Estatísticas do Setor Externo – Análise PicPay

Déficit em conta corrente cai para US$ 5,1 bi, sustentado pelo superávit comercial, enquanto serviços e renda primária seguem pressionando. IDP mantém financiamento externo confortável.

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Por Ariane Amanda Benedito, economista-chefe do PicPay

O déficit mensal da conta corrente recuou para US$ 5,1 bilhões, abaixo dos US$ 7,4 bilhões observados no mesmo mês do ano anterior. Em 12 meses, houve leve redução do déficit para 3,48% do PIB, embora ainda acima do patamar registrado um ano atrás, o que confirma uma trajetória de deterioração estrutural, porém com algum alívio recente.

O ponto central da melhora continua sendo o comércio exterior, que entregou superávit de US$ 6,2 bilhões, praticamente o dobro do observado em outubro de 2024. As exportações cresceram 8,9% na comparação anual, enquanto as importações recuaram 1,3%, favorecendo a geração líquida de divisas. Esse desempenho segue sendo a âncora do setor externo brasileiro em 2025.

Por outro lado, os déficits em serviços e renda primária permanecem elevados e se consolidam como os principais vetores de pressão sobre a conta corrente. O déficit em serviços ficou estável em US$ 4,4 bilhões, refletindo maiores gastos de brasileiros no exterior, aumento das despesas com propriedade intelectual e elevação dos custos de serviços digitais, como TI, telecomunicações e computação. Na renda primária, o déficit de US$ 7,4 bilhões veio pressionado pelo avanço de 31,7% nos gastos com juros e pela continuidade de remessas elevadas de lucros e dividendos por multinacionais.
Apesar do déficit corrente, o financiamento externo segue em posição bastante confortável. O IDP atingiu US$ 10,9 bilhões no mês e acumulou US$ 80,1 bilhões nos últimos 12 meses, montante suficiente para cobrir integralmente a necessidade de financiamento do país. Além disso, houve entrada líquida em investimentos em carteira e expansão das reservas internacionais para US$ 357,1 bilhões, reforçando a resiliência externa do Brasil.

O quadro geral permanece o mesmo: um setor externo estruturalmente deficitário, mas totalmente financiado por fluxos de longo prazo e apoiado por um colchão amplo de reservas. A sustentabilidade externa está preservada, embora sem margens excessivas, pois depende da manutenção dos superávits comerciais e da continuidade do ingresso de investimentos produtivos.

Para os próximos meses projetamos a manutenção de um déficit em conta corrente entre 3,4% do PIB, com persistência das pressões estruturais em serviços e renda primária. O comércio exterior deve seguir contribuindo positivamente, ainda que condicionado ao ciclo global e aos termos de troca. O IDP tende a permanecer como principal fonte de financiamento, enquanto investimentos de portfólio devem alternar momentos de entrada e saída em função das condições financeiras internacionais.

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