, respectivamente.

… Os Fed boys gostaram do que viram. Austan Goolsbee, do Fed Chicago, disse que o CPI reflete um “quadro encorajador” no processo de desinflação.

… Seu colega de Richmond, Tom Barkin, disse que novos dados mostram progresso na inflação, mas que os juros devem seguir restritivos. John Williams (NY) vê a inflação diminuindo gradualmente em direção à meta de 2%.  

… “Os números não mudaram a expectativa para uma pausa no corte de juros este mês, mas devem limitar as conversas sobre um aumento de taxas”, disse Ellen Zentner (Morgan Stanley WM) na BBG.

… O Wells Fargo reduziu a expectativa de três cortes de juros para dois em 2025. O banco reconheceu o alívio no núcleo do CPI, mas disse que o progresso tem sido vagaroso.

… Ainda assim, um senso de alívio tomou NY depois de meses de dados de inflação estagnada.

… O juro da note de 10 anos, que vinha muito pressionado, caiu 14pb, de 4,788% para 4,648%. O da note de 2 anos recuou a 4,264% (de 4,375%) e o do T-Bond de 30 anos cedeu a 4,871% (de 4,977%).

… As ações do setor de tecnologia aproveitaram a onda de otimismo e o alívio dos rendimentos dos Treasuries, fazendo o Nasdaq avançar 2,45%, aos 19.511,23 pontos.

… Tesla (+8,0%), Meta (+3,8%) e Nvidia (+3,3%) recuperaram terreno na sessão.

… O S&P 500 ganhou 1,83% (5.949,91 pontos) e o Dow Jones subiu 1,65% (43.221,55 pontos).

… O dólar cedeu ante alguns pares, com o índice DXY em queda de 0,17%, a 109,09 pontos.

… A libra esterlina subiu 0,29%, a US$ 1,2242, apesar de a inesperada desaceleração do CPI no Reino Unido na base anualizada em dezembro (2,5%) ter impulsionado as chances de cortes de juros pelo BC inglês (BoE).

… O euro ficou estável (-0,09%), em US$ 1,0298. O iene avançou 1,02%, a 156,363/US$, após comentários do presidente do BoJ, Kazuo Ueda, ampliarem expectativas por alta de juros no país.

… Ele disse que as taxas continuarão subindo a economia e os preços melhorarem.

EM TEMPO… CYRELA registrou alta de 146%, para R$ 6,737 bilhões, nos lançamentos do 4Tri24 sobre o 4Tri23. No ano, o valor geral de vendas (VGV) de lançamentos somou R$ 13,021 bilhões, 33% maior que em 2023.

PLANO&PLANO registrou R$ 1,3 bilhão em valor geral de venda (VGV) lançado no 4Tri24, queda de 9,2% sobre o mesmo período de 2023. No ano, os lançamentos somaram R$ 3,7 bilhões, crescimento de 26,2%.

CURY atingiu R$ 1,06 bilhão em valor geral de venda (VGV) nos seus lançamentos do 4tri24, alta de 23,9% sobre o 4tri23. As vendas líquidas somaram R$ 1,2 bilhão, alta de 38,5% no mesmo intervalo.

EVEN registrou vendas líquidas de R$ 369 mi no 4tri24, queda de 29,4% ante igual período/23. Velocidade de vendas sobre oferta (VSO) consolidada foi de 12% e as vendas de estoques somaram R$ 212 mi.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

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